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#27

 


. façam de conta que eu não estive cá .

outros há que ousam segredar-me o fim do horizonte, como se lhes orvalhasse no coração tamanha infelicidade, que as árvores então inclinassem as copas em direcção à raíz. outros há que guardam histórias tristes no bolso das mãos, para me contarem quando estiver mais feliz. julgo ter perdido o jeito de pronunciar o teu nome sempre que estás longe, estás tantas vezes longe que as próprias vogais comeram as consoantes e na dissonância do teu nome, quando gritado pelo meu, levantam-se pássaros migratórios, desses que andam de coração em coração a debicar migalhas de amor. e o que de ti guardo vai secando, como se as estações do corpo passassem na pressa dos dias de inverno e as flores, que voltadas para a chuva entristecem, começassem lentamente a morrer. queria que as estações não me pesassem tanto na pele, para me ser possível guardar-te nas primaveras.
 
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Margarete
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Enviado por Tópico
Moreno
Publicado: 14/09/2009 22:54  Atualizado: 14/09/2009 22:54
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Mensagens: 3482
 Re: #27
profundamente belo!

Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 15/09/2009 00:28  Atualizado: 15/09/2009 00:28
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 Re: #27
É bem que certos ciclos que nunca se completem.

Leio-te e encontro-me, Mar.

Um beijo

Enviado por Tópico
FredericoSalvo
Publicado: 15/09/2009 01:13  Atualizado: 15/09/2009 01:13
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 Re: #27
Como sempre belo.
Parabéns!
Frederico.

Enviado por Tópico
Vania Lopez
Publicado: 15/09/2009 01:30  Atualizado: 15/09/2009 01:30
Membro de honra
Usuário desde: 25/01/2009
Localidade: Pouso Alegre - MG
Mensagens: 17925
 Re: #27
Procurando aqui dentro umas palavras...
Olha gostei muito! Lindo!
Parabéns!

Vania

Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 15/09/2009 01:52  Atualizado: 15/09/2009 01:52
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Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: #27
este teu belíssimo e profundo texto fez-me lembrar este de Pessoa:

Esqueço-me das Horas Transviadas

PASSOS DA CRUZ

Esqueço-me das horas transviadas
o Outono mora mágoas nos outeiros
E põe um roxo vago nos ribeiros...
Hóstia de assombro a alma, e toda estradas...

Aconteceu-me esta paisagem, fadas
De sepulcros a orgíaco... Trigueiros
Os céus da tua face, e os derradeiros
Tons do poente segredam nas arcadas...

No claustro seqüestrando a lucidez
Um espasmo apagado em ódio à ânsia
Põe dias de ilhas vistas do convés

No meu cansaço perdido entre os gelos
E a cor do outono é um funeral de apelos
Pela estrada da minha dissonância...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"