Humildade
Dá-me um pouco do ar que te inspira,
Colhe em ti a mais terna flor perfumada,
Partilha no meu sonho árido de caxemira
E deposita-a no azul véu da madrugada.
Na vontade enraizada do siso coração,
Aos pobres louvores dos frutos da terra,
No pragmatismo derivado, a caule razão
Que invento na tua mão, desfilada da serra
E já no silêncio, tombam sinos ao longe
E já no rasgo, anotam sons de mocidade
Que dentro arredam, os sons de vaidade.
Pois já se despiram as vestes de monge
Donde defrontam agrodos, d’intimidade
No quinhão aprimorado, da humanidade.
Carla Bordalo
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Um excelente Verão e umas grandes férias a todos.
Cem Avós , Sem Netos!
Felizes daqueles que não viram ninguém partir
Esvoaçando pelo ar num rasto de fumaça,
Na emboscada liberdade ao encontro dos seus.
Aqueles, que abalaram um dia pela madrugada
E não disseram nada!
Num dia brilhante ou numa manhã cinzenta,
De sol escondido e inseguro ainda pela madrugada cerrada,
De uma chuva a premiar muito baixinho um segredo
Miudinho ao coração de quem fica.
Apenas para quedar e segurar as lágrimas
Que teimam em cair teimosas, as ingratas!
Felizes dos pequenos que na sua infância assentam os olhos
Em reconfortantes abraços nos sentidos mais apurados
Dos corpos apertados num só amor:
Aos olhos dos antigos que cá ficaram.
Nos troncos das meiguices gratificantes e sábias,
Envoltas aos ramos da grande árvore da experiência
Conhecedoras das emoções, que vos recebem de porta aberta
No conforto de palavras conselheiras.
Desgraçadamente, de quem não os teve!
Em momento algum conheceu a ternura de um abraço quente
E duradouro. Talvez lembrando o sabor a chocolate
De uma cevada acabada de preparar e ainda ferve…
Acompanha com pão cozido pela manhã,
Um pouco de queijo de ovelha e cabra
O doce de ginja e uma tigela de marmelada.
Nalguma casa humilde e pequena,
Nobre em amor, conforto e carinho
Enfeitado com o cheiro de bolinho de chocolate em pequena fatia,
Dispostas sobre a farta mesa umas douradas farófias
No paninho branco de linho bordado,
Em finas cores, ou o já remendado
Pano de algodão manchado de estar arrecadado,
Numa grosseira estopa torcida
Pelas mãos aplicadas das vossas avós!
Ai daqueles que a solidão transporta
Desconhecedores, da liberdade imposta
Desde os tempos versados na origem!
Derrotados, para onde ireis netos, sem lar de avós?
Cansados, por onde andais vós, avós… sem netos!
E quem não os tem, nunca os teve?
Premiai da vida a vossa solidão em grandiosos abraços
Em virtuosos olhares de amor em corpos meninos,
Dos rostos pousados nos braços animados.
Ai daqueles olhos novos e brilhantes
Ai daqueles outros já vividos em inquietude,
Por anos enrugados e escondidos entre os óculos
Da solidão imposta ao convívio da juventude.
Carla Bordalo
Uma Rosa Para Ti
Uma rosa para ti
Mulher que passas na rua
Onde vais com essa flor?
Vou deposita-la na eterna
Residência de meu amor…
Espera também por mim
Dá-me tempo de colher,
Algumas rosas e flores
Que brotam no meu jardim.
Seguindo lado a lado
Acompanho na calçada,
A mulher de negro escuro
Com ela faço a caminhada.
Saem palavras de arrasto
Em lábios “pardos” sem cor:
Já passaram alguns anos,
Que levaram meu amor…
Vertem lágrimas dos olhos
Derramando tanta dor…
Na sua filha perdida
Em mãos de um tal traidor.
De um coração vazio
Saem sons de danação
Para alguém que lhe roubou
O mais que tudo, sem razão!
Caminhando lado a lado
Nem queria acreditar,
Do rancor exagerado
De um namoro a terminar.
Rasgado em linhas do tempo
Saem nódoas de uma mãe:
Como pode aquela alma
Tirar a vida de alguém…
Vagueando na calçada
Serrando a dor e o vento…
Fechou a minha querida filha
Tantas horas no apartamento!
E por momentos parou
Sumindo o rosto no avental…
Recordo os golpes que levou
Desferidos do punhal…
Deitando os olhos ao Céu
Perdidos na Luz do dia:
Ninguém por ela passou
Ninguém por ela acudia…
As mãos seguram no coração
A rosa branca caiu…
Rapaz carrasco de mim
Não terás qualquer perdão!
Os joelhos caem pelo chão
Quando a rosa tenta apanhar…
Da janela saltou arrependido
Para também ele se matar!
Baixou o rosto ferido
Em saudades consumido:
O coração já não palpita
Tão nova e tão bonita…
Deixou-se ficar caída
De emoções desprovida…
Vida inteira pela frente
Tão jovem e resplandecente…
Nos espinhos dessa rosa
Fecha as mãos suavemente…
Menina minha amorosa
Que partiste para sempre!
Arrastando um breve olhar
Às mãos sujas de sangue,
Crueldade desmedida
Em famílias nunca manche!
Em saudades de ti, Maria
Entregámos-te a Jesus.
Uma amada e única filha;
Querida Amiga, Maria da Luz.
Carla Bordalo
http://umarosaparati.blogspot.com/
Indiferença
Indiferença mira-se no rosto,
Sentido ao lábio que treme, não sente.
E se o notas assim tão indiferente,
Nas noras da calçada imprudente
É o rosto calcado ao silêncio
Num poema parido ao relento!
Pois calcarias lousas uma a uma,
De olhar desviado sem ver!
Oscularia inimigo…só por sim,
Afecto da lua, as quimeras…
Respeitaria o grau em bel-prazer
E desposarias nada para o ter.
E se o nada difere do uno
Naquele que olha o linear,
Num espaço vago ao futuro…
Então anulo-me inacabada,
Em linhas de descoroçoar
Num rosto que não diz Nada!
Carla Bordalo
Ego de Adolescente
Cabelo comprido de jeito apurado,
Roupa de marca, casaco talhado,
Tique no rosto, difundindo vaidade
Imprudente menino, próprio da idade.
Dança na vida em questão dos porquês,
Sem filosofia, nem olhas, nem vês;
Psicologia rasca de vagos enredos;
Respostas agudas… actos azedos.
Nas entranhas do ego de adolescente,
Descobre o Eu Ser … inteligente!
Convindo a si próprio na forma de estar.
Pais impõem intragáveis orientações;
Professores depõem intrincadas lições;
Estudar, educar, ralhar … quero é brincar!
Carla Bordalo
Aqui deixo o convite:
http://crianca-ser.blogspot.com/
No Canto do Rouxinol
Se abrires as passagens do teu palácio,
Preencho as janelas com raios de sol.
E nas levezas femininas deste prefácio
Empresto à lua o canto de um rouxinol.
Ilumino assim, o coração enfermo e panarício,
Com o feitiço circular do Girassol.
E se me quiseres como rainha da colmeia,
Devolverei aos teus lençóis, os braços de Euricleia!
Carla Bordalo[img
Olá Solidão
Dos momentos de agora, aos de sempre
Que nem me lembra a memória
Acordo ao sonho
E devolves as tuas mãos às minhas
Com o amor, de sempre!
Acordarei… Um dia!
A teu lado.
Como se a vida fosse efémera
E me esperarias aí,
Ao teu lado…
Assim vivo, com saudades.
Abraças-me saudade…novamente
Sem to pedir, sua épica!
Estendes-me teus braços, solidão
Habito teu, sem me teres
Ser tua escrava e nem pedes e…
Me tomas por céptica
Onde? Mas onde solidão?
Nos teus abraços...
Carla Bordalo
Amor ao Vento
Ainda rogo aquele tempo,
Ainda rezo em teu regaço:
Ó Mondego que guiasses
Meu amor, aos meus braços!
Desenhei seu nome ao vento,
Nas asas de uma gaivota;
E nas vaidades o pesquei
No rio que não tem volta…
Elevei a voz ao som
Na corda épica das guitarras;
À luz da dor do acordion
Na dor sólida das palavras.
O tempo mandou saudades,
O vento nada me diz…
No sonho do embaraço,
No sonho de ser feliz!
O tempo, marquei-o eu
Com o que restou da alma.
O tempo mandou embora,
O pouco tempo que falta.
Carla Bordalo
O Menino de Papel
Desenhei numa estrela
E com salina colei;
Voar ao céu da fantasia
Numa noite que lá passei.
Gostava de ser como tu
Menino que vejo passar
A correr pela calçada
E que chamo p´ra brincar!
Ó minha fada madrinha
Segura na minha mão.
Também sou um pequenino
Também tenho coração!
Com um toque de mansinho
Da varinha de condão
Seria logo um menino
Não sou feito de cartão.
Cobririas com o teu véu
Como uma bola de sabão
Azul clarinho, cor do céu
Tinha a tua protecção…
Brincaria todo o dia;
Comeria pão e mel.
E só para ti sorriria
Com um riso de papel.
Corria para os teus braços
Como o filho para a mãe,
Na cama em que não me deito
Deixando ser um Zé-ninguém.
Carla Bordalo
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Balada ao Sonho
Almas que entoam
Nos sonhos que voam
Por vezes cantando
Noutras chorando
Eleva teu som
Poeta andante
Menino Estudante
Já a noite caiu
Já o sol seduziu
Que a noite embalou
E o dia raiou
Coimbra regressa
Na épica Capa
Ao embalo da chuva
Miudinha que aquece
Serenatas que canto
P´ra esse meu pranto
E a saudade esvanece
A corda gemendo
E o vento chorando
Baladas de sonho
De quem cá ficou
Carla Bordalo
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