Poemas, frases e mensagens sobre cidade

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares sobre cidade

Soneto do homem só II

 
Chegou teu companheiro de viagem
Que sai da casa ainda adormecida
Sem nada de importante na bagagem
E volta cochilando p'la avenida.

Chegou teu companheiro de pilhagem
Que sai de casa feito uma criança
E volta carregando na roupagem
Destroços luminosos da esperança.

Um pouco de teu fôlego e lugar,
Do que sequer consigo imaginar,
Resquícios que me sobram de nós dois:

Calçadas, alamedas e desvios
Que em vão nós percorremos erradios
Sem nada o que deixarmos pra depois.
 
Soneto do homem só II

PARADAS CARDÍACAS

 
PARADAS CARDÍACAS

Coração metropolitano

Batendo britadeira
Nas esquinas poluídas
Dos tantos momentos
Cimentados

Coordena descompassado
O não-fluir
Não-estático
Do trânsito
Congestionado

Rege
Uma chuva sistólica
Em compasso lento,
Engarrafado

Esfria estados

Engaveta sentimentos

Agora mesmo
Enquanto versejo,
O incansável
Músculo trabalhador,
Acidentado,
Fraqueja

Neste exato momento
Enfarta
Super-rápido

Seu último ato
Antes de estagnar o peito...

Liberta-se
Das feridas do dia-a-dia
Da vida não sentida
De seus neuróticos efeitos

Logo em seguida
Chama um táxi
Numa paulista avenida
Para levá-lo
Sem desvelo

Entre
Tropas de choque
E paradas cardíacas

Avança
Ignorante, sem receio
Sobre todos
Faróis vermelhos
Que porventura encontra
Nessas esnobes ruas compridas...

Debochado,
Definitivamente pára

Ainda fibrilando
Paga a corrida e
Salta do auto
Numa praça desconhecida
Desguarnecido da lembrança
De tudo e todos
Que já o fizeram palpitar

Só então,
Finalmente
Oficialmente
Ex-coração

Salvo desse batecum
Insano, agitado,
Em desvairado falsete
Pode aproveitar a noite

: Como antes nunca o fez
Ou sentiu

E se embriaga de chopp
E caipirinha
Num fastuoso Happy-Hour
Desses cheios de comidas
Gordurosas

Lá pelas tantas
No meio das putas
E das travecas
Glamurosas
Ainda tem forças
Para gargalhar

Incontida alegria
Ao lembrar
Que amanhã, de manhã
Não haverá mais um dia
De bateria, de covardia

Porque quando se morre
É quando mais se celebra
A vida
Nesta simpática fábrica
De zumbis
 
PARADAS CARDÍACAS

Andar por aí

 
Andar por aí

Andar por aí
É ser de novo
Jogado para o alto,
É ir trepado
Nos teus ombros
Sentindo o olor dos teus cabelos
E o frêmito ao ver
O contorno de teus seios.

Andar por aí
É brincar de novo
Na gangorra e no balanço,
Sob um olhar de candura,
Sentir o vento,
As lufadas de ar
No meu rosto e cintura.

Andar por aí
É ver de novo
O meu ferrorama
Dando voltas e mais voltas
Ao lado da minha cama.

Andar por aí
É voltar a brincar e correr
Pela praça,
É viver num mundo
Sem nenhuma ameaça.

Andar por aí
É esquecer os sacolejos
De mais uma viagem
Repleta de agonia,
A náusea e o desprezo
Que me acompanham
Até o fim do dia.

Andar por aí
É imaginar-me de novo
À barra de tua saia
Quando preparavas o almoço
E me falavas do perigo
Das facas e do fogo

Para que, quando
Eu fosse moço,
Tomasse cuidado
Com a cidade,
Com tanto rebuliço
E alvoroço.

Andar por aí
É estar de novo
No teu colo de acalanto,
É dormir no embalo
Dos teus braços
E canto.

Andar por aí
É voltar a ter esperança,
É rever-me,
Em cada rua,
Em cada esquina
E bairro,
Os tempos idos de criança.

Andar por aí
É repisar, repisar,
Passo após passo,
O entrelaço
Da minha vida
Com tanto aço,
Vias, vigas e vidas.

É ver o transfigurar
Da antiga vizinhança,
De velhas ermidas e endereços
Em tanta rua por que passo,
Em multidão que não conheço,
Mas na qual me vejo,
Rosto antigo de menino
Que nunca deixou
De ser teu filho,
Ó mãe, cidade,
Deste andarilho.
 
Andar por aí

Pensamentos Noturnos

 
Às duas horas da manhã, desperto de um sono profundo, pois o calor já não me deixava dormir. Com o blecaute na cidade inteira, todo o apartamento estava mergulhando em escuridão. Procurando fontes alternativas de luz, aperto o interruptor da sala, numa tentativa idiota de confirmar o óbvio da falta de energia. Acho meu isqueiro, mas não velas, e com ele caminho pelos cômodos sem ter algo certo a fazer. Lembro do meu notebook, que ainda guardava energia e vejo algo com o que me distrair. Vou ao gabinete de estudos e ligo o aparelho, porém, logo ao entrar no sistema operacional a tela foi tomada por uma figura diabólica: a amedrontadora garotinha do filme o exorcista. Com seus olhos de fúria e sorriso maligno, me encara, tomando toda a tela do computador. “Esc” e “Ctrl + Alt + Del” não funcionam; é certamente um vírus que infectou o aparelho nas minhas navegações do dia anterior. Deixo-o ligado, apesar de inútil, ainda é uma fonte de luz no breu do apartamento. Enquanto o terror iluminava parcamente o gabinete, alcanço a varanda e vejo as estrelas. Uma profusão delas toma o céu noturno e a imagem é belíssima. Em noites normais, não se vê tamanho número delas na abóbada escura. É lindo, mas também um pouco assustador, pois reflito sobre a imensidão do universo e os mistérios que nos guarda. Fico me perguntado como ainda tem gente que não acredita em Deus. Acendo um cigarro e fico observando os edifícos no entorno. Algumas janelas emitem bruxuleantes luzes; os moradores encontraram suas velas. Vejo uma idosa na varanda com sua vela, fazendo o mesmo que eu, admirando o escuro e as estrelas. Em outro lugar uma família brinca de fazer figuras de sombras com as mãos. Vejo outras pessoas, nas varandas, nos quartos, esperando, com certeza, o blecaute passar para voltarem às suas camas ou a seus afazeres noturnos, seja trabalho, estudo, ou entretenimento, que não me interessam. Volto a pensar em mim e me lembro de minhas dívidas com meus credores. Lembro ainda, com um certo arrependimento, as dívidas de meus devedores que perdoei no passado, mas cujo dinheiro poderia me ajudar agora. Não tem importância, foi o certo a fazer com quem está em situação muito pior que a minha. Lembro da situação financeira da empresa, que não está boa, e dos prazos dos vencimentos para com os fornecedores. Imagino como terei de me esforçar para angariar recursos e venho nos últimos dias bolando estratégias para esse intento.Tento esquecer, meus problemas me atormentam, mas o céu estrelado é belo demais para ser ignorado. Algumas constelações aprendi na escola e tento identificá-las. Vejo planetas e aglomerados de estrelas, fico extasiado. Depois de algum tempo, a energia volta, a sala se ilumina e esqueço o céu e volto aos meus problemas profissionais. Desligo a luz da sala e isso me devolve a sensação de estar no controle. Meus débitos me dão dor de cabeça e procuro voltar a dormir. O ar condicionado agora esfria o quarto e minha cabeça. Sei que meus sonhos são melhores que meus pensamentos atuais e tento relaxar. Amanhã retomo os desafios diários. Vou caindo no sono, mas de repente lembro que o terror ainda ilumina o gabinete de estudos. Tarde demais, pego no sono, mais tarde é novo dia.
 
Pensamentos Noturnos

Sumário dos dias (republicado)

 
Por onde passaste e te perdeste
Num mar de procelas borrascosas?
Nem mesmo tu sabes protegido
Por quatro paredes que te encerram.
Lá fora o dia é sem precedentes.
Não há nada igual e os homens catam
E contam calados as ruínas
Dos corpos imotos, sem desígnios,
Co’a comprida vela esfarrapada
De um lenho repleto de naufrágios.
Quiseste transpor o bojador
E êxito lograste em tão extensa
E arriscada empresa, porém não
Transpuseste a dor da solidão,
De quem pelo mar, expatriado,
Regressou sem fé, feito em pedaços.
Calecut alguma divisaste
Ao fim da jornada para a glória;
Viste tão somente um breu profundo
De abismos e pântanos sombrios,
Que é a própria máquina do mundo;
Mares em que não discernes céus
De amorosa estrela cintilante
Que a Deusa averruma no horizonte,
Pois toda a alma nasce sempre imensa
Até se encontrar co’o mar e ver
O quanto é miúda e sem destino,
Até defrontar-se co’as metrópoles
E ver-se sem alma na rotina.
E agora de volta para casa,
Anonimamente conduzido,
Melhor compreendes o que foste,
O que és e serás na tempestade
Íntima de ser que se procura
Sempre no maralto da cidade.
 
Sumário dos dias (republicado)

Cidades de Mentira

 
Quantas mentiras
Passam por verdades.
Quanto as verdades?
Esquecidas, ignoradas.
Uma cidade coberta
De cal e fuligem.
Histórias mal contadas.
Cidade! Cidadão Kane!
Nos outdoors; sublimação.
As noites são manhãs,
Assim como nas granjas.
Confinados em
Telas de plasmas.
O mundo real;
Quase não se vê.
 
Cidades de Mentira

É DA BAHIA

 
É DA BAHIA

Itapetinga é da Bahia
E de cá do morro
Onde fica a Universidade Uesb
Eu te vejo, eu te desejo
Eu quero estar contigo
Me dá até febre de tanto pensar
E é neste momento
Que eu me purifico pra te amar
Sou apaixonado por você
O seu calor me alimenta
Aquece a minha alma
A sua água dá mais sabor a minha vida
Quando eu ando pelas ruas
Desta cidade
Sentindo a brisa bater em meu rosto
Eu digo hé!
Vale a pena viver
Vale a pena estar com você
É Itapetinga
E é da Bahia
Alô meu país!
Brasil!
Aqui sou mais feliz.
 
É DA BAHIA

Na Noite

 
Oiço baratas na minha almofada,
com o meu arrastado pestanejar.
Oiço o sangue da noite,
o zume zume que embala a cidade.

Hoje deitei-me virada para a janela,
sem dormir, vendo um prédio sonolento,
como eu não estou.
E só não te queria à minha beira,
porque faz calor, e eu suo muito,
fico suja... amarela.

Deixo a janela aberta,
convidando melgas para me chuparem o sangue.
Deito-me na noite, sendo parte dela
esperando o seu efeito bumerangue.

Carla Venta
 
Na Noite

Porto Alegre: como não te amar?

 
Das ruas que me vestes asfaltos
Eu menino poeta...
Das árvores que me abraçam
com tanta ternura
Eu menino poeta...
Das casas que me observam por trás
dos pequenos muros
Eu menino poeta...
Das praças que perfumam o meu olfato
Eu menino poeta...
Das mulheres Gaúchas que embelezam
Tu cidade Porto Alegre
Eu menino poeta...
Das bombachas do chimarrão
do churrasco Gaúcho
Eu menino poeta...
Das águas do Guaíba com um dos
Por de sol mais lindo do Brasil.
Eu menino poeta...

Porto Alegre: Como não te amar?

( Nelson Martins )
 
Porto Alegre: como não te amar?

A PRAÇA...

 
A praça.
Ah aquela praça
Naquela pequena cidade...
Onde a roda gigante girava o mundo
E por segundos esquecia que o tempo
É pai do futuro.
Naquela gangorra os pássaros se faziam amigos...
E lindos e lindos e lindos
Os sonhos de criança
Na pacata praça.
Os perfumes dali não exalam em outra praça
Em outro lugar, em outro planeta
Cheiro de mim, jasmim,
Cheiro de primavera,
Como era bela
A singeleza dos olhares atônitos.
Tudo era motivo para parar
Como se não fosse nada
Presságio de um bom sinal.
Meu amigo, meu filho,
A graça da liberdade
Inserida no contexto da praça,
Nas corridas, brincadeiras,
Pique esconde
Não se encontra mais
Nem nos becos,
Nem nos bosques,
Nem nos sonhos...
A graça que enaltece a glória
De ter vivido naquela estação
Vive no coração,
Vive na alma
Dos que ali passaram.
Igreja católica,
Mina d’água,
Namoros fogosos,
Amores proibidos,
Sexo escondido
Nas madrugadas, sobre as gramas,
Entre as flores que hoje revelam
A pureza de nossos dias...
Fotos coloridas,
Sorrisos que iluminam
O quadro da lembrança
Do que éramos nós.
Na pacata praça
Na praça do mundo.
Na mina do fundo
Do nosso coração.
 
A PRAÇA...

Cidade cinza

 
Cidade cinza

A aurora ja vem embassada pela fumaça
Nuvens cinzas encobrem o azul do ceu que lentamente se escassa
Os passaros migram em silencio de luto
Pelo ar funebre que jaz em acordo mutuo
Com a evoluçao que trabalha a todo vapor
O cinza agrega o interior do coraçao que nao reside o amor
O tempo anda junto com a ganancia que traz apatia no olhar da criança
Que vive no deserto de arranhaceus sufocando o verde da esperança
A terra seca folhas caem sem o sabor da brisa
E a prova que o homem conseguiu se igualar ao tom funebre da cidade cinza
 
Cidade cinza

seu lugar

 
A cidade está lá fora
O vento sopra forte
Na janela do quarto
Pode vir chuva
Luz forte do sol
Eu só admiro
Seu relaxar
Não tem ruído
Só de o seu suspirar
Ofegante, febril
Dedos entrelaçados
ela jura, é não se vá
Já é noite, voou o tempo
 
seu lugar

A morte do Carreiro

 
A morte do Carreiro
 
A morte do carreiro

Foi num dia bem de tarde
Que ficou só na saudade
O drama que aconteceu
O carreiro vinha da cidade
Assobiando de felicidade
Quando o fato aconteceu

Quando descia na pedreira
Despencou na ribanceira
Com o carro e os animais
Foi tão triste a sua sorte
Nesta hora veio a morte
Que o levou pra nunca mais

A mulher e seus filhinhos
O esperavam no ranchinho
À tardinha lá no quintal
Esperaram até entardecer
E vendo o dia anoitecer
Logo pensaram no mal

Subiram até a pedreira
Naquela segunda feira
Para ver o que acontecia
Só viram o carro tombado
E o carreiro morto ao lado
E um boi que aí gemia

As crianças todas aí chorando
Ao ranchinho foram voltando
E aumentou o desespero
Foi numa tarde sem sorte
Que a vida tornou-se morte
Daquele pobre carreiro

No dia seguinte, no terreiro
Choravam a morte do carreiro
Todo mundo, muito sentiu
Por saber que tanta felicidade
O destino, só por maldade
Para sempre aí destruiu.

jmd/Maringá, 25.09.23
 
A morte do Carreiro

moro numa casa pequena

 
moro numa casa pequena,
romântica por sinal,
com um manjerico à janela
e um pequeno reino animal.

nas paredes, recordações,
traços de personalidade,
enquadrados reais,
rostos da minha cidade.
 
moro numa casa pequena

Mossoró e Tibau

 
MOSSORÓ E TIBAU (RN)- Neila Costa (Poesia que participa do livro \"Antologia Poética\" de poetas e escritores filhos da terra)

[size=medium]Ao escrever uma poesia homenageando minha cidade natal, Mossoró (RN), permiti que o amor e o orgulho que sinto pelo chão que me viu nascer e crescer, escorressem pelos meus versos, de modo muito intenso. Foi por isso, talvez, que David Leite, ao tomar conhecimento desse meu \"Hino\", tenha me convidado a participar da \"Antologia Poética\", onde reuniu Poetas e Escritores filhos da cidade. Assenti e aqui estão meu poema e a excelente crítica sobre o livro, favorável também ao meu trabalho, ao ser citada pelo Escritor Nelson Patriota.
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Mossoró e Tibau

Neila Costa

Mossoró
Dos dias inesquecíveis da minha infância,
Dos jogos de amarelinhas e das queimadas,
Nas velhas mangueiras, as escaladas,
E o futebol pueril com a vizinhança.

Mossoró
Das belezas da extensa praia do Tibáu,
Suas jangadas, águas azuis e relaxantes,
Dos corpos estirados ao sol, exuberantes...
Namorados de mãos dadas ao cair da tarde...

Tibau
Da típica e saborosa comida,
Do camarão e do peixe frito na tapioca,
Da água de côco, do milho verde, da paçoca,
Da coalhada, do baião de dois e da peixada.

Tibau
Dos extensos morros de areias coloridas,
Mundialmente conhecidas... e engarrafadas
Formando paisagens manualmente trabalhadas.
Cidade das rendeiras, artesanatos e bordadeiras.

Mossoró
Da minha primeira lágrima, meu primeiro amor,
Do meu primeiro beijo na pracinha, no escuro,
Das ilusões juvenis, do devaneio mais puro...
Da vida adolescente que deixei para trás...

Mossoró
Terra mãe, amada, que trago na memória,
E na alma a inspiração dos versos que faço agora...
No coração, meu amor por ti, desde outrora...
És e sempre serás o enredo da minha história.

Presença poética de Mossoró e Tibau

Nelson Patriota [ escritor ]

Que cidade não inspira admirações as mais variadas, e que pouco a pouco não se traduzam em cantos e poesias? Nem mesmo a melancólica Beócia, de triste memória na Antiguidade, se privou de seus poetas e cantores. Com mais razão, a combativa Mossoró, sempre acompanhada do aposto “Princesa do Oeste”, inspiraria louvores de vária ordem não só a mossoroenses de direito, mas também os adotivos – quer os que a adotaram, quer os que foram por ela adotadas. Ou a ambos os casos.

O livro “Mossoró e Tibau em Versos: antologia poética” (Sarau das Letras, 2014), organizado pelo poeta David de Medeiros Leite e José Edilson de A. G. Segundo, é mais uma de outras tantas antologias que a cidade de Mossoró suscita de tempos em tempos, a exemplo de “100 Poetas de Mossoró”, organizada por Caio Cézar Muniz, e com a qual compartilha um sentido fluido e elástico do termo “antologia”. Com efeito, ambos remetem mais à recolha do que a seleção, pecado aliás muito corrente nas modernas “antologias”, que, por não terem um propósito crítico, elegem como parâmetro diretivo o acervo disponível em torno do seu objeto de eleição indiscriminadamente. Isso finda por conferir a esses livros um caráter generalista e desigual, quando se cotejam seus textos mais acuradamente, colocando lado a lado poemas de gêneros e qualidades diversos; por outro lado, dá a esse conjunto díspare um verniz documental, uma vez que acolhe praticamente tudo o que considerar pertinaz ao tema.

Devido a isso, a antologia apresenta um largo espectro de gêneros que comporta versos brancos, cordéis, elegias, sonetos e outros estilos poéticos, enquanto a diversidade de autores abre um vasto leque de motivos, alguns bastante originais no tratamento do tema comum. Os exemplos são vários: o poema longo “Conversa de cangaceiros a cavalo no dia em que atacaram Mossoró”, de Homero Homem, o poema “Exercício de memória”, de Deífilo Gurgel, o cordel “De calça curta e chinela”, de Antonio Francisco, “Adoção”, de Clauder Arcanjo, “Canoeiros de Mossoró”, de David Leite, entre tantos outros.

À diferença da recolha poética levada a cabo por César Muniz, essa de David Leite e José Segundo inova ao incorporar a poesia telúrica e talássica inspirada nos encantos da praia de Tibau, extensão dos domínios afetivos dos mossoroenses; sua Pasárgada, no sentido bandeiriano. Predomina, porém, numérica e qualitativamente, a fonte de inspiração encravada nos chãos mossoroenses, como a dizer que o primeiro amor transborda de inspiração, em comparação ao amor tardio de Tibau.

A exceção é o poema “Mossoró e Tibau”, de Neila Costa, que reúne esses dois afetos mossoroenses numa ciranda de versos que se alternam em propalar ora as belezas e virtudes de um, ora do outro, numa celebração balanceada a fim de não melindrar nenhum deles. O fato, porém, de abrir e fechar o poema com evocações a Mossoró, deixa transparecer uma preferência tácita por esta cidade.[

A paixão por Mossoró transborda sem pejo no poema “Ó Mossoró! Ó Sol”, de Cosme Lemos, que vale por uma quase-elegia à Princesa do Oeste, e que logo em seus primeiros versos estabelece a ligação essencial da cidade com o astro-rei Compare-se com o poema “Mossoró, sob o sol e o vento”, de João Wilson Mendes Melo, cujo verso inicial diz: “Na cidade em que nasci e cresci / Quem governa e quem manda é o sol”), enquanto escande a solitária vogal iterativa do nome da cidade: “Ó Mossoró! Ó Sol! As consoantes mortas / Perdem-se no clarão da vogal que as consome / E acorda todo o Oeste, abrindo as tuas portas, / Para dar ao sertão o calor do teu nome [...]”.

http://tribunadonorte.com.br/noticia/ ... de-mossoro-e-tibau/290703
 
Mossoró e Tibau

ando só pelas ruas desta cidade fria e vazia

 
ando só pelas ruas desta cidade fria e vazia
 
ando só pelas ruas desta cidade fria e vazia.
carrego comigo o hiato das impossibilidades
e a carga dos desenganos que fazem
da noite de sábado um proscênio solitário.

encarnação de vazios, deixo para trás
pontos de interrogação e concluo
que há muita incerteza nos caminhos
que se abrem à minha frente.

dialogo comigo mesmo, danço a coreografia
dos absurdos, réquiem inevitável
de um futuro que nunca existirá,
passos em terra de ninguém.

na praça dos consolos inúteis
distribuo a piedade que só os miseráveis
são merecedores, na minha andança
sem fim recebo do passado arrepios,
os sorrisos compartilhados são a véspera
dos desassossegos futuros.

ando sem rumo por ruas movimentadas
tentando olhar dentro dos olhos
das minhas verdades e sentindo
a batida do martelo dos remorsos
que só as escolhas erradas trazem.

fragmentos de promessas espalhadas
pelo chão, vestígios pelos muros
de possibilidades impossíveis
originadas no âmago das minhas covardias.

ando só e por aí me perco, uso a bússola
da minha inquietude, sigo as placas
dos meus medos, arranco da memória
uma fatia de sonhos que está guardada
em um frigorífico abandonado
e que quebra quando a toco, algumas coisas
são tão sagradas que não podem ser tocadas.

ando sem rumo, rumo ao improvável,
por alamedas, atalhos, pontes
e abismos que me conduzem.
andanças intermináveis, pelo caminho
questões sem respostas,
respostas sem perguntas,
coisas que não são nada,
nadas que me deixam mudo,
promessas que ouço do luar,
das gotas da chuva que nunca choveu.

estrada feita de horas e horas, o vento
e suas navalhas cortam constelações ilegíveis,
o espelho da finitude desfilando
vácuos inefáveis como se o passado
e o presente andassem de mãos dadas
sorrindo e falando alto nos corredores
desertos da minha intranquilidade:
a sagração de um vazio
que nega a si mesmo.

ando só e sem destino
sob a passarela fúnebre
deste céu de possibilidades mortas
e paixões cegas, enxergo a dureza
dos muros, os papéis levados
pelo vento e os automóveis, converso
comigo mesmo em profundo silêncio,
respiro a textura de um adeus
que faz a alma se encolher
até um canto qualquer
como um detento sem ambição
e sem propósitos, como quem
espera por alguém que não existe.

me prendo a ilusões que escapuliram
de minhas mãos como se nada mais
fosse possível, uma nuvem de poeira
formada por escombros de promessas
não cumpridas sufoca
as minhas esperanças e asfixia
o meu futuro e minhas escolhas absurdas.

tenho uma fascinação pelas coisas
que não existem mais, pegadas invisíveis
pelo chão despedaçado
de um caminho confuso, sonhos fatiados
pela lâmina inexorável dos impossíveis,
minutos perdidos e areias antigas
de ampulhetas emperradas pela desatenção.

encho a taça trincada
pelo grito dos desesperados
e brindo a chegada
da minha própria demolição.

Poema do livro Diários do Desassossego
A venda em http://sergioprof.wordpress.com
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ando só pelas ruas desta cidade fria e vazia

DO JEITO QUE JAMAIS FUI

 
DO JEITO QUE JAMAIS FUI

A cidade segue do mesmo jeito que jamais foi
Cada vez maior, incrementada em milhares de almas...
Os ruídos das calçadas avultaram-se nestes anos,
Também os roubos, as brigas, os assassinatos,
Qualquer mal intrínseco à multiplicação dos humanos...
Igualmente, a riqueza, obviamente, se multiplicou
Novos prédios altos derribaram os velhos cortiços
Conforme o local, não se vislumbra mais horizontes
E esqueça-se procurá-los em frestas ao derredor
Apenas ao meio do céu sobrevive um nubloso ponto de fuga...
A cidade, posuda, depurou as formas do que nunca muda...
E há mais crianças pedindo nos sinaleiros, rindo e chorando
E há mais vida e morte e mais pressa e preguiça
E há mais beijos e tapas e mais louvores e insultos...
Eu ouço pouco, vejo pouco, acho pouco disso tudo...
Sinceramente, sinto-me um intruso, como poucos
E sigo, um pouco, do mesmo jeito que jamais fui...
 
DO JEITO QUE JAMAIS FUI

Precisamos de metáforas

 
Observo pela janela do meu olhar perdido
a marola da cidade à beira-mar
onde o cotidiano se desenrola desmedido
e seres urbanos não parecem amar.

Entre florestas, córregos, morros e o mar
derrama-se impiedosa mancha urbana,
aterrando águas e matas sob obstinado luar,
devastando biomas de forma vil e profana.

A dor e o sofrimento da cidade torturada
parecem hipérboles, mas são literais,
presentes em sua rotina transtornada,
pelo cotidiano de urbanoides amorais.

Precisamos de metáforas, aves livres a voar...
Sem elas não há janela para o perdido olhar,
não há rosto para sorrir ou luar para amar...
Apenas, literais, espaços a sufocar.
 
Precisamos de metáforas

Versos que te dou

 
Versos que te dou
 
Versos que te dou

Versos que te dou
Quem sabe um dia, meu querido...
O tempo nos faça juntar
O meu querer
Com a tua vontade?
Nada é impossível, quando se crê!

Às vezes, sento-me na varanda do apartamento,
Observando os carros passando em disparada...
Todos com pressa de chegar...
Em algum lugar, alguém espera alguém chegar.

Olho as luzes da cidade...
Parecem estrelas a se perder
Até onde meus olhos podem alcançar.

Em cada ponto de luz,
Há alguém a sorrir ou a chorar,
Amando ou odiando,
Morrendo ou nascendo,

Existe alguém vivendo ou simplesmente
Vendo os carros e estrelas passarem...
Pensando onde estará o seu amor.

Quem sabe um dia, não mais necessitemos de palavras,
E no meu olhar eu possa falar...
Baixinho, dentro do teu coração...
Devagarinho...
Bem de mansinho, para não te assustar,
O quanto é bom te gostar.

Nesse dia, a linguagem do meu corpo te
Fará sentir o amor que acaricia a alma...
A vontade que motiva te encontrar...
A sensação gostosa de te tocar
E sentir na minha, a tua emoção,
Numa só forma de amar...

Quem sabe um dia, não mais necessitemos de palavras,
E no meu olhar tu possas sentir
O quanto é bom te amar.

Autor:

Luandabela
 
Versos que te dou

PARADAS CARDÍACAS

 
PARADAS CARDÍACAS
 
PARADAS CARDÍACAS

Coração metropolitano
Batendo britadeira
Nas esquinas poluídas
Dos meus momentos cimentados

Coordena descompassado
O não-fluir não-estático
De meu trânsito congestionado
Chove lento e engarrafado
Esfria meus estados,
Engaveta meus sentimentos

Agora mesmo
Enquanto versejo,
O músculo, acidentado, fraqueja...

Neste exato momento
Enfarta super-rápido
A estagnar meu peito
Para libertá-lo das feridas
Da vida, de seus efeitos...

Logo em seguida
Chamará um táxi
Numa paulista avenida
Para levá-lo, sem desvelo,
Entre tropas de choque
E paradas cardíacas

Avançará sem receio
Sobre todos os faróis vermelhos
Que porventura encontrar
Nessas esnobes marginais compridas

Definitivamente parará.
Morto, descerá do auto
Numa praça desconhecida
Desguarnecido de todos e tudo

Então aproveitará a noite
Se embriagando de chopp
Num fastuoso Happy-Hour
Destes cheios de comidas.
 
PARADAS CARDÍACAS