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O LOBO

 



O LOBO

Cansado, sedento e esfomeado, o lobo desceu pachorrento a encosta da serra, coberta de denso matagal.
Aproveitando uma pequena clareira, parou e sorriu á sorte.
A poucos metros, um coelho bravo, sentindo a sua presença, olhou-o remoendo.
-Olha o marau!..-Pensou, preparando-se para fugir.
Para o velho lobo, aqueles metros, representavam quilómetros.
Era a distancia, entre a fome, e um arroto de satisfação, de um estômago, agora habituado apenas a uns ratinhos descuidados.
Calculou pois a distancia meticulosamente, com o seu olhar treinado, e, pelas suas contas, bastavam dois leves passos e um salto.
Pensou, mas pensou mal, pois esses cálculos eram ainda de quando era mais novo e andava integrado numa alcateia, onde chegou a ser o lobo Alfa (chefe).
Agora o problema era mais complicado, mas, como um velho que não admite estar velho, e que pensa que a experiência basta, levantou a pata direita cautelosamente, e, avançando o corpo, poisou a pata depois no pasto seco, ouvindo-se um leve estalido.
De olhos fixos no coelho, viu este levantar as orelhas ainda mais.
Cuidado!...É preciso ter paciência...pensou
Calou um sorriso matreiro, olhando a presa.
Sabia por experiência própria, que o coelho era mais rápido no arranque e, analisando o terreno em redor, viu que se o coelho, avançasse pelo seu lado esquerdo, estava no papo...mas se, se metesse no monte de pedras que tinha atrás, o que lhe restava era cheira-lo depois.
Avançou a pata esquerda, que poisou levemente, sem o coelho se mexer
Ficou assim alguns momentos, como uma estátua, olhando baboso, aquele pelo cinzento e luzidio.
Salivando já, calculou o peso...teria quase um Kilo, para menos do que para mais, pois a seca, também lhes restringira a comida.
Será que os coelhos bebem água?...Se calhar não, pois se bebesse estaria mais gordinho. – Pensou.
Ainda se perguntou qual seria a morte mais difícil, se morrer de fome ou de sede.
Mas o que lhe interessava era o coelho, pois para ele, agora era mais importante a fome que a sede.
Já dera os dois passos faltava-lhe dar o salto.
Ao firmar-se nas patas traseiras, viu então que calculara mal a distancia, pois ainda os separavam, mais de dois metros.
E quando levantava de novo a pata direita, viu o coelho fugir, para um buraco existente no tal monte de pedras,
Apeteceu-lhe uivar de raiva, mas conteve-se, pois podia haver por ali mais caça.
Desgostoso com o falhanço, ainda farejou o buraco, mas desistiu.
Bom ele também nunca gostara muito de coelhos, pois aqueles pelos enrolavam-se na boca, o que depois lhe provocava azia...e pensando bem , o coelho não teria mais que meio kilo...nem tanto...aí umas trezentas gramas mal pesadas..
Chegou á conclusão que ainda era um láparo. E que, não devia ficar chateado, como a raposa ficara com as uvas.
Ainda mais cansado, mais esfomeado, desceu a encosta até encontrar um caminho estreito.
Lembrou-se de uma outra história que a avó loba lhe contara quando era lobinho, e escondendo-se entre o matagal, deitou-se esperando.
Talvez a menina do capuchinho vermelho, passasse ali com o lanche.


Delgado
Set 2009




Sou desenhador,pintor e poeta e, nas minhas poesias tento desenhar e pintar os meus pensamentos

 
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Delgado
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Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 19/09/2009 08:00  Atualizado: 19/09/2009 08:00
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 Re: O LOBO
Delgado,
Fizeste-me lembrar através deste conto a luta pela subsistência que milhões de pessoas travam actualmente neste mundo e pergunto-me, se tal como o lobo, ainda mantêm viva uma réstia de esperança?
Um beijo
Nanda