Poema cansado de esperar
queria que me esperasses nesse tempos
onde preparas os intervalos,
das nossas existências,...
eu não sei de maldade,
não percebo se respirar assim,
com dores de saudades a escortanharem
uma voz que já nem viva está,
será digno,
será modelado ao presente
que ainda consigo ter,...
conjugar assim tantos verbos
reduzidos ao particípio,
da espera,
tira-me a força de um
argumento que só está desenhado,
de traço trémulo,
com um sol que desmaia pelo
meio desta chuva ácida cor de enegrecido,...
esquece que te pedi a espera,
prepara-me só a partida,
porque a dor entontece-me o argumento
Com e sem sol
talvez haja o sol,
uns desenhos sujos,
irrelevantes,
morrendo como sombras chinesas
nas paredes eternecidas,
do entardecer,...
com as cidades
a perecerem por trás da frase,
do complemento direto
destes segundos
que matam mais
que debitam,
a nascitura infelicidade
de milhões de anos
num copo de nada,...
e quando só há o breu,
a fútil certeza da desilusão,
fazes-me a mim mais mal,
que bem,...
sem sol
Serena não sou
Escrevo para me manter lúcida
Para espantar o vil alzheimer
Ocupo a mente com desvarios
Fantasio uma saúde de ferro
Não me vejo anfitriã da senilidade
Eu nunca vos disse que temo a idade
Mas quero dela tirar o melhor proveito
Há na poesia um fitness completo
Metáforas feitas de quebra-cabeças
Um puzzle que é o meu predilecto
Palavras que nascem para ganhar vida
Cruzar os braços, não contem com isso
Impávida não fico, serena não sou
São batalhas que venço para estar activa
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
natural: Setúbal
Dona das Letras
Dona das Letras
by Betha M. costa
Minha escrita não é semeadora de flores pelos verdes caminhos. Nem coletora ou pintora de astros no universo das palavras. É cacto que brota aqui ou ali, em terra árida e quente, ao acaso, de mãos preguiçosas, sem precisar de muita água para existir.
Domo os vocábulos para compor um quadro ou quebra-cabeças que diga de mim. Que deixe assinalada para a posteridade, parte dessa existência insípida, inodora, incolor, silenciosa e cega aos olhos, a transbordar de imaginação.
Escrevo como quem arranha as unhas vermelho desvario sobre uma superfície, em que a aspereza causada pelos ruídos, clama como as almas do meu purgatório interior, por alguns segundos no éter para que explodam e fluidas me espalhem no Cosmos.
Não pretendo com as letras redimir-me das dores, amores e mundos de ideias e sensações. Quero queimá-las ou gelá-las, e, através delas excomungar demônios, acercar-me das hostes celestes. Sobre eles exercer adoração, temor e obediência.
Metáforas Voadoras
Metáforas Voadoras
by Betha M. Costa
Ser poeta é um dom com o qual a pessoa nasce e com interesse e estudo aprimora-se. Colocar num texto um monte de metáforas bonitas não faz de um texto poema.
O poema é um conjunto de idéias, sentimentos e/ou impressões, que disposto em versos tenha à leitura ritmo, musicalidade e dispare uma emoção (positiva ou negativa). Sem ritmo, o máximo que se escreve é uma prosa vertical, onde palavras e/ou imagens bonitas dão prazer ao leitor
Hoje uma competente colega de letras notou um poema meu que não passa de um amontoado de metáforas manjadas e que foi bem lido e comentado. Deu-me o toque que eu esperava quando o publiquei. O que é cheio de palavreado bonito e rebuscado, com um enorme “no sense” as pessoas acham diferente, algo reflexivo, de uma grande profundidade subtendida ou escondida. O poema direto, bem escrito, muita gente nem enxerga.
Sou escritora amadora, pois considero escritor profissional quem ganha dinheiro com a escrita. Eu escrevo por que gosto e dou-me ao trabalho de estudar um pouco, até em respeito as pessoas que vão perder seu precioso tempo lendo.Mas, há quem julgue ser arrogância tentar escrever melhor e sem ao menos passar um corretor ortográfico, publica nos sites de literatura qualquer meia dúzia de palavras. E ai de quem der um toque para que melhore!Se não for para aplaudir as garatujas que se cale para sempre!
Devemos pensar que muitos leitores vêm ao site a procura de distraírem-se com boa leitura, outros são estudantes em pesquisa para trabalhos escolares. Nós temos que primar pelo que escrevemos para que tais pessoas não aprendam de modo errado.
Meu "pseudopoema" Tiara de Estrelas foi muito apreciado: um monte de nada que vai a lugar nenhum. Já o Canto ao Tirano Senhor, todo em redondilha ninguém nem "tchuns", exceto a colega Roque Silveira que viu hoje o primeiro e foi direto ao ponto. Coisas da literatura: por ser amador, não se preocupe em estudar e escrever direito, por que pode sempre usar a desculpa de que a escrita para si é um hobby. Mas, até para hobby é necessário dedicação!
Por fim todo mundo fala de Camões, mas não percebe que na sua genialidade, em “Os Lusíadas”, todos os versos são decassílabos heróicos (tônicas na 6ª e 10ª sílabas poéticas).
Ninguém precisa ser um Camões, fazer poema metrificado e rimado. Existem versos livres que dão de mil em outros dentro das regras formais. Mas, mais cuidado com a escrita não faz mal para ninguém. Como já disse, volto a repetir: um poema não é feito só de metáforas voadoras.
P E R E G R I N A Ç Ã O
dispersei o meu ser no desprender das folhas
às suplicas do solstício. talvez assim também fosse
na essência dos verbos da noite. mas fui levado
para as terras inertes da lembrança cega.
não procurava as palavras revestidas.
e julguei-me perdido nas aparências das sombras.
por estas partes,
o desfiar do destino era ausente. assim, esperei
que as orlas enrugassem para me soltar, agora, no desconhecido
e reunir-me nas escarpas suspensas da luz.
foi o facho do farol da saudade que indicou o sentido.
a ânsia do regresso animou-me
e senti os lábios da esperança. até que, escorrido,
nos campos das framboesas laranjas,
o meu alvéolo finito se enxugou.
e, apesar de mortalmente ferido,
permaneço nas avenidas ocres do poente.
ressuscitarei.
uma e outra vez.
sim. ressuscitarei!
uma.
e outra vez.
pelo som da mão que molda os gestos da criação.
pela escrita da voz que forma as letras primevas do cosmos.
qualquer dia.
um dia!
in Comentários na face da Noite
Obrigando-me a escrever
Vasculho á pressa o meu intìmo.
Necessito de motivos válidos que me forcem a pena.
Deixando-me enlear pelo fumo que sempre me rodeiou constato, sem mágoa, que já pouco tenho a dizer a mim mesmo.
Descanso a mente, adormeço o ego e arregaçando as mangas parto para aquilo que pede para ser feito e não descrito.
Poderão ser as palavras aquilo que nos afasta do que desejamos?
O Meu Mundo das Palavras
Brinco com as palavras
E com elas tento tocar no céu.
Enfeitiçar-me com o brilho das estrelas,
Alcançar um mundo que não é o meu.
Não sou poeta,
Nem tão pouco sou escritor,
Apenas sou um sonhador.
Não sei os truques da escrita,
Nem tão pouco os quero conhecer.
O verdadeiro deixaria de ser a pepita,
E o malabarismo era apenas o que iriam ver.
E não sendo poeta,
Nem tão pouco escritor,
Com as letras continuarei a brincar,
E com elas criar um mundo só meu.
Sem importar-me do que os outros vão achar,
Nem se o meu mundo é diferente do teu.
O teu adeus
Às vezes a escrita começa onde acaba
A música ou o trabalho ou a alegria
Assim o amor e a fome e os novelos
A noite emaranham
E o dia
O teu adeus
Que é dos mais belos
Naufrágios
De poesia
Numa branca página.
Além da Varanda
***Para reflexão sobre escrita, comentários e etc e tal...
Além da Varanda
by Betha Mendonça
Acadêmicos de letras pequenas,
Das poucas massagens aos egos,
Não choreis pelas vossas penas!
Uns bebem deliciosos chás de louro,
Como raro prêmio à obediência,
Por curvarem caladas suas penas.
A ponta dos seus parcos versos,
Sejam bem ou mal debruçados,
Tornam-se grandes clássicos.
Vós sois inteligentes e não omissos,
Não deixeis vossos versos tolhidos,
Pelo clero acadêmico da varanda!
A ciranda de letras bem posta,
Não há quem vos tire da mão,
É dom divino – manjar do céu.
(republicação)