Poemas, frases e mensagens de Rui_Valdemar

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Rui_Valdemar

Hoje quando me olhei ao espelho não me vi!

 
Quando me olho ao espelho tenho por habito apontar todas as imperfeições do meu rosto de adolescente. Hoje porém foi diferente, vi mais fundo, vi o que me rodeava, e por incrível que pareça hoje gostei do que vi.

Vi-me numa cuba de vidro no meio do mundo, eu parado a olhar, e vós, vós estavam somente a passar. E foi assim que vos pude ver melhor.

Vi fome, tanta fome;
Vi cede, e falta de água;
Vi morte, e guerra;
Vi um ladrão atrás de uma mesa sacra.
Vi choro e medo,
Vi uma velhota e o seu vestido preto.
Vi uma criança com uma arma na mão,
Vi um mundo repleto de podridão.

Depois vi uma pessoa com fome,
A receber pão da tu mão.
Vi uma pessoa com cede, a beber do teu regaço.
Vi-te roubar as lágrimas do mundo, num simples abraço.
Vi uma velhota no teu lar, vi uma criança com ela a brincar.

Contigo vi um padre em África a ensinar um miúdo a ler,
e a um graúdo a arte do bem fazer.
Vi um médico a voar, para inocente ir curar.
Vi um mundo diferente quando estava perto de ti
olhei o mundo e sorri!

excerto que faltava:
"Porque hoje quando-me olhei ao espelho não me vi. Só te vi a ti!"

mais em... http://ruivaldemar.blogspot.com/
 
Hoje quando me olhei ao espelho não me vi!

Hoje e na hora da nossa morte!

 
Hoje e na hora da nossa morte

Não iremos andar num desnorte,
Iremos ser fortes, e continuar a
Caminhar pelas sombras do destino,

Seremos seres com corações!

Não somente na hora da morte,
Mas durante uma vida, colorida,
Vivida, amada, e nunca esquecida.

Hoje e na hora da nossa morte!
Abriremos o nosso peito
A um mundo desfeito

Porque a partir de hoje e até à hora da nossa morte

Lutaremos por um mundo melhor
Daremos à vida um novo sentido
E ao mundo um tom colorido

Hoje e na hora da nossa morte
Seguiremos rumo a norte
Com o coração cada vez mais forte
Lutando, vencendo a morte!

Ricardo Neves e Rui Valdemar

Dueto realizado por:

-> Ricardo Reis - Rxhulb (http://www.luso-poemas.net/modules/yogurt/index.php?uid=10114)
-> Rui Valdemar
 
Hoje e na hora da nossa morte!

Paz de Oiro

 
Num tempo algures perdido
Vi-te por lá encontrada
Num sonho puro desafino
Uma melodia descuidada

Um novelo, um gato desvairado
Um mundo perdido nas minhas mãos
Um crepúsculo mal ensaiado
Uma vida sem refrão

Uma palavra ganhava vida
Numa rima pouco prendada
Entre uma carícia e uma mordida
Senti a juventude ser suspirada

E nesse suspiro de alívio
Vi meu jardim florir
Vi voar todo este tormento
Voar para bem longe daqui

Enchi-me assim de alegria
Como quem enche um balão
E foi na despedida
Que não resisti agarrar-te a mão

Renasci nesse momento
Tornei-me de novo infantil
Quis-te só minha
Por infinitos anos mais mil

Quero-te hoje tanto
Como te quis em sonho
E hoje digo que te amo
Deitando-me numa paz de oiro![/color]

Obrigado BO por tudo, por teres sido minha! nunca-te esquecerei! (MARIA DE JESUS PEIXOTO DA SILVA, avó)
E obrigado a ti, tu que não sabes quem és por me devolveres de novo a poesia, tu que sem saberes que para mim existes és minha inspiração!
Amo-vos!!!
 
Paz de Oiro

UM SOPRO DE DENTRO

 
Nas proximidades de um ser a vida torna-se algo muito claro. Talvez das coisas mais claras que já vi. No entanto, posso afirmar que não deixa de ser mais uma reflexão da Lua nas águas calmas desta baía. Consigo estar sozinho nesta ilha, e muitas personagens vêm da minha imaginação fazer a melhor festa! Mas não deixo de ser culpado por dizer que não tenho culpa, e isso doí.Se fosse a vida dizia-te o que te tinha pra dizer, se fosse por morte afastar-me-ia, no entanto sou amor e isso prende-me aqui. Obriga-me nesta noite a ficar ancorado neste recanto do mundo, nesta baía que te pertence, onde me vejo e sonho.Mas não te esqueças que no fim tens de voltar a esta baía. Enquanto sonho faço tempo, espero-te e volto a esperar. Mas no fim quando ao acordar quero-te aqui, quero que tudo seja como no dia em que vim pela primeira vez a esta baía. No dia em que te conheci.Não sei, talvez fosse a ansiedade. Nunca consigo estar descontraído quando está em jogo algo que desejo realmente. Esse é o meu perder. Mas o meu ganhar foste tu, puseste-me á vontade, deixas-te me ser eu, deixas-te me brilhar. E nunca desejei ninguém como te desejei naquela noite. Minto sim, e tu sabes, já o desejei, nos momentos que se seguiram; fui te desejando cada vez mais, e hoje posso dizer que sem ti já não sou ninguém.Mas não deixo de ser o reflexo de meia Lua, falta-me o teu brilhar enquanto aqui sonho, sei que me vens completar, nunca o deixas-te de o fazer, não seria hoje que o farias.Por isso espero e volto a esperar! pois a presença da harmonia que emane de nós é VIDA, e a vida é sagrada.A VIDA que nós sonhamos, está a realizar-se, não me deixes longe dela. Tu sabes que é verdade tudo o que faço faço por nós, e saberes isso basta. Amo-te para sempre!
 
UM SOPRO DE DENTRO

Um sonho de ti

 
Saudades das coisas que nunca fiz
Medo de nunca as fazer
Feliz pelas ter imaginado
Receoso de fazê-las sem ti!
Porque tu és e serás o sentido de tudo e porque sem ti não as quero fazer.
Isto tudo nunca por amor mas simplesmente por prazer de te ter comigo.
Nunca lhe chamei amor,
Porque só-te amarei quando fizer alguma coisa do que sonhei fazer,
Até lá serás sempre fruto da minha imaginação,
E tornar-te-ás aquilo que quebra a monotonia numa rotina insistente de solidão.

Sinto a tua falta, e desejo que existas.
 
Um sonho de ti

La Vita

 
A vida é arte. Com todas a suas divisões mas não passa disso. Perspectivas eficazmente vulneráveis a um sopro de outrem, e fortemente flexíveis ao desdém que se prestam entre si.

Vendo-nos como escultores, e a vida como nossa carreira. É uma forma profunda de encarar o nosso legado.
Vejo-me em cem anos, a ler numa autobiografia nunca escrita; e para além de recordar os meus mais belos momentos, posso ver as minhas impressões digitais na cena do crime.
Assim depois de ser vencido pela morte, sei com mérito, e posso afirmá-lo; que, de modo certo irei acordar uma certa manhã e poderei vislumbrar a escultura que me levou uma vida a delegar. Aí estarei nas mãos de outrem, de vós mundo cruel, que me julgou, e ditará agora se existe ou não magnificência nessa escultura. Poderei então confirmar se havia morrido ali, ou pelo contrário, se o meu legado me havia superado!
Vivo hoje destes versos que escrevo, e destas linhas onde minto. Pois quando os procuro roubar á melancolia mais profunda, descubro o fim e temo o intermédio.
Vejo-me como uma varina que trabalha pelo sonho, e vive o pesadelo. E como ela em cima do palco sou rameira, e nos bastidores actriz; mas no camarote sonho, e aí sou feliz.

(...)
 
La Vita

Uma qualquer visão de um qualquer ti

 
Uma qualquer visão de um qualquer ti
 
Um pedido pensante trouxe-me aqui.
Estava lá eu onde estava, lá naquela brecha tempoespacial do costume quando fui arrastado para uma praia rochosa. Nada mais vi nessa praia se não a divisão do meu eu em duas partes bem distintas.
Numa delas vi a minha alma voar em forma de águia pelos céus e razar como uma gaivota sobre aquele mar. Vi o mundo num sonho de criança, de um ponto superior, de uma qualquer nave espacial que pairava sobre aquele pequeno paraíso. Vi a vida a nascer numa relação sempre perpetua entre a espuma das ondas e a areia daquele lugar.
Depois, numa segunda divisão, vi o meu corpo controlado por um impulso infantil. Desejei correr praia acima, subir e saltar rochas!, morder os lábios de adrenalina, eriçar os pelos de receio, ser de novo pueril. Quando dei por mim tinha subido todos os penedos da praia, tinha saltado todos os rochedos e estáva ja no topo da arriba. E de lá via-te bem, de lá via bem, eu podia ver-te de lá!

Uma visão clara e modesta. Pouco ambiciosa e por isso tão ampla. Sei somente que a areia estendia-se ao longo da praia de uma forma bastante regular, três penedos erguiam-se cortando o mar que quase fazia a ligação desta lama terrena com o outro azul, Ou não fosse aquela areia toda a terra, e o mar o espelho que no horizonte se tornava o tecto do mundo!
E a minha visão prolongava-se na direcção dos três penedos que se erguiam na areia como quem vinga no nada. Três penedos ovais que se mantinham ali como que marginais, desintegrados aqui da arriba. Mas eles não se viam assim! viam-se mais como que aqueles que se distinguem dos restantes pela sua individualidade e beleza, como uma forma de não se misturarem com aquilo que os repugnava. e assim o era!, não fazia outro sentido, se não assim o ser!, tu aí estares e somente poder-te ver daqui, era uma visão tão bela como que dolorosa, que no fim valia sempre a pena.
No penedo central e vi-te reinar os ventos, vi-te governar os mares e vi-te amares a terra. Vi em ti uma figura tão pouco humana, tão pouco indigna e pecadora que me fez estremecer. Vi-te envolvida naquele vestido acetinado manchado pela cor que encerra todas as outra cores, encerrando assim também todos os pensamentos puros do mundo, toda a beleza na natureza, toda a divindade das coisas divinas deste e doutros mundos num só corpo, como quem quase encerra a perfeição!
Peço-te que me perdoes a infâmia de um quase tão quase insignificante, mas não lhe pude resistir. É um quase que encerra tudo aquilo que tu não podes encerrar. É quase, como que devido a encerrar toda a minha revolta, nada encerra e força nenhuma tem. Mas foi-me irresistível não o colocar, foi-me irresistível a tentativa de chamar a tua atenção para este pormenor tão meu. E foi assim que decidi que esse ser perfeito em cima dos rochedos nunca iria ser perfeito, pois nenhum ser que viva repugnado com o comportamento dos excrementos sociais e se coloque num estagio tão superior que não permita a um desses seres ordinários a aproximação pode vir a ser perfeito. E tu és assim, encerras a perfeição de um espírito divino num corpo igualmente sagrado, que transmite um desejo carnal colorido de escarlate e que deixa um ser tão imperfeito como eu num transe interno. e no entanto mantens-me à distância, e deixa-me aqui caído numa poça de dor e angustia,em que vivo permanentemente.
Mas vivo, e vou vivendo com algum sentido enquanto tu não saíres desses rochedos onde eu te poça ver, e vivo enquanto souber que ainda aí estás, pois enquanto ainda aí estiveres eu poderei ser espírito esperançado, mesmo sabendo que o que desejo e espero é inatingível.
 
Uma qualquer visão de um qualquer ti

aquilo que nunca te disse Diogo?

 
aquilo que nunca te disse, nem mesmo aqui.
Será que me OUVES, Diogo?
Pode ser que o orgulho me impeça um dia de te dizer isto; tanto ou mais que agora…
Por isso te escrevo e não te envio o que escrevo.
Por isso te digo rigorosamente nada!, na esperança de que entendas aquilo que não te digo e ignores aquilo que te grito;
Porque o uivo mais puro, aquele que mais perdura,
…É e sempre foi aquele que nunca foi dito,
Aquele que nunca foi escrito,
Aquele que ficou por dizer.
…E bendito daquele que o consegue ouvir,
E bendito sejas se ouvires aquilo que te grito agora, sem o escrever….
E sem uma única linha escrita, com as palavras que quero que perdurem entre nós, espero que saibas que te amo,
Que não quero ser como aqueles dois Gémeos que nos antecederam.
…Por isso pega nessas palavras que desconheces e usas para voar,
Voa bem alto, mais alto que o impossível, ultrapassando o imaginável,
Até a estrela mais longínqua, a mais brilhante de todas,
De onde possas sonhar como nunca sonhas-te!...
Enquanto eu, aqui fico…, na esperança, de te ouvir gritar em silêncio!,
- EU CONSIGO OUVIR-TE, RUI!
 
aquilo que nunca te disse Diogo?

Anjo em Flor

 
Perdoa, tu que juras-te!
Perdoa, tu que és Flor!
Tu que juras-te fazer correr
Pelo meu rosto as tuas lágrimas
Perdoa-os que não sabem o que dizem!

E choro hoje mais do que ontem
Por ver tanto Kant julgar pensar
Ou tanta Pessoa julgar escrever
E vejo que nenhum deles aperta ao seu peito hipotético
Nem um sonho como Álvaro pôde apertar.

Pois ser poeta é ser tudo o que dizes - Flor
É sentado numa poltrona de uma cor por definir
Abrir janelas do seu quarto, abri suas janelas
E voar!

Voar apertando todo o mundo de uma só poltrona
Chorar toda a tristeza, num só sorriso
Matar a morte, numa só linha
Com um único tiro preciso!

De um tiro certeiro
Fazer de si infinito
Com um verso imperfeito
Agarrar o mundo num só grito!

Viver assim para sempre
De um jeito meio escrito
E de outro não dito

É ser tristemente infeliz
Por todos os defeitos do mundo carregar
Na pele de embaixatriz
Daqueles que não sabem parar de pensar

É ser Flor que vinga num jardim empestado
Por uma corrente de fumo sem Fado
É ser tu, é voar sobre o Tejo e o Sado
É ser anjo alado!
 
Anjo em Flor

Tapete Voador

 
Eu hoje sonhei
Nunca mais sonhar
Amei esse sonho
Amei uma vida por amar

Eu hoje amei
Amei olhar o mar
Sonhei um barquinho
E por ele me aventurar

Eu hoje surfei
Uma onda de amor
Essa onda falou
De um mundo sem dor

Eu hoje brinquei
Num mundo ancestral
Voei em seus braços
Para lá do banal

Eu hoje sorri
Ao cheirar uma flor
A ela prometi
Um mundo de esplendor

Esse mundo foi me dado
Numa noite de amor
Quando estendes-te a mão
De um tapete voador
 
Tapete Voador

À tua espera

 
Sonho o deserto e o mar,
Sonho com o mundo e por ele me aventurar.
Tenho sonhado e no sonho tenho amado,
Mas mais que tudo, nele tenho vivido, nele tenho encenado.
E espero um dia por ti, debaixo das estrelas, neste mar, e aqui confortavelmente a vida me faz recordar que tudo irá passar.
Agora já faz sentido!
A nostalgia do que não aconteceu, um mundo vivido à espera de ti para o viver!
 
À tua espera

Momento sonhado!!

 
Fartei de esperar incessantemente
Por algo que espero não encontrar
Vivo um momento frustrado
Por saber que tal desejo não se possa realizar

Temo a multidão ardente
Que grita na escuridão
Temo mais o mendigo prudente
Que me veio estender a mão

Temo a fome de saber
Que vive num paradoxo ancestral
Vivo vivendo o poder
Do repugno d'uma vida banal

Seduzo trechos cantarolados
Por um rouxinol mudo
Que cantam num tom agudo

E eu atentamente os ouço
Eu que nasci surdo
E amo ouvir cantar
O rouxinol mudo

Deduzo que perdi o espírito
Numa qualquer religião
Onde me ensinou
A cantar tão bela canção

Fiz-me de novo um moço brincado
Saltitando de bola na mão
Brinco com o sonho prostrado
De colocar o mundo em meu coração

Fiz de mim servo de prazer
Fiz de mim servente de dor
Fiz por pensar e não fazer
Fi-lo por amor

Amei saber que o fiz
Deveras que amei
Não podia ser mais feliz
Do que aquele momento em que sonhei!
 
Momento sonhado!!

Pura Mentira

 
Simplesmente não aguente viver de frases que alimentam a solidão de um ser repleto de magia que vive para descobrir que tudo o que descobriu foi em vão pois toda verdade cabe numa caixa tão pequena e inútil que foi jogada ao mar e por coincidência um rapaz que dava os primeiros pontapés na leitura conseguiu distinguir no rótulo já extraviado duas palavras:
PURA MENTIRA
Esse rapaz abriu a caixa e por segundos deixou de dislumbrar seja o que for pois tinha ficado ofuscado. Após recompor-se, o rapaz, que havia ficado estendido, ergue-se, apanha a pipa com que havia vindo brincar e lança-a ao ar.
A criança parecia muito concentrada no seu jogo infantil, no entanto parecia que a sua habilidade prometia futuro. Ao fim de algum tempo outras crianças juntam-se ao rapaz, numa alegria contagiante, ao ver tantas pipas de formatos diferentes.
Ao cair da noite a aldeia encontrava-se em alvoroço, pois as crianças ainda não haviam regressado, foi então que um show de luzes se ergue no ar, e os habitantes apavorados e receosos correm nessa direcção, em busca dos filhos. Os aldeões ficaram deslumbrados com o que viam.
Uma verdadeira batalha nos céus, luzes e trovões incandescentes, sons de armas e torpedos, a desfilarem pelos céus. Estrelas e cometas vagueavam por entre os destroços dos navios comandados por guerreiros famosos que estavam dominados pela sabedoria de mentes tão diminutas como as de camponeses ou sem abrigos. Armas nucleares a vergarem-se ao som de varas ancestrais...
Acordei sobressaltado nessa noite, “que sonho mais ridiculo!”, pensei. E no entanto sabia que...
Ia eu a caminho da escola quando me deparei com um parque Infantil, por instinto, sentei-me num banco num canto abrigado por uma árvore, e fiquei um breve momento a observar. O sol ja abranjia todo o parque excepto a zona de sombra que o imponente escorrega marca no centro do parque, e este canto onde eu me encontrava sentado.
Três crianças subiam e desciam o escorrega, repetidamente formando a volta dele quase como um ritual, em que as suas feições não enganavam, por momentos a felicidade pertencia-lhes.
Duas meninas estavam sentadas ao pé da caixa de areia. Tinham cada uma a sua mochila, de dentro tiravam escovas, pentes estojos pequeníssimos de maquilhagem. Reparei que estavam espalhadas a sua volta meia duzia de bonecas de várias cores e feitios.
E no entanto, nada disso me chamou a atenção, como o meu lugar preferido do parque – os baloiços. Era bem perto do lugar onde eu me encontrava sentado, que se encontrava o lugar mais encantador, a meu ver, de um parque infantil.
Havia dois lugares. Uma criança ocupava um deles, o outro encontrava-se vazio. Por dois segundos a minha mente focou o céu azul, pois era nessa direcção que os olhos fascinados da criança se lançavam, num acto tão desesperado, que deu-me a sensação de a ver voar.
Tudo isso ocupou a minha mente por pouco tempo, pois por todo o meu corpo, senti um impolso e dei por mim a dirigir-me ao baloiço vazio.
Já depois de sentado, o rapaz fixou o seu olhar no meu rosto. Senti-me diminuto por momentos! E foi então que o rapaz me perguntou, numa voz que me transmitiu segurança: “O que é Verdade?”
Eu aí soube. Que o sonho não havia sido tão ridículo quanto isso, que eu não duvidava assim tanto dele. E subretudo, que o sonho era a Verdade. Pois só o rapaz podia abrir a caixa e só o rapaz, podia dar a resposta... “Tu és a Verdade, não a procures, nem a fabriques! Pois a questão é a resposta e a resposta é a questão.”
As crianças, são a Verdade mais pura do Mundo. Pois a nelas poucas Verdades foram depositadas, e assim a mente fluí com mais facilidade... Pense nisto!
 
Pura Mentira

LODO TRISTEMENTE LEDO

 
A podridão da minha pessoa repugna-me
Ao ver tão triste acto
Revolta nunca foi ponto de fuga
Tomo isso como um facto

Mas é real facto
Que tu também pecas-te
Tanto ou mais de veras
Me repugnas-te

Grito bem alto a teu ouvido
Que já estou farto de ser Santo
Já nada disto faz sentido
Já sem teu colo derramo
A angustia de um longo pranto

Por cidadelas vou berrar
Por campos vou saltar
Por multidões vou estagnar
Este compurtamento raso
De um mero cão de pasto

E este cão corre feliz
Tentando agradar ao dono
Mas depois para, chora e diz
Que está farto de ser lodo

Ser lodo repugnado
Ser enternamente escravizado
Ser estrela na penunbra
Tapada por seu mais amado

Lodo que chora ao ver
Seu mais querido sofrer
E chora ao saber
Que este outro dele não quer saber

Podridão social
Esconde nosso comportamento
De pedra, cal e medo
Fuga do triste Ledo

Lodo ledo por ti
Lodo triste por mim
Fugiu sem saber
O porque de sofrer

Mundo desigual
Puramente banal
Trsite melacolia
De mais um dia dual
 
LODO TRISTEMENTE LEDO

Hoje quando me olhei ao espelho adormeci...

 
Andava sei lá eu por onde
Numa brincadeira de esconde esconde
Quando tu me fizeste perder
Por um belo amanhecer

E foi nesse amanhecer de Inverno
Que vi na triste parte do infinito azul escuro
Erguer-se do inferno
Um espelho verdadeiramente duro

Sempre imaginei vir do céu santo
Um espelho que santa verdade emanasse
Mas foi entre os soluços do meu pranto
Que me apercebi da sua pura face

A verdade nunca seria sácra
E a santidade nunca será verdade
Mas eu continuava à espera
Que a verdade me iluminasse

E foi olhando o espelho infernal
Que soube da tua mentira
No meio daquele céu invernal
As gotas faziam uma feroz corrida

E foi no meio dos suluços daquele céu
Que eu finalmente morri
Ali estendido, coberto pelo teu véu
Eu por fim Adormeci!!!
 
Hoje quando me olhei ao espelho adormeci...

Tempo e Espaço

 
Eu nasci aqui por ser incompetente para conseguir sobreviver noutro lugar!
Nasci agora por ser capaz de superar os que me antecederam! e não ser capaz de me superar!
Por isso, (e por nada disto), eu sou quem sou e cabe-me a mim dificultar a vida ao máximo aos que me sucedem; tornando-me bem sucedido!
 
Tempo e Espaço

1ª Carta a Álvaro de Campos

 
Triste verdade inconsequente, profunda nos versos que escreves-te... E depois? Vives disso? És feliz por isso? Portanto, como eu, invejas o rato do esgoto por ser cego e és infeliz!

Não fujas da simplicidade outra vez!, mas se tiveres alento para tal, leva contigo a certeza de que deixas a feliz momentânea alegria para trás, para ir em busca daquilo que acreditas valer a pena e sabes que não o vale.
Mas também sei, por certo que, o infeliz buraco onde te escondes, que dá acesso a um mundo onde reina a Lógica e tu és cavaleiro que enfrenta uma infinidade de aventuras para arrecadares os tesouros desse mundo (e fica aqui a promessa de eu voltar outrora a falar delas), é-te muito mais acolhedor que fora dele, pois não esperas mais que a habitual solidão, tristeza e sabedoria oferecida pelo mesmo; em contraponto surge a alegria de momentos bem passados no ceio da sociedade, que criam as mais altas expectativas e nunca as cumprem.
Porém a sociedade existe!
Mas se fora só isso menos mal, com a sua existência podíamos nós bem. O problema que surge (mesmo tu negando-o) é o de a sociedade ser uma das coisas que amamos. Sabes bem, mesmo não o aceitando que, o pobre coitado que passa na rua faz-te tremer mais que algum cismo faria. Nem que seja o mais ignorante de todos, faz-te revelar a mais profunda insegurança e fraquejas!
Vejo-te sentado a avaliar as formas que o fumo do cigarro faz no teu quarto. E nessa poltrona questionas-te "no que hás de pensar?". E eu aqui escondido, num qualquer recanto, numa qualquer brecha no tempo, com ou sem caneta, com ou sem papel, questiono os mesmo e até o nada questiono como fosse tudo.
Mas aviso-te que quando estiveres a olhar da janela do teu quarto para o Exterior da Tabacaria de Defronte, não fiques só a olhar;
desce desse teu estado puro, de permanente pensamento e dirige-te a ela;
mas não fiques à porta, entra e pede um maço de tabaco;
e por fim quando te deres por vencido, ao ouvires-te a ti ou a outro qualquer (talvez um qualquer irmão) dizer "tens medo",
regressa da rua, e de novo à Tabacaria, mete conversa com a cliente que estava indecisa sobre a cor de isqueiro, talvez a conheças ou venhas a conhecer, mas pelo menos sais-te um pouco daquele teu pequeno/grande mundo e aventuraste-te na sociedade!

(...)

Ser pórtico na moral, não é por certo escolher uma face ou ver as duas, mas sim poder viver em ambas.
quando descobrires como fazê-lo, meu caro amigo, avisa-me!

...
 
1ª Carta a Álvaro de Campos

UM MOMENTO

 
Penso em cada palavra que me tens sussurrado, e delas não largo o meu pensamento.
Tenho medo que não as voltes a repetir e desejo-te como nunca desejei ninguém.
Foi assim que sonhei acontecer, e assim que tem estado a acontecer.
Tudo o resto é irrelevante, nada flui sem te ter.
E por isso dou graças por este momento tão interno como mar que vejo de fronte de mim
eu vou-te dizer que não quero mais nada na vida*
e aqui aconchegado continuo a ouvir os teus sussurros e a desejar-te par sempre!
 
UM MOMENTO

Um passo de uma Pessoa

 
um génio em arte e vida
soube falhar a mesma como quem sabe que por certo não há outro remédio senão falha-la. assim optou por falhar a vida com a elegância de ser completamente diferente, e no meio da sua tão diferente alma lisboeta o seu vestuário era fado e o seu andar era calçada portuguesa, e tudo nele era Lisboa, Lisboa que estava perdida, Lisboa que hoje se perdeu, e eu que não sou Lisboa amo hoje tanto a mesma Lisboa que Pessoa amou
 
Um passo de uma Pessoa

Neto de um Alentejano

 
Foi numa manhã com sono
Que dei por mim a perguntar
Avô como é o Alentejo
Avô como é o teu lar?

Foi nessa manhã dormente
Que vi meu avô chorar
Vi nas suas palavras, um novo céu
Vi um novo olhar!

Foi assim que ele disse,
Bem assim mais ou menos,
Com medo que a lágrima fugisse
Balbuciou quase um segredo.

Falou-me que logo pela matina
Mal via o sol raiar
Já tinha de 'tar no cimo da colina
Já tinha de 'tar a trabalhar

Falou-me que no verão
O sol deixava de ser nosso irmão:
-Questão fazia em madrugar
E tardava a ir descansar

Falou-me de uma vida vivida
Falou-me de um cultura quase esquecida
Falou-me de um postigo aberto
Sem medo do incerto

Imaginei um povo desconfiado
E ele convidou-me a entrar
Aí vi que após um trabalho árduo
Ninguém hesitava em farrar

Ai disse-me que logo pela matina
Ele ouvia entrar pela cortina
O som das campinas
Naquelas madrugadas vivas

E nessa noite esperei até amanhecer
Deitado num longo rego
Afaguei o rosto do meu velho
Até o ver sorrir e perecer
 
Neto de um Alentejano