Contos policiais

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Respostas: Fim do Caso

 
Respostas: Fim do Caso
 
O Policial Dudoso já estava disfarçado, seria mais um procurado se Trust e seus aliados não chegassem a tempo. Detido Dudoso completava o quadro dos suspeitos.
O facão examinado, arma do crime, tinha as digitais de dois dos suspeitos, da viúva e do vizinho, sendo o segundo o dono do instrumento.
Onde entra o terceiro?
Recapitulando, após o encontro Kely arrependeu-se, mesmo apaixonada pelo vizinho, informou que não trairia novamente seu companheiro.
Malaka então resolveu seguir seu vizinho durante seus passeios e descobriu com quem ele se encontrava, fazendo assim uma carta que colocou embaixo da porta de sua amada.
Ele de paspalho não tinha nada, instalou uma câmera de vigilância no ninho para filmar os pombinhos.
No dia do assassinato, depois de um sexo selvagem, Unli ameaçou seu parceiro. Ele queria pedir o divórcio a Kely e viver ao lado de seu amante sem tabus e preconceitos.
Dudoso sentindo-se pressionado já tinha planejado encerrar esse caso, incriminando Malaka que vivia de cacho com a mulher do finado, mas seu plano deu errado, quando o Policial Trust assistiu a filmagem.
Kely e Malaka inocentados foram comemorar daquele jeito.
Policial Dudoso culpado! Pronto! Fim do caso!

Obrigada pela paciência, desculpem a demora!
 
Respostas: Fim do Caso

A Proposta que a salvaria

 
A Proposta que a salvaria
 
Assim os dois jovens seguiram viagem na picape. Ana reclinou o assento do banco e, por vinte minutos, pareceu cochilar. A mesma despertou quando Fernando brecou o veículo.
O moço levou as mãos ao zíper da calça liberando o que mais parecia um balão inflável. Antes que a jovem esboçasse alguma reação foi surpreendida com uma mão cerrada tapando sua respiração, enquanto a outra apalpava-lhe no meio das pernas, afastando-lhe a bermuda.
Quanto mais os dedos do rapaz afundavam em sua pele macia, mais desconfortável a médica se sentia. Lembrou-se do caso de Luzia e, por um instante, observando o matagal pela janela, suspeitou que por ali mesmo seu corpo ficaria.
Sua visão já ameaçava escurecer quando desistiu de lutar contra a maré de fungadas e espetadas daquele animal, não tinha forças para tentar afastá-lo com arranhaduras, fez o contrário.Segurou-lhe o saco com firmeza e começou a massageá-lo.
A ideia foi boa, Fernando retirou a mão que a asfixiava, tascou-lhe um beijo seboso e procurou as palavras mais toscas para sussurrar em seu ouvido. Agora suas mãos pareciam máquinas de mamografia.
Nesse momento Ana conseguiu respirar mais aliviada, apesar das pontadas no estômago que só se expandiam. Aproveitou para encenar sua voz mais sexy e fazer uma proposta, que seria a última cartada para salvar sua vida.
 
A Proposta que a salvaria

Procurando Pistas em Hidden

 
Procurando Pistas em Hidden
 
Em uma cidade pequena chamada Hidden vivia um casal discreto de meia idade: Unli e sua esposa Kely.
Aos 40 anos, Kely, apesar de não exagerar nos cuidados com sua aparência, exibia uma beleza singular que impressionava a muitos, como ao Policial Edu e ao vizinho Malaka.
Já Unli era um homem charmoso, beirando os 50 anos, porém carrancudo, fazia poucas aparições em público com sua amada.
Eram vistos na missa sábado a noite, bem vestidos, ele, sisudo, respondia quando era cumprimentado, ela acenava a todos com um delicado sorriso nos lábios.
O Policial Edu, mais conhecido como Policial Dudoso, assim como Malaka, o vizinho embasbacado, olhavam de soslaio para Kely, que retribuía com um olhar enigmático.
Unli parecia incomodado com as investidas do Policial Dudoso e sempre que retornavam da igreja, cismava em fazer caminhada.
E foi em uma dessas escapulidas que foi assassinado...



I Parte
Continua...
Quem arrisca um palpite?
 
Procurando Pistas em Hidden

Kely

 
Kely
 
Kely estava desconfiada das caminhadas do marido e uma noite resolveu acompanha-lo secretamente, após 20 minutos de percurso foi surpreendida pelo Policial Dudoso que mostrou-se preocupado com a segurança da bela senhora e se ofereceu para leva-la em casa. À distância o vizinho Malaka os acompanhava, sem ser notado.
Malaka era uma figura estranha, moço solteiro de 48 anos, nunca havia noivado nem casado, morava sozinho na casa ao lado do casal e tinha o hábito de observar os vizinhos com seu binóculo.
Já o Policial Dudoso era muito respeitado , tinha fama de galanteador e com seus olhos de lince rondava à noite pela cidade.
Dois dias antes do crime, ele viu um movimento inusitado na casa de Malaka, verificou pela janela e ficou pasmado ao reconhecer a dama que montada no cavalheiro, mexia as ancas energicamente levando-os a um orgasmo, transcendental nesse caso, pois a essa altura Dudoso já estava com o cassetete em punho.

Continuem! Estou aguardando palpites! Rsrs
 
Kely

Investigador Trust

 
Investigador Trust
 
Kely aproximou-se da janela empoeirada e por uma minúscula fenda, mesmo com a péssima iluminação do local, reconheceu seu marido, sem as vestes, amarrado, na posição de um frango assado e logo percebeu que os gritos de Unli não eram de prazer como imaginava, eram gritos de dor, estava levando facadas.
A mulher ficou ali espremida à parede, tremendo de medo, não conseguia identificar o agressor. Os gritos foram cessando e pairou o silêncio. De repente, alguém acertou sua cabeça e a mesma apagou. Quando acordou estava ao lado do defunto ensanguentado e com um facão , a arma do crime, em sua mão direita. Mesmo zonza e desesperada conseguiu correr até a casa de Malaka. No entanto seu vizinho não estava em casa.
Kely estava desnorteada, pensou em pedir ajuda ao Policial Dudoso. Não conseguiu dar mais de seis passos, apareceu Malaka com manchas de sangue em partes do corpo e nas suas vestimentas.
Olharam-se desconfiados e para solucionar o caso chegou o Policial Dudoso, que havendo encontrado o corpo levou os dois para prestar esclarecimentos.
Chegando à delegacia passou o caso para o investigador Trust e foi saindo apressado.



O Investigador Trust já sabe quem é o culpado...e você? Qual é a sua opinião?
Não percam o último capítulo!
 
Investigador Trust

Liberdade Renovada

 
Liberdade Renovada
 
Ao despertar, Ana estava zonza, suja, deitada na terra e amarrada a uma árvore com as vestes rasgadas. O corpo inteiro doía, na boca o gosto de sangue a enojava, mas conseguiu identificar dois vultos que conversavam ali próximo, Fernando e Evaldo. Um dos homens cavava o que, provavelmente, seria sua vala.
Fingiu-se de morta, porém, voltou a abrir os olhos quando viu Rivaldo e seis policiais armados renderem os dois marginais.
Ana, agora, aliviada, transbordava de alegria debaixo de hematomas e feridas.
Alguns meses passaram. Na cadeia, Fernando foi decapitado após delação especial e seu irmão suicidou-se pelo peso da consciência.
Marisa e sua mãe envergonhadas sumiram da cidade, sem deixar pistas.
Manchetes do dia: Delegado de Pirinol e irmão são condenados pelo estupro seguido de morte da jovem Luzia e seu namorado.
Corpo do namorado de Luzia, foragido há 18 meses, acusado de assassinar sua companheira é encontrado em cemitério clandestino próximo às terras do Delegado da cidade.
Desfecho do caso beneficiou a mulherada da cidade, muitas vítimas da dupla criaram coragem e se libertaram/ pronunciaram!
 
Liberdade Renovada

Sofia e o bando de meteoros migratórios

 
..Extasiados que estavam, esqueceu-lhes a simples rotineira tarefa de classificar a dispersão coloidal por quanto se deixaram ficar admirando o esfuziante bailado das partículas dispersas pela luz incidente naquele líquido algo viscoso. O Dr. Tyndall não teria observado melhor as miríades de soluções de continuidade ocorridas no trajeto até o aeroporto de Roterdã. Nem as linhas luminosas que dividem cada um dos hemi-círculos do arco íris iriam outra vez trocar juras de amor entre si.
..Pra ela, seria justo supor que as cores frias não se conhecem, nem permitem luminárias embutidas, enquanto Sofia já viera ao mundo há uns bons trinta anos, para gáudio de Balzac. Seus olhos já haviam assistido os maiores espetáculos da Terra, desde a montagem da mola helicoidal do trem de aterrissagem de um 747 até a marcha triunfal do camelo atravessando a agulha sob o olhar complacente dos discípulos orando e agindo em prol da calibragem correta do câmber.
.. Decididamente, não fora ela quem criara aquela situação. Nem ao menos o céu e a terra, a guisa de canhestra deidade negadora do grande Big Bang. Não, senhores. Não mesmo! Sequer contribuíra com um grão de areia para lapidar de forma terminal, em clivagem ortorrômbica, o monte de pedra bruta em que se transformaram os expulsos da Terra Prometida sob a vista da mulher de Lot. Mas, havia ira nos seus doces olhos azuis. A divina ira resultante da ciência diante da desobediência aos preceitos antes ditados para que não provassem do sorvete frutare, proibido que era aos fenilcetonúricos em geral. E sequer havia glúten ali!
.. Na verdade, souber por terceiros que o segredo havia sido profanado liberando um grande poder. Até de voar como as ideias que alcançam o tapete estelar de onde muitas vezes, qualquer um daqueles astros passa a poder apreciar a beleza das circunvizinhanças austrais sem cansar os olhos de tanto admirar a trajetória do bando de meteoros migratórios rumo ao sul no inverno.
..Porém, Sofia agora tergiversava. Escapava ao olhar mais perspicaz que jamais morou ali, naquele que poderia ser considerado um paraíso.Perdido foi porém, antes que Milton desse a sua opinião sobre o assunto, que afinal de contas, não lhe dizia respeito e acabou esquecido até pelo mais refinado lorde. Byron também falhou com certeza ao relatar, em súmulas sincopadas , o crime cometido pelo padre. Amaro era o gosto que ficava na boca diante de tal constatação já que os mais famosos escritores falharam em suas jornadas nas estrelas diante do vulcano cético contradito pelo médico.
.. E o monstro jamais deixou de povoar os sonhos da menina Sofia, amadurecida precocemente como manga Tommy Atkins embrulhada em jornal acondicionada num forno de barro.
 
Sofia e o bando de meteoros migratórios

O Carro Armadilhado

 
O Carro Armadilhado
(Ficção. Com excepção de alguns topónimos, todos os componentes são fictícios.)

“Há vezes em que a morte chega silenciosa;
Há outras em que chega ruidosa…”

1. Explosão de uma viatura no Largo do Kinaxixe.
Domingo, 10 horas da manhã. A rotina habitual do Largo do Kinaxixe, em Luanda, bem como das áreas circundantes, foi subitamente interrompida por um estrondo provocado pela explosão de uma viatura, precisamente quando esta passava pelo centro do Largo, em direcção à Mutamba. As pessoas que passavam por perto correram para o local. Nos prédios em redor, dezenas de cabeças assomaram às janelas e as varandas apinharam-se de gente. De um carro de patrulhamento policial que passava pelo local saltaram vários agentes que, prontamente, cercaram a viatura formando uma barreira para que ninguém se aproximasse dela. Passados cerca de 15 minutos, chegou ao local o Inspector Juvenal, da AngoCrime (Agência de Investigação e Notificação de Crimes) acompanhado de dois dos seus agentes, nomeadamente o Tobias e o Tibúrcio. Pelas investigações preliminares efectuadas, os referidos investigadores constataram que a viatura (um Mitsubishi) transportava apenas um único ocupante e que a causa da explosão teria sido, provavelmente, uma bomba. A viatura ficou quase totalmente danificada e o ocupante, que teve morte imediata, ficou bastante desfigurado, porém não tanto que não permitisse que fosse identificado por algumas pessoas que o conheciam. Tratava-se de um cidadão que, em vida, se chamava Augusto Prudêncio, funcionário público.
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2. O detective AlfaZero é solicitado para investigar o caso, tendo o mesmo aceite a incumbência.
Como a AngoCrime (Agência de Investigação e Notificação de Crimes) tinha, na altura, três casos “quentes” entre mãos e dois dos seus investigadores não se encontravam a trabalhar (um deles encontrava-se doente e o outro de férias fora do país), a Agência decidiu solicitar ao detective AlfaZero (um detective independente bastante experiente) a sua assistência na investigação das causas que estiveram por detrás da explosão do Mitsubishi, naquele fresco e ensolarado domingo, no Largo do Kinaxixe.
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O detective AlfaZero acedeu, prontamente, à solicitação da AngoCrime e, sem perder mais tempo, entrou na sua viatura e dirigiu-se para o Largo do Kinaxixe a fim de dar início às investigações.
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3. O detective AlfaZero encontra, entre os destroços, uma caixinha prateada com duas moedas dentro. Será a mesma útil às investigações?
Ao chegar ao local, AlfaZero dirigiu-se para a viatura (que continuava cercada pelos agentes da polícia) e, depois de se ter identificado, fez uma inspecção minuciosa à mesma, bem como ao cadáver de Augusto Prudêncio. Uma coisa saltou imediatamente à vista do detective AlfaZero. Só uma bomba (accionada por relógio ou por controlo remoto), colocada no interior da viatura, poderia ter produzido aquele resultado. AlfaZero pediu aos agentes da polícia presentes no local que retirassem o cadáver de dentro da viatura. Depois de um breve exame, AlfaZero concluiu que estava, efectivamente, confirmada a sua suposição. Uma bomba, possivelmente accionada por controlo remoto, havia sido colocada por baixo do banco do condutor. Seguidamente, o detective AlfaZero inspeccionou os estilhaços da viatura e da bomba que se espalhavam ao seu redor. Os seus olhos “engoliam” todos aqueles pedaços de ferro e plástico na esperança de encontrar alguma coisa que pudesse proporcionar uma pista para as investigações. Ia já a dar por concluída a tarefa, quando viu, meio escondida debaixo de uma chapa, uma mini caixinha metálica, bonita, cor de prata. AlfaZero apanhou a referida caixinha e abriu-a. Dentro estavam duas moedas antigas (uma macuta (angolana) e um real (português)).
“Estas moedas devem ser de um valor incalculável para os coleccionadores”, pensou AlfaZero, ao mesmo tempo que fechava a caixinha e a punha num dos bolsos das calças.
“Será que o falecido era coleccionador de moedas?” – Interrogou-se, ainda, AlfaZero.
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Entretanto, começaram a chegar ao local alguns familiares da vítima. Entre eles, o irmão, Bernardo Prudêncio, e a viúva, Dona Vitória. AlfaZero chamou-os à parte e informou-lhes que havia sido solicitado pela AngoCrime para investigar o caso e que, para o efeito, iria precisar da cooperação dos familiares mais próximos da vítima. Logo depois do funeral, disse-lhes AlfaZero, iria conversar com eles para se inteirar um pouco da vida familiar do falecido e das suas relações sociais. Depois de anotar as suas moradas (a viúva morava nas Ingombotas e o irmão na Terra Nova), AlfaZero despediu-se deles. Seguidamente, AlfaZero instruiu os agentes da polícia presentes no local no sentido de poderem os familiares remover o corpo do falecido e de poderem as autoridades municipais remover a viatura da via pública. Depois disso, AlfaZero entrou na sua viatura e dirigiu-se para o seu apartamento-escritório, localizado na bela avenida Marginal da buliçosa capital de Angola, a cidade de Luanda. Chegado ali, sentou-se e pegou na caixinha que continha as duas moedas. Abriu-a e observou-as novamente mais detalhadamente. Eram, efectivamente, uma macuta angolana e um real português, já um pouco desgastadas pelo tempo mas ainda com os valores e as datas visíveis. Fechou novamente a caixinha e levantou-se para ir guardá-la no seu quarto, em local seguro.
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4. O detective AlfaZero conversa com o Inspector Juvenal ao telefone.
Ao regressar à sala de estar, depois de ter guardado a caixinha de moedas, o telemóvel de AlfaZero assinalou uma chamada. Era do Inspector Juvenal da AngoCrime.
-- Alô Inspector, como vai indo? – Disse AlfaZero levando o telemóvel ao ouvido ao mesmo tempo que premia o botão de recepção de chamadas.
-- Menos mal, detective AlfaZero. Tenho estado bastante atarefado com os casos que temos em mão, especialmente com o “caso do rapto e do assassinato das irmãs gémeas”.
-- Mas não haviam já identificado o assassino desse caso?! – Perguntou AlfaZero um tanto ou quanto surpreendido.
-- Sim, havía sido identificado um homem de meia-idade, que era, aliás, o principal suspeito, mas acontece que o homem, juntamente com o seu advogado, conseguiram provar “por a mais b” que no dia e na hora em que ocorreu o crime, o homem se encontrava a mais de cem quilómetros de distância do local do crime. De modos que agora estamos novamente na estaca zero. E como vai a investigação do caso “O Carro Armadilhado”, detective AlfaZero?
-- Por enquanto, Inspector, posso-lhe dizer que não tenho ainda qualquer pista digna de nota. Tenho apenas comigo um pequeno objecto que encontrei entre os destroços da viatura mas ainda não sei até que ponto esse objecto poderá ser útil à investigação. Vamos esperar para ver.
-- Pois, desejo-lhe sorte detective AlfaZero. Se precisar de ajuda por parte dos nossos investigadores, o Tobias e o Tibúrcio poderão ser dispensados por algumas horas para o que precisar – disse o Inspector Juvenal.
-- Pois com certeza, se eu vier a precisar deles, telefonar-lhe-ei, Inspector Juvenal.
-- Pronto, detective AlfaZero, continuação de bom trabalho e vá nos informando caso haja desenvolvimentos importantes.
-- Com certeza, Inspector Juvenal, até à próxima.
E os dois homens desligaram os telefones.
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Três dias depois da explosão da viatura, isto é, quarta-feira, AlfaZero decidiu ir conhecer um pouco mais os familiares mais chegados do falecido e igualmente informar-se do modo de vida deste. Teria ele inimigos? Andaria ele metido em negócios escuros? Quem teria motivos para o assassinar? Algum namorado ou marido ciumento? Algum devedor sem possibilidades de pagar a dívida? Ou algum credor cansado de esperar pelo pagamento? O labirinto tinha de começar a ser deslindado...
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5. AlfaZero conversa com Dona Vitória, a viúva do falecido.
AlfaZero deixou o seu apartamento-escritório, na Marginal, desceu para a Mutamba e depois subiu para as Ingombotas. Parou em frente à casa do falecido e dirigiu-se para a porta de entrada. Esta encontrava-se aberta e, dentro, as pessoas continuavam a fazer o óbito. AlfaZero foi recebido pela Dona Vitória (a viúva do falecido) que, sem perder mais tempo o conduziu para uma pequena sala para aí poderem conversar mais à vontade.
Como era de esperar, AlfaZero perguntou à Dona Vitória se esta sabia de algum negócio em que o marido andasse metido, se sabia da existência de inimigos que lhe quisessem fazer mal, se alguma vez o marido havia recebido alguma ameaça de morte, etc. etc. Todas as respostas foram negativas.
-- Sr. AlfaZero – concluiu a Dona Vitória – o meu marido dava-se bem com toda a gente, era um chefe de família exemplar, um funcionário público cumpridor, um homem que vivia do seu trabalho do dia-a-dia…
E a Dona Vitória disse as últimas palavras com lágrimas nos olhos.
-- Pronto Dona Vitória, não a maço mais – disse AlfaZero levantando-se. Obrigado pela sua paciência.
-- Sempre às ordens detective AlfaZero – disse a Dona Vitória a limpar as lágrimas que lhe rolavam nas faces.
-- Ah, Dona Vitória, ia-me esquecendo – disse AlfaZero batendo com a mão na testa. – Sabe se o seu marido coleccionava moedas?
-- Moedas?! Não, não coleccionava. Quem colecciona moedas é o irmão dele, o Bernardo. Esse é maluco por moedas. Quando vê uma moeda antiga fica maluco. Lembro-me que há tempos vendeu um computador que o pai lhe tinha oferecido para com o dinheiro comprar uma moeda, acho que da Holanda ou da Irlanda, não estou bem certa. Diz ele que a moeda valia muito mais do que o computador. O irmão ainda o aconselhou a não vender o computador mas ele o que queria mesmo era a moeda e mais nada. Enfim, paixões de coleccionadores. Mas por que é que pergunta, detective AlfaZero?
-- Ah, depois saberá. E já agora, só mais uma pergunta. O irmão do seu marido, o Bernardo, tem viatura própria, ou costuma utilizar a viatura do falecido?
-- O Bernardo tem viatura própria e nunca o vi a conduzir a viatura do falecido ou mesmo a andar nela.
-- Mais uma vez muito obrigado Dona Vitória pela sua amabilidade. Vou agora à Terra Nova conversar um pouco com o Bernardo já que ele não está aqui.
-- Não, não está. Ele saiu daqui há coisa de uma hora e disse-me que ia para casa levar o pai. O pai passou aqui a noite mas estava a sentir-se um pouco cansado.
-- Ah, espero então encontrá-lo lá – disse, AlfaZero, dirigindo-se para a sua viatura.
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6. AlfaZero dirigi-se à Terra Nova (um bairro de Luanda), para conversar com Bernardo Prudêncio, irmão do falecido.
O detective AlfaZero parou em frente à casa de Bernardo Prudêncio, o irmão do falecido. Há algum tempo que não ia à Terra Nova e já sentia algumas saudades. Desceu do carro e tocou à campainha. Bernardo veio atender.
-- Ah, entre Sr. detective AlfaZero – convidou ele – queira sentar-se. Como tem passado?
-- Menos mal, Sr. Bernardo. O Senhor é que deve estar completamente abatido com a morte do seu irmão.
-- Não imagina, detective AlfaZero. Éramos apenas dois e agora fiquei sozinho. Foi uma tragédia para mim.
-- Compreendo, -- disse AlfaZero com comiseração. – Nestas alturas é importante o conforto da família. Já sei que o seu pai vive aqui. E a sua mãe?
-- A minha mãe já faleceu. Faleceu, faz agora, cinco anos. O meu pai ainda vive mas está já com 86 anos.
-- Uau! – exclamou AlfaZero – isso é que é viver. Gostaria também de conversar um pouco com ele, se não houver inconveniência.
-- Sim, poderá. Ele ainda está bastante lúcido e ainda se recorda de tudo. Ele vive aqui comigo há já três anos. Sabe, eu ainda não me casei, não tenho mulher e talvez seja por isso que o meu pai tenha preferido viver comigo e não com o falecido. Sabe, os velhotes não gostam muito de dar trabalho às noras. Preferem ser tratados por empregadas.
-- E o Bernardo não pensa em casar-se? – perguntou AlfaZero.
-- Oh, sim. Eu já estou noivo e estava para me casar já nas próximas semanas. Agora com a morte do meu irmão, vou ter de adiar o casamento por mais alguns meses. Ah, triste vida! – Concluiu ele, com um suspiro.
-- Esperar não custa tanto quando não se espera em vão – opinou AlfaZero.
-- Sim, tem razão.
E, mudando de conversa, o Bernardo disse: -- o meu pai passa os dias sentado no quintal à sombra da mulembeira. Está muito abatido com a morte do filho. Não imagina. Depois levo-lhe até ele.
-- Agradecia, Sr. Bernardo. Já agora diga-me uma coisa. Sabe se o seu irmão Augusto…
E AlfaZero fez-lhe todas as perguntas que havia feito à sua cunhada, a Dona Vitória, esposa do falecido. E todas as respostas foram, igualmente, negativas.
-- Senhor detective AlfaZero, não é por ser meu irmão mas o Augusto era uma jóia de pessoa.
-- Bem, leve-me então até ao seu pai – pediu AlfaZero.
-- Vamos por aqui – disse Bernardo Prudêncio, ao mesmo tempo que conduzia AlfaZero para o quintal onde se encontrava o pai. Ao passarem por um estreito corredor, AlfaZero viu, em cima de uma prateleira, algumas caixas de plástico transparente, cheias de moedas.
-- É coleccionador de moedas, Sr. Bernardo?
-- Sou, detective AlfaZero. Tenho uma colecção invejável. Não é para me gabar mas a minha colecção deve ser a maior de Angola, para não dizer de África. Quando estiver mais desafogado, passe por aqui que lhe vou mostrar toda a colecção. Tenho moedas de todos os países do Mundo.
-- Deve ser de um valor incalculável!
-- Não faz ideia, Sr. AlfaZero. Eu até há noites que quase não durmo só de pensar que alguém possa vir roubar-me as moedas.
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7. O detective AlfaZero conversa com Aparício Prudêncio, pai do falecido e um novo desenvolvimento surge da redacção de um testamento.
Haviam chegado ao quintal. Bernardo apresentou o detective AlfaZero ao pai, enquanto pedia à empregada que trouxesse uma cadeira e dois refrescos.
-- Pai, este Senhor é o Sr. detective AlfaZero e está a investigar a morte do Augusto.
-- Oh, muito prazer – disse o velhote, estendendo a mão a AlfaZero. Eu chamo-me Aparício Prudêncio. Sou o pai do Augusto (o meu Augusto, que Deus o tenha) e aqui do Bernardo. São os meus dois únicos filhos. Agora fiquei só com um. Oh, a minha dor é muito grande, Sr. detective. Desculpe, como é que disse que se chamava?
-- AlfaZero.
-- Ah, sim, Sr. detective AlfaZero. – Não imagina como é grande a dor de um pai ao perder um filho aos 86 anos de idade.
Entretanto, Bernardo retirara-se, deixando-os sós.
-- Compreendo a sua dor, Sr. Aparício. A única consolação que nos resta agora é levar à justiça a pessoa que o assassinou. Diga-me, Sr. Aparício – prosseguiu AlfaZero, olhando de frente para o seu interlocutor – por acaso sabe se o seu filho Augusto tinha inimigos, se andava em negócios escuros...
E AlfaZero repetiu as mesmas perguntas que já havia feito à Dona Vitória e ao Bernardo. Todas as respostas foram, igualmente, negativas.
-- Não, Senhor detective AlfaZero, que eu saiba, o meu Augusto nunca se meteu em maus caminhos.
O Senhor Aparício Prudêncio gostava de conversar.
-- Sabe, Sr. AlfaZero, -- disse ele – muita gente inveja estes meus 86 anos. Mas olhe que foi graças a muito trabalho e esforço que eu cheguei a esta idade. Muitas vezes me levantei às 4 da manhã para ajudar a minha mãe a amassar pão que depois eu e o meu pai vendíamos, durante o dia, na tasca dele. Tinha eu, nessa altura, 12 anos. E a sorte bateu, de tal forma, à porta do meu pai que, quando ele faleceu, em 1957, deixou quatro grandes armazéns e seis casas grandes com loja, tudo de construção definitiva. Deixou ainda uma grande manada de gado bovino e uma fábrica de lacticínios no Kwanza-Sul.
-- Esses bens perderam-se? – Perguntou AlfaZero.
-- Não, não se perderam. Eu era o único filho e, como tal, herdei tudo. A minha mãe havia já falecido. Ela faleceu dois anos antes do meu pai, isto é, em 1955. Pois eu herdei tudo, Sr. AlfaZero. E sabe o que fiz? Dupliquei, tripliquei, quadrupliquei a minha fortuna. Hoje posso dizer que sou um homem rico, riquíssimo mesmo, em bens materiais. Não aparento ser rico mas sou. A minha esposa faleceu há cinco anos. Eu estou quase a ir embora, também. Mais ano, menos ano, vou-me também embora deste mundo.
-- Não diga isso – disse AlfaZero, que havia começado a simpatizar deveras com Aparício Prudêncio – ainda há-de festejar muitos aniversários.
-- Não, Sr. detective AlfaZero. A morte do Augusto abalou-me muito, isto é o meu fim – disse Aparício Prudêncio, fixando o olhar num ponto distante do infinito. – Olhe – prosseguiu ele em voz mais baixa ao mesmo tempo que se endireitava na cadeira e se inclinava para AlfaZero – vou-lhe confidenciar uma coisa mas não diga nada ao Bernardo que eu quero fazer-lhe uma surpresa. Estou tão certo que a minha morte está próxima que até já fiz o meu testamento, o testamento de todos os meus bens materiais, incluindo as grandes manadas de gado e a fábrica de lacticínios que possuo no Kwanza-Sul. Da mesma forma como o meu pai me deixou toda a sua fortuna, também eu queria deixar toda a minha fortuna para os meus dois filhos e só para eles. Agora, um deles faleceu. Segundo o que diz o meu testamento toda a minha fortuna ficará, agora, apenas para o Bernardo. Logo que eu feche os olhos, o Dr. Advogado José Reis (que é o tutor do meu testamento) accionará os mecanismos no tribunal e o Bernardo tornar-se-á, da noite para o dia, um dos homens mais ricos de Angola ou mesmo de África. Espero que ele saiba dar continuidade à fortuna que lhe deixo, tal como eu soube dar continuidade à fortuna que o meu pai me deixou. E como ele está para se casar, que a esposa dele o ajude a triplicar a sua fortuna, como a minha Rosalinda (que Deus a tenha) me ajudou a mim. Sr. AlfaZero, vou fazer-lhe um pedido e talvez seja o último que faça em vida. Encontre a pessoa que matou o meu filho Augusto, para que ela pague pelo sofrimento que me está a causar – pediu, com lágrimas nos olhos, Aparício Prudêncio.
-- Pode estar descansado, Sr. Aparício, que farei tudo o que estiver ao meu alcance para encontrar essa pessoa.
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8. Na mente de AlfaZero, duas pistas importantes apontam para Bernardo Prudêncio, o irmão do falecido. Terá ele assassinado o irmão?
AlfaZero despediu-se do Sr. Aparício e do Bernardo, entrou na sua viatura e foi direito para o seu apartamento-escritório, na bela e sempre movimentada avenida Marginal da electrizante capital de Angola, a maravilhosa cidade de Luanda. Chegado ali, sentou-se e pôs-se a pensar. Segundo a lógica dos seus pensamentos, duas pistas estavam a conduzi-lo para o Bernardo. Primeiro, a questão da caixinha das moedas encontrada por entre os destroços da viatura. O Bernardo era coleccionador de moedas. Será que, ao colocar a bomba na viatura do irmão teria, inadvertidamente, deixado cair a caixinha das duas moedas que, provavelmente, estaria num dos bolsos da sua camisa?
O raciocínio é ingrato sob o ponto de vista emocional pois é sempre repugnante o assassinato de um irmão. Mas, sob o ponto e vista lógico das suas investigações, as coisas apontavam para aí. A outra pista que começava a formar-se no cérebro de AlfaZero era a questão do testamento de Aparício Prudêncio. Este deixaria toda a sua fortuna apenas aos dois filhos. Isso quer dizer que, caso um deles morresse, o outro herdaria toda a fortuna sozinho…
AlfaZero saltou da cadeira, comeu uma sanduíche e pensou:
“Vou pedir ao Dr. Advogado José Reis que me deixe ver o testamento de Aparício Prudêncio.”

9. AlfaZero contacta o advogado José Reis e pede-lhe para ver o testamento de Aparício Prudêncio.
O escritório do Dr. José Reis ficava localizado na Mutamba, (baixa de Luanda), no 3º andar de um prédio junto ao prédio da Sonangol. AlfaZero estacionou a sua viatura e galgou as escadas que subiam até ao 3º andar. Uma placa colocada por cima de uma porta, dizia: “Dr. Advogado, José Reis”. AlfaZero tocou à campainha tendo sido recebido pela secretária que, de imediato, o anunciou ao Dr. José Reis. E depois de se ter identificado e de ter posto o Dr. José Reis ao corrente de todos os factos referentes à morte de Augusto Prudêncio, AlfaZero disse:
-- Creia, doutor, que o curso das investigações me diz ser imprescindível que eu veja o testamento de Aparício Prudêncio.
-- Mas olhe, detective AlfaZero, que será absolutamente necessário que guarde sigilo pois o testamento é absolutamente confidencial. Para além do próprio Aparício Prudêncio e de mim, só há mais uma pessoa, que é a Dra. Filomela da Conservatória Notarial 35-b, onde o testamento foi reconhecido, que têm conhecimento do conteúdo do mesmo. Eu vou mostrar-lhe o testamento mas peço-lhe, repito, peço-lhe que não divulgue absolutamente a ninguém nada do que consta no mesmo.
-- Dou-lhe a minha palavra de detective, doutor Reis.
O advogado José Reis afastou-se, foi a um cofre grande de ferro, rodou três rodas com números que se encontravam na porta do mesmo, abriu-a, retirou uma pasta amarela e de dentro da referida pasta retirou o testamento do Sr. Aparício Prudêncio.
-- Aqui está – disse o Doutor José Reis, entregando o testamento a AlfaZero.
O detective AlfaZero percorreu com os olhos o testamento e deteve-se na seguinte passagem, lendo-a com interesse:

TESTAMENTO
“Eu, Aparício Prudêncio (seguia-se toda a sua identificação), possuidor dos seguintes bens: (e seguia-se a especificação detalhada de todos os bens), declaro que, ao ser confirmado o meu falecimento, todos os meus bens acima especificados reverterão, em partes iguais, para os meus dois únicos filhos cujos nomes são Augusto Prudêncio e Bernardo Prudêncio. Caso um destes meus dois filhos morra antes de mim, toda a minha fortuna acima especificada será herdada pelo outro. Caso morram os dois antes de mim, então que os meus bens sejam entregues ao meu neto mais velho, filho de Augusto Prudêncio, quando atingir a maioridade.”

Era tudo o que AlfaZero queria saber. Agradeceu e despediu-se do Dr. José Reis, prometendo, mais uma vez, que não revelaria a ninguém o conteúdo do testamento.
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10. Na mente de AlfaZero três figuras começam agora a formar-se, como prováveis suspeitos da morte de Augusto Prudêncio.
AlfaZero regressou ao seu apartamento-escritório. Sentou-se e pôs-se a pensar. Para ele tudo indicava que Bernardo Prudêncio era o assassino do irmão. Sim, a ambição de herdar, sozinho, toda a fortuna do pai, levá-lo-ia a matar o irmão. E depois aquela caixinha de moedas encontrada junto à viatura armadilhada poderia ter sido deixada cair por ele na altura em que colocava a bomba. Sim, as pistas apontavam para ele. Mas como provar que era ele, efectivamente, o assassino? E como teria ele tido acesso ao conteúdo do testamento de forma a ficar a saber que ele e o irmão eram os únicos herdeiros do pai e que se um deles morresse o outro herdaria tudo, sozinho? A não ser que… e o pensamento de AlfaZero voou para a Dra. Filomela, a terceira pessoa que, segundo o que lhe havia dito o Dr. Reis, conhecia o conteúdo do testamento. A não ser que a Dra. Filomela tenha revelado o conteúdo do testamento ao Bernardo. Ou, por que não o próprio Dr. José Reis? -- Interrogou-se AlfaZero.
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11. AlfaZero contacta a Dra. Filomela da Conservatória Notarial 35-b.
O detective AlfaZero já conhecia pessoalmente o Dr. Advogado José Reis pelo que decidiu conhecer igualmente a Dra. Filomela da Conservatória Notarial 35-b. Foi ao seu apartamento-escritório e tirou uns documentos de uma pasta a fim de servirem de pretexto a uma conversa com a Dra. Filomela.

Já na Conservatória Notarial 35-b, o detective AlfaZero foi de imediato conduzido ao Gabinete da Dra. Filomela, conforme seu pedido. Ela estava só. AlfaZero contemplou-a por uns momentos. Era extremamente bela. Tinha uns olhos grandes e brilhantes e uma boca onde sobressaíam uns lábios carnudos e simétricos. Quando se levantou para cumprimentá-lo, AlfaZero notou que era alta, de corpo esguio e sinuoso, de gestos elegantes e de voz suave e melodiosa. Vestia roupas caras. No seu olhar, AlfaZero detectou um misto de autoritarismo e ternura, de resignação e coragem… “É o tipo de mulher a que os homens se costumam referir quando dizem, “é uma verdadeira peça” – pensou AlfaZero.
AlfaZero pediu-lhe algumas informações relacionadas com procurações e foi tudo. A conversa não resvalou para outros assuntos, tendo AlfaZero ficado apenas a saber que ela havia feito os seus estudos superiores nos EUA e que se havia especializado em gestão administrativa, com alguns outros cursos pelo meio. Chegada ao país, preferiu ingressar num organismo estatal pois, segundo ela, sentia-se mais protegida como funcionária do Estado do que como trabalhadora de uma empresa privada. AlfaZero estava, pois, satisfeito pois o seu único objectivo, nessa sua primeira visita à Dra. Filomela era apenas conhecê-la. Assim, despediu-se dela e regressou para o seu apartamento-escritório, na Marginal.

12. O detective AlfaZero selecciona três suspeitos do caso “O carro armadilhado”.
AlfaZero estava bastante estafado. Eram agora quase 18 horas e estava cheio de fome. Preparou qualquer coisa rápida para comer, ouviu o noticiário das 20h30m na televisão e depois foi-se deitar. Queria dormir mas não conseguia. A sua cabeça rodava à volta das investigações. Neste momento ele tinha três suspeitos e que eram, por ordem de probabilidade:
• Bernardo Prudêncio
• Dra. Filomela Assis
• Dr. Advogado José Reis
Duas destas três pessoas (a Dra. Filomela e o Dr. José Reis) tinham conhecimento do conteúdo do testamento e, por conseguinte, qualquer delas poderia ter algum interesse velado em matar Augusto Prudêncio. Quanto a Bernardo Prudêncio, este poderia ter tido acesso ao conteúdo do testamento através de um dos outros dois e, então, ter interesse em assassinar o irmão para, assim, herdar sozinho, toda a fortuna do pai. Por outro lado, poder-se-ia dar o caso de nenhum dos três ter sido o assassino de Augusto Prudêncio. Contudo, essa seria uma probabilidade a ser considerada mais tarde, apenas depois de ficar provado que os três suspeitos referidos nada tinham a ver com o assassinato. AlfaZero pensava e repensava. Como avançar nas investigações? Bem, o melhor seria conhecer um pouco melhor o Dr. Advogado José Reis, considerou ele por fim. Seria ele uma pessoa idónea? Teria ele motivos para assassinar Augusto Prudêncio?
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13. O detective AlfaZero visita o Dr. Advogado José Reis
AlfaZero estava agora no Escritório do Dr. José Reis. Depois de se ter sentado na poltrona que o advogado lhe indicara, o detective AlfaZero disse, olhando-o directamente nos olhos:
-- Pois, Dr. José Reis, pedi-lhe para falar consigo em privado porque o Sr. é um dos suspeitos de ter assassinado Augusto Prudêncio.
-- Eu?! Suspeito? Em que bases é que assenta essa sua afirmação?! – Exclamou o advogado José Reis, endireitando-se na cadeira.
-- Dr. José Reis, é simples. Você conhece o conteúdo do testamento de Aparício Prudêncio. Isso quer dizer que poderia ter assassinado Augusto Prudêncio para que a fortuna do pai, em vez de ser dividida pelos dois irmãos, ficasse apenas para um deles.
-- E que ganharia eu com isso?! – Perguntou, meio a sorrir, o advogado José Reis.
-- É precisamente isso o que eu quero saber. Vou-lhe ser franco, Sr. José Reis. Só três pessoas conhecem o conteúdo do testamento de Aparício Prudêncio, como você próprio disse. E essas três pessoas são o próprio Aparício Prudêncio, que o redigiu, a Dra Filomela Assis, qiue o reconheceu, e você, que o tem em sua custódia. Isso quer dizer que, excluindo o próprio Aparício Prudêncio, que é o dono do testamento, só a Dra. Filomela Assis e você é que conhecem o seu conteúdo.
-- E por que razão pensa que a pessoa que assassinou Augusto Prudêncio teria, forçosamente, de conhecer o conteúdo do testamento de Aparício Prudêncio? – Perguntou, com ar triunfante, o advogado José Reis.
-- Olhe, Dr. José Reis, eu sempre disse que no mundo do crime nada acontece por acaso. E a minha experiência de detective diz-me que o motivo do assassinato de Augusto Prudêncio é o testamento do pai, Aparício Prudêncio.
-- Então, nesse caso -- argumentou o advogado -- o Bernardo Prudêncio também tem de ser considerado suspeito já que, com a morte do irmão, ele passou a ser o único herdeiro de toda a fortuna do pai.
-- Claro, o Bernardo Prudêncio também é um dos suspeitos da morte do irmão. Só que o Bernardo, em princípio, não conhece o conteúdo do testamento. A não ser que você, ou a Dra. Filomela, lhe tenham revelado. Compreende agora por que é que você é considerado suspeito?
-- Senhor detective AlfaZero, eu sempre pautei a minha conduta profissional por o máximo de honestidade. Nunca eu revelei a quem quer que fosse um ponto ou uma vírgula desse testamento, ou de qualquer outro testamento à minha guarda. Tenho a minha consciência absolutamente tranquila – disse o advogado olhando directamente para os olhos de AlfaZero. Este, por fim, disse:
-- Espero que me esteja a dizer a verdade, Sr. advogado José Reis. O assassino de Augusto Prudêncio vai ser identificado. Custe o que custar. Eu vou levar este caso até ao fim, sejam quais forem as consequências. Por conseguinte, se não me está a dizer a verdade, ainda tem tempo de reconsiderar a sua posição.
-- Sr. detective AlfaZero, dou-lhe a minha palavra que o que lhe estou a dizer é verdade.
-- Diga-me ainda mais uma coisa, Dr. Reis, você tem algum tipo de relacionamento com a Dra. Filomela Assis?
-- Não, detective AlfaZero, absolutamente nenhum. Só a conheço pelo nome.
-- Agradeço-lhe, então, o tempo que me concedeu e até uma próxima oportunidade.
AlfaZero despediu-se do advogado José Reis e saiu do seu Escritório.
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14. AlfaZero volta a contactar a Dra. Filomela da Conservatória Notarial 35-b.
Ao sair do escritório do advogado José Reis, o detective AlfaZero decidiu que deveria voltar a contactar a Dra. Filomela Assis, da Conservatória Notarial 35-b, já que ela era uma das suspeitas do caso. Dirigiu, pois, a sua viatura para a Conservatória 35-b e, ao chegar, foi logo conduzido ao Gabinete da Dra. Filomela.
-- Queira desculpar por lhe vir roubar um pouco do seu tempo, Dra. Filomela. Eu sou o detective AlfaZero, e estou encarregue do caso “O Carro Armadilhado”. Gostaria de falar consigo sobe o referido caso – disse o detective AlfaZero depois de a ter cumprimentado.
-- Ah, o Senhor é detective?
-- Sim, sou detective -- respondeu AlfaZero. E acrescentou: -- já conversei uma vez consigo quando precisei de cá vir tratar de uns papéis, penso que se recorda.
-- Sim, perfeitamente, mas não sabia que era detective. Então disse que está a investigar o caso…
-- O “Caso do Carro Armadilhado”.
-- Será que se está a referir ao carro que explodiu no Largo do Quinaxixe a semana passada?
-- Precisamente, Dra. Filomela. E lamento ter de lhe dizer já, que a Senhora é um dos suspeitos desse caso – disse AlfaZero olhando a Dra. Filomela nos olhos.
-- Eu, suspeita? Suspeita de quê? De ter armadilhado o carro?
-- Sim, Dra. Filomela, de ter armadilhadoo carro, ou, por outras palavras, de ter colocado a bomba por baixo do assento do condutor – disse, calmamente, AlfaZero.
-- Mas, o que é que lhe leva a pensar assim? Que motivos teria eu, uma pobre funcionária, de fazer explodir aquela viatura?
-- Dra. Filomela Assis, vou ser claro. A minha intuição de detective diz-me, a todo o momento, que a explosão dessa viatura e a consequente morte do seu ocupante, o cidadão Augusto Prudêncio, está ligada ao testamento do pai do falecido, o Sr. Aparício Prudêncio. Ora, só havia, neste mundo, até ao dia do assassinato, três pessoas que conheciam o teor desse testamento. E essas três pessoas eram o próprio Aparício Prudêncio, que o elaborou, você, Dra Filomela Assis, que o reconheceu, e o Dr. Advogado José Reis, que o tem à sua guarda. Por conseguinte, excluindo o Sr. Aparício Prudêncio, só você e o Dr. José Reis é que conheciam o testamento. Porém, há mais uma pessoa que poderia igualmente ter cometido o assassinato e essa pessoa é o próprio irmão do falecido, o Bernardo Prudêncio. Acontece, porém, que o Bernardo Prudêncio não conhecia o teor do testamento a não ser que… ou o Dr. José Reis ou você própria, Dra. Filomela, lhe tenham revelado o seu conteúdo.
-- Não estou a compreender muito bem onde quer chegar, Sr. detective AlfaZero… -- disse a Dra. Filomela.
-- Dra. Filomela, é simples como dois e dois serem quatro. No testamento é claramente expresso que a fortuna, a imensa fortuna, do Sr. Aparício Prudêncio seria dividida, em partes iguais, entre os dois filhos dele, o Augusto e o Bernardo. E o testamento também diz claramente que, caso um dos dois filhos falecesse antes do Sr. Aparício Prudêncio, então quando este falecesse toda a sua fortuna seria herdada apenas pelo filho que estivesse vivo. Compreende agora, Dra. Filomela, por que razão, alguém, com conhecimento do testamento, poderia ter algum interesse em assassinar Augusto Prudêncio, para que o Bernardo Prudêncio herdasse, sozinho, toda a fortuna do pai?
-- Sr. Detective AlfaZero, o seu pensamento não deixa de ter a sua lógica. Mas que interesse teria eu em que apenas um dos filhos desse tal Senhor herdasse, sozinho, a sua fortuna?
-- Dra. Filomela Assis, auponhamos que, por qualquer motivo, você tenha revelado o conteúdo do testamento ao Bernardo e que o Bernardo, por ambição, tenha assassinado o irmão.
-- Olhem, meu Deus! Mas quem é esse tal Bernardo? Não, detective AlfaZero, nunca revelei o conteúdo do testamento nem a esse tal Bernardo, nem a ninguém – disse a Dra. Filomela, com firmeza.
-- Então, nesse caso, você própria poderá ter armadilhado a viatura e assassinado Augusto Prudêncio!
-- Mas que interesse teria eu em fazer isso, Detective AlfaZero? Por amor de Deus, eu nunca faria uma coisa dessas! Nunca conheci esse tal Augusto Prudêncio. Não sei de quem se trata.
-- Dra. Filomela, diga-me uma coisa, a Senhora tem algum tipo de relacionamento com Bernardo Prudêncio, o irmão de Augusto Prudêncio, a vítima do carro armadilhado? – Perguntou AlfaZero sem desviar os olhos da sua interlocutora.
-- Nenhum, detective AlfaZero. Nem o conheço.
-- Dra. Filomela, eu vou levar este caso até ao fim, custe o que custar, e dôa a quem doer. O assassino vai ser identificado e vai ter de pagar pelo crime que cometeu. Se não me está a dizer a verdade, ainda tem tempo de se retractar.
-- Detective AlfaZero, juro-lhe…

15. AlfaZero volta a contactar Bernardo Prudêncio, o irmão de Augusto Prudêncio.
AlfaZero despediu-se da Dra. Filomela Assis e dirigiu-se para o seu apartamento-escritório na buliçosa Avenida Marginal da bela capital de Angola. Estava ele já, porém, a poucos metros do seu apartamento-escritório, quando decidiu que deveria ir contactar Bernardo Prudêncio, o irmão do falecido. Assim, deu meia volta e dirigiu-se para a Terra Nova, o bairro onde residia Bernardo Prudêncio. Ao chegar à casa deste e depois de ter sido conduzido pelo próprio para a sala de estar, AlfaZero disse, indo direito ao assunto:
-- Sr. Bernardo, você é um dos suspeitos pela morte do seu irmâo.
-- Mas o que é que está a dizer, detective AlfaZero?! Eu suspeito de ter morto o meu querido irmão? O meu ùnico irmão? Mas o que é que lhe passou pela cabeça detective AlfaZero, para me fazer uma acusação dessas!? – E Bernardo, ao pronunciar estas palavras, colocou a cabeça entre as mãos e abanou-a de um lado para o outro em sinal de protesto.
-- Sr. Bernardo, no mundo do crime nada acontece por acaso. Olhe para mim e diga-me com toda a sinceridade: quem lhe revelou o conteúdo do testamento do seu pai?
-- O conteúdo do testamento do meu pai? O meu pai fez algum testamento? – Perguntou, com ar surpreso, Bernardo Prudêncio.
-- Sim, fez. O Senhor não tem conhecimento disso?
-- Senhor AlfaZero, é a primeira vez que estou a ouvir tal coisa. Mas... vou perguntar ao meu pai por que é que não me disse nada – disse Bernardo Prudêncio começando a afastar-se, em direcção ao local onde se encontrava o pai.
AlfaZero seguia todas as reacções do seu interlocutor. Estaria ele a dizer a verdade? Tudo indicava que sim... Se sim, então restavam apenas dois suspeitos, José Reis e Filomela Assis.
-- Sr. Bernardo, escusa de incomodar o seu pai. Ele sabe porque é que não lhe disse que elaborou um testamento.
-- Mas, Sr. Detective AlfaZero, o que é que diz esse testamento? E por que é que perguntou se eu conhecia o seu conteúdo?
--Depois saberá, Sr. Bernardo.
AlfaZero despediu-se de Bernardo Prudêncio e dirigiu-se, então, para a Avenida Marginal onde se localizava o seu apartamento-escritório.

Enquanto conduzia a sua viatura para a Avenida Marginal, o pensamento de AlfaZero virou-se para a caixinha metálica que havia encontrado entre os destroços do “Mitsubishi” armadilhado. A caixinha metálica com duas moedas dentro poderia ser útil à investigação. Sim, as duas moedas eram de um valor elevadíssimo, uma tentação irresistível para qualquer coleccionador e, a pessoa que, inadvertidamente, a havia deixado naquele local, sem saber que a havia deixado ali e, provavelmente a pensar que a havia deixado num outro local qualquer, deveria estar desesperada à sua procura, sem saber onde encontrá-la.

16. O detective AlfaZero decide colocar um anúncio no “Jornal de Angola” com a ajuda da sua amiga Briana.
Por fim, AlfaZero decidiu que, no dia seguinte, logo pela manhã, iria telefonar à sua amiga Briana para traçar, com ela, o seguinte plano: “a Briana iria colocar um anúncio no “Jornal de Angola” do seguinte teor: “Vende-se duas moedas, uma macuta angolana e um real português. Os interessados deverão contactar a Dona Briana, no apartamento nº XX, na Rua Y, das 8h às 12h.”
Ele iria alugar um apartamento, propositadamente para aquele anúncio. AlfaZero mal dormiu. No dia seguinte, logo de manhã, telefonou à Briana e deu-lhe todas as instruções referentes ao anúncio. Briana seguiu as instruções à risca pelo que, no dia seguinte, o anúncio saiu no “Jornal de Angola” tal e qual fora solicitado.
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17. AlfaZero telefona ao Inspector Juvenal da AngoCrime.
-- Inspector Juvenal preciso da sua ajuda – disse o detective AlfaZero depois de o Inspector Juvenal ter atendido a sua chamada.
-- Pois com certeza, detective AlfaZero, do que é que se trata?
-- Preciso que me dispense o Tobias e o Tibúrcio por algumas horas.
-- Com certeza, eles irão já ter consigo – rematou o Inspector Juvenal.
Passados cerca de 45 minutos, os dois investigadores da AngoCrime estavam já no apartamento-escritório do detective AlfaZero. Este, depois de lhes ter posto ao corrente do plano que havia traçado com a Briana, concluiu:
-- Vocês ficarão escondidos num dos quartos à espera dos acontecimentos. Estejam atentos pois poderá ser necessária a vossa intervenção.

18. A duas moedas são reclamadas por alguém que diz pertencerem-lhe.
AlfaZero, Briana e os dois investigadores da Ango-Crime, ou seja, o Tobias e o Tibúrcio, estavam agora no apartamento indicado no anúncio. Briana esperava na sala enquanto AlfaZero e os dois investigadores se encontravam escondidos em dois dos quartos do apartamento. Por volta das 10h30m ouviu-se a campainha da porta tocar. Briana foi abrir. Era uma senhora que Briana não conhecia.
-- Bom-dia, – cumprimentou ela. – É a Dona Briana?
-- A própria – respondeu a Briana.
-- Eu vim responder ao anúncio das moedas – disse a senhora.
-- Ah, -- disse a Briana, sorrindo – entre e sente-se. Está então interessada nas moedas?
-- Sim, estou. Eu sou uma grande coleccionadora de moedas. Tenho moedas de todo o mundo e gostaria de ver as que tem aí.
Briana levantou-se e foi a um outro quarto buscar a caixinha metálica que continha as duas moedas. Quando a colocou por cima da mesa em frente à senhora, esta disse, com voz firme:
-- Dona Briana, diga-me onde tirou esta caixinha.
-- Por que pergunta?
-- É que esta caixinha é minha. Eu perdi-a nalgum lugar mas não sei onde. Tenho estado a procurá-la por todos os lados. Mas garanto-lhe que é minha.
-- Vai ter de provar que é sua – disse a Briana olhando-a nos olhos.
-- Posso provar. Em letras muito pequeninas o meu nome está gravado por baixo da tampa da caixinha. Eu tenho aqui uma lupa e vou mostrar-lhe.
A mulher tirou uma lupa de dentro da pasta que trazia, focalizou-a nas letras em miniatura que se encontravam debaixo da tampa da caixinha e o nome dela surgiu, claro e legível: “Filomela Assis”.
-- Veja! Agora vou mostrar-lhe o meu BI (Bilhete de Identidade) para ter a certeza de que sou eu própria. Aqui está – disse ela mostrando o seu Bilhete de Identidade à Briana. – Eu perdi a caixinha num lado qualquer – continuou ela olhando directamente para Briana – não sei onde. Procurei-a desesperadamente por todos os lados, sem resultado. Essas moedas são de um valor incalculável e eu não posso perdê-las. Foram-me oferecidas por uma pessoa muito especial no “Dia dos Namorados”. Por conseguinte, Dona Briana, devolva-me as minhas moedas. Não me importa saber como as obteve. Dê-mas, por favor.
-- E se eu disser que não as entrego? – perguntou a Briana em tom desafiador.
-- Nesse caso vou levá-las à força. Pense bem, Dona Briana. As moedas são minhas e eu não vou deixá-las consigo. Vou ter de as levar, custe o que custar.
-- Se quer que eu lhe entregue as moedas terá de me pagar uma quantia elevada – disse a Briana, sempre provocadora.
-- Pois se não me as entrega a bem, há-de me entregá-las a mal – disse a Dra. Filomela Assis com raiva, puxando de uma pistola de dentro da sua pasta e apontando-a a Briana.
-- Dê-me as minhas moedas, e já – prosseguiu a Dra. Filomela, sempre com a arma apontada para Briana e em tom ameaçador.
Nesta altura, o detective AlfaZero saltou do seu “esconderijo” e avançou, ligeiro, para a Dra. Filomela. Esta apercebeu-se de que alguém avançava para ela por trás e virou-se rapidamente disparando a pistola em direcção a AlfaZero que, entretanto, se havia já lançado ao solo, esquivando-de, assim, de uma morte certa. Depois do disparo a Dra. Filomela virou-se novamente para a Briana que, entretanto já se havia refugiado num dos quartos. Por seu lado, o Tobias e o Tibúrcio numa velocidade incrível, correram para a Dra. Filomela imobilizando-a por trás e tirando-lhe a pistola da mão. O detecitive AlfaZero aproximou-se então dela, olhando-a de frente. Ao vê-lo, a Dra. Filomela, colhida de surpresa e muito nervosa, disse:

-- O Senhor… que faz aqui?!
-- Depois saberá, Dra. Filomela Assis. Agora, vai ter de ir à AngoCrime (Agência de Investigação e Notificação de Crimes) para responder a umas perguntas. A sua pistola vai comigo.
-- Ir à AngoCrime responder a umas perguntas?! Que mal é que eu fiz?
-- Que mal é que fez? Ainda pergunta? Posse ilegal de armas de fogo e outras questões – respondeu AlfaZero, ao mesmo tempo que descarregava a pistola da Dra. Filomela. – Levante-se e vamos andando – ordenou ele com voz autoritária – o tempo urge.
-- Posso, ao menos, fazer um telefonema?
-- Faça o telefonema quando estivermos fora do apartamento. Vamos! – Disse AlfaZero com voz firme.
Desceram todos para a rua.
-- Faça agora o seu telefonema mas não se demore – disse AlfaZero à Dra. Filomela, enquanto entrava na sua viatura.
Depois de ter terminado o telefonema, a Dra. Filomela colocou o seu telemóvel na pasta, entrou na viatura de AlfaZero e, juntamente com o Tobias e o Tibúrcio, partiram para a AngoCrime. Chegados à AngoCrime, AlfaZero apresentou a Dra. Filomela ao Inspector Juvenal e pôs-lhe ao corrente dos últimos acontecimentos.

19. Uma surpresa esperava por AlfaZero
Quando o detective AlfaZero ia a sair da AngoCrime, encontrou-se com Bernardo Prudêncio, que ia a entrar.
-- Por aqui, Sr. Bernardo?
-- Sim, detective AlfaZero. Recebi há coisa de meia hora um telefonema da minha noiva a dizer que a tinham trazido para cá.
-- Mas… quem é a sua noiva?
-- É a Dra. Filomela Assis, da Conservatória Notarial 35-b.
-- Ah, sim?! – Exclamou AlfaZero deveras surpreendido – ela está lá dentro. Vá ver o que se passa.

20. AlfaZero conversa com Bernardo Prudêncio e Filomela Assis
E AlfaZero, depois desta revelação, deu meia volta e regressou para o interior da AngoCrime. Dirigindo-se ao Inspector Juvenal, disse-lhe:
-- Inspector, preciso de conversar novamente com a Dra. Filomela Assis e com o seu noivo, Bernardo Prudêncio. As coisas agora estão perfeitamente muito mais claras.
-- Sim, com certeza, detective AlfaZero – disse o Inspector Juvenal olhando para AlfaZero com perplexidade.
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Ao entrar no compartimento onde se encontrava a Dra. Filomela Assis, AlfaZero encontrou-a sentada e com aspecto de bastante nervosa. Bernardo, o seu noivo, estava igualmente sentado, ao seu lado.
-- Desculpem interromper-vos – disse AlfaZero olhando para os dois, alternadamente – mas preciso de conversar com vocês. Neste momento vocês são os dois principais suspeitos do assassinato de Augusto Prudêncio. Um de vocês os dois assassinou, ou os dois em conivência assassinaram, Augusto Prudêncio. Esta caixinha metálica com duas moedas dentro – disse AlfaZero, ao mesmo tempo que lhes mostrava a caixinha que segurava na sua mão direita – é a prova inequívoca que um de vocês os dois esteve na viatura de Augusto Prudêncio para armadilhá-la. A Dra. Filomela Assis já confessou que a caixinha lhe pertence mas disse ela que não sabia onde a havia perdido. Você, Bernardo, conhece esta caixinha de moedas? –- Perguntou AlfaZero colocando a caixinha das moedas em frente aos olhos de Bernardo.
-- Sim, conheço, pois fui eu que a ofereci à Filomela, no “Dia dos Namorados” do ano passsado.
-- Diga-me, perguntou ainda o detective AlfaZero, que moedas é que estão dentro desta caixinha?
-- Bem, quando eu a ofereci à Filomela, as moedas que se encontravam na caixinha eram uma “macuta” angolana e um “real” português.
-- Perfeito – disse o detective AlfaZero. E, virando-se para a Dra. Filomela Assis, disse:
-- Dra. Filomela Assis, sabe explicar-me como é que a sua caixinha de moedas se encontrava por entre os destroços da viatura de Augusto Prudêncio?
-- Não, não sei explicar detective AlfaZero. Eu devo tê-la perdido nalgum local e então alguém deve tê-la apanhado aí e...
-- E esse alguém terá então colocado a caixinha dentro da viatura de Augusto Prudêncio? Com que fim? Para a incriminar? Se o objectivo era incriminá-la, Dra. Filomela, só pode ter sido uma pessoa que sabia que a caixinha era sua. Havia muitas pessoas que sabiam que a caixinha das moedas era sua?
-- Não, apenas o Bernardo sabia – respondeu a Dra. Filomela olhando de esguelha para o Bernardo.
-- Filomela – disse o Bernardo olhando de frente para a noiva – estás a insinuar que eu matei o meu irmão?
-- Um de vocês os dois assassinou Augusto Prudêncio – disse AlfaZero com firmeza e olhando alternadamente para os dois. E AlfaZero prosseguiu: -- O Bernardo tinha interesse em assassinar o irmão porque ficaria sozinho para herdar toda a fortuna do pai; A Dra. Filomela tinha interesse em assasinar o futuro cunhado pois, assim, o futuro marido, ou seja, o Bernardo, herdaria sozinho toda a fortuna do pai, passando assim, essa fortuna, a pertencer igualmente à Dra. Filomela.
-- Eu nunca mataria o meu único irmão – disse Bernardo Prudêncio com ar sério.
Pela mente de AlfaZero as ideias sucediam-se vertiginosas. À sua frente estava, sem dúvida nenhuma, a pessoa que armadilhou a viatura de Augusto Prudêncio e que o assassinou. Mas quem seria? Bernardo Prudêncio? Filomela Assis? Ou estariam ambos envolvidos no assassinato? Uma ideia surgiu repentinamente a AlfaZero e, virando-se para Bernardo Prudêncio, perguntou-lhe:
-- Diga-me, Sr. Bernardo, foi você que mandou imprimir, na parte de dentro da tampa da caixinha das moedas, em letras miniaturas, o nome da Dra. Filomela, antes de lhe ter oferecido a mesma?
-- Não, eu quando lhe ofereci a caixinha, ofereci-a sem nome nenhum gravado e nem sabia que o nome dela estava gravado na tampa da caixinha – disse o Bernardo olhando alternadamente para a noiva e para o detective AlfaZero.
--Confirma a resposta do seu noivo, Dra. Filomela? -- Perguntou AlfaZero olhando directamente para a Dra. Filomela.
-- Sim, detective AlfaZero, fui eu própria que mandei imprimir o meu nome na tampa da caixinha.
Era tudo o que o detective AlfaZero queria saber pois tal provava que não tinha sido o Bernardo que tinha colocado a caixinha na viatura de Augusto Prudêncio para incriminar a noiva. Então, a caixinha só poderia ter sido deixada na viatura pela própria Filomela Assis. Provavelmente a caixinha das moedas estaria na pasta dela onde estariam igualmente as ferramentas (alicate, tesoura, fios eléctricos, e a própria bomba) e, ao tirar um desses objectos da pasta, a caixinha das moedas terá caído sem que ela se apercebesse.

21. A estratégia sagaz do detective AlfaZero desvenda o crime.
Perfeito – disse o detective AlfaZero, olhando para a Dra. Filomela. Então, prosseguiu AlfaZero, está desvendado o segredo. Foi você, Dra. Filomela, que armadilhou a viatura do seu futuro cunhado e o assassinou para que o seu futuro marido herdasse toda a fortuna do pai, sozinho.
Bernardo virou-se bruscamente para a noiva e disse, quase em estado de choque:
-- Filomela, diz-me que não foste tu! Diz-me que não foste tu que mataste o meu irmão!
A Dra. Filomela olhava para o Bernardo, com os olhos muito abertos, sem balbuciar palavra.
O detective AlfaZero prosseguiu: -- Na conversa que tive consigo, Dra. Filomela, perguntei-lhe se a Senhora tinha algum relacionamento com o Bernardo. Você respondeu-me redondamente que nem sequer o conhecia.
-- Filomela!!! – Exclamou Bernardo virando-se bruscamente para a noiva – tu disseste isso ao detective AlfaZero? Que nem me conhecias? O que é que estavas a esconder?
-- A Dra. Filomela colocou a cara entre as mãos e irrompeu num choro copioso.

O detective AlfaZero apertou a mão ao Bernardo, e disse:
-- Bernardo, a vida está cheia de surpresas. Não esmoreça. Levante a cabeça, olhe em frente e, estou certo, outra mulher fará vibrar o seu coração. Esta aqui, não o merece!
E, acabando de dizer estas palavras, saiu do compartimento e foi ter com o Inspector Juvenal, pondo-lhe ao corrente dos últimos acontecimentos.
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22. A AngoCrime apresenta o relatório oficial do caso “O Carro Armadilhado”.
Passados alguns dias, o detective AlfaZero estava em posse do relatório oficial da AngoCrime referente ao caso “O Carro Armadilhado”, e que passamos a transcrever:

AngoCrime
(Agência de Investigação e Notificação de Crimes)

RELATÓRIO
das declarações prestadas pela Dra. Filomela Assis,
referentes ao caso “O Carro Armadilhado”.

Em declarações prestadas à esta Agência no dia XX do mês de XXXXXXX, do ano de XXXX, a Dra. Filomela Assis confessou ter armadilhado a viatura de Augusto Prudêncio e ter accionado o remoto controlo da bomba que ela própria colocou na viatura da vítima. Com efeito, com os conhecimentos de electrónica que adquiriu nos EUA, foi-lhe possível construir uma bomba accionada a controlo remoto. Não lhe foi difícil colocar a bomba debaixo do banco do condutor, na viatura de Augusto Prudêncio, numa altura em que, por volta das 21 horas, ele estacionou a viatura numa rua pouco iluminada e pouco movimentada. Depois disso, foi só esperar pela ocasião certa e accionar o controlo remoto.
Motivos do assassinato:
A Dra. Filomela Assis estava noiva de Bernardo Prudêncio, o irmão de Augusto Prudêncio, a pessoa assassinada. Os mesmos conheceram-se numa exposição de numismática realizada há alguns anos, já que ambos são grandes coleccionadores de moedas. Estavam para se casar dentro de alguns meses.
Como a Dra. Filomela sabia que o testamento do Sr. Aparício Prudêncio especificava que os dois irmãos (Augusto Prudêncio e Bernardo Prudêncio) eram os únicos herdeiros (em partes iguais) de toda a fortuna do pai e que, caso um dos irmãos morresse, o outro herdaria, sozinho, toda a fortuna, a ambição levou-a a matar o futuro cunhado para assim o futuro marido herdar, sozinho, toda a fortuna do pai. Com este pensamento sinistro e ambicioso a bailar-lhe no cérebro, executou, então, o seu plano macabro.
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Ao acabar de ler o relatório, AlfaZero comentou, com um suspiro:

“Mais um caso resolvido! Que surpresas nos trará o próximo?” E, pegando no seu telemóvel, telefonou à sua amiga Briana para lhe fazer companhia ao almoço.

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Escrito por
Helder Oliveira
(Helder de Jesus Ferreira de Oliveira)

(Do Livro (não publicado)
“Detective AlfaZero em Acção”)
 
 O Carro Armadilhado

Ocorrência policial mais ou menos insólita

 
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Ocorrência policial mais ou menos insólita
(Baseado em fatos reais)

Na delegacia, quatro horas da tarde, expediente quase no fim. Robério, meu parceiro, informa, bufando, que uma “Maria da Penha”, está em andamento. Mas antes, uma palhinha sobre esse meu irmão de profissão.
Rústico assumido, íntegro, mão pesada, voz grave, tenso e um bigode farto em cima de uma careta de quem comeu um pastel estragado no boteco da esquina.
Robério não suporta espancadores de mulheres, mas ele mesmo adoraria soltar umas bolachas na vizinha “cara de privada”. Ela corneia o marido, um carroceiro trabalhador, explica, soltando fumaça pelas ventas e babando pelo canto da boca.
Mas o espancamento que pedia nossa presença, era em povoado próximo, longe da “vizinha gaieira”. Pegamos a viatura, um Gol 1.6, sem rádio de comunicação, sem sirene, mas com um chiado de responsa na correia da ventoinha. “Uma peste”, rosna um Robério impaciente, “barulho dos infernos”. Não era sirene, mas servia.
Robério não dirigia, maltrava o velho Gol alimentando a fantasia de um encontro fortuito, numa noite escura, com a “cara de privada”. Eu, fumando e me divertindo, vento na cara pela janela do velho Gol, curtindo a poeira, as derrapagens na estrada de piçarra, cheiro de mato verde, na verdade era o meu rali Paris Dakar nordestino.
E meu parceiro atrás do volante, faltando um pedaço. Mordi essa peça do sofrido carro no dia em que tentava colar minha foto no perfil do Luso poemas. Vocês já conhecem a história, se não, leiam “Aos construtores desse site”, aqui mesmo.
“Só queria saber quem foi o maluco que arrancou o “tampo” disso aqui (se referindo ao volante), tava esfomeado esse doido, só pode, caralho de merda essa polícia”, fungava um Robério já meio insano. Concordei com ele, claro. Quem seria?

Cinco minutos depois, chegamos.

A mulher, 40 anos, aparentando 55, olho roxo, à sombra de uma árvore, próximo à casa, acompanhada com um filho menor, 10 anos, assustado e abraçado à mãe que não chorava, nordestina “braba” que era, decidida a fazer justiça com o “fidagota” que a espancara, como quem bate numa égua empacada. Esse “fidapeste”, dizia ela.
O marido, magro, rosto marcado pelo sol quente, fumava seu pacaio como quem tinha acabado de cumprir seu trabalho duro na lida do campo.

Robério, sem conversar muito, meteu-lhe a pulseira de aço, enquanto o lavrador, espantado, perguntava “pru móde quê tô sendo prêsun, seu poliça?” e a resposta vindo em seguida, “você bateu na sua mulher, cabra, endoidou foi?” respondendo um Robério pronto a soltar o seu "abanador de nariz quebrado" ou, sua mão "trinca-osso". “Teje preso!”.

“Agora foi qui deu, essa gota! Dispois de 18 anos de casado, num pode mais nem dá uns tapa na minha própria muié.”, protestou o marido.

O momento grave exigia uma postura mais séria, e eu tentei, mas não deu pra segurar. Enquanto Robério olhava feio em minha direção, eu simplesmente perdia o controle das pregas. Minha gargalhada parecia um ataque de nervos misturado a um acesso de tosse.

Voltei dirigindo, o riso emendado à lembrança do volante mordido.
Vi pelo canto dos olhos. Robério também ria enquanto defumava o farto bigode em fundas tragadas.
“Porra, Robério, eu conheço esse peido, foi Vc, seu sacana!”
“Foi não, milton. Foi esse espancador de mulher aí atrás. Ele cagô”.

MF.

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Maria da Penha:Conhecida como Lei Maria da Penha a lei número 11.340.Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.

Minha paixão é a poesia, mas essa história, sempre quis contar. Deem o devido desconto porque não é a minha praia.

BASEADO EM FATOS REAIS.
 
Ocorrência policial mais ou menos insólita

O pacificador

 
“Em nome de Cipriano e suas sete candeias, em nome de seu cão preto, suas sete moedas de ouro,em nome de Cipriano e sua montanha sagrada ,em nome da árvore dos zéfiros e do grande carvalho - eu peço
e serei atendido, pelas sete igrejas de Roma, pelas sete lâmpadas de Jerusalém , pelas sete candeias douradas do Egito,eu sairei vencedor”.

Oração para fechar o corpo , atribuída a Cipriano de Antioquia.

Chuto a porta , entramos os dois no barraco , no olho do furacão :Vado na cama , pra lá de chapado .O cano da 9 milímetros, clareia a consciência rapidinho.
O pilantra já está sentado na cama, meio grogue,olhar injetado de cachorro doido .Entre o vício e a surpresa , um banho de cuspe na própria cara .Saliva palavrões assustados e mugangas .Todos dão uma de doido, inocente ultrajado,bons cidadãos . Só faltam reclamar dos impostos.
Tudo tem limite: uma pulga entre cachorrões não conta, mas na falta de cachorrões , as pulgas incomodam demais.
Jeremias esquenta – lhe o ouvido. A bofetada estala feito chicote, no muquifo imundo .Vado mora num duplex em Boa Viagem, mas esconde-se aqui, no morro da Conceição, perto da igreja. Quem sabe, ficar perto da Santa é mais seguro .Meto-lhe um direto no queixo. A cabeça tomba para um lado,
o corpo sarado e musculoso oscila, mas não cai,feito um joão – teimoso .
A gente bate, ele vira e retorna. Vislumbro um olhar arrogante naquela cara cheirada e cuspida , que já despachou tanta gente pro inferno ,tanto pó e crack distribuídos , que contornaria esta cidade perdida umas três vezes . Chuto – lhe o peito com vontade. Na camiseta de grife,surge uma nova estampa.
Patético e ensanguentado:
—Não, nunca vendi nada. Droga é a porra da vida que eu levo.
O cara é um artista da miséria. Um soco no meio dos cornos. Esse ele sentiu,começa a estranhar a pegada diferente . Ninguém falou em grana. Ajoelhado, implora por um alívio , diz que já apanhou demais .
Jeremias arrebenta-lhe os testículos, com a coronha do fuzil, Ele cai gemendo baixinho , segurando os preciosos . Começa a amarelar, mas é duro na queda - caiu a ficha que algo vai errado .
— Dinheiro? Vinte mil para cada um e boa noite.
Lá se vão dois dentes no meu soco-inglês. Segura o cagaço, o rosto já é uma poça de sangue em pé.Começa a recuar,olhos arregalados de espanto : oferecer grana e perder dois dentes ?
Encurralado, braços abertos contra a parede: um inseto no papel pega- moscas. Tira o Rolex de ouro novinho do pulso e me estende, em silenciosa oferenda. Pego o relógio,faço da pulseira,uma soqueira de ouro maciço -menos dois dentes naquela boca nojenta .
Desesperado:
— Tá doido, cara?
Encerro o expediente: um tiro entre os olhos de cão danado. Saímos do barraco, encapuzados como entramos .Rua quase deserta,um velho bêbado nos aplaude, entre um tombo e outro. Enfim, a paz.
 
O pacificador

Rua Betrayal

 
Rua Betrayal
 
Seria mais um dia como outro qualquer, mas Unli amanheceu com um semblante diferente, parecia ansioso, inquieto, embora evitando a esposa como sempre.
À noite, durante a missa, Kely estava triste, perdida em seus pensamentos, detalhe que não passou despercebido, já que dois senhores sentados mais à frente lançavam-lhe olhares tensos. Unli, observando-os, esboçou um sorriso.
Chegando em casa, Unli foi fazer seu passeio noturno. Kely percebeu que havia uma carta embaixo da porta, seus olhos soltaram do papel, pegou um atalho e não demorou até chegar em uma casa velha, cercada pelo mato, no final da Rua Betrayal onde um animado casal divertia-se.


III parte- Continua...
 
Rua Betrayal

O Encontro

 
O Encontro
 
Kely é uma mulher delicada, de cabelos negros e ondulados, pele bronzeada, com lábios carnudos e muito desejados , na visão de Malaka assemelha-se a um botão de rosa, sempre discreta na missa, mas atrevida nas lentes de seu binóculo! Ele tinha o hábito de observá-la, perdia-se em suas curvas, excitava-se com seu rebolado tanto quando ela estava vestida quanto estava mais a vontade.
Ele conhecia seu fado ou pelo menos imaginava, ser casada com um homem tão rude não deveria ser fácil! Malaka a desejava, pois ela exalava sensualidade, mas era mais que isso, ele desejava te-la em seus braços, acordar ao seu lado, vê-la dormindo, com Kely ele sonhava até acordado.
Quando a cigarra tocou ele estremeceu, o coração disparou, sabia que era Kely, havia percebido quando a mesma percorreu o jardim, se dirigindo até sua porta. Ele se ajeitou no espelho, pigarreou e abriu a porta com ar de paspalho.
A senhora com sorriso tímido o cumprimentou, ficaram um tempo ali, parados, ela pensou em recuar, ele pareceu adivinhar seus pensamentos, agarrando-lhe pelo braço!
- Senhora, entre, esperei muito tempo para ficarmos a sós!- falou corajosamente
- Não estou no estado normal, isso é loucura, sou casada- disse Kely dando um passo para trás
- Fique, eu suplico-lhe- antes que a mulher respondesse roubou-lhe um beijo ardente
Ficaram grudados, os lábios colados, foram rolando no sofá, no chão, enquanto se desnudavam guiados pela urgência e pelo fogo da paixão! Foi uma linda descoberta para os dois! Kely e Malaka namoravam com os olhos. Para Malaka naquele momento a boca de sua amada tinha sabor e aroma de uma manga apetitosa, de seus lábios só descolava para cheirar a rosa que agora se abria e transbordava seu néctar a cada sugada.
O casal estava entregue,descuidados, ávidos de desejo não perceberam que pela janela eram observados!
Kely por cima de seu amante dançava com as ancas, ela que conduzia seu cavalheiro e ambos gemiam e trepidavam!
Enquanto isso, o vulto intruso, do lado de fora cambaleava sentindo seu prazer expelido em jato!

Dizem que é bom sair da zona de conforto e olhar outros ângulos! A cena do encontro entre o vizinho e Kely fez tanto sucesso que mereceu um capítulo especial! Atendendo a pedidos, fiz esse exercício! Rsrs
 
O Encontro

Passagem Premiada

 
Passagem Premiada
 
Após formar-se em medicina e fazer residência médica em ginecologia e obstetrícia Ana recebeu uma proposta de emprego em Pirinola e não hesitou em aceitar, já que havia se separado recentemente e se aborrecia com a insistência e investidas do ex marido.
Ana era uma moça linda, morena cor de jambo, olhos castanhos escuros feito duas jabuticabas doces, cabelos cacheados e negros na altura dos ombros, corpo ampulheta, saudável e farto com a benção de Deus e do jeito que aquele gosta.
Apesar da beleza física o que mais chamava atenção nessa moça era sua personalidade. Forte, determinada e generosa enchia os pais de orgulho.
Como era filha única e não gostava de incomodar parentes e amigos colocou placas de venda em sua casa e em seu automóvel, deixando as chaves na imobiliária.
Assim a garota se despediu dos velhos, comprou passagem premiada e seguiu viagem.


Feminicídio e impunidade (tema do conto)
Aguardem o próximo capítulo!
 
Passagem Premiada

Marisa Reluzente

 
Marisa Reluzente
 
Dois dias de viagem, naquele ônibus desconfortável, sem dúvida, era cansativo, mas conhecer outras realidades a alegrava.
A cada parada, passageiros entravam ou a seus destinos chegavam.
Ana foi assim fazendo amigos. Conheceu senhoras com histórias engraçadas, rapazes com cheiro de queijo estragado, outros com olhar interessado, uns até davam para o gasto, dizia uma mocinha que viajou seis horas ao seu lado, antes de descer na Cidade Piada.
Dia 26 de outubro exatamente às 10:20 a médica felizmente chegou a Pirinola. Foram três dias e três noites de viagem.
Marisa, prefeita da cidade, a aguardava sorridente e reluzente, pois suas madeixas loiras,seus penduricalhos no pescoço, orelhas e braços, além do vestido dourado, pareciam competir com os raios solares.
Marisa e Ana se conheceram na faculdade.
A loira de beleza estonteante não gostava de estudar, preferia se aperfeiçoar na anatomia dos veteranos, em festas mensais e desistiu de formar-se assim que fisgou um marido ricaço. Agora viúva do Senhor Genuíno, seu antecessor na prefeitura e trinta e dois anos mais velho, desfilava com Gileno( Deus Ébano) que a consolava.
Marisa lembrou de Ana, a quem chamava de CDF no tempo de faculdade, sendo a responsável pela proposta que trouxe a morena a essa pequena cidade!



CDF: Aluno estudioso, assíduo que aguenta tempo suficiente sentado! Rsrs
 
Marisa Reluzente

Chegou em segurança?

 
Chegou em segurança?
 
Passaram-se seis meses até que Ana envergonhada pelas recusas, aceitou enfim o convite de Marisa.
Em uma manhã ensolarada de domingo a amiga foi buscá-la em sua picape prateada.
Foi um dia diferente na fazenda com Marisa e sua família. Ana conheceu a mãe e os dois irmãos de sua amiga.
A senhora Eva era curiosa, fazia muitas perguntas. Fernando, o caçula, era tímido e calado. Evaldo era delegado, sujeito robusto, galanteador e astuto.
Teve passeio a cavalo, música, bebida e muita comida, nem deu tempo de se aborrecer com o interrogatório da senhora, que parecia ter trocado de profissão com o filho.
A noite já estava alta quando Marisa resolveu dormir ali, sendo Fernando e Ana os únicos sóbrios naquela casa. o rapaz recebeu a chave do carro e a missão de levar sua amiga em segurança.
 
Chegou em segurança?

Rivaldo e seus casos

 
Rivaldo e seus casos
 
Os nativos eram simpáticos, hospitaleiros, sempre a convidavam para fazer passeios, porém Ana sempre os recusava educadamente, preferia descansar ficando em casa ou no boteco respeitável do Rivaldo, com quem se identificou nos primeiros meses.
Moço moreno, alto, forte, cabelos crespos cortados rentes, beirava os trinta anos de idade, morava com os pais, também era filho único como a moça e a encantava com sua simplicidade e seu sorriso fácil de orelha a orelha.
Os dois amigos passavam as tardes de sábado juntos, o moço contando seus casos, alguns engraçados, outros tristes e espantosos como o da morte de Luzia, que foi uma jovem moradora daquele vilarejo.
 
Rivaldo e seus casos

Assim vai o mundo...

 
A supervisora fez sinal de que se aproximava o fecho da caixa. Tracy lembra-se de olhar o relógio, eram exactamente 20h45m e de como abominava ver os clientes entrar quase na hora de encerrar o supermercado.
Sentiu o vento nas costas, no preciso momento em que a porta automática se abriu e através dela avistou o que deduziu ser a silhueta de uma mulher de meia-idade. A indumentária vista por trás, bem como as madeixas naturais que prateavam os seus cabelos, corroboravam a sua intuição.
Quase de seguida, uma nova rajada de vento acusava a entrada de um jovem na casa dos vinte anos, detentor de um passo ligeiro e desconjuntado, movimento que impulsionava a contínua queda dos jeans, pelas pernas abaixo, e revelava passo a passo uns boxers bordeaux de marca.
Tracy pensou para consigo, enquanto sorria, porque raio haveriam de inventar a moda das calças sem cinto…
Passados poucos segundos, entrou, um outro, talvez ligeiramente mais velho, mas igualmente decidido a prolongar o seu suplício, ao mesmo tempo que deu consigo a falar sozinha:
- Será possível que esta gente não respeite o horário dos outros? Vão ficar por aí pelos corredores a namorar os after-shaves e a estudar a melhor forma de os passar sem pagar…
Ainda palavras não eram ditas, já avistava, ao longe, a senhora de meia-idade. À medida que esta se aproximava, Tracy constatava que a sua percepção óptica não falhara, a cliente deveria rondar os 55 anos e era detentora de um ar apagado de quem já cumprira um dia de trabalho fora de casa e ainda tinha pela frente as infindáveis lides domésticas. Aproximou-se da caixa com ar de poucos amigos e fez-se desentendida ao cumprimento cordial e eticamente correcto da jovem, que profissionalmente sabia que tinha de engolir os sapos que a profissão oblige.
Em cima do tapete: 2 latas de atum, meia-dúzia de ovos, 1 pacote de leite e 1 pão, o que obrigou involuntariamente Tracy a dar consigo a pensar:
- Comida de pobre! Nada reconfortante, apenas o essencial.
A senhora abriu a carteira e procurou o dinheiro em todas as divisões. Sacudiu a mala, tirou tudo para fora e quando a jovem lhe ia para dizer que tivesse calma, já os dois indivíduos, que haviam aproveitado a confusão, ordenavam a Tracy, sob ameaça de uma arma, que abrisse a caixa e lhes entregasse todo o dinheiro nela contida.
Confusa e assustada, Tracy viu uma arma apontada à cabeça da cliente e outra encostada às suas costas. Apesar de encapuzados, ela podia distinguir os olhos cor de avelã do indivíduo que ameaçava a senhora de meia-idade, ao mesmo tempo que gravava na mente o timbre enfático, mas aveludado e quente da sua voz:
- Ou colocas o dinheiro da caixa todo dentro da mala desta senhora ou ela morre! A escolha é tua!
Tracy tentou de novo desesperadamente localizar o segurança, mas este, dado o adiantado da hora já devia estar a mudar de roupa nos vestiários e não teve outro remédio senão abrir a caixa e retirar todas as notas e colocá-las na mala da cliente, que continuava sob ameaça.
O indivíduo da voz quente e aveludada cravou-lhe os dedos por entre as maçãs do rosto e gracejou:
- Oh boneca! Portaste-te bem! Aqui a tiazinha é boa para o teatro, não achas?
Em movimentos quase imperceptíveis, dado o estado de transe em que Tracy ficara, os dois homens saíram levando consigo, descontraidamente, a senhora, afinal, sua cúmplice e arrancaram a alta velocidade.
Tracy conseguiu finalmente gritar e accionar o alarme, ao que o segurança e a supervisora responderam prontamente, surgindo do meio do nada.
A supervisora percebera pelo rubor nas faces de Tracy e pela gaguez com que tentava descrever o que se havia passado, ajudada apenas pelo gesticular de braços, que o supermercado fora roubado. O segurança correu, mas já era tarde demais.






Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
natural: Setúbal
 
Assim vai o mundo...

Em Pânico

 
Em Pânico
 
Ana incorporou uma meretriz olhando, salientemente, para o rapaz sugeriu:- Vamos para minha casa, lá será melhor, mais animado.
Ela só conseguia pensar no ditado descabido; se o estupro é inevitável, relaxa e goza.
Fernando já tinha gozado com as massagens, mas ainda afogueado ligou o carro. Partiram.
A jovem médica, engajada em ludibriar o inexperiente tarado, debulhou libidinagens pelo caminho como se rezasse o rosário.
Em casa Ana foi salva pelo raiar do dia, pois alguns vizinhos já estavam acordados e cumprimentaram o casal de namorados. Assim foram promovidos.
O lobisomem alourado virara um doce anjo, beijou a jovem e avisou que voltaria a noite.
Ana tomou um banho demorado, parecia nunca ter feito aquilo antes, em seguida foi ao trabalho.
Trabalhou dolorida, seu estado piorou com a visita surpresa de Eva(passando-se por futura sogra) que interrompeu uma de suas consultas e parabenizou-la pelo namoro, ainda complementou que faria gosto no casório.
Agora atônita desejava acordar desse pesadelo e desatar o mal entendido. Como confessar a Marisa que seu irmão era um tarado? Como provar que havia sido violentada ao delegado que bancaria ser o cunhado?
Ana suspendeu as consultas da tarde e foi conversar com Rivaldo, falou tudo que havia ocorrido, o amigo, sensibilizado, prometeu ajudá-la.
Anoiteceu e Fernando bateu em sua porta, o coração da médica disparou de pavor, sem êxito o rapaz investiu na porta dos fundos, com pancadas, conseguindo penetrar no interior da casa.
A moça em pânico gritou e seu grito foi abafado pelo intruso que atingiu sua cabeça com uma marretada. Ana apagou completamente...
 
Em Pânico

O LUAR DE SAPUCAIA: A HERDEIRA ( FINAL REEDITADO )

 
 O LUAR DE SAPUCAIA: A HERDEIRA ( FINAL REEDITADO )
 
Jane se sentia aliviada. Parecia que tudo voltava ao normal em sua vida. Podia andar na rua sem medo agora...
Na delegacia de Sapucaia, o delegado fazia perguntas à Rubens:
_ Então sr Rubens, o senhor era " namorado" de Lorraine. Não notava algum comportamento diferente do normal?
_ Sim, algumas vezes.
_ E isso não lhe deixava preocupado? Se ela fosse uma assassina, por exemplo?
_ Não, ela não chegaria a tanto. Era apenas uma mulher amargurada pelos "fantasmas" do seu passado.
_ Ah, era? E pode me falar disso?
_ Tinha ciúmes do irmão. Não vivia bem com Adriana também. Resolveu ir embora de Sapucaia, e aí foi que a conheci no Rio.
_ Sim, entendo. E ela tinha parentes no Rio?
_ Apenas um primo chamado Breno. Que também já morreu.
_ Hum... Bem, e o senhor o conheceu também?
_ Sim, fomos apresentados por Lorraine. De vez em quando, saíamos os três.
_ Bem, por hoje é só. Mas aguarde notícias minhas, pretendo lhe chamar de novo.
_ Sim, estarei pronto quando me chamar. Até logo.
_ Até logo.
O delegado sabia que ele escondia muitas coisas, e já começava achar que ele seria o cúmplice de Lorraine.
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Jane recebeu um bilhete por debaixo da porta do escritório. Abriu curiosa. Por que alguém faria isso? Era só entregar em suas mãos...
O bilhete dizia:
'Jane, sei que matou Britto, se quiser maiores detalhes, vá até Sapucaia. Deixarei um envelope relatando tudo, embaixo de um dos bancos da praça.
O envelope será azul
ASS: Um amigo.'
Muito intrigante isso. Se a pessoa sabe, porque não vai direto ao delegado do caso? Isso está cheirando à armadilha. Será Rubens? Mas, que interesse ele teria agora em me eliminar, se Lorraine está morta e não pode reclamar a herança?
Vou direto para quem isso interessa: A polícia. Levarei o bilhete.
Determinda, tomou um banho e trocou de roupa.
Saiu e pegou mais uma vez o rumo de Sapucaia...
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Aquela praça já estava se tornando parte de sua vida. Observava Jane...
Dirigiu-se para a delegacia. Foi anunciada por um ajudante do delegado.
O delegado ficou surpreso com a visita:
_ Srta Jane, a herdeira de Patrick Lima? Pode mandar entrar sim.
Ela não gostaria de estar em uma delegacia, mas era isso que tinha de fazer. Foi direto ao assunto:
_ Sr delegado, obrigada por me receber. Estou com um bilhtee que foi deixado embaixo de minha porta. Leia, por favor.
Ela entregou ao delegado, aguardou instantes, ansiosa para que ele dissesse alguma coisa.
_ Srta Jane, pode ir até lá? Seria como isca. A pessoa que escreveu esse bilhte, com certeza vai estar lá escondida em alguma parte, ou mesmo sentada normalmente em um dos bancos da praça, para se certificar que apanhará o envelope azul.
_ Mas vou ficar visada se fizer isso. Corro risco sabendo a verdade. Prefiro sinceramente não saber de nada.
_ Ajude na investigação, por favor srta Jane. É nossa chance, os assassinatos podem estar todos interligados.
_ Ok, delegado. Mas digo-lhe com certeza que não foi Lorraine quem matou ou mandou matar Jorge Britto.
_ E como sabe?
_ Ela me confessou ser a mandante do assassinato de 3 pessoas quando estava bêbada: Adriana, Breno e Patrick. Rubens seu amante, cuidou de tudo para ela.
Lorraine não tinha interesse nenhum em matar o advogado, até porque, cedo ou tarde teria de entrar em contato com ele, para reclamar a herança.
_ Isso faz sentido. Ainda assim, preciso que faça o favor de ir até lá pegar o envelope.
_ Está bem, mas quero que um policial esteja sempre por perto, cuidando da minha segurança tanto aqui, como no Rio.
_ Será como deseja, fique tranquila.
Ela foi apresentada ao policial que estaria
à paisana, cuidando para que nada acontecesse com ela.
Saíram da delegacia, em direção à praça.Não demorou muito e Jane achou o envelope debaixo de um dos bancos. Uma pessoa observava atrás de uma árvore forndosa, e sorria com satisfação:
" Pronto. Está feito. Acabo de vez com a única pedra no meu sapato".
Jane abriu o envelope, e ficou de boca aberta quando soube finalmente quem matara o advogado. Guardou na bolsa e dirigiu-se de novo para delegacia, seguida do policial que a escoltava discretamente...
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Ao entrar na delegacia, Jane foi direto ao delegado, desta vez sem ser anunciada. Ele a esperava mesmo...
Entregou o envelope, ele abriu. Sua reação parecia de increduliadade.
"MAS TUDO É POSSÍVEL NESSE MUNDO"...
Jane foi dizendo com a calma que lhe era peculiar:
_ Uma coisa dessas não pode ser dada como certa. Alguém poderia querer incriminar essa pessoa.
_ Pode até ser isso srta Jane. Mas também pode ser verdade o que diz aqui. Terei de investigar.
_ Bem, acho que minha participação acaba aqui. Gostaria da segurança do policial pelo menos por duas semanas, pois volto para o Rio agora e quero me sentir segura lá também.
_ Sem problemas, srta Jane. A srta foi muito útil nessa investigação, eu agradeço.
Apertaram as mãos e Jane seguiu de volta ao Rio.
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Dias depois, o delegado tinha a certeza que a pessoa tinha mesmo assassinado Jorge Britto.
Bastava agora pedir a prisão preventiva, para que não "sumisse do mapa".
E Rubens também seria preso, pelos outros assassinatos...
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Rubens estava eufórico. Como sou inteligente! Pensava...
Uma viatura cuidava de levar alguém para a delegacia.
'Finalmente estou livre desse caso todo. Nunca mais volto aqui!'
Pegou sua inseparável mochila, e deu adeus à Sapucaia. Não imaginava que o delegado já sabia de toda verdade...
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Jane sentia uma sensação estranha... Seu sexto sentido lhe dizia mais uma vez: " CUIDADO".
Mas, quem lhe faria mal? Não, definitivamente estava imaginando coisas! Trataria de se acalmar.
O silêncio da noite não fazia com que ela dormisse. Pensava que aquelas alturas alguém estaria pagando pela morte de Britto. Olhava pela janela de seu quarto a lua, como sempre gostava de fazer em noites insones.
MAS NÃO ERA O LUAR DE SAPUCAIA... LÁ ERA MÁGICO!
Mergulhada em seus pensamentos, não percebeu que alguém entrara de mansinho, forçando a porta dos fundos, onde era a cozinha.
Ela voltava para a cama agora, tentava o sono novamente. Se remexia, e nada do sono aparecer. Resolveu tomar um copo de leite morno. Traria sono e mataria a fome, porque seu estômago já reclamava. Tinha o hábito de tomar leite de madrugada desde criança.
Acendeu a luz da cozinha.
ARREGALOU OS OLHOS QUANDO O VIU EM SUA FRENTE: ERA RUBENS!
Ele segurou os braços dela dominando-a. Jane gritou pedindo ajuda. Mas o guarda costas estava nocauteado, no chão da varanda da frente.
Ele lacrou a boca de Jane com uma mordaça.
Disse então, com a voz bem grossa:
_ Pensou que sairia dessa, sem que eu completasse meu último servicinho para Lorraine?
Ele ria com o desepero que os olhos dela mostravam...
Ele ainda não tinha pensado como matá-la.
"MAS NÃO DEIXARIA DE SER NAQUELA MADRUGADA."
Que lugar melhor para vingar Lorraine, do que a casa da priminha?
Ela teria de morrer ali mesmo. Deu vários socos em Jane, e o rosto dela já começava a ficar inchado... Se apanhasse mais um pouco estaria morta!
Foi quando o ruído das sirenes, tormaram-se bem fortes. A polícia estava ali! Mas como? Ele nocauteara o policial!
Jane já estava sem forças, lutando para sobreviver, as dores estavam mais fortes agora...
Ele teria de escapar dali, pulou para a casa da vizinha, a de D. Matilde... Escondeu-se no quintal escuro. Mas não contava com o cão que estava solto, vigiando a casa... Foi praticamente mutilado pelo cão, da raça pitbull. Seus gritos de socorro acordaram toda a vizinhança. Não foi difícil prender o sujeito, estava em carne viva! Entretanto, um dos tiros para afastar o cão, pegou em cheio. O cão caiu morto.
Jane estava presa na cozinha ainda, ouvia o barulho de tudo que acontecia do lado de fora, na vizinhança. Mas e o segurança, onde estava? Alguém teria que se lembrar dela.
A polícia entrou na casa de Jane, depois que viram o segurança caído, tonto, ainda no chão...
Encontraram-na finalmente... Agradecia silenciosamente à Deus.
O guarda quando fora nocauteado, ainda teve tempo, antes de cair no chão, para apertar o celular na chamada automática de emergência. E foi rastreada a chamada de socorro...
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Na delegacia de Sapucaia, dias depois, duas pessoas faziam uma careação:
Rubens e a esposa de Britto.
Ela era a mulher que matara o advogado.
Aconteceu assim:
Depois de tomar uma droga imperceptível na bebida, (que Rubens usara no caso de Breno) ela o deixou no chão, cortando os pulsos dele, para parecer suicídio.
O resto foi encenação...
Rubens havia persuadido Susane, (era esse o nome dela) à matar o marido, pois se metia muito no caso de Lorraine. Inclusive avisando ao delegado antes, que ela estava viva. Se Lorraine fosse presa, fatalmente Rubens seria também. Pois ela o levaria junto... Além do mais, estando viúva, eles poderiam se encontrar sem correr o risco de ser dada como adultera. Uma viúva poderia se relacionar com quem quisesse...
Assim, depois de tudo explicado, e de um julgamento, os dois pagaram por seus crimes. Terminando assim, com a série de assassinatos que começara com a mente doentia de Lorraine, seguida dos instintos assassinos de Rubens e a cabeça fraca, guiada apenas pela lúxúria de amante, da linda mulher de Jorge Britto.
Jane pode voltar à sua vida tranquila no Rio, passando os finais de semana em Sapucaia, principalmente quando a lua estava cheia e brilhante...
"Luar de Sapucaia, não tem igual", pensava observando da janela... Na casa que um dia, foi palco de tantas tramas e desarmonias...
Afinal, Jane pode dizer:
"FIM DO JOGO!"

FÁTIMA ABREU
 
 O LUAR DE SAPUCAIA: A HERDEIRA ( FINAL REEDITADO )

Litos, o traficante 1ª parte

 
Voltou a olhar para ambos os lados, não viu nada de alarmante na penumbra da rua, entregou a prata ao tipo que estava plantado na sua frente. Dele já tinha recebido os vinte euros que faziam companhia às outras notas no bolso interior do blusão. Fez sinal com a mão, e do escuro aproximou-se outro tipo que, sem qualquer conversa, lhe estendeu a nota azulada, recebendo em troca outra pequena prata.
O Litos era traficante, apenas um pequeno vendedor que mudava frequentemente de sítio de forma a passar o mais despercebido possível pela polícia. Agora estava a fazer a noite perto do Bairro do Cerco.
Lá dentro, nas ruas do bairro, o negócio fazia-se à descarada, tanto na rua como em certas casas. Havia dias que faziam bicha nas escadas dos prédios onde estavam localizados os apartamentos dos traficantes. O problema eram as rusgas que a polícia fazia de vez em quando e lá iam meia dúzia dentro.
Mesmo que acabassem por sair, já ficavam marcados e para não serem perseguidos a cada momento, acabavam por ir dando uns bitaites à bófia. O Litos evitava ao máximo as confusões, tinha começado no “mundo” a gamar auto-rádios e umas carteiras, a “passar” erva ou qualquer coisa que desse um guito para a bucha.
Por causa de um descuido esteve preso em Custoias durante nove meses, foi lá que aprendeu a arte da dissimulação e os passos certos para o negócio da coca e do cavalo. Nunca fora consumidor e ainda sentia um certo nojo só de se lembrar que uma vez tinha fumado uma pedra de haxixe e passara a noite a vomitar.
Aos poucos estabeleceu um grupo mais ou menos fixo de clientes, que ele avisava cada vez que mudava de poiso.

- Põe-te a milhas, estás a olhar para mim porquê? Andor!!!
O magricelas alto e completamente ganzado, cambaleante, virou-se lentamente, tomou balanço e afastou-se aos tropeções.
- Este não dura muito – resmunga entre dentes.
Um carro avança lentamente do fundo da rua. Ouve um assobio, era o Chico a avisar. Recua para o interior de uma porta e fica no escuro à espreita. O veículo passa, pode ser um dos carros civis da bófia, estão sempre a mudá-los.
Antigamente conhecia-os todos, mas agora é mais difícil, até lhe tinham dito que os trocavam com os carros de Lisboa.
Farto de bater com os pés no chão para aquecer e como já há mais de meia hora não aparecia ninguém para comprar, decidiu ir embora. Fez um sinal para o sítio onde devia estar o Chico escondido, que apareceu de imediato e juntos caminharam para o seu velho Citroen AX que estava estacionado numa rua ali próxima.
- Que tal? – Pergunta o Chico.
- Fraco… Fiquei com metade por vender.
- Os gajos ainda ontem encheram a ramona no bairro, é por isso que a malta se está a cortar.
- Humm… Não tem é guito. Ainda hoje o Broas que tem sempre algum, estava liso e deixou-me ficar um relógio.
- É pá, então estás a aceitar essas merdas? Já ninguém dá nada por relógios.
- Este é bom, um Seiko. Cinquenta vale sempre, pelos menos.
Deixou o Chico junto à Câmara de Matosinhos e seguiu para a sua casa que não ficava longe. Estacionou o Citroen a dois quarteirões do prédio onde vivia, meteu a saca plástica com algumas pratas debaixo do tapete do lado do pendura, fechou-o cuidadosamente e esquadrinhou a rua deserta àquela hora da madrugada.
Tinha sempre o cuidado de deixar o carro longe e não entrava em casa até ter a certeza que ninguém o estava a observar.

Subiu no elevador até ao quarto piso, percorreu o corredor suavemente iluminado, abriu a porta do seu apartamento e suspirou de alívio.
O salão à sua frente era grande, o piso em madeira impecavelmente envernizado, cortinados verdes protegiam as vidraças da enorme janela virada para sul. Tirou o blusão, escolheu uma garrafa de whisky no bar, juntou alguns cubos de gelo, preparou a bebida e recostou-se no enorme sofá de couro negro.
Esvaziou o bolso do blusão e dedicou toda a atenção à tarefa de endireitar e ordenar aquele monte de notas amarrotadas. Mais algumas semanas e deixava a rua, era a sua primeira meta, pôr alguém a fazer o trabalho de venda. Era mais seguro, ele só tinha de controlar.

No dia seguinte acordou tarde como habitualmente e quando saiu de casa foi para ir ao Gaveto, uma marisqueira onde era cliente assíduo. Depois de um caril de gambas e uma generosa dose de pudim francês, foi buscar o velho AX e conduziu até à sua oficina, numa transversal da Constituição.
O salão era grande mas estava atravancado de moveis antigos, que ele ia recuperando lentamente e que servia de camuflagem para o seu verdadeiro negócio. Era também aí que guardava a droga, que fazia as pesagens ou o corte, e como trabalhava de porta fechada ninguém o ia lá incomodar. Apenas um ou outro proprietário dos móveis a restaurar é que lhe telefonavam a saber se já estava a obra pronta.

Tinha aprendido o ofício com o Rafael, um marceneiro resmungão do Marco, sua terra natal, que ele aturara durante dois ou três anos, desde que saíra da escola, até que se chateou e veio para o Porto em resposta a um anuncio, onde pediam um aprendiz de polidor.
Conseguiu o emprego, conheceu amigos e não tardou muito a ajudá-los a aliviar alguns carros dos respectivos auto rádios, para depois venderem. Como faltava ao trabalho e muitas vezes ia para lá dormir, o patrão acabou por mandá-lo embora e ele decidiu que já chegava de trabalhar para os outros, ter de os aturar, para no fim do mês receber uma côdea.
Passou a ajudar o Tesouras, um carteirista à moda antiga, daqueles que metia as mãos nos bolsos dos lorpas e eles ainda se riam. Nada de esticões nem de facas a ameaçar, só técnica. Trabalhavam nos autocarros e na linha da Póvoa, mas tiveram de desistir dos comboios porque já estavam a ser topados pelos revisores, que avisavam os passageiros.
Um dia o Tesouras ainda levou uns tabefes, o que lhe valeu foi chegar um polícia que estava de folga e que o tirou daquela enrascada, pois já havia uns gajos que o queriam mandar abaixo do comboio.
Foi quando começou a vender erva à porta de discotecas, porque o Tesouras agora estava mais cauteloso e o que ganhavam não dava para nada.
Uma noite, quando ia passar para a mão de um cliente uma pedra de haxixe, sentiu fechar-se no pulso uma argola de metal frio, era um polícia disfarçado de cliente e ele tinha sido apanhado em flagrante.

Em Custoias ofereceu-se para trabalhar na carpintaria, onde ninguém o chateava e as horas passavam mais depressa. Depressa ganhou a confiança do encarregado da oficina e dos guardas, passando a ter uma liberdade invejável, até porque não havia risco de fuga por a pena ser muito curta.
Ainda ganhou uns cobres a servir de correio entre os poderosos e mandantes da cadeia e, acima de tudo, ganhou confiança com eles, ganhou contactos e informações que esperava serem de utilidade quando pusesse os pés na rua.
 
Litos, o traficante     1ª parte