Contos de natal

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Ponte do Padre, "Popov Most"

 
Popov Most
"Insh Allah"
Popov Most (Ponte do Padre), visto do alto por quem ousa aventurar-se nos caminhos pastoris e serpenteantes das depressões de terreno, é um lugarejo pedregoso, escarpado, florestado em tons escuros de verde e castanho, de estações agrestes, cravado nas montanhas fronteiriças ao Montenegro.
Não tendo lugar algum em qualquer mapa, não fosse o seu passado histórico da II Guerra Mundial – “três centenas de soldados montenegrinos foram chacinados numa violenta batalha, e após uma heróica resistência às tropas hitlerianas invasoras”, como recita o monumento de pedra escurecida pelo tempo e de letras meio apagadas, erigido no meio do nada – este lugarejo, a que podemos denominar por simpatia “aldeia”, é disperso de casas rurais, toscas, assimétricas, meia destruídas pelos recentes e ferozes genocídios, e palheiros semeados aqui e além, marcando posição entre muros sinuosos de pedra escura, assinalando propriedades.
É um lugar inóspito e rude como as suas gentes, que mal se vêem e não se olham entre si de bons modos e muito menos os visitantes inesperados. Horrores se digladiaram de novo nesta recente guerra fratricida.
Os poucos que restam ali são escorraçados de outros lugares e que ninguém quer aceitar. São refugiados no seu próprio país, idosos desconfiados e calejados pela sobrevivência.
E até o sábio sol, conhecedor das desavenças, apenas oferta a sua sombra...
Naquele dia matinal, era Inverno; um gélido manto de muitas tempestades impiedosas de neve amalgamada em camadas, cobria pardacenta, confundindo-se com o horizonte cinzento sombrio do céu, o solo, os pardieiros e muros, os caminhos, profundamente submersos, e até os altos pinheiros só exibiam salpicos verdes escuros na paisagem desoladora.
Das chaminés arruinadas, um fumo negro e húmido negava-se a esvoaçar no alto, pairando sobre as casas, asfixiando-as.
Patrulhava eu a área estipulada, “montado” num alvo todo-o-terreno, que, pomposamente, apelidava de “garrano branco” (delirava decerto com feitos históricos), ornado por uma flâmula de cor azul-bebé e letras inicias negras nos flancos.
Ora ronronante na derrapante descida, ora troante na íngreme escalada, cavalgava o meu garrano num imaginário caminho só sentido pelo tacto da tracção pneumática, rasgando de sulcos o manto gélido, numa tentativa bem esforçada de me separar das ravinas que se aproximavam ameaçadoras e dos sopés traiçoeiros que teimavam em me abalroar.
As faldas estavam pontilhadas de prazenteiras e minúsculas placas de madeira pintadas de vermelho vivo e desenhadas toscamente com o símbolo dos corsários - a caveira - e as palavras “mina” em inglês e na língua local. num zigue-zague desesperante.
Não fossem as "más-línguas" que afirmarem que eram piratas escondidas no solo e tinham o péssimo hábito de descalçarem os incautos, pés incluídos, ou saquearem as pernas, ou empinarem as montadas, quais “Pegasus”, passariam decerto por folclore local.
Rangendo os dentes, não de frio, rechaçado pelo aquecimento da viatura, mas do esforço violento de uma condução, que mesmo cuidada, era cheia de imprevistos (que audaz eu! – pensava eu. Que louco? – diriam outros mais avisados), consegui catapultar-me em solavancos até ao centro da “aldeia”, onde estanquei gerando um sobressaltado acordar de meu companheiro de lides e amigo Zacharia que, placidamente e com uma confiança inexcedível em Allah e alguma complacência na perícia deste “Seu servo, mesmo cristão”, dormitava embalado (era um hábito consagrado), que me valeu um rabugento “insh allah”.
Zacharia era, ao tempo, um coronel da Polícia Egípcia, a quem eu, prazenteiro, lhe atribuí o cognome de “The Pharaoh, Himself”, de estatura mediana, forte, rosto redondo e quase cinquentão, para quem uma mulher ocidental e os costumes eram um luxo para a visão e um pecado para a alma. Em matéria policial possuía a experiência de ensinar na Academia de Polícia de Luxor, sua cidade natal, mas não era muito dotado na experiência do dia-a-dia.
Crédulo nos homens e crente fervoroso em Alá, praticante acérrimo das cinco orações diárias, fossem quais fossem o local e as horas, era um excelente teórico, mas não lhe pedissem meças práticas.
Da sua boca brotavam constantemente as palavras “Allah Akbar! (Deus é Grande!” e “Insh Allah! (por vontade de Deus!)”.
Num arremesso do destino e de missão, ali estávamos os dois, oficiais de polícia, integrados numa força de paz das Nações Unidas, juntos, de culturas e religiões diferentes, em aventuras quotidianas zelando pela paz, quais paladinos, e consolidando uma amizade a princípio necessária e depois aceite entre ambos.
Enquanto o pensamento vagueia, esi-nos desaguados naquela “aldeia”. Não se vislumbrava vivalma.
A temperatura rondava os quinze graus negativos célsios e, para Zacharia, mesmo um “insh allah” naquelas condições era um castigo supremo ter de sair da viatura e / ou deste ou outro ambiente acolhedor...
E nesse centro da aldeola, lá estava um edifício de paredes arruinadas, outrora caiadas, cujas portas e janelas pendiam de gonzos quebrados num equilíbrio precário. A chaminé rasgada não emanava nenhum aroma típico de madeira a queimar. O que fora de antanho um solar parecia agora um qualquer prédio devoluto para demolição. As telhas, de barro escurecido pelo clima e fungos, rompiam da massa de gelo, que as sobrecarregavam, aglomerando-se, partidas, num telhado ondulado prestes a derrocar-se. Parecia um edifício consumido e derrotado pela força dos elementos naturais, pela incúria e vítima da fúria bélica dos homens. Ostentava ainda letras sumidas de azul o nome de “Popov Most Škola” e um desenho de um revolucionário qualquer, para mim desconhecido, remanescente da história do país.
- Pena que não o seja já (escola)– pensei – mais ruínas... Malditas guerras!
E para “esticar as pernas” pus-me a rondar a fantasmagórica casa, num passo solitário, lento, volteando a cabeça de vez em quando para estudar as minhas próprias pegadas marcadas na neve.
Parei, puxando do cachimbo e da bolsa de tabaco, carreguei-o, qual trabuco, e acendi-o contra o vento com o meu “Zippo”.

Deleitei-me com a primeira baforada agridoce, e retomei o passo rastejante (depois de umas quantas quedas aparatosas, aprende-se a não se levantar muito os pés quando se caminha sobre superfícies geladas).
Ia dar a segunda baforada, ao passar uma esquina, quando de súbito me soa uma conhecida cantilena escolar... Imaginação minha, só poderia ser. Estaquei e afinei o ouvido...
A toada rítmica repetia-se: “dva puta jedan dva, dva puta dva cetri; etc...”. Um sorriso aflorou-me nos lábios e congratulei-me por ter rudimentarmente aprendido a língua local, senão iria pensar que alguém apodava alguém da minha família.
Armadilhas linguísticas…
E a toada continuava, pausada e desafinada...
- Crianças! Eram crianças! Ali?
Decidi averiguar. Obedecendo ao bom senso e às normas, regressei apressadamente no mesmo rasto para junto da viatura, gritando e esbracejando:
- “Pharaoh! Temos crianças aqui! “Pharaoooooh!” – e os montes faziam duplicar a minha voz em ecos retumbantes – “Pharaoooooh!”. “Criançaaaaaas!”.
E o receoso Zacharia, “The Pharaoh, Himself”, atordoado, lá saiu da sua quente sonolência a custo, pensando que eu ou tinha visto bicho ou tinha endoidecido de vez.
Mais inclinado decerto para a loucura, espreguiçou-se e entreabriu, lentamente, muito lentamente, o vidro.
A sua face rechonchuda mostrava a incredibilidade, não da notícia que lhe trazia, pois ainda não a tinha digerido, mas pela minha impertinente e incómoda agressão à sua “paz espiritual”.
De olhar inquisidor, elevou as mãos ao céu, pronunciou um “molto pianíssimo insh allah” habitual e aguardou o fim da minha corrida frenética que terminou quando lhe abri a porta, sem vénias e sem compaixão. Ofegava, expelindo bafejos de vapor e de fumo tabágico misturados. Apontando a casa, apressei, sem cerimónia, Zacharia com um “vamos” ululante.
E Zacharia, receoso da minha sanidade mental, seguiu-me num passo contrariado, curioso e irritantemente lento.
Galguei os degraus de pedra esventrados e irrompi num corredor escuro e bafiento em T invertido com portadas que davam acesso a outras divisões. Parei, acendi a lanterna e escutei...
A cantilena cessara.
Uma porta irritada chiou, podre, abriu-se lentamente e dela assomaram uns óculos garrafais suportados por uma face perplexa, seguidos de uma boca aberta num sorriso franco, de um corpo magro revestido de uma bata coçada em azul e de uma mão em atitude de saudação:
- Dobro došli! (bem-vindo) – e eu, lá forcei a minha mão a levantar-se, os meus lábios a desanuviarem-se num sorriso e a minha garganta a emitir um lacónico “hvala (obrigado)” (valeu-me a curiosidade em conhecer esta língua)
– “entre, por favor”.
Entrei numa sala escura, gélida, cujas paredes, em tons diversos e esventrados, há muito não se revestiam de cor. Na parede fronteira à porta dois mapas arcaicos da Bósnia e da Europa e, noutra parede lateral, um “Mapa-múndi” desfiado e um quadro de lousa partido. Noutra parede lateral, a derrocada janela coberta de tapume esburacado por balas.
No centro... bem, quase ao centro da sala algumas mesas e cadeiras em fórmica (pasmei) novas ocupadas por cinco crianças.
Atrás de mim, entrou o atónito Zacharia, balbuciando decerto as devidas jaculatórias habituais, na hesitação de entrar e ficar ou de sair disparado. Os seus olhos quedaram-se fixos no tecto (por força de expressão pois não passava de uma precária cobertura de madeira em derrocada eminente e a romper dos cantos suportada não se sabe bem como), e nem uma simpática saudação do professor de mão estendida, agora secundado por cinco vozes juvenis de três rapazes e duas raparigas, o tirou dessa abstracção e da impossibilidade de crer na realidade ali presente, como que “plantado”.
As jaculatórias sucederam-se... enquanto ele cumprimentava alheado o docente.
Infelizmente, os meus conhecimentos desta língua eslava não eram tão excepcionais que me permitissem um diálogo maior que as saudações inicias e uma ou outra expressão, que produziram alguns esgares infantis, que me indicaram com toda a prontidão que seria melhor calar-me.
Zacharia, para além dum perfeito inglês e da sua língua nativa, muito menos se sentia poliglota; o professor não falava inglês (fora sempre um professor de aldeia como mais tarde vim a saber) e a comunicação manteve-se por monossílabos e gestos.
- Volto já! – disse, e arrastei meu amigo, ainda abismado, para a viatura. Abalei, num retorno lento à sede policial em busca de um intérprete local que teria de desinquietar no conforto do seu gabinete ou de sua casa.
- C’ os diabos – pensei - serviço é serviço e o conforto destes felizardos poliglotas ficaria para mais tarde; e se bem o pensei, melhor o fiz; desinquietei o mais próximo que, naquele gelo e em velocidade reduzida, distava duas horas da aldeia.
Azar dele!
Solavanco após solavanco, ravina após ravina, resvalando aqui e ali, cheguei, mudo, contrariando a actual eloquência de meu companheiro, à reconfortante casa do intérprete; um nababo que usufruía, para além de protecção administrativa de funcionário das Nações Unidas, de um bom ordenado e outras “regalias” retiradas do “esforço da paz”, legal ou ilegalmente, líder do mercado negro na zona.
“Ah, a vingança serve-se doce”.
Adorei, ir tirá-lo da sua “abençoada comodidade”.
Retomei o caminho doloroso da aldeia.
E o meu mutismo continuou egoísta, por mais de uma hora, até, cansado de tanto melodrama e lágrimas secas ensaiados e ameaças veladas, ter vociferado um “shut up” que calou o ambiente. Para grande espanto de Zacharia!
Nunca me tinha visto falar acima do tom de voz necessário para ser audível mesmo em caso de crise eminente.
Agastado, calou-se também.
Uma desculpa silenciosa cruzou veloz o meu cérebro – “Alá está ocupado demais para mandar calar estes sacanas mafiosos. Alguém tem de O ajudar, não é?”.
Nesse dia, com o apoio de um sorriso sarcástico do intérprete, soube que as crianças eram órfãos sobreviventes por acaso e que as suas famílias tinham desaparecido na voragem da crueldade dos homens.
Que nada ou quase nada tinham para comer no quotidiano; o pouco que comiam era semeado por eles e pelo parco ordenado o professor auferia do estado (45 euros mensais).
Não tinham nem livros nem outro material escolar.
Roupa? Somente a que a caridade envergonhada de alguns habitantes poderiam dispensar.
Madeira para alimentar o aquecedor velho e dilatado pelo uso só a cortada ou apanhada na floresta por eles.
Totalmente carentes…
Despedimo-nos. Prometemos voltar em breve.
Sorrateiramente meti alguns marcos alemães no bolso esfarrapado da bata do docente.
A revolta tomou conta de mim; só os solavancos da viatura que atormentavam o maldito intérprete me deram sabor a vingança ao ensombraram, aquele sorriso desprezível da sua face.
Vingado, mas não satisfeito.

O Natal chegou e com ele regressei a casa para o celebrar em família. Regressei no penúltimo dia antecedente ao Ano Novo.
Cansado das seis horas de abanões ruidosos do C130 militar e de mais duas extenuantes horas de viagem por estradas de gelo (limpa-neves eram um luxo só guardados para a capital), já noite cerrada, derrubei-me na cadeira frente à secretária do gabinete de comando das academias pejada de papéis a despachar.
- Meu Deus! – pensei – despacho isto amanhã...
Eis, senão, que deparo com uma queixa assinalada a vermelho de urgente – estranho, a única cor permitida na ONU é o azul – que folheei, ao princípio enfastiado, mas algo cravou a atenção de meu olhar e me fez saltar da cadeira; citava “o coronel Zacharia era acusado de apropriação ilícita de bens de um cidadão”.
Caramba!
E o meu espantado gargalhar elevou-se naquele, ao tempo, desértico gabinete.
Irrompi veloz para o frio intenso do exterior e, em passada larga e decidida, rumei pelo gelo em direcção à casa onde Zacharia se aboletava.
Hesitei antes de bater à porta pelo adiantado da hora, mas, mal levantei a mão, esta abriu-se e na moldura recortou-se um pálido semblante de quem não descansa há muito, barba por desfazer, um longo olhar longínquo e combativo, qual berbere, por felicidade, sem cimitarra então, que me convidou, por mímica, a entrar.
Entrei no ambiente frio da sala de estar.
A fornalha estava recheada de lenha que não ardia. Para lá me dirigi, juntei acendalhas e deitei-lhe o fogo. Pouco a pouco o crepitar lenhoso intensificou-se e aqueceu o ambiente.
Como frequentador assíduo da casa, dirigi-me à cozinha; enchi a chaleira de água e pu-la ao lume do fogão a gás. Esperei que assobiasse enquanto dispunha as colheres, o pacote de chá e o mel sobre a toalha ainda posta. Do meu bolso retirei o frasco de metal com “rákia (aguardente)” que sempre me acompanhava no clima agreste e depu-la sobre a mesa.
Não sou um bebedor, mas aquela bebida aquecia até a alma.
Zacharia estacou imóvel à entrada da cozinha e observava todo aquele ritual de preparação e louvor ao conforto perdido.
Sabia de antemão que aos muçulmanos está interdito o álcool com a excepção de fins medicinais. Que Alá desculpasse, desculpou decerto, mas era um caso extremo.
E enquanto a chaleira se negava a apitar, sentámo-nos, olhando para nenhum lugar em particular.
- Desculpa! – interrompeu Zacharia o silêncio pesado.
Nada disse, não era necessário, as nossas culpas nunca iam tão longe que necessitassem de penitência.
O apito da chaleira acordou-nos da monotonia...
Enchi as chávenas de água a ferver, mergulhei os saquinhos que a coloriram de um verde pálido ao princípio, revertendo-se num tom de verde-escuro e o aroma desafiou-nos o olfacto.
Deitei copiosas porções de “rákia” nas chávenas e adicionei mel. Hum! Iria saber bem e o calor invadir-nos-ia de imediato.
Beberricando o chá retemperador, desfilou-me o conteúdo da participação: “... Zacharia tinha-se apropriado de um saco com prendas de Natal, (o Natal ortodoxo celebra-se a 7 de Janeiro) na sua maioria livros e brinquedos, da
propriedade do senhor Maliċ;, intérprete, deixado na viatura policial, e os tinha ofertado às crianças órfãs da escola de Popov Most (...)
Que no caminho, devido à sua fraca habilitação de conduzir em clima de Inverno, tinha danificado a viatura...”
Um gargalhar brusco brotou de meus lábios bem insuflados pelo gozo vingativo que sobressaltou o pobre Zacharia das suas meditações de culpa. E ri entusiasmado. Se ri...
- Eu perguntei para quem era o saco e ele disse-me que eram para as crianças (referindo-se às suas)… – ousou Zacharia interromper o meu riso sarcástico.
Um “está bem! (ok)” meu pôs fim a qualquer outro queixume e perdemo-nos os dois numa alegre cavaqueira e em especial a minha viagem e celebração da Festa de Natal em Portugal.
E a noite prolongou-se risonha e embriagada.
E embriagada, a imagem de Zacharia vestido de Pai Natal feriu ferozmente a minha mente e provocou-me um riso violento, mais violento cada vez que olhava Zacharia, “Faraó, Pai Natal”.
Nesse dia, de manhã, ressacado, chamei à minha presença o “infeliz queixoso” e preguei-lhe um omnipotente sermão em que, por dificuldade de comunicação entre línguas e culturas, se devia expressar cuidadosamente a fim de evitar confusões daquela natureza; seria ressarcido dos possíveis prejuízos desde que apresentasse a factura.
A sua cara de incredibilidade provocou-me a dor da ressaca porque uma risada sacana me sacudiu intensamente o ser.
“Doce vingança” - sabia eu, e os demais, que não haviam facturas no mercado negro.
E lá se desfez o homenzinho em desculpas, que era também sua intenção contribuir na colecta que os polícias estavam a fazer em prol dessas crianças, um blá-blá enfandonho mesmo para um indivíduo mais paciente que eu e menos ressacado.
Terminei aquela lamúria pretensamente caridosa com um “get lost (desaparece)” e o rasgar decidido da participação nas “fuças” do tipo. Ponto final e dispensei-o.
A Zacharia, o “Faraó, Pai Natal”, castiguei-o verbalmente proibindo-o de conduzir as renas, desculpem os leitores, de conduzir qualquer outro tipo de veículo durante o Inverno.
E fiquei feliz que castigo deste cariz tenha retirado um peso nos ombros de meu amigo.
Não fora talhado para conduzir na transição do deserto, com seus camelos, para o ártico, com as suas renas. Não, não fora talhado para tal feito.
E um envelope foi-me entregue da parte de todos os outros membros policiais, oriundos de quarenta e dois países, ali em serviço, numa miscelânea de fardamentos cujo factor comum era a boina azul celeste. Continha a colecta para saldar o débito da reparação do veículo…
Reabri o envelope, coloquei a minha parte, fechei-o e dirigi-o aos serviços de contabilidade.
Insh Allah!

Chefe João Loureiro
CI / PSP
Ex-IPTF / UNMIBH
International Police Task Force - Bósnia e Herzegovina
 
Ponte do Padre, "Popov Most"

Conto de dor e neve (AjAraujo)

 
Conto de dor e neve (AjAraujo)
 
Da janela de uma casa ornada em momento preparatório para a ceia de Natal.
- O que aquela mulher e crianças estão fazendo?
- Ah, é provável que esteja louca, onde já se viu uma coisa dessas: catar flocos de neve nos pratos...
- Mas olha só a alegria deles (diz a vovó, extasiada com a cena)
- O avô (ranzinza para variar), patriarca da família, diz logo, melhor fechar essas cortinas, não quero estragar a nossa ceia com esta cena patética.
- Uma das crianças, Isaac que está em remissão de leucemia, afasta um pouco as cortinas fechadas por ordem do avô, bate na madeira, uma das pequenas crianças vê e olha sorrindo para ele.
- Isaac não atende aos inúmeros chamados do avô bastante zangado que dizia "com essa gente pestilenta não se mistura, ainda mais você com esta leucemia".
- Mas, o pequeno Isaac faz ouvidos de mercador, dá um sinal de me espera, apanha seu saquinho de brinquedos, chocolates e outras guloseimas e alguns cachecóis que insistem que use, arranca para a porta abre e em disparada vai para a rua.
- Ficam todos em polvorosa, o que este menino foi fazer lá fora? No mínimo vai pegar uma pneumonia e ainda por cima estragar nosso Natal, diz a inconformada mãe Ivana.
- O que está fazendo Josef, vá logo lá fora buscar esse menino, o tempo está muito ruim.
- Enquanto isso, Isaac se abraça com as três crianças, lhes entrega o muito que tinha, e recebe do pouco ou quase nada que eles possuíam, um forte abraço e o aconchego de ser humano que lhe faltava - ele era sempre o coitadinho, tinha que usar sempre máscara, os abraços eram raros, sempre meticulosamente traçados.
- Isaac lhes pergunta os nomes e eles se chamam Juan, Guadalupe e Ramon, e a mãe Sara, são de uma família sem teto de latinos, despejados após o pai morrer de câncer há um mês apenas, sem renda para bancar o aluguel do trailer, o dono não teve dó, eles estão nas ruas há 5 dias.
- Isaac pede também um prato e também começa a coletar os flocos de neves que parecem coloridos como guloseimas e todos fazem círculos cantando aquele momento mágico.
- Isaac perguntou a Ramon o que significava aquela neve colhida nos pratos, ele disse que era um sonho que teve, pois, a neve era o alimento que o nosso papai nos enviava dos céus para que sempre estivéssemos juntos, e que deixássemos a tristeza de lado, e fizéssemos o Natal como o menino Jesus que ao nascer não teve uma casa que o acolhesse junto a Maria e José.
- O pai em vão tentou chegar até eles, no afã de interromper aquele "baile de neve", não teve o cuidado para atravessar a neve e teve um tombo espetacular que levou todos aos risos inicialmente pela trapalhada e depois suscitou preocupações, pois não conseguia se levantar.
A família interrompeu a ceia e foi socorrer Josef que não conseguia mexer as pernas havia batido fortemente com a coluna cervical em uma pedra do jardim em frente à casa...
As crianças da família de Sara tomaram Isaac - que estava estático com a cena - pelas mãos e se dirigiram a seu pai...
O que aconteceu então era inimaginável...
Enquanto chamavam o socorro para Josef, as crianças de Sara, chamaram os irmãos de Isaac que eram Mary e John e juntos cada qual foi, orientado por Ramon, a segurar cada braço e perna de Josef.
Bem, e se ele havia tido traumatismo cervical, o que era provável, o que fazer? Ramón fez uma oração circundando com as mãos o pescoço dolorido de Josef que olhava incrédulo...
Então Ramon pediu a Josef que movimentasse os dedos dos pés, depois das mãos, os joelhos, o que ele fez bastante temoroso...
Depois Ramon lhe pediu que olhasse para o céu abrisse bem os lábios e recebesse "a neve da cura", ele fez isso, ante os olhares de todos os familiares e do avô que somente balançava a cabeça e olhava para o relógio torcendo que logo chegasse a ambulância.
- Finalmente chega a ambulância, faz os procedimentos de imobilização de praxe, leva Josef, Ramon e Isaac insistem em acompanhá-lo.
Qual não foi a surpresa da equipe médica após a tomografia e ressonância, havia sinais de uma fratura das vértebras cervicais C2 e C3, e com um estranho calo de cicatrização que protegia a medula cervical ainda abalada, com discreta inflamação em volta. Mas este calo demoraria dias, semanas, meses para se formar, era como se algo tivesse "acelerado" o processo, liberando a medula encarcerada, mas não rompida, e ossificando em tempo recorde aquelas vértebras tão fragilizadas após a queda.
A equipe médica olhou perplexa, repetiu os exames neurológicos, e Josef já sentia todos os movimentos, embora ainda sem a força necessária para deambular sozinho.
Um dos médicos foi lá fora e colocou os braços sobre os ombros das crianças e disse que "o papai milagrosamente" escapou, ele poderá andar com auxílio de muletas e terá que ficar em observação por 24 horas.
Disse mais, "como ele insiste muito" poderá ir para a casa cear com vocês, mas qualquer coisa nos avisem e amanhã precisará vir ao hospital para ser avaliado, e também precisará usar este colar cervical para proteger a medula.
- Isaac com os olhos descerrando lágrimas se abraça ao médico neurologista Thomé e ao menino Ramon.
O médico pede que esperem e traz uma bela caixa de bombons para cada um, e Ramon lhe diz, mas doutor são seus, foram presente que lhe deram?
- O médico lhe diz, vocês são o maior presente deste Natal, este homem foi curado, e isso não foi obra nossa, foi de vocês, essa energia de vocês é muito forte, não consigo explicar, diz emocionado e aos prantos.
Josef chega em casa, estavam todos à porta, o avô se apressa a pedir para prepararem um prato para cada uma das crianças de Sara.

- Então o próprio Josef lhe repreende e diz, "papai, eles são nossos convidados especiais, são os anjos enviados por nosso Senhor para abençoar a nossa ceia de Natal, quero que eles se sentem aqui conosco, Isaac nos deu uma lição de grandeza, humildade, solidariedade e amor hoje, e o que Ramon fez foi de uma grande generosidade, ele que havia perdido o pai há tão pouco tempo". Ramon havia lhe contado sua história no caminho de volta para casa.
- Sara fez a oração de Natal, todos sentaram-se a mesa e perceberam uma forte luz irradiar por entre as cortinas ainda entrecerradas, foi a avó se dirigiu para abri-las e disse: é hora de receber o Deus de amor em nossas vidas e em nossos corações, quero primeiro chamar a Ramon e a Isaac para me ajudar na entrega dos presentes.
Ao anoitecer, após muitas cantigas de Sara e das crianças que não conheciam, abrigaram aquela família despojada de tudo no sótão aquecido da casa, e de nada adiantaram os argumentos, Isaac quis e foi dormir com eles.
Foi o último Natal de Isaac, e ele havia dito para todos que havia sido o mais feliz de todos, uma semana depois teve uma recaída e não suportou dessa vez. Em sua última noite pediu a sua mãe que levasse Ramon para ficar com ela e Josef. Os pais atenderam seu pedido, no último soluçar, pediu que abrissem as cortinas e olhou para a neve caindo e disse: Ramon quando brincar com seus irmãos separe um pratinho deixe a neve cair, eu virei em flocos para brincar com vocês. Papai...
- Diga meu filho, falou com a voz embargada Josef.
Ampare Ramon e seus irmãos, ofereça um trabalho para Sara, e chame ela para o coral da nossa Igreja.

O pai acenou que sim, os dedos de Isaac foram perdendo força e se soltando das mãos de Josef, sua mãe e do amigo Ramon, esboçou um último sorriso e disse nos veremos na neve Ramon, no próximo Natal, agora vou dormir...

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 3 de novembro de 2016.
 
Conto de dor e neve (AjAraujo)

Tempo de magia

 
Era uma vez um reino encantado, cheio de frondosas florestas onde viviam seres mágicos. Gnomos, duendes, fadas, elfos e outros seres encantados, viviam todos em paz e harmonia. Eram todos filhos da mãe natureza, Gaia.
Entre os ramos de uma árvore, estava um Elfo de luz, tinha as mãos e os pés muito grandes em comparação com o corpo. Os olhos eram verdes e o cabelo quase branco, nariz e orelhas pontiagudas, boca larga e lábios sensuais que cantavam uma doce canção, depois de ter participado de um grande banquete.
Quando a canção terminou, deu vários bocejos e adormeceu pendurado na árvore.
De repente, nos seus sonhos, voou.
Tinha havido um grande temporal e ele tinha sido arrastado por um furacão. Tinha caído num lugar muito estranho, num jardim de uma casa.
Parecia uma casa abandonada, mas todas as janelas e portam estavam fechadas. Entrou por uma das janelas, para ele era fácil entrar em qualquer lado, punha em prática a sua magia.
A casa estava escura, os móveis nunca deveriam ter mudado de lugar nem os objetos que enfeitavam a casa.
Numa cadeira estava uma mulher sentada, quieta, com o olhar perdido no passado.
O Elfo olhou para aquele triste cenário e teve uma brilhante ideia, chamou os seus amigos e gnomos, duendes, fadas e outros elfos invadiram a casa.
Todos unidos puseram mãos à obra.
Apanharam lenha para fazer uma fogueira. Acenderam a fogueira, enfeitaram a casa com uma decoração diferente, até o canto mais escondido da casa ficou cheio de enfeites.
Juntos tornaram aquela casa alegre.
Acenderam a luz e foram-se embora devagarinho.
A mulher, passado algum tempo, levantou-se e sorriu ao ver o elfo.
Abraçou-o muito e agradeceu, espantada, olhando em redor.
Finalmente, a sua casa tinha sido vestida de luz, alegria e esperança.
Era tempo de magia.
 
Tempo de magia

ACONTECEU NO NATAL...

 
NATAL PASSADO SEM(PRE) PRESENTE (republicação)

Vinha aí mais um Natal... As colinas de vinhedos despiam as folhas que o Outono tocara de brilhos de ouro velho e, a ritmo inverso, as ruas da pequena cidade vestiam-se de cor e luz. Melodias de sempre evocavam Natais Passados e pairava no ar, misturado com aromas doces, a essência tão própria da quadra, aquele não-sei-quê de espiritual que nos enche de boa-vontade, de amor e de paz...

A jovem mulher entrou numa "loja dos trezentos" apinhada de gente que se forçava a dividir o magro orçamento dos presentes por todos os sorrisos das suas vidas, ou aqueles que, simplesmente, lá buscavam aquelas prendinhas impessoais e baratas para distribuir por amigos, colegas e conhecidos, com um "bom natal" desprendido e a soar a música de cor. Ela estava no grupo dos primeiros. Teria uns trinta anos, talvez menos, franzina e vestida de simplicidade. Deambulou pela loja, comparou preços, recontou discretamente o dinheiro que trazia apertado no velho porta-moedas, e, finalmente, decidiu: uma bola de futebol para o mais velhinho, que já andava na escola; um carrinho de corrida para o do meio, que, sabia, iria passar horas a empurrá-lo pela casa, sonhando pilotá-lo à velocidade do vento; e uma boneca e respectiva alcofa de plástico, vestidas de chita e rendas de poliéster, para a mais pequenina, a sua própria bonequinha, preciosa e delicada, que completava o "seu ranchinho" de filhos, que ela idolatrava. Saíu feliz, com um brilho no olhar que ofuscou as luzes da rua anoitecida...

Na manhã de Natal o brilho renasceu nos olhos dessa mãe, ao reflectir a alegria pura das três crianças. O Sol riu lá fora e o pai prometeu que, à tarde, iriam todos passear e ver a neve à serra.
Era um dia de Natal perfeito, e até os novos brinquedos os pequenos foram autorizados a levar para a aventura na neve.

Mas ao entrar na velha carrinha do pai, a menina chorou e reclamou a sua bébé: a alcofa estava vazia, a boneca acabada de ganhar, ainda só por tão poucas horas acarinhada pela sua "mamã", desaparecera. A mãe procurou debaixo dos bancos, debaixo do carro, no passeio, nas escadas, por toda a casa. Perguntou a quem passava, a quem passou, a quem parou, ninguém vira a boneca. A sua filha exigia a "bebé", com lágrimas pequeninas a cristalizar-lhe olhar, mas o pai reclamava a partida, o sol fugia, e ela nada mais pôde fazer senão sentá-la no colo, mimá-la e animá-la com a promessa dos bonecos de neve que iriam construir.

...Mas a alma daquela mulher mergulhou no poço negro de uma tristeza inexplicável. A carrinha de caixa aberta arfava, ao subir a serra para a desejada neve, e ela já não conseguia imaginar alegria. O Sol brincava no pára-brisas com reflexos traquinas, mas ela fechou-lhe os olhos e só viu sombras. Apoderou-se dela uma tão grande melancolia, que ela própria não conseguia traduzir em pensamentos...
Bolas, era só uma boneca, talvez no mês seguinte conseguisse poupar uns trocos e comprar outra... Olhou a filhita e nem a alegria pueril que lhe animava de novo a face rosadinha a fez emergir do torpor. O seu olhar caíu na alcofa vazia, instintivamente apertada nas mãozinhas delicadas da criança.

A tarde esgotou-se depressa em alegres brincadeiras, batalhas de neve e construção dum enorme boneco, com nariz de pinha e boca de rebuçados. Mas a tristeza persistiu no coração daquela mãe e agravou-se quando o filho do meio insistiu em querer levar o boneco para casa, e a mais pequena reclamou uma boneca de neve para por na caminha desocupada. O regresso acabou difícl para todos, e ela, sempre a trave mestra da família, parecia ser a mais vulnerável e desalentada, ao ponto de o marido se impacientar com o seu estado de espírito. Mas como explicar-lhe o inexplicável? Aquela melancolia que a perda da boneca a fez sentir, aquele subtil pânico que lhe tomou a alma que ela não conseguia decifrar?... --"Entâo??... Quando puderes compras-lhe outra! Que disparate!"
Ela mergulhou um murmúrio nos cabelos perfumados da filha, que novamente se aninhara no seu colo, para o regresso:
--"É, desde que não perca eu a minha bonequinha..."

Mas perdeu. Dias mais tarde um estúpido acidente doméstico roubou-lhe brutalmente essa filha estremecida. Numa noite fria-de-morte, velada por um manto de nevoeiro cúmplice, que lhe aprisionou a Dor no peito e lá lha perdeu para sempre. E a caminha quente da sua filhinha ficou eternamente vazia e ela já não mais pôde entrar numa loja dos trezentos e comprar outra boneca...

Teresa

(Inspirado numa história real, numa angústia real, que me faz pensar sempre até que ponto não nos é dado saber o ponto de retorno... Aquele peso no peito, sei, foi o cravar das garras da Morte, que naquele momento, ali, me escolheu para vítima maior... Porque a minha boneca não é vítima, não pode sê-lo... Como, se é um Anjo de luz, se é o brilho mais áureo, a flor mais fresca, no altar do meu Deus??...)
 
ACONTECEU NO NATAL...

O suave milagre - Conto de Natal (Eça de Queiroz)

 
O suave milagre - Conto de Natal (Eça de Queiroz)
 
Nesse tempo Jesus ainda se não afastara da Galileia e das doces, luminosas margens do Lago de Tiberíade: - mas a nova dos seus milagres penetrara já até Enganim, cidade rica, de muralhas fortes, entre olivais e vinhedos, no país de Issacar.

Uma tarde um homem de olhos ardentes e deslumbrados passou no fresco vale, e anunciou que um novo profeta, um rabi formoso, percorria os campos e as aldeias da Galileia, predizendo a chegada do reino de Deus, curando todos os males humanos.

E enquanto descansava sentado à beira da Fonte dos Vergéis, contou ainda que esse rabi, na estrada de Magdala, sarara da lepra o servo dum decurião romano só com estender sobre ele a sombra das suas mãos; e que noutra manhã, atravessando numa barca para a terra dos Gerassênios, onde começava a colheita do bálsamo, ressuscitara a filha de Jaira, homem considerável e douto que comentava os Livros na Sinagoga.

E como em redor, assombrados, seareios, pastores, e as mulheres trigueiras com a bilha no ombro, lhe perguntassem se esse era, em verdade, o Messias da Judeia e se diante dele refulgia a espada de fogo, e se o ladeavam, caminhando como as sombras de duas torres, as sombras de Gog e de Magog - o homem, sem mesmo beber daquela água tão fria de que bebera Josué, apanhou o cajado, sacudiu os cabelos, e meteu pensativamente por sob o aqueduto, logo sumido na espessura das amendoeiras em flor.

Mas uma esperança, deliciosa como o orvalho nos meses em que canta a cigarra, refrescou as almas simples: logo, por toda a campina que verdeja até Ascalon, o arado pareceu mais brando de enterrar, mais leve de mover a pedra do lagar; as crianças, colhendo ramos de anémonas, espreitavam pelos caminhos se além, da esquina do muro, ou de sob o cicómoro, não surgiria uma claridade; e nos bancos de pedra, às portas da cidade, os velhos, correndo os dedos pelos fios das barbas, já não desenrolavam, com tão sapiente certeza, os ditames antigos.

Ora então vivia em Enganim um velho, por nome Obed, duma familia pontifical de Samaria, que sacrificara nas aras do Monte Ebal, senhor de fartos rebanhos e de fartas vinhas - e com o coração tão cheio de orgulho como o seu celeiro de trigo.

Mas um vento árido e abrasador, esse vento de desolação que ao mando do Senhor sopra das torvas terras de Assur, matara as reses mais gordas das suas manadas, e pelas encostas onde as suas vinhas se enroscavam no olmo, e se estiravam na latada airosa, só deixara, em torno dos olmos e pilares despidos, sarmentos, cepas mirradas, e a parra roida de crespa ferrugem. E Obed, agachado à soleira da sua porta, com a ponta do manto sobre a face, palpava a poeira, lamentava a velhice, ruminava queixumes contra Deus cruel.

Apenas ouvira falar desse novo rabi da Galileia, que alimentava as multidões, amedrontava os demonios, emendava todas as desventuras - Obed, homem lido, que viajara na Fenicia, logo pensou que Jesus seria um desses feiticeiros tão acostumados na Palestina, como Apolonio, ou Rabi Bem-Dossa, ou Simão, o Subtil. Êsses, mesmo nas noites tenebrosas, conversam com as estrelas, para eles sempre claras e faceis nos seus segredos: com uma vara afugentam de sobre as searas os moscardos gerados nos lodos do Egipto: e agarram entre os dedos as sombras das arvores, que conduzem, como toldos beneficos, para cima das eiras, à hora da sesta. Jesus da Galileia, mais novo, com magias mais viçosas decerto, se ele largamente o pagasse, sustaria a mortandade dos seus gados, reverdesceria os seus vinhedos. Então Obed ordenou aos seus servos que partissem, procurassem por toda a Galileia o rabi novo, e com promessa de dinheiros ou alfaias o trouxessem a Enganim, no país de Isaachar.

Os servos apertaram os cinturões de oiro - e largaram pela estrada das Caravanas, que, costeando o lago, se estende até Damasco. Uma tarde, avistaram sobre o poente, vermelho como uma romã muito madura, as neves finas do monte Hermon. Depois, na frescura duma manhã macia, o lago de Tiberiade resplandeceu diante deles, transparente, coberto de silencio, mais azul que o céu, todo orlado de prados floridos, de densos vergeis, de rochas de pórfiro, e de alvos terraços por entre os pomares, sob o vôo das rolas.

Um pescador que desamarrava a sua barca duma ponta de relva, assombreada de aloendros, escutou, sorrindo, os servos. O Rabi de Nazareth? Oh, desde o mês de Ijar, o Rabi descera, com os seus discipulos, para os lados para onde o Jordão leva as águas.

Os servos, correndo, seguiam pelas margens do rio, até adiante do vau, onde ele se estira num largo remanso, e descansa, e um instante dorme, imóvel e verde, à sombra dos tamarindos. Um homem da tribo dos Essénios, todo vestido de linho branco, apanhava lentamente ervas salutares, pela beira da água, com um cordeirinho branco ao colo. Os servos humildemente saudaram-no, porque o povo ama aqueles homens de coração tão limpo e claro e cândido como as suas vestes cada manhã lavadas em tanques purificados.

E sabia ele da passagem do novo Rabi da Galileia, que como os Essénios ensinava a doçura, e curava as gentes e os gados? O essénio murmurou que o Rabi atravessara o Oásis de Engaddi, depois se adiantara para além...

- Mas onde, "além"?

- Movendo um ramo de flores roxas que colhera, o essénio mostrou as terras de além Jordão, a planície de Moab. Os servos vadearam o rio - e debalde procuraram Jesus, arquejando pelos rudes trilhos, até às fragas onde se ergue a cidadela sinistra de Makaur... No Povo de Yakob repousava uma larga caravana, que conduzia para o Egito mirra, especiarias e bálsamos de Gilead; e os cameleiros, tirando a água com os baldes de coiro, contaram aos servos de Obed que em Gadara, pela lua nova, um Rabi maravilhoso, maior que David ou Isaías, arrancara sete demonios do peito duma tecedeira, e que, à sua voz, um homem degolado pelo salteador Barrabás se erguera da sua sepultura e recolhera ao seu horto.

Os servos, esperançados, subiram logo açodadamente pelo caminho dos Peregrinos até Ganara, de altas torres, e ainda mais longe até às nascentes da Amalha... Mas Jesus, nessa madrugada seguido por um povo que cantava e sacudia ramos de mimosa, embarcara no Lago, num batel de pesca, e à vela navegara para Magdala. E os servos de Obed, descoroçoados, de novo passaram o Jordão na ponte da Filhas de Jacob.

Um dia, já com as sandálias rotas dos longos caminhos, pisando já as terras da Judeia Romana, cruzaram um fariseu sombrio, que recolhia a Efraim, montado na sua mula. Com devota reverência detiveram o homem da lei. Encontrara ele por acaso esse profeta novo da Galileia que, como um Deus passeando na terra, semeava milagres? A adunca face do fariseu escureceu enrugada e a sua cólera retumbou como um tambor orgulhoso:

- Oh escravos pagãos! Oh blasfemos! Onde ouvistes que existissem profetas ou milagres fora de Jerusalém? Só Jeová tem força no seu templo. De Galileia surgem os néscios e os impostores...

E como os servos recuavam ante o seu punho erguido, todo enrodilhado de dísticos sagrados - o furioso doutor saltou da mula, e, com as pedras da estrada, apedrejou os servos de Obed, uivando: Racca! Racca! e todos os análtemas rituais. Os servos fugiram para Enganim.

E grande foi a desconsolação de Obed porque os seus gados morriam, as suas vinhas secavam -, e todavia radiantemente, como uma alvorada por detrás de serras, crescia, consoladora e cheia de promessas divinas, a fama de Jesus da Galiléia.

Por esse tempo, um centurião romano, Publius Septimus, comandava o forte que domina o vale de Cesarea, até à cidade e ao mar. Publius, homem áspero, veterano da campanha de Tibério contra Partos, enriquecera durante a revolta da Samaria com presas e saques, possuía minas na Ática, e gozava, como favor supremo dos deuses, a amizade de Flacous, legado imperial da Síria.

Mas uma dor roía a sua prosperidade muito poderosa, como um verme rói um fruto muito suculento. Sua filha única, para ele mais amada que vida e bens, definhava com um mal subtil e lento, estranho mesmo ao saber dos esculapios e mágicos que ele mandara consultar a Sidon e a Tiro. Branca e triste como a lua num cemitério, sem um queixume, sorrindo pàlidamente a seu pai, definhava, sentada na alta esplanada do forte, sob um velário, alongando saudosamente os negros olhos tristes pelo azul do mar de Tiro, por onde ela navegara de Itália, numa opulenta galera. Ao seu lado, por vezes, um legionário entre as ameias apontava vagarosamente ao alto a flexa, e varava uma grande águia, voando de asa serena, no ceu rutilante. A filha de Septimus seguia um momento a ave, torneando até bater morta sobre as rochas; - depois, com um suspiro, mais triste e mais pálido, recomeçava a olhar para o mar.

Então, Septimus, ouvindo contar, a mercadores de Chorazin, deste Rabi admirável tão potente sobre os espíritos, que sarava os males tenebrosos da alma, destacou três decurias de soldados para que o procurassem pela Galiléia, e por todas as cidades da Decapola, até à costa e até Ascalon. Os soldados enfiaram os escudos nos sacos de lona, espetaram nos elmos ramos de oliveira - e as suas sandálias ferradas apressadamente se afastaram, ressoando sobre as lajes de basalto da estrada romana, que desde Cesarea até Lago corta tôda a Tetrachia de Herodes.

As suas armas, de noite, brilhavam no topo das colinas, por entre a chama ondeante dos archotes erguidos. De dia invadiam os casais, rebuscavam a espessura dos pomares, esfuracavam com a ponta das lanças a palha das medas; e as mulheres, assustadas, para amansar logo acudiam com bolos de mel, figos novos, e malgas cheias de vinho, que eles bebiam dum trago, sentados à sombra dos sicómoros. Assim correram a Baixa Galiléia - e, do Rabi, só encontravam o sulco luminoso nos corações.

Enfastiados com as inuteis marchas, desconfiando que os judeus sonegassem o seu feiticeiro para que Romanos não aproveitassem do superior feitiço, derramavam com tumulto a sua cólera, através da piedosa terra submissa. A entrada das pontes detinham os peregrinos, gritando o nome do Rabi, rasgando os véus às virgens: e, à hora em que os cantaros se enchem nas cisternas invadiam as ruas estreitas dos burgos, penetravam nas sinagogas e batiam, sacrilegamente com os punhos das espadas nas Thebahs, os Santos Armadios de cedro que continham os Livros Sagrados.

Nas cercanias de Hebron arrastaram os solitarios pelas barbas para fora das grutas, para lhes arrancar o nome do deserto ou do palmar em que se ocultava o Rabi; - e dois mercadores fenícios que vinham de Jopé com uma carga de malobatro, e a quem nunca chegara o nome de Jesus, pagaram por esse delito cem dramas a cada centurião.

Já as gentes dos campos, mesmo os bravios pastores de Idumea, que levam as reses brancas para o Templo, fugiam espavoridos para as serranias apenas luziam nalguma volta do caminho as armas do banco violento. E da beira dos eirados, as velhas sacudiam como taleigos a ponta dos cabelos desgrenhados, e arrojavam sobre eles as Más-Sortes, invocando a vingança de Elias. Assim tumultuosamente erraram até Ascalon; não encontraram Jesus: e retrocederam ao longo da costa enterrando as sandálias nas areias ardentes.

Numa madrugada, perto de Cesarea, marchando num vale, avistaram sobre um outeiro um verde-negro bosque de loureiros, onde alvejava, recolhidamente, o fino e claro pórtico dum templo. Um velho, de compridas barbas brancas, coroado de folhas de louro, vestido com uma túnica cor de açafrão, segurando uma curta lira de três cordas, esperava gravemente, sobre os degraus de mármore, a aparição do Sol. Debaixo, agitando um ramo de oliveira, os soldados bradaram pelo sacerdote. Conhecia ele um novo profeta que surgira na Galileia, e tão destro em milagres que ressuscitava os mortos e mudava a água em vinho? Serenamente, alargando os braços, o sereno velho exclamou por sobre a rociada verdura do vale:

- Oh romanos, pois acreditais que em Galileia ou Judeia apareçam profetas consumando milagres? Como pode um bárbaro alterar a ordem instituída por Zeus?... Mágicos e feiticeiros são vendilhões, que murmuram palavras ocas, para arrebatar a espórtula dos simples... Sem a permissão dos Imortais nem um galho seco pode tombar da árvore, nem seca folha pode ser sacudida na árvore. Não há profetas, não há milagres... Só Apolo Delfico conhece o segredo das coisas!

Então, devagar, com a cabeça derrubada, como uma tarde de derrota, os soldados recolheram à fortaleza de Cesarea. E grande foi o desespero de Septimus, porque sua filha morria, sem um queixume, olhando o mar de Tiro - e todavia a fama de Jesus, curador dos lânguidos males, crescia, sempre consoladora e fresca, como a margem da tarde que sopra do Hermon e, através dos hortos, reanima e levanta os açucenas pendidas.

Ora entre Enganim e Cesarea, num casebre desgarrado, sumido na prega dum cerro vivia a esse tempo uma viúva, mais desgraçada mulher que todas as mulheres de Israel. O seu filhinho único, todo aleijado, passara do magro peito a que ela o criara para os farrapos da enxerga apodrecida, onde jazera, sete anos passados, mirrando e gemendo. Também a ela a doença a engelhara dentro dos trapos nunca mudados, mais escura e torcida que uma cepa arrancada. E, sobre ambos, espessamente a miséria cresceu como o bolor sobre cacos perdidos num ermo.

Até na lâmpada de barro vermelho secara há muito o azeite. Dentro da arca pintada não restava grão ou côdea. No Estio, sem pasto, a cabra morrera. Depois, no quinteiro, secara a figueira. Tão longe do povoado, nunca esmola de pão ou mel entrava o portal. E só ervas apanhadas nas fendas das rochas, cozidas sem sal, nutriam aquelas criaturas de Deus na terra escolhida, onde até às aves maléficas sobrava o sustento.

Um dia um mendigo entrou no casebre, repartiu do seu farnel com a mãe amargurada e um momento sentado na pedra da lareira, coçando as feridas das pernas, contou dessa grande esperança dos tristes, esse Rabi que aparecera na Galileia, que de um pão no mesmo cesto fazia sete, e amava todas as criancinhas, e enxugava todos os prantos, e prometia aos pobres um grande e luminoso reino, de abundância maior que a corte de Salomão. A mulher escutava com olhos famintos.

E esse doce Rabi, esperança dos tristes, onde se encontrava? O mendigo suspirou. Ah, esse doce Rabi! quantos o desejavam, que se desesperançavam! A sua fama andava por sobre toda a Judeia como o Sol que até por qualquer velho muro se estende e se goza; mas para enxergar a claridade do seu rosto, só aqueles ditosos que o seu desejo escolhia. Obed, tão rico, mandara os seus servos por toda a Galileia para que procurassem Jesus, o chamassem com promessa a Enganim; Septimus, tão soberano, destacara os seus soldados até à costa do mar, para que buscassem Jesus, o conduzissem, por seu mando, a Cesarea. Errando, esmolando por tantas estradas, ele topara os servos de Obed, depois os legionarios de Septimus. E todos voltavam como derrotados, com as sandálias rotas, sem ter descoberto em que mata ou cidade, em que toca ou palácio, se escondia Jesus.

A tarde caía. O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a urze e a rocha. A mãe retomou o seu canto, mais vergada, mais abandonada. E então o filhinho, num murmúrio mais débil que o roçar duma asa, pediu à mãe que lhe trouxesse esse Rabi, que amava as criancinhas ainda as mais pobres, sarava os males ainda os mais antigos. A mãe apertou a cabeça esguedelhada:

- Oh filho! e como queres que te deixe, e me meta aos caminhos, à procura do Rabi da Galileia? Obed é rico e tem servos, e debalde buscaram Jesus, por areias e colinas, desde Chorazin até ao país de Moab. Septimus é forte, e tem soldados, e debalde correram por Jesus, desde o Hebron até ao mar. Como queres que te deixe? Jesus anda por muito longe e a nossa dor mora conosco, dentro destas paredes, e dentro delas nos prende. E mesmo que o encontrasse, como convenceria eu o Rabi tão desejado, por quem ricos e fortes suspiram, a que descesse através das cidades até este ermo, para sarar um entrevadinho tão pobre, sobre enxerga tão rota?

A criança, com duas lágrimas na face magrinha, murmurou:

- Oh, mãe, Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um tão mal pesado, e que tanto queria sarar!

- Oh, meu filho, como te posso deixar? Longe são as estradas da Galileia, e
curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce Rabi. Oh filho! talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O céu o trouxe, o céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes.

De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:

- Mãe, eu queria ver Jesus...

E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo Jesus disse á criança:

- Aqui estou.

Eça de Queiroz, escritor português.
 
O suave milagre - Conto de Natal (Eça de Queiroz)

A mensagem na garrafa (AjAraujo)

 
A mensagem na garrafa (AjAraujo)
 
"... Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo." (Dom Hélder Câmara)

Cenário
Era uma bela manhã de sábado, caminhava bem cedo na estreita faixa de praia, as ondas suaves molhavam meus pés, a maré estava baixa. Ainda havia restos das festas de réveillon, da virada do ano, como pequenos barcos, palmas de Santa Rita e flores, das oferendas dos cultos afro-brasileiros.
Em alguns trechos da areia havia gente dormindo, após a ressaca das comemorações, além de muitas latas e garrafas de cerveja, uísque e espumante.
Os garis trabalhavam já bem cedo para recolherem as sobras da festa, para trás ficavam as lembranças do ano que passara, e a maré não demorava a batizar a praia do novo ano.

O sol já despontava no horizonte, os primeiros raios douravam o manto d´água, tendo ao fundo belíssima paisagem na Praia das Dunas, em Cabo Frio. Enquanto caminhava absorto em meus pensamentos, e porque não admitir “revendo as minhas promessas” para o novo ano, eis que, subitamente, avisto uma garrafa boiando sob as ondas.
Em princípio blasfemei interiormente, como podem jogar objetos cortantes na areia? O meu primeiro impulso fora o de recolher a garrafa e colocá-la em uma das lixeiras próximas. Havia sempre o risco de o vidro quebrar-se com o impacto das ondas na maré alta, ao meio dia.
Mas, ao aproximar-me tive grata surpresa, parecia de um vidro bem antigo.
Então, dei asas à imaginação, quem sabe provinha de alguma embarcação, talvez algum marujo afogando a solidão marítima com goles de rum, havia oferecido a Netuno um pouco da bebida.
Quando olhei mais de perto pude observar que havia algo no interior da garrafa. Ah, de imediato, recordei de estórias contadas em minha juventude. Imagina que brincadeira é esta?
Mas, de queixo caído, então vi perplexo, um velho papel amarelado estava enrolado dentro da garrafa. Então, cuidadosamente retirei a rolha de cortiça que estava bem presa e puxei o que na verdade era um pergaminho.
Ao abrir, havia uma mensagem em inglês arcaico, talvez vitoriano, com letras bem escritas, possivelmente a pena. Então, recolhi o raro objeto, me certifiquei que não era observado e resolvi interromper o passeio matinal e ir direto para o apartamento de praia, para buscar ajuda nos dicionários para traduzir aquele texto, tamanha era a minha curiosidade.
Então, após várias tentativas buscando dicionários atuais e antigos na internet, o que consegui chegar mais perto foi esta tradução livre do texto:

Os homens são seres feitos para viajar!
Então, o que estás esperando?
Toma teu barco e desbraves os mares,
- Ainda que te assustes com as tempestades -

Não tenhas medo!
Sigas as correntes e os ventos do viver.
Pois, de todas as viagens que farás,
Aquela que mais próximo de ti chegará

Será aquela cujas barreiras internas
Tu transporás, enfim conseguirás
Assim no silêncio fecundo d'alma,
O teu despertar encontrarás...

Epílogo
Fiquei longo tempo lendo, relendo e meditando sobre esta mensagem da garrafa, afinal o que ela queria me transmitir?
Como a célebre frase de Teilhard de Chardin: “Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual, somos seres espirituais passando por uma experiência humana”, a vida é repleta de sinais, que transformam esta experiência terrena em um caminho para a evolução espiritual.
Após intenso mergulho nos mares plácidos d´alma, acordo suado, olho no relógio, já são 16 horas, como dormira tanto tempo?
Olhei para a mesa e vi o rascunho da tradução da mensagem, mas quanto à garrafa onde se encontrava? Foi então que me dei conta, que naquele período havia devolvido a garrafa ao mar, afinal o criador da mensagem poderia desejar ela fosse encontrada por outras pessoas em outras partes do mundo.
Havia muitos oceanos para percorrer e, muitas praias a visitar, a garrafa com a mensagem foi uma benção no primeiro dia do ano.

AjAraujo, o poeta humanista.
 
A mensagem na garrafa (AjAraujo)

OS DESLUMBRES.

 
Os deslumbres que despetalam este palácio
Nem de longe pode ser alcançado pela maioria
Das pessoas que levam a vida em fracassos
E sempre sugados por uma pequena minoria.

Mas os lindos cantos exalados pelas janelas
São propagados pelas ondas eletromagnéticas
E certamente adentra a todas as comunidades
Acirrando uma vontade que nunca é concreta.

É natal, mas os seus ritos hora desvirtuaram-se
Não parece ao evento que nos trouxe O Cristo
Toda via há uma sensação que o amor nos basta.

Rogo a Deus pela humanidade e sua congruência
Que a cada dia persigamos as nossas igualdades
Que os desvalidos sejam retirados da indigência.

Enviado por Miguel Jacó em 24/12/2017
Código do texto: T6207224
Classificação de conteúdo: seguro

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OS DESLUMBRES.

SONHO DE NATAL

 
SONHO DE NATAL
 
SONHO DE NATAL

Era Natal. Eu não entendia o “por que”, de crianças bem vestidas, cheirosas, ter a companhia de seus pais e com eles brincar alegremente nas praças e parques, enquanto, eu, vendia balas, para a minha sobrevivência. Descalço e com minhas roupas surradas.
As crianças corriam alegremente em suas bicicletas, outras brincavam com uns carrinhos que tinham motor e uns botões que eles apertavam e, os carros andavam... sem cordões. Que bonito! Como eu queria brincar, estavam tão felizes. Conversavam alegres, mostravam os seus brinquedos, a sorrir, dizendo: foi o Papai Noel que me deu!

Segurando o meu tabuleiro de confeitos, eu ficava a olhá-los pensando: Papai Noel... Será que ele dá presentes aos pobres?
Comecei a conversar com uma das crianças. Eu queria saber sobre papai Noel. Quando a mãe do garoto nos viu conversando, gritou: Vem Marcos! Correndo o pegou pelo braço levando-o para distante de mim.
Ah! Eu queria perguntar tantas coisas ao Marcos... Ouvi falar de um homem bom, barrigudo e amigo
das crianças. Um velhinho, que satisfazia os desejos de cada uma delas; que as fazia felizes.

Pensei: no próximo Natal, eu vou fazer um pedido a ele. Fiquei muito alegre e esperançoso. Perguntei aqui, ali e acolá... Como fazer? Como ele vai saber o que eu quero? Como ele vai saber onde moro?
– Escreve... Pede a ele!
Disse Paulinho, o meu vizinho. Mesmo pobre, ele pediu um brinquedo e Papai Noel atendeu. A mãe dele era doméstica e trabalhava na casa de uma doutora que morava num bairro nobre da cidade. – Ah! Como demorou a chegar o próximo Natal. Enfim, chegou!
Fiz uma carta pedindo uma bicicleta. Quero nova, como as das crianças da praça. Um carrinho para os meus irmãos e uma boneca para a minha irmã. Se ele dá tudo novinho para as crianças da praça.., vai nos dar também!

Paulinho o meu vizinho, disse que pediu um carro de bombeiro... Ele, colocou o pedido dentro do seu sapato.

Paulinho... Eu não tenho sapatos, posso colocar dentro do meu chinelo?

– Acho que sim!

Coloquei. Quase que não dormi. Não pelo desconforto – eu dormia apertado entre os meus cinco irmãos, em um colchão velho, no chão de barro batido – mas, pela ansiedade... Eu queria ver a alegria dos meus irmãos e também, poder andar de bicicleta.

Aos sete anos de idade, eu trabalhava para ajudar a por comida em casa. Sentia-me responsável.
Pela manhã... Nada! Nenhum presente. Nem bicicleta, carrinhos, nem mesmo a boneca... Que decepção!
Chorei e chorei muito. Minha mãe assistiu tudo, chorando comigo. Ela era diarista, no dia seguinte, mamãe trouxe de uma casa onde trabalhou, uns pacotes, tão diferentes daqueles que se faz nas lojas... Uma boneca velha e careca, para a minha irmã e uns carrinhos com as rodas quebradas para nós, os meninos.

Entendi que papai Noel não é o mesmo para todas as crianças. Ele dá brinquedos ricos para as crianças ricas e pobres para as crianças pobres.., Muitas vezes, não dá nada!

O real entendimento veio depois... muito depois. Quando eu cresci. Descobri que papai Noel é só fantasia.

EstherRogessi.Escritora UBE. Mat.3963.Conto:Sonho de Natal, Categoria:Narrativa.Imagens Web. Fotomontagem: by EstherRogessi. 06/12/10

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SONHO DE NATAL

Receita da Felicidade

 
O jantar decorreu numa atmosfera informal de grande encanto. Francisco chegou cedo e a sua aparição foi saboreada como uma brisa de Setembro. Bernardo começou logo a montar o Playmobil, e Francisco foi à cozinha pôr a gelar o Moet. A sugestão de esparguete à bolonhesa foi aceite por unanimidade. Bernardo repetiu as farófias.
- Cheira a Natal, mãe!
Cecília sorriu e elucidou Francisco:
- Sempre que usamos canela, ele diz isso. Mas, por acaso até já falta pouco para o Natal. Quando é que é a festa da escola?
Foi Francisco quem soube responder:
- Dia dezoito. O meu filho vai de pastor. E tu, Bernardo?
Bernardo ainda não sabia. Porém, sabia que haveria surpresas. Até o Tiago já tinha inventado que a professora Dália ia vestida de rena. Cecília trocou com Francisco um olhar cúmplice.
Afinal, a professora Dália não foi vestida de rena, mas a solene monumentalidade das pregas do seu vestido verde esmaltado não passou despercebida. Bernardo já tinha recitado a sua quadra sem atrapalhação e regressado para junto da mãe. Todos, enfim, aguardavam pelo discurso natalício da professora Dália. Apesar da rigidez do seu aspecto, esta assumiu uma atitude maternal na divulgação do concurso "Receita da Felicidade". Embora com poucos recursos, a escola tentava todos os anos satisfazer o maior desejo de Natal dos seus alunos. Bernardo nem quis acreditar quando ouviu o seu nome. Cecília e Francisco beijaram-lhe a face, e ele dirigiu-se ao palco. A professora Dália pediu uma salva de palmas para o representante da Câmara Municipal que apoiara o projecto. Ao menino Bernardo, por este ser alegre, meigo e responsável, nas palavras da mãe, seria entregue para adopção um gatinho do Gatil Municipal. Bernardo olhou a mãe aflito, puxou pelo braço da professora Dália e perguntou baixinho:
- E se a minha mãe não deixar?
A professora Dália sorriu e disse:
- Deixa, deixa...
E, então, a professora Dália agradeceu a colaboração dos pais por terem mantido em sigilo todo o processo, desde o mês de Outubro quando foram convocados à escola para assinarem um termo de responsabilidade ou darem o seu consentimento para a realização do projecto. O representante da Câmara proferiu umas breves palavras para enaltecer o acto de generosidade que é a adopção de um animal abandonado e entregou a Bernardo um cheque de cento e cinquenta euros para assegurar os cuidados do animal. Bernardo estava eufórico.
À saída, compraram o número especial de Natal do jornal da escola e, nessa mesma tarde, passaram no Gatil. Num tom académico, o veterinário foi dando indicações sobre os cuidados básicos a ter com o animal, enquanto prosseguia pelos corredores em direcção às boxes. Cecília manifestou uma melancólica sensibilidade perante a natureza em abandono ao comover-se com aquelas figuras magras, alongando-se em posições harmoniosas, numa vida sem contentamento. Uns de manchas claras e de olhos verde líquido, outros de pelagem escura a realçar ainda mais a luz dos seus olhos assanhados como malaguetas ferozes. Face a tal diversidade, os sentimentos cedem e confundem-se. O entusiasmo de Bernardo conduziu-o até um gatinho cuja mestria de negros e cinzentos do pêlo o fazia assemelhar-se a areia basáltica batida por uma nortada.
Francisco admirou a primavera que se demorava naqueles olhos felinos e sentiu-se invadido por um sabor de paz doméstica. Entretanto, já lera a receita da felicidade de Bernardo, impressa no jornal da escola: "Num tapete, ponha arranhões, marradinhas, ronrons e uma pitada de cócegas de bigodes. Junte o carinho e a ternura, bem peneirados e misturados. Mexa muito bem com os dedos até se tornar uma bola. Tire do tapete e deite no sofá, mexendo sempre até o desatino ser total. Ao primeiro bocejo, deixe repousar. Acompanhe com dois berlindes esverdeados e muita preguiça."
 
Receita da Felicidade

O meu Natal

 
Era uma menina pobre como todos os meninos daquela aldeia do Nordeste Transmontano. Não pedia bonecas porque ela própria as fazia de trapos. Para dizer a verdade não conhecia outras!...Era feliz com as riquezas que tinha, aquela menina,

Na sua aldeia não havia Pai Natal, nem publicidade, nem prendas, nem correrias!...
Havia solidariedade, amor, fraternidade. Havia um Menino Jesus pequenino, aquele que beijava na Missa do Galo. Era esse Menino que lhe deixava no sapatinho, junto à lareira, o saquinho com figos secos, amêndoas, rebuçados e às vezes, uma moeda de dez ou vinte e cinco tostões.

Como é possível que aquele Menino desça a todas as lareiras, sem se sujar na fuligem das paredes? Como é possível que aquele Menino, quase despido, não morra de frio?

Adormeceu e sonhou com aquele Menino que tinha beijado na Missa do Galo. Correram juntos pelos telhados à procura duma telha partida por onde pudessem descer até ao sapatinho de todos os meninos.

Acordou cedo no dia de Natal e correu até o sapatinho. Estava vazio!
Desiludida e achando que o Menino já não gostava dela, uma lágrima deslizou-lhe na sua face rosada. Reflectindo, depressa percebeu que o Menino se tinha atrasado porque tinham nascido mais meninos naquela aldeia!

Instantes depois, como que por magia, lá estava o saquinho com figos secos, amêndoas, rebuçados e uma moeda de vinte e cinco tostões!...

http://www.adelaide-monteiro.blogspot.com
 
O meu Natal

Magia de Natal

 
Com a chegada do mês de Dezembro, chegou também a preocupação habitual do Pai Natal. O que oferecer às crianças? Nos últimos anos o Pai Natal tinha assistido, desanimado, que muita gente se tinha esquecido do verdadeiro espírito de Natal. Cada vez mais as pessoas se preocupavam com a quantidade de prendas que recebiam em vez de se preocuparem com os outros. Partilhar, estar junto dos amigos e da família, ajudar quem mais precisasse… tudo tinha passado, agora o importante eram as prendas, prendas caras de preferência para que, no dia a seguir, pudessem mostrar aos outros.
Sem saber muito bem o que fazer, nem como chegar a quem mais precisava, falou com Rudolph, Dasher, Dancer, Prancer, Vixen, Comet, Cupid, Donder e Blitzen, as suas renas. Amigas de longa data, afinal estavam com ele desde o início, resolveram ir dar um passeio. Enquanto passeavam iam falando sobre as preocupações para aquele ano, que todos partilhavam.
Depois de caminharem por um bocado começam a ver muitas borboletas. Tinham chegado ao reino das Borboletas Mágicas.
As borboletas, por serem mágicas, perceberam logo as preocupações do pai Natal e as suas amigas renas e então chamaram os dois príncipes do reino, que chegaram numa carruagem puxada por dois cavalos – o Amor e a Ternura.
Quando chegaram ao pé do Pai Natal convidaram-no a dar um passeio pelo campo de alfazema enquanto as renas e os cavalos conversavam um pouco.
O Pai Natal falou então aos dois príncipes sobre as suas preocupações. Explicou-lhes que, cada vez mais, as pessoas queriam apenas saber de si, só olhavam para o seu umbigo, sem qualquer preocupação pelos outros. Passavam o ano a virar a cara quando viam mendigos a pedir, quando se apercebiam de crianças a passarem fome. No Natal, fingiam-se interessados, faziam apelos, havia recolha de brinquedos e de alimentos, visitas aos mais necessitados com promessas de ajudas… Com a chegada do ano novo todas essas intenções eram enterradas com o ano velho e tudo voltava ao mesmo.
Ele, Pai Natal, queria ajudar as crianças mas que não conseguia, porque não sabia onde estavam todas elas.
Os príncipes, querendo ajudar, ofereceram ao Pai Natal uma bússola especial, feita de algodão doce azul.
Explicaram-lhe que aquela bússola, além de indicar o norte também mostrava onde o Pai Natal podia encontrar as crianças que, em vez de prendas, apenas queriam receber um pouco de amor e ternura.
Satisfeito por receber um presente tão útil, o Pai Natal agradeceu, porque assim teria oportunidade de ajudar ainda mais crianças.
Quando chegou ao pé das suas amigas renas o Pai Natal explicou-lhes que se tinham de apressar a chegar ao Pólo Norte porque a bússola estava com demasiadas luzes acesas e que tinham de ir buscar todos os duendes que estavam na fábrica de brinquedos para os ir deixar com cada uma daquelas crianças.
Tiveram muito trabalho, mas todo ele foi compensado por múltiplos sorrisos que nasceram na cara de cada criança. Uma épica sensação da época que o Pai Natal desejou prolongar por todo ano. Talvez um dia ofereçam essa prenda ao nosso querido Pai Natal…
 
Magia de Natal

O menino pobrezinho

 
Naquela aldeia velhinha,
Numa casa degredada,
Nasceu uma criancinha,
Da fortuna, deserdada.

Fazia pena ver o menino
Tão pobre como ninguém,
Desde o dia em que o destino
Lhe deu a vida sem vintém.

Em Dezembro, por sinal,
Uma carta quis escrever,
Para o velho Pai Natal
Uma prenda lhe trazer.

Feliz nos seus devaneios,
Até dava gosto vê-lo,
Saltitando prós correios
Sem ter dinheiro pró selo.

Mas de lá voltou chorando
Sem a carta poder mandar
E no caminho foi pensando
Pedir a Deus pró ajudar.

Entrando em casa rezou
Uma oração de esperança
E uma luz divina entrou
No seu peito de criança.

O milagre veio a surgir
Nessa noite celestial;
Bateram à porta, foi abrir,
Estava lá o Pai Natal!...

RAMA LYON
 
O menino pobrezinho

*NATAL, UM QUADRO VIVO

 
*NATAL, UM QUADRO VIVO
 
*Natal, um Quadro Vivo

Uma sena inusitada. Embaixo da árvore, na praça, o olhar fixou a sena por alguns minutos. Um senhor esquelético, só osso. A carne parecia que não existia sob a pele queimada. Varria o local. Tudo arrumadinho. Uma caixa, talvez contendo míseros mantimentos adquiridos com as moedas extraídas dos passantes, algumas molambos encardidos, uma criança com rosto sujo, uma mulher sorridente, um cachorro.

A mulher sorridente, sim! Nunca vi mulher sorrir na miséria! Mulheres atiradas ao destino têm rosto áspero, olhar de ódio faiscando á uma simples palavra de desagrado. Mas vi-a sorrindo quando lhe atiraram uma cédula, eu não sei a quantia, seria talvez uma quantia nunca recebida e daria para uma noite de natal, uma só noite, que valia por uma noite apenas, mas valia. Amanhã o mesmo ódio se instalaria no rosto desengano com a vida.

Somente o cachorro criara carne e estava roliço. Na praça, os restos de comidas jogados ao chão era banquete de qualidade para um vira lata, pequenino ainda.
Quase dez horas da noite, perigo iminente em qualquer praça, mesmo em bairro residencial. Ao redor casas iluminadas, cadeiras nos jardins, entram e saem amigos. Clima de festa.
A sobrinha desceu para pegar iguarias encomendadas, na confeiteira. O olhar deu um giro ao redor. Na quadra, se havia quadra de jogos, estava mal conservada; um carrinho de pipoqueiro, guarnecido por cadeado; rede elástica, onde crianças pulavam, aguardando o próximo desafio.

Observei uma lapinha artificial, na casa em frente, com luzes ofuscando, presentes caros, bolinhas coloridas imagens de santos e animais adorando o Jesus Menino.
Fixei o olhar na sena ao lado: uma lona velha cobria a pequena árvore contra o sereno da noite. O cachorro deitado olhando atento para sua dona, a criança, dormindo em molambos à luz de lamparina, luz que apaga as trevas, a fumaça para espantar mosquitos era como incenso ofertado ao Jesus Menino.

Mas estava lá, a lapinha, no desejo oculto, sem poder ou sofisticação. Foi aí, neste recurso natural, que vi por instinto, para não apagar e perpetuar a história, uma lapinha natural. Os pais sentados no chão, guardiões da filha, um cachorro, uma lamparina para espantar as trevas. Uma família á margem da sociedade sem o colorido artificial dos festejos..
Pintei na mente, uma lapinha, era um quadro vivo no Natal.

Feliz Natal a todos.

Sonia Nogueira
 
*NATAL, UM QUADRO VIVO

PAI NATAL

 
A terra estava branca de um branco imaculado, a neve cobria toda a planície..

Dois belos veados procuravam um pouco de erva que a neve escondia.
Um trenó carregado de prendas esperando que o Pai Natal acabasse de se repousar e continuar a sua viagem do mês de Dezembro, o Natal estava próximo e o tempo já era +pouco para tão grande tarefa.
Uma criança que morava não longe, veio até junto do Pai Natal que dormitava.
-Boa tarde Pai Natal, desculpa já vi que te incomodei, dormias não era assim?, desculpa, não fiz atenção.
-Não tem importância, meu filho, não tem importância, até foi bom pois que não posso ficar muito tempo sem continuar a minha viagem.
-Vais para longe?
-Sim, muito longe, vou dar a volta ao Mundo, se soubesses a quantidade de brinquedos que eu tenho para distribuir...!
-E tu dás brinquedos a todos os meninos?
-Sim, a todos. Sabes, os pais não querem que eu dê àqueles meninos que durante o ano não foram muito ajuizados, mas entre nós, eu não faço atenção ao que eles dizem e dou a todos porque todos são meninos.
-Eu fiz a pergunta porque os meus pais disseram-me que eu não tinha direito a um brinquedo porque não trabalhei lá muito na escola.
-Como te chamas?, olha, não digas, eu conheço todos, vou ver o que poso fazer por ti, dá cáum beijinho ao vélhinho Pai Natal que tem que se ir embora.

Enquanto o Pai Natal aparelhava o trenó, o menino deixava correr algumas lágrimas pelo rosto.
Uma vez tudo em ordem, pegou nas rédeas dos veados e com um aceno de mão disse adeus ao menino que tinha receio de não ter um brinquedo pelo Natal

A manhã acordou linda. Muito Sol o que dava ainda mais beleza à planície, a neve brilhava

O menino acordou também.
-Sabes mãezinha, esta noite sonhei com o Pai Natal!
-Eu sei meu filho, vai ver a chaminé, ele deixou qualquer coisa para ti.

A. da fonseca
 
PAI NATAL

Pequeno Conto de Natal

 
Pequeno Conto de Natal

Seguíamos uma estrela de brilho luminoso, que se destacava lá bem no alto do céu estrelado, de um Dezembro gelado - de 2009.
Ano difícil para os mais necessitados, por sinal.
Sinal era também a estrela de brilho luminoso que nos indicava o caminho. De todos os lugares acorriam pessoas. Tinham ouvido dizer que nascera o Deus-Menino. Crentes no redentor dos homens e numa vida de esperança, num mundo de contrastes e desigualdades inumanas. Descrentes num consumismo desenfreado, que afasta o homem dos verdadeiros e justos valores da vida.
A noite avançava gélida, tornando penosa a procura - não fora o ambiente de festa e solidariedade que se criara, milagrosamente, entre todos. Talvez, por saberem que em breve estariam perante o Menino, que veio à Terra para morrer pelo homem e dar um sentido humano à sua existência.
As expectativas de toda esta gente não foram em vão: a estrelinha apontava o lugar, àqueles que jamais haviam perdido a fé na vinda do Messias.
Uma pequena e pobre cabana - de pastores, irradiava uma aura celeste de luz e clarividência. Fora o local escolhido por Deus para o nascimento do seu filho - feito homem.
Entrámos naquele lugar com o coração aberto, para homenagear o representante de Deus na Terra. Saímos abençoados pela esperança de um mundo onde todos são iguais aos olhos de Deus.

Votos de um Feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos os Luso-Poetas.

Poesiadeneno
 
Pequeno Conto de Natal

ESTRELA

 
Hà pouco mais de 2000 mil anos
uma estrela brilhante
veio anunciar a boa nova,
O nascimento do \"Salvador\",
Aquele que viria libertar os povos
da servidão.
Uma estrela brilhante
guiou os reis magos
atè perto de um menino
pobre que havia nascido num curral
junto aos animais.
Os reis magos andavam perdidos
E a estrela brilhante
guiou-os até ao \"Salvador\".

E assim muitas vezes,
no decorrer da nossa vida.
Quantas vezes andamos perdidos,
cansados pelo peso das responsabilidades,
das adversidades,
Quantas vezes andamos perdidos,
sem alegria,sem rumo,
parece-nos que a caminhada não tem sentido.
Contudo hà um momento,
em que uma pequena luz nos começa a iluminar o caminho,nos guia.
Essa luz pode se demonstrar atravez
de uma mão amiga,
de uma palavra de carinho,
por parte de quem nunca esperavamos,
atravez de um livro que se le,
de um sonho que nasce dentro de nos.
Então a vida ganha novo sentido.

Renovam-se as esperanças,
Fazem-se novos projectos,
novos amigos.
E quando estamos embuidos dessa luz
tudo pareçe ter ganho novo sentido.
Nesse momento,
Quando o nosso caminho ,
a nossa alma esta iluminada,
encontramos outras pessoas
que perderam a luz da sua estrela,
a luz que lhes iluminava o caminho,
lhes aquecia a alma.
Cabe-nos então a nos,
transmitir-lhes um pouco
da nossa luz,
do nosso calor.

E este para mim o espirito do Natal.
Partilhar o melhor de nos mesmos,
partilhar a nossa luz,
a nossa serenidade,
o nosso saber.

O Natal e em qualquer altura do ano,fazer brilhar
a nossa luz interior.

Um bom Natal a todos.
Um beijo com um pouco de luz.
 
 ESTRELA

PAI NATAL

 
A terra estava branca de um branco imaculado, a neve cobria toda a planície..

Dois belos veados procuravam um pouco de erva que a neve escondia.
Um trenó carregado de prendas esperando que o Pai Natal acabasse de se repousar e continuar a sua viagem do mês de Dezembro, o Natal estava próximo e o tempo já era pouco para tão grande tarefa.
Uma criança que morava não longe, veio até junto do Pai Natal que dormitava.
-Boa tarde Pai Natal, desculpa já vi que te incomodei, dormias não era assim?, desculpa, não fiz atenção.
-Não tem importância, meu filho, não tem importância, até foi bom pois que não posso ficar muito tempo sem continuar a minha viagem.
-Vais para longe?
-Sim, muito longe, vou dar a volta ao Mundo, se soubesses a quantidade de brinquedos que eu tenho para distribuir...!
-E tu dás brinquedos a todos os meninos?
-Sim, a todos. Sabes, os pais não querem que eu dê àqueles meninos que durante o ano não foram muito ajuizados, mas entre nós, eu não faço atenção ao que eles dizem e dou a todos porque todos são meninos.
-Eu fiz a pergunta porque os meus pais disseram-me que eu não tinha direito a um brinquedo porque não trabalhei lá muito na escola.
-Como te chamas?, olha, não digas, eu conheço todos, vou ver o que posso fazer por ti, dá cá um beijinho ao vélhinho Pai Natal que tem que se ir embora.

Enquanto o Pai Natal aparelhava o trenó, o menino deixava correr algumas lágrimas pelo rosto.
Uma vez tudo em ordem, pegou nas rédeas dos veados e com um aceno de mão disse adeus ao menino que tinha receio de não ter um brinquedo pelo Natal

A manhã acordou linda. Muito Sol o que dava ainda mais beleza à planície, a neve brilhava

O menino acordou também.
-Sabes mãezinha, esta noite sonhei com o Pai Natal!
-Eu sei meu filho, vai ver a chaminé, ele deixou qualquer coisa para ti.

A. da fonseca
 
PAI NATAL

A menina e a roseira

 
Conto de Natal

A menina e a roseira

- Betimartins-

Para lá das montanhas cobertas de neve, onde a águia repousava, o falcão voava, a coruja vigiava e o rouxinol cantava, existia uma grande clareira, muito solitária, apenas um casebre já muito velhinho, com uma chaminé sempre ativa. Dentro do casebre estava uma mulher magra, sofrida, cheia de magoa e de muita dor pelo abandono do seu marido.

De repente uma porta se abriu e dela saiu uma doce menina, chamada de Violeta, correndo para abraçar a sua querida mãezinha, deu aquele abraço muito apertado, limpando as lágrimas azedas de sua mãe.

Parecia um lindo anjo, sempre sorrindo, sempre alegre, correndo feliz, brincando entre os estranhos canteiros com restos de outrora um jardim. Sempre falava ao seu amigo que ninguém conhecia era invisível coisa de imaginação de uma criança sempre sozinha.

Violeta era repleta de amor pelos seus amiginhos da floresta, sempre os curava, abrigava e dava a pouca comida que por lá existia. Um dia o Inverno se foi, cheio de tristeza, chorando lágrimas de muita saudade pela sua querida Violeta, logo a Primavera chegou e logo abraçou a sua amiga.

Sorrindo ela lhe falou:

- Violeta, eu trago-te uma roseira para que tu a trates, a faças crescer e cuides bem dela.

A menina sorriu e logo partiu correndo feliz, saltando e cantando, até ao destino, avistou a sua casa e logo ela lhe falou:

- Roseirinha esta será a tua nova morada, ficaras a viver aqui comigo, queres tu escolher o teu canteiro?

A roseirinha feliz logo lhe diz:

- Sim amiguinha eu quero aquele canteiro na porta da entrada, só para ficar bem junto de ti.

Logo escavou carinhosamente a terra, sempre a respeitando e adubando, com as suas mãos de fada ela plantou a bela roseira. Os dias passavam, a roseira crescia, Violeta dançava sua mãe ainda chorava escondida pela casa e nas recordações de outra vida, outrora feliz.

Um dia a linda roseira chamou a sua amiga e quis saber a causa de tanta tristeza. Violeta logo contou que o seu pai as abandonou por uma vida melhor bem longe dali, lá muito longe, por detrás daquelas altas montanhas.

Então a roseirinha fez um pedido muito estranho a sua amiga Violeta e lhe diz:

- Violeta, tu confias em mim?

Violeta já com lágrimas caindo acena que sim.

- Eu preciso que me tragas uma lágrima de tua mãe sempre que ela chorar, Agora enxuga as tuas lágrimas nas minhas folhas e pede um desejo, como se fosse um pedido ao Menino Jesus, pois só um pedido eu posso vir a realizar.

Enxugou suas lágrimas nas folhas da roseirinha, logo ela se picou num grosso espinho e ficou a sangrar.

Nesse ato de amor uma gota de sangue caiu nas folhas da roseira e ela desejou que o seu pai voltasse para junto da família, só para ver a sua mãe voltar a sorrir.

A Roseirinha apenas lhe falou:

- Violeta, meu lindo anjo amigo, não existe nada que não exija sacrifício e muito amor. A partir de hoje colocarás uma rosa na cama do quarto de tua mãe e não esqueças as lágrimas que eu te pedi.

Violeta entrou em casa e viu a sua mãe a chorar e logo extraiu uma linda lágrima, correu e deitou em cima da folha da sua linda roseira. No dia seguinte, sua mãe acorda a menina, espantada, incrédula e lhe diz;

- Meu anjo vem comigo ver um milagre, depressa.

Calçou a menina e as duas foram até a saída de sua casa, a mãe chorando de alegria acena para a sua roseira e mostra-lhe como ela estava cheia de lindas rosas vermelhas e muito perfumadas.

Violeta segreda ao ouvido da mãe:

- Mãezinha foram as tuas lágrimas e todas as vezes que tu chorares, por favor, traz aqui uma lágrima tua, prometes?

A mãe prometeu sempre que chorava ela colhia uma lágrima e a levava a roseirinha. E a linda Violeta colhia uma rosa vermelha e levava todos os dias a cama de sua mãe.

Passaram dias, passaram semanas, passaram meses e a roseira nunca secava, todos os dias ela florescia ainda mais bela.

Um dia a Violeta curiosa perguntou-lhe nas suas longas conversas:

- Roseirinha porque é que tu nunca deixas de ter rosas sempre frescas e novas, o Inverno esta chegando e nunca tive rosas no inverno.

- A Roseira, falou triste:

Está chegando a hora de eu partir, mas quanto as rosas frescas é o coração de tua mãe que está ficando curado, Ela já quase que não chora, já canta pela casa e já tem esperança dentro de si, por isso está a ficar curada.

Violeta estava feliz pela sua mãe, mas muito triste pela sua amiga. Rolou uma lágrima sobre a Roseira e logo ela lhe falou:

- Ai, minha linda amiguinha, sabe que eu vou partir mais cedo, por isso não chores quando eu me for, pois por amor tu te choras-te e picaste o teu lindo rosto, a gota de sangue, me deu uma nova vida, o teu amor me alimentou e logo chegará o teu pedido feito com o coração.

Caíram tempestades, depois veio à neve chegou, mas a roseira sempre florescia. Assim o Inverno chegou feliz ele abraçou a sua linda amiga.

O Natal chegou e um estranho bateu na porta, assustada a mãe correu e logo perguntou:

- Quem está ai?

Um homem respondeu:

- Sou eu, abre a porta que morro de tantas saudades de vós.

As lagrimas corriam, mas agora eram lágrimas de felicidade, a menina correu para ver a sua roseira e logo a viu que ela estava morrendo.

Prometeu não chorar, triste ela abraçou a sua roseira,

A roseira despede e logo ela partiu.

Violeta voltou para beira do pai.

Feliz ele a pega no colo dizendo:

- Violeta como tu estás grande, mas vejo que estás triste por eu voltar para ti.

Violeta abraçou o pai e apenas lhe diz:

- Não pai eu estou muito feliz, entendi que para ter umas coisas das quais amamos deveremos desprender de outras, eu te escolhi a ti.

A mãe entendeu e feliz abraçou o seu marido e a sua menina. Agora é Natal, pensou ela com a família unida.

Quando foram dormir as camas estavam cheias de lindas rosas vermelhas frescas e acabadas de colher eram as rosas do amor.

O milagre do amor sempre acontece no Natal.

27 de Novembro de 2012

www.betimartins.prosaeverso.net
 
 A menina e a roseira

O Catador dos Sonhos

 
O Catador dos Sonhos



Por Beti Martins

Era um velhinho simpático, vestes rotas, limpas e uns sapatos gastos na sola do pé, seu rosto era agradável inspirava confiança a quem o olhava, seus olhos azuis eram brilhantes da cor do céu e seu sorriso farto e iluminado, dono de uma espessa barba branca, comprida e seus cabelos fartos e desalinhados, dava a fisionomia do Pai Natal apenas a barriga era magra e seu corpo pequeno.

Seu destino era caminhar por esse mundão fora, todos os seus pertences são apenas uma mula, o cachorro sarnento, chamado Pintas, pois era cheio de bolinhas brancas no seu corpo preto e a sua carroça, nada tinha mais nesta vida.

- Oh! Pintas nós vamos parar aqui para descansar, amigão a Julieta precisa de descansar também e já estamos com fome ou não?

Diz o Catador de sonhos, era assim que ele se apresentava sempre as pessoas acho que nem o Pintas sabia seu nome.

O cachorro Pintas, o cão sarnento, contente lá, abana a sua cauda, comida já era hora sim. Julieta a mula já era velha e estava cansada, mas era muito amada pelo seu dono que nunca a esforçava mais do que podia.

O catador de sonhos apanhou lenha, foi buscar água, preparou seu jantar e claro a sua cama e dos seus amigos, arrumou a sua carroça e foi dormir depois de sua refeição agradecida a Deus.

Ainda não amanheceu e já estavam a caminho da cidade para lá das montanhas, logo ele chega a um pequeno vilarejo, simpático e cheio de crianças brincando no pátio da igreja e no pequeno jardim.

As crianças correram para O Catador de Sonhos, exclamavam:

- Oh! Senhor será que podemos brincar com o cão? Que trazes ai na tua carroça velha são trastes velhos e para o lixo?

Algumas crianças começaram a rir sem parar, o Catador de sonhos, sorriu e amavelmente falou com a sua voz doce.

- Não meus meninos eu trago-vos os sonhos, estão aqui bem escondidos.

Um menino sardento e com cara de rufia, o que devia ser o mais espertinho do grupo, exclama:

- Oh, velho cá para mim és dos que engana trouxas, tu pareces o pai natal, mas eu já não acredito nele, ouviste!

O Catador sorriu e os chamou:

- Querem vir me ajudar a descarregar a carroça?

-Queremos sim.

Gritam as crianças ao mesmo tempo. Aquela curiosidade mórbida de ver o que ele tinha na carroça era demais. Correram todos para junto do Catador, estranho espreitaram a carroça e parece nada ter de especial

Da carroça apenas tiraram sete sacos velhos e quase vazios, o rufia exclama, fazendo-se de espertinho:

- Oh, velhote parece que tu nem sonhos tendes aqui, pois os sacos nada pesam, estou errado?

O Catador pediu muita calma, pediu que colocassem os sacos a sua frente, suplicou que todos se sentassem a sua volta e ao mandou contar os sacos. Eles contaram um deles exclama:
- E agora que fazemos com eles?

O Catador explicou:

- Calma, por favor, aqui cada saco representa os sonhos de um continente, vou lhes explicar os continentes são sete, America do Norte, America do Sul, Africa, Asia, Europa, Oceania e Antártica

Os meninos ficaram calados e mudos. Curiosos eles ficam atentos ao Catador, olhos brilhantes e atentos a tudo.

O Catador de sonhos fala:

- Tu ai? Tem o saco do Continente da Europa, exatamente o teu continente. O abre e tira dele um sonho.

O rufia estava relutante, mas lá fez a vontade do velhote, abriu e tirou dele uma carta.

O Catador dos Sonhos o manda ler essa carta

- Por favor, leia essa carta do princípio ao fim.

O menino lá a começou a ler:

Querido pai

Tu não sabes, mas a minha mãe foi para o céu, acho que foi a tua procura, pois ela sempre dizia que tu eras o anjo dela, eu não sei, mas todos choravam por ela, dizem que ela não volta mais e é mentira, pois à noite eu acordo e ela lá esta na cabeceira a olhar-me, o seu rosto é lindo e ela parece um anjo cheio de luz. Ela me manda calar e pede segredo, mas a ti eu não posso esconder meu segredo, já tenho seis anos e aprendi a escrever e a minha avó é muito minha amiga, ela chora muito e a vejo a olhar as fotos da minha mãe.

Olha pai, eu não peço presentes ao Pai Natal não apenas eu tenho um lindo sonho, um dia eu poder te conhecer e poder abraçar-te para eu sentir como é ter um pai do meu lado.

Sabes a mãe falava de ti com tanto amor, foste para a guerra e foste dado como desaparecido, nunca souberam do teu corpo, mas a mãe não agüentou de saudades e quis ir te procurar ao lado dos anjos. Um dia eu vou te encontrar.

Do rosto do menino as lagrimas corriam sem parar, sufocado ele pergunta:

-Velhote como é que tu tens esta carta? Faz tantos anos, mas ainda me lembro como se fosse hoje.

Sorrindo o Catador dos sonhos, fala:

- Julio é o teu nome não é? Eu tenho essa carta desde que a escreveste e vou te realizar teu sonho, espera até amanha e depois me dirás. Agora é horas de todos irem para as suas casas, vossas mães e avós estão preocupadas convosco.

Todos sorriram pasmos, obedecendo ao velhote ele era um tipo de mágico e estavam sem saber o que pensar.

Aquela noite foi bastante longa, o Júlio queria que o dia viesse rápido, tomou seu café da manha e correu para junto do velhote. Respirou fundo e o procura e não o vê fica inquieto demais, ele embora não foi e esta aqui a mula, a carroça e o Pintas.

Olha para a entrada da igreja e vê a sua porta aberta, pensou vou rezar pela mãe e pelo eu pai. Entrou dentro dela e lá estava o velhote ali, ajoelhado e rezando. Júlio se ajoelha e reza calmamente, vê o velhote levantar e passar por si, colocando a sua mão no cabelo e dizendo baixinho:

- Anda são horas de vires comigo até a praça.

Estendo a sua mão a mãos dele e juntos saem da igreja. Júlio sentia o coração bater acelerado demais, que iria acontecer ali.

Os dois se sentam no banco e olham a estrada, logo chega um grande autocarro cheio de gente, ele para e dele sai um homem com um grande saco as costas.

Desce do autocarro e olha para todos os lados, aproximasse dos dois e pergunta:

- Por acaso o senhor conhece um menino chamado Júlio? Ele só tem doze anos, é órfão de mãe que lhe morreu aos quatro anos. Podem me ajudar?

O Júlio começa a soluçar, sem parar, o catador dos sonhos se levanta e responde:

- Conheço sim, ele esta aqui comigo, este é o seu filho.

Incrédulo ele abraça o menino, chorando os dois, sem parar.

Enquanto isso o catador dos sonhos sobe para a sua carroça e dá ordem a Julieta para ir em frente. O menino olha para ele e diz:

- Obrigado meu amigo, obrigado, agora eu acredito em sonhos e no Pai Natal.

O Catador dos Sonhos acena feliz e segue a sua viagem para novos sonhos poder vir a realizar.
 
O Catador dos Sonhos

Desejos do Coração

 
Não mais sou aquela criança, que, às vésperas dos natais longínquos... sonhava, em agonia, com o término da noite e lutava contra o sono para ver-te chegar durante às madrugadas, Noel... Ansiosa eu colocava meus sapatinhos bem arrumados , embaixo da cama , esperando a tua visita, que eu sabia, ser breve... Quantos lares tinhas que visitar!... E, ao amanhecer, de um salto... Eu me punha em pé! Os meus olhos seguiam direto a procura dos meus sapatos, onde um ajudante teu – quantos desses tens mundo afora... –, tinha colocado o meu presente.

Lembro da boneca duura... baraata... que o teu ajudante me presenteou! Não mexia a cabeça, nem os braços e menos ainda as pernas. Os olhos eram pintados... Porém, como me fez feliz!...

Fui crescendo e o meu entendimento cresceu comigo... Quantas perguntas eu fiz a mim mesma... Algumas sem respostas, outras... vieram a mim.

Como é lindo o Natal! É uma festa que simboliza a paz e a fraternidade entre os homens... Tudo é tão singelo, tão mágico!... Tão saudoso... Mesmo, para os que ainda, não têm porque sentir saudade...

Tudo é vermelho, verde e branco... Sangue, vida e paz!...

Ah!... Hoje, percebo, infelizmente, que a maioria, comemora tudo nessa época, menos o que se deve comemorar de fato!... O personagem principal está tão distante de cada um deles... É uma festa cuja preparação é uma forma de exaltação própria!
A casa material é limpa ornamentada, troca-se móveis e utensílios; se faz faxina nos armários e guarda-roupas, é momento de inovação exterior... Às geladeiras ficam repletas de guloseimas; de supérfluos, para alimentar a quem não tem fome... É NATAL!!

Foi em busca da compra de presentes, que me deparei com a ‘realidade da época’... Ao chegar a uma grande loja de brinquedos... Observei um pai testando um carrinho, guiado por controle remoto. Feliz, tal qual, uma criança... Indeciso entre levar o carrinho e/ou um helicóptero que, parecia ser mais real, do que se possa imaginar...Com certeza, aquele pai estava propenso a si presentear, tanto quanto, ao filho... Quem sabe?... Talvez, quando criança, recebera presentes como os que eu recebi... (e, graças a Deus por tê-los recebido...) Naquele momento de observância, percebi uma criança maltrapilha – menino-de-rua – admiradíssimo com tamanha beleza... Ele assentou-se no chão e ficou embevecido. Os seus olhos brilhavam, como as luzes do Natal... Ora, olhava o carinho que fazia manobras radicais, guiado pelo comprador-criança; ora, fitava para o alto, vendo o helicóptero voaando... tal qual, um pássaro. Foi em meio aquele enlevo que chegou um vendedor desnaturado, insensível e o colocou para fora, puxando-lhe pelo braço grosseiramente... O meu espírito se constrangeu! Quando me recuperei do choque momentâneo, gritei: Pare! Não faça isso! Respeite a criança... Suas vestes estão sujas, porém, a sua inocência é branca... Não a manche! Deixe-o em paz! Ele está comigo... O homem saiu desconfiado... Perguntei ao garoto: qual deles é o mais bonito? E ele respondeu: – O avião!!
Papai do Céu – hoje eu sei a nome correto – realizou o sonho daquela criança. Eu sei, o quanto dói, não ter um sonho realizado...
O que é fácil e corriqueiro para milhares, pode ser de suma importância para outros tantos.

Eu tenho um sonho há dez anos... Sei que se tornará real... Viverei até lá!...

EstherRogessi.Conto de Natal.Desejos do Coração.Categoria:Narrativa.23/12/09

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Desejos do Coração