Contos de tristeza

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares da categoria contos de tristeza

A Dona poesia e o passarinho

 
A Dona poesia e o passarinho
 
Numa bela tarde de primavera, a dona poesia veste-se a rigor, da sua mala de madeira, escolheu melhor blusa de cetim, e do reportório, as mais belas frases, onde botara todo seu mundo.
Era uma tarde cinzenta, o vento soprava e do mar agitado vinha brisa fedorenta do lodo. Ela não se importou com o cheiro, alisou o cabelo e apressou os passos.
Na sua passagem pelo jardim, deparou-se com um pássaro que chorava convulsivamente, abrandou os passos e lacrimejou, estava tão emocionada, tirou da sua mala um lencinho e enxugou lágrimas ao pobre pássaro que nunca parara de chorar, afagou-lhe cabelo grisalho, porém, o passarinho chorava cada vez mais. Dona poesia, desfeita em lágrimas decidiu cantar-lhe uma serenata, o passarinho escutava comovido aquela melodia que soltava dum coração à pingar de amor. Secaram-se-lhe as lágrimas e no seu semblante aflorou alegria.
Em sinal de gratidão, o passarinho lhe emprestara a voz.
A dona poesia retomara passos apressados, pois tinha encontro com fazedores de poema.
A escassos minutos chegou ao salão dos poetas, era o dia de declamação de poemas e era sua vez de declamar, subiu ao palco, hesitou, quase que desmaiara, houve murmúrios na sala, o silêncio se tornou pesado e, como se acabasse de sair dum sonho, ela olhou pra plateia em alvoroço e da sua linda voz, ecoou uma serenata que deixara os espectadores em delírio, todavia os juízes não pareciam convencidos e puseram-se a cochichar…
Por fim levantaram-se e deram uma negação. Foi então que à janela assomou o passarinho que se pós a cantarolar a serenata. Dona poesia comovida acompanhou o passarinho e ambos cantaram a mais bela serenata de todos os tempos.
Os espectadores correram com os juízes. E a partir daí, as declamações de poemas passaram a ser dirigidas pelos espectadores, dos juízes nunca mais se ouve falar.

Adelino Gomes-nhaca
 
A Dona poesia e o passarinho

Os porquês duma criança…

 
Os porquês duma criança…
 
Os porquês duma criança…
Que pergunta a mãe:
-mamã, porquê partiu minha mana?
A mãe banhada de lágrimas responde:
-filho, ela foi brincar com os anjos lá do céu,
Um dia ela há de voltar.
-mãe, mas hoje é aniversário dela,
Porquê não podia voltar mais cedo?
Ó filho, o céu é distante e ela levará dias
Pra chegar a tempo.
-mamã, mas dizem que há renas no céu,
Ela podia pedir boleia ao pai natal…
-sim podia, mas o pai natal foi de férias
E só vem à terra pra próximo ano.
Ó mamãe, mas é muito tempo!
-não filho, o natal é já amanhã, vá dormir.
A criança ficou muito alegre, e foi deitar-se
Com intuito que no dia seguinte
Reveria sua irmã, que morrera há duas semanas.

Peta
 
Os porquês duma criança…

PERDIDA

 
Soltam-se palavras
como
desalmadas lágrimas

no
ruidoso silêncio
duma tarde

em
pálido sol

de
Outono.

Gélidas vozes

como
maciças sombras,

teimosamente batentes
na
minha mente,

perdida no querer
dum tempo

de

te ter.

mariamateus
 
PERDIDA

Insatisfação eterna

 
Insatisfação eterna
 
Lorraine jamais acreditara que a humanidade fosse imarcescível, sempre fora céptica relativamente às questões da vida depois da morte, para ela o homem era pura e simplesmente feito de matéria orgânica e minerais, que acabaria por se decompor e retornar à terra mãe.
Aos quarenta e cinco anos, com toda uma vida pela frente, formação académica em várias áreas e um nome de prestígio, nada faria prever que a sua constante e compulsiva insatisfação pessoal a levaria a cometer o maior acto de cobardia que alguém pode atentar contra si mesmo.
Após 12 anos de casamento, que não lhe deram rebentos, por força de uma incompatibilidade genética, o desgaste de uma vida sempre em mutação, pela busca de novos conhecimentos e a diferença de interesses que com os anos se vão acentuando, foram os factores que estiveram no cerne da sua ruptura matrimonial.
Um divórcio tratado juridicamente às pressas, ironicamente dito amigável, deixara Lorraine em desvantagem financeira relativamente ao homem que desposou aos 18 anos.
Lyon, a cidade que lhe serviu de berço, junto ao Jardin Botanique, no chamado coração da cidade, era, agora 15 anos volvidos, apenas uma lembrança envolta em muita saudade e nostalgia. De Jean-Luc a memória dos primeiros anos de felicidade em comum, do tempo em que ainda construíam sonhos conjuntos. Depois a ansiedade de não gerarem filhos e a traição do marido era o que mais vivo retinha na memória e lhe acinzentava o coração.
Laura, sua mãe, falecera vitimada por um linfoma, o que a desgastara e deixara só na companhia do pai, também ele, debilitado na luta contra o vil Alzeihmer.
O prédio de esquina da Rua da Palmeira, em Setúbal, acordara sobressaltado naquela madrugada fria do mês de Janeiro, quando um grito estridente e gélido, acompanhado por um arrepiante embate, acusou algo fora do normal e os vizinhos acorreram ao vão da escada. Lá em baixo, o que sobrava do atraente corpo de Lorraine, inanimado e indescritivelmente envolto numa pasta de sangue, é imagem que jamais será apagada da mente óptica de quem testemunhou tão triste cena.
No velório, poucas as pessoas que fizeram questão de lhe prestar uma derradeira homenagem, talvez porque aos poucos, tivesse afastado uma por uma as suas amizades e conhecimentos, uma vez que dedicou os últimos quinze anos da sua vida aos estudos e progresso na carreira, de tal forma que recusava todas as excelentes oportunidades de trabalho que tivera, sempre por achar que nunca se prestaria a ficar sob a tutela de outro profissional e ser sua subalterna. Por conta desta obsessão e preconceito, a sua condição financeira foi-se agravando e as dívidas contraídas para montar negócios por conta própria, que nunca resultaram, por força da sua arrogância e azedume, sucediam-se e amontoaram-se.
A urna fechada, protegia os mais curiosos de uma visão dos infernos, ao mesmo tempo que devolvia à memória de Lorraine um pouco de dignidade.
Nos rostos presentes na cerimónia fúnebre que antecede a derradeira passagem pelo crematório, raros eram os semblantes carregados de lágrimas, como se de um acto previsível e incontornável se tratasse.
Sobre a urna um pano negro com a cruz bordada a dourado e um único palmito de flores em tons de rosa e branco faziam lembrar que o corpo que ali jazia pertencia a uma mulher ainda na flor da idade.
Suspensa no ar, atónita e aparentemente perturbada, não fora tratar-se de um periespírito, Lorraine debatia-se contra a imagem que os seus olhos avistavam por baixo do seu corpo fluído, vestido de semi-matéria.
Gritou com quantas forças tinha, convicta de que seria ouvida, já que os patetas que se encontravam na capela mortuária deveriam ter uma espécie de torcicolo em série, uma vez que ninguém se dignava em olhar para cima e tirá-la daquele suplício, que era estar pendurada:
- Mas que raio de teatro é este? Que diabo estou eu aqui a fazer? Façam favor de me tirar imediatamente daqui!
Por mais que gritasse e estrebuchasse não lhe servia de grande coisa. Achava-se estranha e leve como uma pluma, mas sentia como se estivesse anestesiada, uma dor meio atordoada incomodava-a.
Os seus olhos fixaram-se, por fim, na urna e sem perceber bem como, uma vez que esta estava fechada, conseguiu ver o vulto que estava lá dentro, o que lhe provocou um enorme arrepio na medula. Aquela mulher ali em baixo, completamente desfigurada era ela, acabara de perceber que os seus intentos foram cumpridos e que, por mais que gritasse e se insinuasse, nunca seria vista pelos poucos amigos e familiares que ali se encontravam a velar o seu desfigurado cadáver.
Percebeu que flutuava e que por mais que tocasse nas pessoas que estavam na sala e as trespassasse, o mais que conseguia provocar nelas seria um arrepio passageiro. Irritou-se, afinal ela estava habituada a ter control das situações e não sabia o que fazer, nem para onde ir. Viu chegar o cangalheiro, pegar na urna e metê-la no carro funerário. Não sabia se havia de ir no carro funerário, ou recusar-se a fazer a derradeira viagem, que segundo os familiares presentes seria até ao crematório das Olaias. Lembrou-se que essa seria a sua última vontade e que pelo menos essa fora respeitada pela família e resolveu entrar na berlinda e acompanhar os seus próprios restos mortais.
Viu a urna entrar no forno crematório e não sentiu nada, pois ainda lhe doíam os membros inferiores e a parte da espinal medula. Depois acompanhou as cinzas que, tal como era sua vontade, foram deitadas ao Rio Sado, sobre a sua muito querida Serra da Arrábida.
Os acompanhantes do acto fúnebre dispersaram, cada um às suas vidas, e Lorraine ficou vagueando sem destino. Para onde ir agora que tomara consciência que desencarnara?
Difícil será encaminhá-la na direcção do caminho da luz.








Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
natural: Setúbal
 
Insatisfação eterna

A vidraça da janela

 
A vidraça da janela
 
A noite serenou e logo esfriou.
Olhando pela vidraça da janela embaçada
Katherine comecou a lembrar-se do dia em que Maicon partiu.
Ele parecia saber que não mais voltaria.
Naquele instante ela sentiu um calafrio;
Um medo! Pois tudo tornou-se lúgubre.
Começou a limpar a vidraça da janela com suas mãos afim de não perder Maicon de vista.
Mas quanto mais ela limpava , mais o seu vulto se distânciava...
Quando ele entrou no carro e saiu em alta velocidade.
Suas lágrimas já se confundiam com as marcas das suas mãos...
Quanta ilusão pensar:
Que ele ao olhar para trás desistiria e voltaria correndo para os seus braços.
Mas não foi bem assim!
Quando Katherine fechava as cortinas.
Ouviu passos e se pôs trêmula.
Pois tinha sentido uma sensação estranha e parecia ter visto o vulto de Maicon.
Arrepiou-se, mais uma vez...
Pois estava naquela casa muito próxima da montanha.
Ela tinha muito medo de animais selvagens que sempre apareciam por ali.
Tentou se aproximar da lareira para se aquecer e aproveitar para tomar um vinho...
Na tentativa de esquecer e adormecer para não lembrar por não acreditar que por um motivo torpe de ciúmes Maicon saiu daquela forma, numa noite gélida.
Mal dava para enxergar as rodovias.
Mais uma vez ela foi despertada de seus pensamentos com uma voz muito mais próxima da porta, ela deu um passo para trás, pegou uma arma por segurança, mas trêmula, que se quer conseguia segurar a arma, mas se manteve firme.
Os passos à voz muito próxima, já batia na porta.
Ela perguntou: Quem é?
- Sou o policial Jeff senhora, preciso lhe falar!
Ela quase desfaleceu, mas abriu a porta.
O policial entrou e disse: Não trago boas notícias...
O Sr. Maicon sofreu um grave acidente e não resistiu ele corria muito e o carro capotou...
Katherine,- não, não pode ser. Meu Deus! Chorava copiosamente...
Pois lembrara que ele havia falado que nunca mais voltaria para casa e muito menos para ela.
Consumido de ciúmes , pois Katherine era uma mulher muito bonita e não passava despercebida por ninguém.
Mas era uma mulher íntegra e jamais havia traído Maicon.

Mary Jun
 
A vidraça da janela

A tua ausencia

 
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em tempos distantes...
simples olhares e sorrisos...agora nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade,
nem me deixaste sequer o direito de dizer-te adeus...olhar-te...
porque o fizeste, porque te foste?
 
 A tua ausencia

O mar tem estrelas

 
O fundo mar tem estrelas
No amanhecer...
O céu carregado de algas
Não quer morrer...
E tu, meu companheiro
De leito onde
Tantas làgrimas te escondi.
O mar tem estrelas
O céu tem algas,
Eu tenho dôr
Porque te perdi,
Quando caminhava na rua
E o céu chorava...
Chorava por mim
E tua alma lavava.
Deste farol que perigos avisa
me atiro, mergulho...
Porque o fundo do mar
Tem estrelas.......
 
O mar tem estrelas

MÃE(DEUS OUVE-ME!!!)

 
MÃE ESTOU TRISTE DE TE VER NESTE ESTADO
DIAS LUCIDA E FORTE COMO UMA ROCHA
OUTROS CONFUSA E INDEFESA COMO UMA CRIANÇA
SINTO DOR NA ALMA ,QUANDO SINTO SUA FRAGILIDADE
QUERIA TE DAR UM POUCO DE MINHA ENERGIA E
TE FAZER VOLTAR A SANIDADE .
QUERIA QUE SENTISSE O MEU AMOR.
O QUANTO É IMPORTANTE PARA SEUS FILHOS
NOITES MAL DORMIDAS A SENHORA TEVE CONOSCO
DIAS DE MUITA ALEGRIA NÃO PODERIA FALTAR
UMA FAMÍLIA QUE OUVE UM MISTO DE TUDO
BONS MOMENTOS TEMOS PRA LEMBRAR
NÃO SEI SE EM SUA MENTE FRÁGIL QUE ESTA
SE PERDENDO DIA APÓS DIA EM SEUS FILHOS
CONSEGUE PENSAR.
MÃE SEI QUE TEVE UM PASSADO E É DELE QUE
CONSEGUE LEMBRAR
NÃO SEI SE ESTAMOS EM SEU PASSADO ,
MAIS É EM SEU PRESENTE QUE QUEREMOS ESTAR
MÃE .........AGORA MINHAS LAGRIMAS CAEM
NÃO QUERO SENTIR SUA AUSÊNCIA,
MÃE VOLTA PRA NOSSA PRESENÇA
DEUS POR FAVOR DEVOLVA-NOS SUA MENTE
 
MÃE(DEUS OUVE-ME!!!)

Nos fundos de um cemitério

 
Eu não sabia o que pensar. Minha vida estava sendo um pesadelo. O que mais me magoava era o desepero em ver que boa parte daquela situação era culpa minha. Eu nunca tive paciência em lidar com esse tipo de situação.

A mulher com a qual passei a viver junto tinha pouco mais de quinze anos. Era ainda uma menina. Agora, depois de cinco anos juntos, ela tinha duas crianças pequenas e indefesas. Nossas brigas constantes fizeram com que nos separássemos. Depois de cinco meses longe dela resolvi ver as crianças.

O menino correu. Correu ao me ver para os braços da mãe. Correu de mim. Que animal me tornei? O que dizem sobre mim? O olhar aterrorizante do pequeno denunciava um medo. Minha alma tornou-se em um espectro. Já não sei mais quem sou.

O encontro não foi tão mal assim. Olhei nos olhos daquela que era a mãe dos meus filhos. Queria descobrir algo. Eles me negaram qualquer resposta. Nada. Apenas um silêncio sepucral existia neles. Com uma tranquilidade imensa pedi a ela que pegasse as duas crianças e viesse comigo para uma volta na cidade. Eu estava com a caminhonete do patrão.

Parei nas proximidades do cemitério São Miguel. Cercado de mato era quase impossível encontrar ali uma alma vivente. Por alguns instantes olhei para o infinito. Ao meu lado estava minha mulher e meus dois filhos. A menina ainda buscava o alimento no seio da mãe. O menino, maiorzinho, me olhava ainda assustado.

Abri o porta-luvas do carro e peguei uma arma que estava ali dentro. Virei-me para eles e comentei: - Vou matar você e essas duas crianças. – Não sabia o que faria depois. Provavelmente me mataria também.

Os olhos negros daquela mulher refletiu a calma. Não existiam neles o pavor da morte. Quem sabe talvez essa seria a melhor saida naquele momento. O sofrimento reinava na alma de ambos. A reação dela me imobilizou completamente. Não havia o que fazer.

Guardei a arma de volta no porta-luvas e voltamos a viver juntos.

Odair José
Poeta e Escritor Cacerense

http://cinehistoriaojs.blogspot.com
http://odairpoetacacerense.blogspot.com
 
Nos fundos de um cemitério

A dor

 
Sinto-me uma completada idiota...
Lágrimas de dor escorrem sob minha face...
A dor de viver assim;
Falsas palavras que no final só me maxucaram.
Vivi uma ilusão todo esse tempo, achando que o que você sentia era amor!
Perdi o chão, a vontade de continuar.
Tudo isso é tão irreal...
E essa dor é tão real; queria que fosse apenas mais um pesadelo.
Meu maior medo se tornou realidade.
Prefiro sofrer do que me maxucar novamente,
Acreditar em suas mentiras!
Acreditar que tudo isso um dia foi real.
A dor permanece fria e mansa em mim;
Vou tentar seguir sem você.
 
A dor

Anjo do mal

 
Anjo do mal!

Num belo dia, em algum
Lugar o que era alegria
Tornou-se pesadelo sua
Alma começou a fenecer
Foi um louco que deixou
Cair sua máscara de bom
Moço trazendo desgosto
Profundo confundindo seu
Mundo infantil; sem saber
O que fazer entender por que
Aquilo estava acontecendo
Com ela; quantos sonhos
De cinderelas e príncipes.
Mas por ali passou um algoz
Mais veloz que um cometa
Rompendo rasgando suas
Vestes descobrindo –lhe
Sua nudez preservada...
Enchendo de vergonha,
Medo e dor. Sem entender
Aquele desabar! Agora
Vive ausente olhar distante
Lágrimas tantas sem saber
Nada a respeito de um
Inconsequente- Anjo do mal!

Mary Jun
08/4/17
Guarulhos,SP


Um tema tão asqueroso na expectativa de dias melhores, que esses doentes tenham discernimento e deixe de fazer o mal para pessoas indefesas tão pequeninas. É um direito.Paz, alegria, brincadeira etc.
 
Anjo do mal

UMA CARTA PERDIDA (porque ainda não é Natal...)

 
UMA CARTA PERDIDA (porque ainda não é Natal...)

Naquele dia acordou para um torpor relutante de quem não queria acordar. Era o dia do seu aniversário e, com uma certeza fatídica, sabia que ia ser mais um dia de repetida solidão. Lembrava-se ainda de outros aniversários, em que a sua filha lhe anunciava a data, às vezes até por ela própria esquecida, na rotina absorvente de mãe de família: ela era sempre a primeira a trazer-lhe um beijo especial e um pequeno, mas precioso presente, que reflectia o brilho dum sorriso nos seus olhos...

Mas agora, tudo era diferente. O marido morrera, os outros filhos casaram, seguiram rumos distantes, e aquela sua filha mais nova, a mais estremecida e carinhosa, apesar de morar perto dela, vivia a um universo de distância. Já não a visitava, nem lhe telefonava, nem sequer mudava de caminho, para que os seus caminhos se cruzassem por acaso... Ela não compreendia essa distância, ou melhor, forçava essa compreensão, à custa de se convencer que a sua filha não tinha culpa, era só vítima dum marido dominador e violento, que a obrigara a cortar com todos os laços emocionais do seu passado. Queria-a isolada do mundo, pretensamente ignorada por os que se ressentiram do seu abandono, para melhor a dominar nos momentos de fúria e a convencer nos momentos de tréguas.

E ela era só uma mãe dolorida e impotente, que já tentara resgatá-la em vão correndo em seu auxílio, para logo ser afastada com um - "está tudo bem, mãe, ele é só muito nervoso, mas depois não sabe o que há-de fazer para me agradar...", - nublado com sombras, não sabia se de medo ou de teimosa obsessão.
Aquela sensação de raiva, desespero e impotência, voltara com força no dia anterior, quando alguém lhe veio dizer que: - "houve barulho outra vez na casa da Clarinha". "Diz que os seus gritos se ouviam da rua, ele devia-lhe ter batido muito!". "Coitadinha, parece que nem tem família!" "Se fosse filha minha!!..."
Ela mergulhara os olhos em lágrimas turvas, juntamente com o seu coração sujo de ódio. Por "ele", por ela, por si mesma, pelo mundo! E desistira de repetir que só a Vontade da filha a resgataria, que a ela, mãe, só lhe restava manter os braços abertos e o colo pronto para a acolher...

Por isso e por tudo o resto, ela sabia que iria ter outro aniversário, talvez com a lembrança dum telefonema dos filhos distantes, mas sem sequer um beijo de parabéns da sua filha, ali tão perto e ali tão longe... e resolveu, com uma súbita urgência, escrever-lhe uma carta:

«Clarinha, minha querida filha, em que canto do teu coração tu me perdeste? Porque eu sei que estou lá, apesar de tudo, apesar de te sentir tão longe, porque tu estás em todos os recantos do meu coração!
Escassos quilómetros nos separam, mas fizeste deles, ou deixaste que fizessem deles, infindáveis léguas de indiferença. Eu sei que és cativa dum casamento mantido pela violência e pelo medo, e pelo amor aos teus filhos, que queres também proteger... e tento compreender. Porque não quero acreditar que possas amar um homem que te maltrata, que te humilha e que te tolhe as tuas liberdades mais básicas. Minha querida filha, nunca acreditarei que não me ames, que não te lembres do carinho com que te criei e das esperanças que desenhei para ti. Não quero acreditar que perdi o teu amor por ter estado contra esse casamento. Por ter tentado desviar-te os passos do abismo que o meu instinto de mãe adivinhou. Se esse homem, a quem hoje chamas marido já te maltratava em solteira, que milagre iria alterar o seu comportamento depois de casado? E por esse meu desesperado grito de fêmea que defende a cria, foste ainda mais punida, afastada de todos que te queriam bem e de mim... de MIM!, de quem nasceste e que sente na alma cada tua dor física...
Querida filha, queria tanto compreender a força que te mantém presa! Queria conhecer-lhe as tramas, e os nós cegos, e os elos, para os desmanchar, e os desatar, e os cortar, e libertar-te, enfim, e devolver-te a Vida que sonhei para ti! No entanto, desespero, porque não sei se é isso que tu queres. Não sei se, cega de uma paixão ou dum amor que não consigo entender, achaste nesse viver uma qualquer maneira de ser feliz... E novamente me sinto petrificada e amordaçada pela ameaça de que, depois de ganhar a tua indiferença, possa ainda merecer o teu ódio...
E fico, na calada do lado negro da Vida, contigo nas minhas preces, sacrificando a minha vontade de interferir, pelo bem maior que é a precária tranquilidade das tuas breves bonanças, (que acredito também as tenhas...), nesse mar revolto em que navegas.
...Estou triste por não te lembrares que eu existo... Espero que, um dia, te consigas esquecer que eu já não existo...

A Tua Mãe»
 
UMA CARTA PERDIDA (porque ainda não é Natal...)

Uma Looonngaaaa Espera....

 
No fim de uma estrada de chão, tão comprida que atravessa o horizonte visível, jaz um imenso castelo gótico coberto de neve, que de tão branca, ao refletir a luz do sol chega a cegar, temporariamente, um viajante desavisado. Foi erguido há séculos, muitos séculos mesmo, antes dos historiadores nascerem, e da palavra história ainda ter um significado. Dorme, imperturbável, sobre o cume fino de uma montanha esquiva, num dos cantões da Hungria, desde quando toda a Europa não passava de um grande feudo, e o próprio país, sequer existia.
Ele é cercado por desfiladeiros íngremes de centenas de metros de profundidade, e por montanhas tão afiadas, que lembram a boca de uma fera carregada de dentes ameaçadores. O frio sopra com tal ardência e sem piedade, que congela até a alma os peregrinos que atrevem a se aventurar por ali. E isso não foi uma força de expressão! Nessas estranhas paragens, não é raro de se ver figuras humanas congeladas no tempo, em pleno ato de caminhar, como que tomados de repente pelo destino, prolongando-lhes o eterno agora. Já não são nada mais, apenas estátuas centenárias, que jamais descansarão!
E é, pois, no fundo deste palácio sombrio, no qual o próprio mal evita se aproximar, que vive um rapaz de aparência jovial. No entanto, mais velho do que o próprio castelo que habita... e do que, talvez, o próprio tempo.
Há um tesouro no mais afastado dos cômodos, no mais amplo dos quartos, no mais protegido dos lugares da Terra, onde o inverno, semelhante a um velho descabelado e de barba comprida e alva, sopra pessoalmente com o seu hálito frio, o gelo de todas as eras do universo! Um tesouro que o velho rapaz guarda com todo o zelo do mundo. O corpo inerte do primeiro e último amor que teve...
Por causa do frio o corpo jamais irá se decompor. E ali, ele contempla, com o olhar mais triste do mundo, a única coisa que ele nunca cansou de olhar ante as eras do planeta.
Ele está lá, eu posso vê-lo! Sentado junto a uma parede escura e fria, sempre olhando para a razão de sua alma...
Ele não vai morrer nunca! Porque a morte em pessoa não quer se aproximar dali...
E ele nunca se congelou, por que a chama do amor que traz consigo, o mantém vivo, quente e condenado...
 
Uma Looonngaaaa Espera....

OLHA-ME NOS OLHOS...

 
Olha-me nos olhos,
já não lembras o meu olhar,

já não queres sobrevoar as estrelas
que a dois olhamos

e saltar a distância
que entre nós existe.

Diz-me,

se ainda
desejas os meus beijos,

o entrelaçar dos meus pés nos teus.

Quero olhar o luar,
vestir o teu corpo com a minha voz,

sentir-te terno,

apaixonado pelo meu Eu.

Vem amor.

mariamateus
 
OLHA-ME NOS OLHOS...

A minha história

 
Quereis ouvir a minha história? Pois bem, prestai atenção, sentai-vos neste duro cepo junto ao fogão, não há poltronas macias nem canapés na roça ou sertão. A porta está bem fechada, temos quentura de mais, a lenha que estala, fala de calma, sossego e paz; que importa que os ventos lutem lá fora nos matagais? Que importa que a chuva caia, que no céu ruja o trovão, que as enxurradas engrossem as águas do ribeirão? Se abrigados conversamos à luz do amigo fogão?

Quereis ouvir a minha história? Não precisas pedir mais... É triste, e de histórias tristes quem sabe se não gostais? Vou contar-vos; e nenhum outro de mim a ouvirá jamais.

Não, não foi somente o tempo com suas frias geadas que desnudou-me a cabeça, fez-me a face encovadas. Foram da vida as borrascas, foram noites de agonia, foram fardos de mentiras dos homens com suas traições. Nasci pobre; este delito seguiu-me por toda a existência... Sobre o teto de uma choça de que serve a inteligência? De que vale uma compleição robusta, um peito enérgico e forte ante o egoísmo das turbas e os anátemas da sorte? Nasci pobre, e, alçando os olhos da pobreza em que vivia, me atrevi, como os condores, a fitar o rei do dia!

Foram-se os anos, agora sou velho, perdi tudo quanto amei; deixai que eu chore por um momento, foram tantos sonhos que sonhei! Deixai que escorram minhas lagrimas saudosas, tristes pérolas de amor; gotas de orvalho da vida no seio da murcha flor! Escorrei lagrimas! Ao menos sois doces, trazei-me consolo ao menos... Quantos infelizes vos derrama amargo como veneno! Na meia idade, o que era impossível aconteceu, encontrei o que sempre buscava; o amor verdadeiro, o amor somente meu; amei-a! Amei-a demais! Um amor com muitas lutas em circunstâncias fatais, com revezes e torturas; transpus leis e cadeias que o homem produz, quebrei, como o corcel quebra as peias.

Em poemas me deliciei, de infindos planos compus, em poucos anos este sentimento me conduziu a plena luz, inspirou-me ao etéreo; mas o destino cruento de minha audácia se riu.. Inda eu folgava confiante, quando a minha esperança partiu. Partiu para longas terras, foi ver estranhos lugares, como o pássaro que emigra foi pousar noutros palmares.
Nuvens de amarguras cercou-me a existência então, o céu tornou-se a meus olhos como um teto de uma prisão. Noites, muitas longas noites, em vez de dormir eu somente gemia. Mas no fim destas noites ergui-me... Também parti! O que intentava? – Ignoro. O que esperava? – Não sei. Surdo a razão, as leis humanas, lancei-me ao acaso, desprezando tudo.
Desta viagem não quero as penas lembrar, dias de sofrimento, angústia, vigílias a delirar. Não quero lembrar as horas de desânimo cruel em que traguei a taça do negro fel. Dois anos que valeu vinte, sem repouso, sem sossego, passei vagando entre os homens, doido, febrento e cego. Dois anos a mesma imagem a torturar-me, dois anos as mesmas idéias... Dois anos andando por toda parte ébrio de amor, procurei-a pelas ruas, pelas praças, pelos campos e desertos, levei meus passos incertos, buscando essa esquiva sombra.

Quantos lábios me sorriram! Quantas belezas encontrei! Quantos amores puros e castos rejeitei, virei meu rosto e passei... E no entanto poderia sem frenesi, sem loucura, colher a flor perfumada de modesta formosura; parar de vez a minha febril carreira, dizer: – basta, a vida é esta; quem foge dos seres comuns seguem uma estrela funesta.
A ventura é ver a prole, ver a paz sentada ao lar, ver do teto o trabalho e a miséria afugentar; mas a imagem da esperança nunca me deixou sequer por um momento, era um console celeste junto a um martírio cruento. Eu sempre via-lhe as formas, em qualquer lugar; no céu, nas matas, nos campos, no clarão das estrelas, mesmo nas pequenas luzes dos pirilampos; se eu dormia ou madornava, sentia a sua face encostada à minha, sentia-lhe os longos cabelos, ouvia-lhe a voz, tão doce, tão doce que eu despertava... E minh’alma estremecia, daquelas visões escrava; se eu caminhava, nos prados ou junto as fontes sentava, via-lhe o vulto sublime, via-lhe o corpo de fada, e me lembrava dos contos que contava para as crianças; passava as mãos pelos olhos e murmurava: minhas esperanças era do norte ou do sul! A esperança é o meu porvir, a esperança de uma maga estrela, que há de meu céu luzir.

De tanto errar fatigado, fatigado de sofrer, busquei nos ermos profundos um lugar onde morrer; embrenhei-me no mais denso, no mais negro das florestas, onde a natureza virgem se ostenta em continuas festas, onde eu este simples verme que pensa, farto, inflado de vaidade, sente as fibras se crisparem ao sopro da liberdade... Sinto-me vil, pequenino, cinza, lama, podridão, e curvar-se aniquilado perante Deus e a criação. No seio de escuras selvas, no cimo das serranias, dos grandes rios à margem, deixei passarem meus dias, mas nesses ermos sem nome na tormenta ou bonança, entre místicos rumores, ouvia a voz da esperança.

As sombras da morte por sobre minha cabeça passaram e as vozes de outro mundo por meus ouvidos soaram, senti o frio das campas, cai sem força no chão, e ao voltar de novo a vida, como que uma nova oportunidade perdi a luz daquela visão, espero voltar à razão.

Eliezer Lemos
 
A minha história

' Os dias...

 
Sempre fui aquela pessoa que todos gostam pelo que é; mas estou cansada de tudo, principalmente de viver, sabe quando você achou que tinha uma razão de viver? E tudo simplesmente some da sua vida... apaga da sua mente, como se fosse apenas uma lembrança? minha vida perdeu o chão, o sentido e a cor, muitos pode achar tudo isso vai passar,
Mais essa dor aqui dentro, cresce a cada dia mais, ao saber que meus dias serão sempre "os mesmos" e nada vai mudar. Nada faz sentido, não consigo sorrir, não consigo fazer mais nada!
Por que a vida é tão injusta?... Queria entender... Por que estou aqui, se minha alma está em outro lugar? mais permaneço aqui , juntando os e tentando viver da melhor forma possível e hoje o que me fazia sorrir não está mais aqui.
 
' Os dias...

Entre as paredes do meu quarto

 
Sinto-te ausente,
refugiado num mundo teu.
O qual se emaranhou no meu.

Hoje,

resta-me olhar os ponteiros
rodopiarem sem ti.

Numa espera vaga
do saber-te junto a mim
ainda que a léguas mil.

Penoso o meu sentir.

Quiçá já nada sinta.

Apenas o peso entranhado
nos ombros dum sentimento
por ti desligado.

Amordaço este querer-te
entre as paredes do meu quarto
qual sonho sonhei.

Mariamateus
 
Entre as paredes do meu quarto

Tarde demais para mudar

 
Podia-se dizer que todos os seus dias eram iguais: levantava à mesma hora ao som de um despertador tão eficiente quanto incômodo que ficava sobre o criado mudo. Parecia uma serpente - não em forma, mas em atitude - que estava pronta para o bote quando a melhor hora de sono se aproximava. Picado pela campainha estridente, abria os olhos e sentava na cama.
Permanecia sentado longos instantes antes de se levantar, pois lera em algum lugar que a maioria dos acidentes no quarto se dava justamente ao acordar. Diziam que a ocorrência de vertigens era bastante usual para aqueles que se levantavam rapidamente e dai para o acidente não haveria distância.
Depois desses minutos, vestia os chinelos e punha-se em pé olhando à sua volta e reconhecendo os traços de sua já conhecida mobília. Traçava mentalmente seu caminho até o banheiro, embora a mais crua verdade poderia afirmar que isso não seria necessário por todas as repetições cotidianas que ele fazia.
Mas ele acreditava que tudo deveria seguir um método, uma repetição de fases inalterada pelos anos a fio.
O sanitário, a pia, a escova de dentes e o pente a repor alguma ordem nos cabelos em desalinho, que estavam mais compridos que o normal.
Daí à cozinha para fazer o café da manhã. Café forte sem açúcar, bolachas, manteiga com sal. Eventualmente um pão passado na chapa com uma rica camada untada ou uma modesta fatia de algum tipo de bolo.
E assim a vida se desenrolava monotonamente repetida, na presumida segurança de seus métodos assinalados pelas regras que ele criou ao longo dos dias de sua vida.
Mas não hoje.
O despertador - aquele com duas campainhas e um martelete entre elas - mal iniciou seu tilintar e foi projetado na maior distância diagonal que o tamanho do quarto permitiu.
Ele ergueu os braços contra a cabeceira da cama para esticar-se que rangeu um rangido de surpresa com aquela inusitada posição. O móvel mal teria tempo de se recompor e num salto único, elegante como uma gazela, mas másculo como um touro, ele quedou-se em pé, ignorando os chinelos que receberam mesmo um olhar de desprezo antes do primeiro passo descalço.
Apontou o nariz ao horizonte e, sem cogitar a diagramação das coisas à sua volta, partiu em direção ao banheiro. Lá apenas borrifou poucas gotas de água com as mãos no rosto que mal sentiu o frio líquido; esfregou displicente, sem se observar, as pontas dos dedos no couro cabeludo, como se isso fosse o bastante para acreditar que fazia um penteado jovial.
Pensou num copo d'água como sendo o bastante para aquela manhã. Não às gorduras, aos farináceos e os megatons de cafeína absorvida (ou não) logo nos primeiros minutos de cada dia.
Sentiu-se feliz com a decisão e ao passar pela cômoda com o espelho antigo que pertencera à sua avó, não viu sua usual imagem refletir-se alí.
Antes de chegar na sala, ouviu vozes familiares, mas tão lamentosas que o fizeram recuar e assim pode ver o papel sobre a cômoda do espelho. Seu ímpeto já ia arrefecendo e murchou quando leu seu nome escrito à máquina no papel com um brasão cabeçalho e, logo abaixo, nem conseguiu terminar de soletrar C - e - r - t - i - d - ã - o d - e - Ó - b - i ...
 
Tarde demais para mudar

ANALÚ

 
Analú nasceu bela, pela alva, olhos muito azuis, e um chumaço de cabelo loiro que refletia o brilho do sol. Crescendo, veio despertando em toda a família grande alegria por esta menininha tão meiga e carinhosa. Nasceu numa bela casa, cheia de conforto e amor.

Com o passar dos anos, ela crescia e descobria coisas novas, e nunca deixava de prestar atenção a tudo em sua volta. Nos modos singelos, formava-se uma mocinha muito delicada. Mesmo sendo pequena criança, cuidava com primor do seu quarto, da casa, e ainda se divertia em olhar os livros de receitas da mãe, buscando novos sabores com o prazer de agradar os outros.
Já moça, despertava olhares de muitos, pois se tornara bela e atraente, e sempre sabia dar um sorriso cativante. Mas havia algo mais belo em Analú que seu corpo, era a pessoa no seu intimo, que era meiga, e ternamente amiga de todos. Disposta a ajudar e contribuir.

Mas, algo dentro de sua mente, começou a tomar conta como gangrena ou um vírus devastador. Rápido e sem piedade, veio um brotando um espírito egoísta, que veio a banalizar toda uma criação. A cada dia, ela deixava de dar sua opinião quanto ao que era mau ou bom, e ficava cada vez mais introspectiva. Era um comportamento novo, confundido com uma falsa maturidade. Mas, Analú depois de novos amigos, com o passar dos meses, ficou distante dos familiares. Nada de culpas, de criação errada, de mimos excessivos, apenas, um comportamento inesperado e ofensivo começou a aflorar nesta moça.

Analú veio a conhecer sua primeira paixão, entregou-se incondicionalmente a um homem que mal conhecia. Fora engodada pelo toque, carinho que desperta desejos, e momentos passageiros de diversão barata.
Toda uma família sentiu profundamente o novo comportamento degradante, em lágrimas e grandes decepções passaram a vivenciar seus dias. A moça se recusou a ouvir qualquer pessoa que se mostrasse contra suas novas atitudes e amigos.

Texto corrigido

Entrincheirou-se de orgulho e relutância. E repudiou a todos que tanto a amaram e dedicaram tanto de suas vidas.
Não havia mais compromisso, obrigações, cumplicidade para com sua família. Para ela, todos passaram a serem um estorvo. Então não importava mais em agredir, quer em palavras ou comportamento.

Passou a vestir-se de forma provocante e vulgar, a se embriagar e dormir fora de casa. Seu corpo começou a decair e seu intimo a transformar-se numa sombra obscura, intransponível. Recuava de conselhos. Ninguém conseguiu impedi-la. A reprovação de muitos levou a uma chuva de conselhos e alertas, sempre havia alguém que antes a conhecia e admirava e não suportava ver a transformação maléfica de Analú. A mudança era drástica, e não havia quem não espantasse ou sentisse pesar. Ela tinha apenas ouvidos para seus novos amigos. E em arrogância e dureza de coração desprezou a todos, ofendia, injuriava, humilhava quem tentasse impedi-la.

A moça endurecia cada vez mais, recusando-se a ouvir as suplicas dos pais e seus amigos. Passou a difamar mãe e pai como cruéis, insensíveis, retrógrados, colocando-se como vitima oprimida, angariando assim a amizade de outros jovens sem caráter e responsabilidade, gente revoltada, sem limites, que mais desrespeito e crueldade plantaram no coração de Analu. Nesta convivência, sentia-se diferente, independente, livre, sem compromisso com ninguém ou com o mundo. Chegou a ser presa algumas vezes por arruaças, e seu pai sempre a livrava da cadeia. Afinal, o lema era curtir a vida, e não fazer nada, apenas o que o desejo mandasse. Festas, bebida, sexo, e madrugadas acordada. Isso era felicidade pra Analu. Uma falsa felicidade.

Um dia, seus pais, cansados dos furtos e afrontas da filha, tolerando a casa cheia de vadios, seu pai tentou mais uma vez argumentar, mas foi inútil. Culminando tudo numa troca de palavras ofensivas, uma grande briga, Analú empurra sua mãe pela escada, onde resultou de a mesma vir a ficar dois dias internada num hospital. Não havia mais o que se fazer para tentar fazer Analú a reconhecer o amor que ambos sentiam por ela.

Decidiram então arrumar todas as coisas da filha e quando ela chegou a casa, seu disse que seria melhor ela morar com o homem que ela dizia tanto amar. Mas, em tom sarcástico, ela riu debochadamente e disse que não via a hora de se ver livre das garras dos seus pais, disse que vivia sufocada por eles, e que sairia de casa pra nunca mais voltar a vê-los. E assim, começou a arrumar suas coisas.

O pai com o peito doído, mas decidido, colocou tudo no carro, e a deixou com seus pertences na porta do casebre malcheiroso de seu namorado que ficava em outro município. Não conseguiu ficar ali para mais uma troca inútil de palavras, apenas entrou no carro, sem dizer mais nada. Veio um olhar marejado de pena, fruto de um coração cheio de dor e ingratidão.

Antes que o carro partisse Analú esbravejou: Graças que me deixaram em paz agora vou ser feliz. Não suportava vocês, e nem morar mais naquela casa. Não me importunem mais, sumam da minha vida!! Chega de uma vida medíocre e patética que vocês me deram. Não me procurem mais, nunca mais!!!

Bem, quando Analu bateu à porta, aparece seu namorado, com a cara de quem estava dormindo, todo amassado e com a barba por fazer, vestindo uma calça suja e desabotoada. Arregala os olhos e sem nenhuma demonstração de carinho espanta-se com ela e todas aquelas caixas e malas. Afligiu-se e disse que não podia ficar com ela. Tamanha surpresa! Forçosamente e em desespero, Analú invade a casa e joga as malas no pequeno quarto imundo e fétido. E impôs-se ali, sabendo que não tinha pra onde ir.

Os dias se passaram e ela, provou a miséria, a sujeira, o desconforto, e pior, o desprezo do homem que julgava lhe amar.
Nesse meio tempo seus pais tiraram férias e foram para longe tentando esquecer tamanho sofrimento. Não informaram pra onde. E neste lugar pra onde foram, tomaram uma decisão para tentar amenizar a dor que sentiam, sabiam que tinham feito tudo, mas foram desprezados pela única filha, então ali, decidiram fixar moradia, deixando pra trás as más lembranças que sua antiga casa trazia. E semanas mais tarde a mudança dos pais seguiu para este lugar que ficava distante de onde viviam.

Por volta de uns seis meses, Analu acordou com o corpo muito dolorido, e olhou-se num caco de espelho que havia num bancada perto do seu colchão. Estava com o olho roxo e ensangüentado da surra que ganhara na noite anterior, mais uma de tantas que agora experimentava. Decidiu arrumar suas coisas e voltar para a casa dos pais. Conseguiu furtar um trocado esquecido num bolso da calça do seu homem. E fatalmente teve que encarar a realidade de sua miserável vida. Pegou um ônibus e viajou pra cidade de seus pais, para a bela casa onde havia sido criada. Lá chegando viu outras pessoas, rostos estranhos. Perguntou pelos moradores antigos, e ficou sabendo que estes se foram e que não tinham deixado endereço, já fazia alguns meses. Tal notícia desceu como pedra no seu estômago. Bem, lembrou-se de seus antigos amigos, e foi procurá-los, e um a um escusou-se de ajudar Analu, mil desculpas deram e outros a desprezaram sem remorsos, até mesmo rindo de sua nova condição. Analu viu que não havia amigos de verdade.

Sentou numa sarjeta e começou a chorar profundamente. Lamentou-se de tudo que jogara fora e da forma tão ingrata que tratou sua família. Perambulou por vários dias pelas ruas, esperava anoitecer para ir às lixeiras vasculhar o lixo para encontrar algo pra comer. Dormia debaixo de marquises de lojas, passava frio. Ninguém soube informar o paradeiro de seus pais.

Passaram-se muitos anos... E as sementes plantadas deram seus frutos. Analú passou a viajar de cidade em cidade quando arranjava uma carona, até que veio parar num lugar bem longe de onde nascera, mas nunca mais encontrou seus pais ou notícias deles. Hoje ela é aquela velha cheia de trapos e sacos cheios de lixo que dorme debaixo da abertura de um esgoto, numa fenda do terreno onde ela encontrou pra morar. Cata comida no lixo até hoje. Levanta suspiros de pena em alguns transeuntes, que nada sabem da moça dura e orgulhosa que fora no passado. Hoje, seus pais não existem mais, e nem aqueles que lhe queriam tão bem. Não adiantou mais lamentar, apenas tentar sobreviver nas ruas.
Suas memórias lhe condenam todos os dias, e o tempo não curou o sofrimento diário. Pelos anos passados, seus pais deveriam estar mortos. Seu rosto enrugado ficou como máscara que esconde a princesa que ela um dia foi, e sua vida miserável não veio como castigo, mas como fruto por ela plantado.
Quando perguntam a ela por que ela mora nas ruas, ela diz: eu escolhi.

Caros poetas, este é um longo texto, mas a historia embora fora criada, tive como inspiração uma personagem que conheci realmente, e tem algumas semelhanças com o descrito aqui.
 
ANALÚ

Sentimentos.

 
Quando penso que minha vida está tomando um novo rumo.
Pensamentos deixa - me confusa...
Achei que esses sentimentos já haviam partido;
Mas vejo que me enganei...
Lágrimas de saudade e de dor, escorrem sob minha face.
Tudo o que eu queria nesse exato momento era ter você comigo.
São sentimentos que não queria ter, pois a dor de não te ter comigo, aumenta mais e mais.
O tempo passa, a dor aumenta...
Será que um dia terei você de volta?
Ou isso não passa apenas de um sonho?
São apenas sentimentos que queria não ter.
 
Sentimentos.