Poemas de solidão

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares da categoria poemas de solidão

levando a alma da gente

 
há momentos que
na alma da gente
paredes oram em silencio,
janelas fogem dos sobrados
e o vento tem corpo congelado

há momentos
que não dizem por que vem
a solidão

há secura sem sede
e fome com muito pão

há momentos
que o pensamento
só quer trazer de longínquos montes
uivos melancólicos de abandono
para suprir a falta que faz um apito
quando um navio vai sumindo
devagarzinho na linha do horizonte...

há momentos
que o delta de um rio
se alarga porque chora
 
levando a alma da gente

adormeço nos tentáculos de m’alma

 
adormeço nos tentáculos de m’alma
 
à beira da praia
sinto o pensamento dos rochedos
e em meus lábios arde a flor de sal
recém-chegada da noite

escorre pela garganta seca de silêncio
a inundar o meu corpo de areia
tentando cobrir esta solidão
da sua incapacidade de expressão

e nas ondas surge um vazio
de uma concha fóssil secular
a rasar a vastidão do mar
onde ferve um tempo reprimido

entrego-me ao fundo do oceano
para encontrar outra luz outra vida
suspensa na densidade das águas

aconchego-me nos limos e nas algas
e preso na rede dos meus sonhos
adormeço nos tentáculos de m’alma
 
adormeço nos tentáculos de m’alma

Meus ais

 
Meus ais

Meus ais são grito de alma ferida
fazem lembrar os pios das gaivotas
que solitárias voam em pleno mar
atrás das traineiras seguindo rota.

Como gostava de abalar, fugir, voar,
ir ao teu encontro para te acarinhar.
Dar-me inteira, viver aconchegada
nos teus braços viris, te poder beijar.

Por acinte salto os picos dos rochedos
subo as rochas rasgo os pés de dor
que o mar vem, quer os meus segredos.

As minhas lágrimas caem e nada digo.
Olho o céu, o coração bate com força
e eu queria tão pouco só estar contigo.
 
Meus ais

ENTARDECIDOS

 
ENTARDECIDOS
 
"Se, como o sândalo que perfuma até o machado que o fere".
- Siddharta Gautama-

o arvoredo de sândalos
de uma rua deserta arvora-se
em rubras flores
pra incensar as tardes
em seus poentes...

atrai com seus aromas de magia
ecos dispersos
de muitas vozes doridas
que se juntam num coral
inverossímil ou uma ilusão, talvez
uma poesia...

entoam lamúrias pelos ares
para harmonizar, acalentar
trêmula tristeza presa em fortes nós
em muitos de nós
os entardecidos
tão sós...

Maria Lucia (Centelha Luminosa)
 
ENTARDECIDOS

DA PRECE AO GRITO

 
DA PRECE AO GRITO
 
Entre a azáfama
do dia a dia e as amarras
que me induzem
ao um nó mais forte
prefiro as mãos abertas
para o infinito
para onde envio preces
e de vez em quando
um grito!

Maria Lucia (Centelha Luminosa)
 
DA PRECE AO GRITO

CHEGADA E PARTIDA

 
CHEGADA E PARTIDA
 
Do seu olhar noturno
encanta-me o relâmpago
que o faz brilhar de emoção
quando me olha ao chegar...
daí, desnuda-me ao toque
à flor da (minha) pele
inaudita canção...

palavras de amor
nunca me foram ditas
por sua boca interdita
mas ela me dá pra compensar
o hálito perfumado
que eu sorvo
até te esgotar
mas é no rio do teu corpo
que eu mergulho fundo
para te encontrar...

depois, se extravia de mim
por tempos a fio
n'algum imprevisto
recolho-me quase sem vida
para engolir os dias
muda e esquecida
já não existo...

Maria Lucia (Centelha Luminosa)
 
CHEGADA E PARTIDA

Jardim Secreto

 
Jardim Secreto
 
Jardim Secreto
by Betha Mendonça

Fico sentada aqui na varanda
Olhos de ver a grama crescer
Parada diante da vida que anda
Lágrimas regam o entardecer

A noite chega nublada e branda
Ventos e chuvas de bem-querer
À terra que mui molhada manda
Ao Jardim Secreto florescer

As folhas e galhos em demanda
Pedem às flores tudo esquecer
E unidas se abracem em guirlanda
Para perfumar o anoitecer

*Imagem Google
 
Jardim Secreto

muros do esquecimento

 
Já não pousam os pássaros
nesta árvore de ramos nus
nem os sonhos têm encontro
marcado
neste pedaço de vida
aprisionado...sem luz!
Só uma solidão altiva
ameaça precipitar-se
sobre quem sonhou outrora,
e vem agora sorrateira
enfeitar-lhe o rosto
rasgar-lhe a pele
num amargo fel.

Embora seja só uma réstia
de esperança
há-de habitar-lhe sempre
a mente uma lembrança,
irá colher... uma a uma
com paixão
e se um dia ficar sem nenhuma
morrer-lhe-à o coração.
A memória será espelho partido
pássaro solitário,silencioso,
será o silêncio depois das palavras
será a ausência sobre todas as coisas
ganhas e perdidas,
sol misterioso,
que se esconde atrás das nuvens,
vestígios de vivências estremecidas.

natalia nuno
rosafogo
 
muros do esquecimento

Sem melodia, sem poesia...

 
Sem melodia, sem poesia...
 
Queda, muito além de mim,
Num mundo de ninguém
No silêncio de minha alma
Um sentimento que nem eu,
Compreendo? Entendo,
Mas é tão claro o vazio
Do profundo do âmago.

Silêncio..., silêncio...,
Apenas quebrado pelo
Murmúrio do vento
Que insistia em tocar-me,
Todavia, outras vozes
Não permitia-me ouvi;
Apenas o brado do coração
Latente;

Não pude fugir de mim
Onde encontrei-me assim.
Procurando por mim.
Num vasto vazio - pois a voz
Da alma não me falava nada
Incomum a minha realidade
Nesse instante; só senti o pulsar
Sem melodia, sem poesia...

Mary Jun – 17/ 12/2016
 
Sem melodia, sem poesia...

Bebia o silêncio e o frio

 
Um copo já está vazio,
Ele continha a minha chuva;
Na inspiração, o silêncio e o frio,
E a mão que vestia a luva

Beijava o copo;
Bebia o silêncio e o frio;
Bebia a bebida de topo;
Bebia o silêncio e o frio.

Já é tarde, tão tarde;
Para mim é sempre tarde;
é sempre tarde;
Sempre tarde.

E se é tarde minha paisagem
tem palitos se quebrando
e tu que lês,vês na tua imagem.

Oh será cedo? Tão cedo?
Que o sol ainda não raiou!
E a lua contou um segredo
e eu permaneci como eu sou!

Ana Carina Osório Relvas/A.C.O.R
 
Bebia o silêncio e o frio

Está na hora

 
O mundo é mais belo pela madrugada
Quando os pássaros já voam e o Homem ainda sonha
Quando o Sol arrependido devolve ao mundo a sua cor
Mas é breve o instante
Ao longe o caos vai trepidando
Seus passos, lentos, se apressando
Sem pressas, louco, atropelando
Com tempo, pouco, reclamando
Às portas da demora:
Está na hora...
Está na hora...
Está na...

E eu vou, já vou, só mais um pouco

O teu cheiro travestido é travesseiro
Onde encosto o meu rosto entorpecido
Onde me entrego à lembrança por inteiro
E pelos campos da lembrança vou perdido

E perdido te acho
Toco-te ao de leve a face
Fito os lábios vincados num sorriso
E me curvo em ti
Não me soltes deste abraço
Não me deixes só
Não me deixes nesta hora
Pois eu sei que está na hora
E tu bem sabes, está na hora
Que é só esta, está na hora
A nossa hora, está na hora
Agora, está na hora
Agora, está na hora
Agora, está na hora
Ago...
 
Está na hora

Fado queixume do mar

 
 
Sabes, ainda sinto
a cicuta
do som da tua voz
em cada palavra escrita
na superfície das ondas
nessa cilada perfeita
da leitura do teu olhar

Ainda me sabe a boca
ao mosto do poema
embebido na ironia salgada
que arrastavas
na derme dos dedos

Em vão, vacilo, perante a história
cingida pela cintura
que a sintonia envolvia na vastidão
desse imenso soletrar

Salivo no rosto
o fogo posto
perante esse sabido
desgosto, tão ténue,
mas tão intenso
como a maré desse mar

Ah! Rugido das águas
de encontro às rochas
da desilusão tão certa
da desilusão tão dura
da descoberta
sedimentando sílabas
desgastando a ternura…

O teu poema é fado
perdido de tão encontrado
na orla do tempo
a vagar…

Emerge do sal e sobe
a amurada das minhas mãos concheadas
e lava o veneno das frases
que poluem as areias douradas
e salva o perfume
do búzio que escuto ao longe
num queixume
a naufragar…
a naufragar…
a naufragar…
 
Fado queixume do mar

ELETROCARDIOGRAMA

 
Eletrocardiograma

Quando bem garotinha
Percebi no aflorar dos sentimentos
que meu coração parecia ter mãos
Às vezes, elas tocavam a realidade
E a realidade era muito confusa
assustava e fazia doer algo dentro

Eu então escondia a dor, "engolia" o choro
E ninguém se importava
Ignorei quase sempre o mundo real
Crendo mais no que meu coração inventava
O que ele sentia tão intenso
Com suas inocentes mãos
Capazes de criar um mundo particular
Nos galhos da goiabeira, nos cadernos,
Em lápis de cor, tampinhas, caixas ou livros
Nos retalhos de tecidos ou em alguma canção
Distante do mundo real, tão indiferente

Guardo este segredo
Esse lugar dentro de mim
Onde existe uma criança descalça
Com cabelos desgrenhados
Joelhos ralados e unhas sujas
Que observa formigas em filas
Desvira besouros pretos
Perde as horas em viagens no pensamento
Tão vívidas e infinitas

Uma sina em ter esse coração Ingênuo
capaz de tocar e amar simplesmente,
Que ainda se assusta
Que se machuca por vezes,
Espanta por coisas que outros ignoram
Que leva a sério o que acham bobagens
E no peito escondido
Esse coração abafado
Prefere não crescer.

Pensei em muitas pessoas quando escrevi esse texto. Mas Carlos Correa, esse é pra você, que tem um coração de criança e cheio de fé.
 
ELETROCARDIOGRAMA

só o rio corre...

 
só o rio corre...
 
Há silêncio nas molduras,
o tempo a sobrar.
Calaram-se as vozes,
o sono acabou por chegar.
Venturas e desventuras,
o tempo entristeceu,
a manhã jamais rompeu!
E um gemido se ouve,
nos pomares e hortas
onde vida já houve.
Agora só lembranças mortas.

Só o rio corre!

A lua chega sempre na hora certa,
o sino toca dá notícias de quem morre,
a aldeia deserta.
Só os cães ladram,
pressentindo a morte.
Ergue-se o silêncio dos que esperam
igual sorte.
Casas sem vida, portas cerradas,
com o tempo a sobrar.
Só as molduras caladas,
resistem ao vazio,
enquanto as noites descem.

Lá em baixo o rio,
e as ervas crescem,
onde a luz é mais forte,
e o lençol de linho embrulhou a morte.
O vento arranca as flores,
que se negam a abrir,
e para sempre as dores,
no peito a fluir.
Tudo se esconde no cinzento,
sem nenhuma forma ou beleza,
é tudo o que observo com tristeza,
e lamento.
Aproximo-me de mansinho...
Todos se foram,
há tanto tempo!
Só o rio corre…
Só ele não morre.
Vai chorando baixinho.

natalia nuno
rosafogo
 
só o rio corre...

Meu disfarce...

 
Meu disfarce...
 
Não sei por quê?...
É difícil de entender!
Pensar que a melancolia
Das noites frias e vazias
Trazem-me tristezas - alegrias.

Minha companhia, amiga.
Experimenta do meu fel
E, se, mantém fiel.
É ali que me revelo...
Deixando minhas quimeras...

Meus sonhos de primavera,
Aonde ouço minhas canções de amor
Desnudando-me sem pudor!
Mostrando meu sorriso multicor...
Até as lágrimas beijarem minha face!
Eis ai, o meu disfarce...
Dormindo antes que a solidão me trace.

Por Mary Jun.
Guarulhos,
26/01/2015
Às 17h30min
 
Meu disfarce...

eu estou lá fora

 
eu estou lá fora
 
sinto-te perdida nesta vida
viras as costas à tua alegria
e ao amor não sentido ainda

sinto o teu corpo em lamento
uma solidão presa num gemido
no grito que me traz o vento

qual dor qual sofrimento
de um olhar já tão dolorido
de tão sagrado sentimento

recorda - amor - este momento
deste sentir a te sentir agora
num suave e breve fragmento

é hora - tenho que ir embora
eu nunca quisera ser violento
com a tristeza que em ti mora

a alegria de mim é o teu alento
abre a porta - eu estou lá fora
 
eu estou lá fora

Mapa de lágrimas

 
Mapa de lágrimas
 
Mapa feito de lágrimas
ao som do profundo ser
Ali estava no passado
O meu futuro querer

Uma chave a rodar
Um corpo a afundar-se
linguagem difícil de apagar
desenhada na minha face

Realidade pura de dor
Uma crueldade garantida
Um tempo ligado
A uma morte preconcebida

Dei agora vou querer
Algo em retorno
Chora então por mim
Onde me deixaste ao abandono.

CA
 
Mapa de lágrimas

Ressaca

 
 
Alguém já sentiu o vazio que vem em ondas?
Eu estava lá, em harmonia, até ser
surpreendida pela mudança nas águas.

Tive um pressentimento ruim
Tentei fugir para terra firme,
mas a onda quebrou bem ali...em mim!
 
Ressaca

inapetência

 
hoje nada me quis

nenhuma palavra cheia
do que me quisesse
abriu a porta para
que eu pudesse entrar

hoje, até a morte ignorou
a oferta
da tarde ludibriada de vento
e do céu desfolhado de pássaros

nada, nada me quis...

e atiro-me da sacada
de pensamentos
para matar de vez
as ausências.
 
inapetência

Viola e flauta

 
Ouço o estalo das folhas secas na rua. No apartamento ao lado, ensaiam um solo de viola e flauta. As crianças chegaram da escola e adormecem no sofá.

Orquídeas iluminam a sala de estar. Soltam-se os dedos; ouço as almas; batucam na mesa um samba de Noel.

Vejo a tua imagem a ligar a vitrola quando a tarde foge do sol. Leio teus poemas.Ouço o eco das lágrimas caindo entre os talheres e as xícaras.
 
Viola e flauta