CATADOR DE PAPÉIS.
Catador de Papéis.
Pelas ruas ele vive andando
Empurrando o seu velho carrinho
O papelão, papel sempre catando
É ouro jogados no caminho
Não tem chuva ou dia ruim
Enfrenta qualquer contratempo
As intempérias aguenta firme sim
Precisa ganhar o seu sustento.
Uma profissão que na verdade
Exige tanto e quase nada a ganhar
Mas tem muita força de vontade
Com um futuro melhor vive a sonhar.
São homens e mulheres que labutam
E juntos vieram para somar
Igual a tantos brasileiros que lutam
Esperando que um dia possa melhorar.
♫Carol Carolina
Flores de Nós
.
Flores de Nós
o centro doirado
duma margarida desprendeu-se
das suas pétalas branquinhas
que voaram!
a flor
metade no chão
a colorir as pedras
metade no ar
a perfumar a respiração
agoniava ainda quente
como uma criança perdida
no meio duma selva
sem amparo
e
sem pão...
Luíz Sommerville Junior, Eu Canto o Poema Mudo, 131220131510
Boatos, boatices e boateiros
Falar para
além do postigo,
sem medir
as expressões...
é como não
olhar o umbigo
e não filtrar
opiniões.
Empolgar
questões diárias,
sem definir
realidades...
é basear-se
em notas primárias
sem realçar
as verdades.
Palavras
ditas a eito,
sem o contexto
apurar...
é como faltar
ao respeito
e sua razão
não fundamentar.
Há muito quem
denegrir queira,
desta ou
daquela forma,
proferindo
tanta asneira,
que o ego
nos transtorna!...
Os olhos da revolução
Há um parto eminente nos meus sonhos
Uma placenta a romper os meus sentidos
As águas rebentam nos meus olhos
Nascem escorreitos os filhos bem paridos
Há um choro alegre na palavra liberdade
Uma criança que não conhece crueldade
Há um Abril feito de cravos envaidecidos
Um punho orgulhoso ergue-se da mão
Uma esperança nata, chamada revolução
Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
Natural: Setúbal
Vira casacas
Qual a rua da revolta?
Qual o beco do desencanto?
Da saudade que não volta
para consumir o teu pranto.
Que razões tu encontras...
para permaneceres aqui?
Que injustiças tu afrontas...
envoltas somente em ti?
Que sofismas ignoraste?
Que valores usurpaste?
Que atitudes tomaste?
Que ratoeiras montaste?
Que pessoas ludibriaste?
De quem te disfarçaste?...
Qual é o preço?
Qual é o preço de uma criança
Em estado puro
Acreditando com esperança
Num melhor futuro
Qual é o preço de uma juventude
Que não consegue sonhar
Voa a baixa altitude
Falta-lhe combustível no ar
Qual é o preço de uma nação
Outrora deveras venerada
Comendo agora a ração
Dos senhores da entremeada
Qual é o preço de um povo
Amargurado e deprimido
Implorando por algo de novo
E alguém parece ter-se esquecido
Qual é o preço?
Confissões de uma Vítima de Violência Doméstica
Sou um corpo que deambula ao acaso,
Que vive com medo todo o dia.
Amostra de ser mal amado
Sem conhecer felicidade e alegria.
Uma mulher constantemente criticada
Que chora apenas escondida,
Consciente que não vale nada,
E a imagem totalmente denegrida.
Escondo os hematomas como sei.
Habituei-me há muito a mentir...
Vivo uma vida como nunca pensei,
Com a maior parte do tempo a fingir.
Esta mão, assim queimada, e a doer,
É porque sou tão distraída...
Meti-a numa panela a ferver
E fiquei tão arrependida.
Tapo as nódoas negras com roupa
De Inverno, mesmo no Verão.
Apenas porque sou meia louca
Passo a vida a cair ao chão.
A boca, assim cortada,
Foi apenas porque sorri...
Não sei estar calada...
Apanhei porque mereci.
Quando parti o braço direito,
Foi porque me maquilhei nesse dia.
Mas afinal, foi bem feito,
Porque parecia uma vadia.
O meu corpo está tão cansado
Não aprendo a me comportar
Para viver bem com meu amado,
Que tudo faz por me amar.
Farta dos meus erros e maldade
Subo até ao vigésimo andar!
Salto, enfim, para a liberdade,
E já sou feliz... a voar!
Este poema já foi publicado aqui, a 29/06/2007.
A pedido de uma amiga, volto a (re)publicar hoje.
Fana
Vou tentando perceber,
Que mensagem queres passar
Todo o dia em meu redor
Todo o dia a pedinchar...
Fana, Fana!
Tu tás bona?
Fana , Fana!
Como tás?
Dá-me um bolo!
Fana, Fana
Ou então, o que me dás?
Vai-te embora, Vera Lúcia,
Que eu preciso trabalhar!
Não te dou bolo nenhum,
Ficas gorda,
Faz-te mal!
Mas de novo, lá vem ela...
Toda muito redondinha,
Ar brejeiro e olhar doce
Com seu jeito de menina
Que vontade de apertar
A bochecha coradinha.
Fana, Fana!
Não te zangues,
Fico triste, vou chorar!
Não te zangues, Fana, Fana!
Que eu só te quero abraçar!
E ao sentir tanta ternura
Já consigo perceber
A razão porque tu estás
Presente na minha vida.
Foi para me ensinares,
Ou foi para eu aprender
Que uma amizade “diferente”
Tem raízes tão profundas
Que unem a Fana à Vera
Como se fossem só uma.
1º Prémio no Concurso de Poesia da APPACDM de Setúbal, ano de 2007 (Resultado da minha vivência e interacção diária com os utentes da APPACDM de Setúbal
Maria Fernanda Reis Esteves
48 anos
Natural: Setúbal
Construir o sonho
Este é um sonho diferente…
Juntando apoios e esforços
Vontades e persistência
Tijolo a tijolo
Sustenta-se a esperança
De alicerçar o futuro
De cidadãos especiais
Com materiais de amor
Segurança e estabilidade
Num abraço colectivo
Em troca de um sorriso
O sonho que é de todos
Será uma realidade!
Poema para a campanha a favor do sonho da APPACDM de Setúbal- a construção do novo Lar Residencial/Residência Autónoma/Apoio Domiciliário
Maria Fernanda Reis Esteves
48 anos
Natural: Setúbal
Index
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Index
Doíam-me os poemas
nas suas páginas em combustão
alastrava a raiva dum fogo posto
Para o qual não havia água
Que o abrandasse
Lacrimejava-me o olhar
De tanto verso incendiário
- Quem é que via o meu sangue a arder ?
E se me perguntares:
Qual a razão desse impulso ardente
Dir-te-ei:
-Nunca soube em que ponto cardeal
O poema se cruza com a sua estrela ! ...
Luíz Sommerville Junior, Eu Canto O Poema Mudo, 120320141607
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