Poemas, frases e mensagens de ZICO

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de ZICO

ZICO CARVALHO. FARMACISTA POR 37 ANOS, APAIXONADO POR HISTÓRIA

Admiro...

 
Admiro aqueles que entenderam que a vida é efêmera, e que a eternidade fixou residência em um tempo bem curtinho, e por isso, faz um pacto com a magia do momento; fogem de todos os “pós-humanos”; reconstroem a consciente loucura pelo já; recompensam o instante com a mágica da vida;
e desenham uma alma leve recheada de significados.

Admiro aqueles que viajam de mala e cuia pra dentro da vida, e transformam a vida em um renascer constante, não permitindo que lhe digam “verdades” prontas, negando, desta forma, a condição de aletófílo, pois estão convencidos que doses miúdas de conversas “tolas” rejuvenesce, além disso, sabem que um copo de palavras é o suficiente para embriagar a verdade e torná-la mentira.

Admiro aqueles que escapam das procrastinações, estas situações roubam o presente arremessando as pessoas pra longe da vida, tirando-lhes o direito de serem os heróis do agora, tornando-os, escravos da previsão futura, furtando assim, os significados do existir em vida, transferindo o viver para uma existência imaginária.

Admiro aqueles que descobriram que uma forma boa de promover tempos fecundos é se valer de pontes que ligam bem estar com magia; e que as alegrias constroem liberdades que “pilotam” o vôo da vida com a velocidade da respiração; edifica a alma e suaviza as rugas, libertando-nos da condição de refém do destino.

Admiro aqueles que minimizam as suas angústias com os acasos, aniquilando os medos e tornando os sofrimentos menores, tanto com as dores passadas, como com as expectativas futuras, descobrindo que o poder da humildade é vital, conserva a simplicidade como companheira de todas as atitudes, tornando os seres humanos resilientes e ressignificados.

Admiro aqueles que mantém a dignidade, e sem exceder na vaidade se tornam insubstituíveis. São pessoas que sabem usar sandálias de salto alto como se fossem franciscanas; que cantam desafinadas, sem preocupação, elas entenderam que o que conta é o canto e não afinação; que riem de si mesmas quando falham, a falha é humana, e somente como humanos percebe-se o aprendizado que os erros proporcionam.

Admiro aqueles que administram o espetáculo da vida sem serem asfixiados por promessas fictícias, eles descobriram a diferença entre viver e procrastinar, e entenderam que a feitura da vida não pode ser "alimentada" por postergações, e que é na necessidade da renúncia onde nos completamos, o que evidencia que a maior riqueza que se pode acumular são as “insanidades” regadas por instantes de alegrias.

Admiro aqueles que aprenderam com John Lennon que: “A vida é aquilo que acontece enquanto você faz planos”; e com a aranha compreenderam que o brilho de suas teias são esculpidas com o sereno da noite que não resiste ao sol da manhã; com a semente da mostarda descobriram que a fé pode ser mensurada; com Babel desvendaram o charme dos múltiplos, o sagrado do multirracial, e a beleza dos burburinhos...
 
Admiro...

Sonho!

 
O sonho é só uma utopia? Experimente a realidade sem o sonho e irá entender o que é necessidade.
 
Sonho!

MEU BAIRRO...

 
O primeiro contato com o meu bairro se deu no ano 1.981, e foi a partir dali que conheci o restante da cidade. Com o estranhamento natural do novato e inseguro em relação às minhas expectativas sobre o futuro, ainda assim, foi possível vislumbrar uma longa estadia nesta região. Logo de início, percebi que a vida ali tinha o charme da mistura, o lugar era multirracial, multicultural, tudo era “multimuito”. E com o espírito transgressor do jovem sonhador observei também que ali os bons sentimentos não eram somente peculiaridades psicológicas. Eram atitudes sólidas. Isso me fascinava e firmava a minha determinação em criar raízes. E assim foi... Amor à primeira vista.
Passado a primeira impressão vieram os convites para os cafezinhos caseiros que adicionados ao calor humano dessa gente simbolizava bem o resultado da miscigenação local. Uma bela mistura de cores, cheiros e sabores que construíam em mim motivos de satisfação. Era gente de todos os lugares: nordestinos, nortistas, sudestinos, sulistas... A convivência harmoniosa com essas pessoas me fez despir de qualquer preconceito. As experiências adquiridas com esses migrantes fizeram com que meu mundo de encantamentos fosse ampliado a cada dia. Tive muita sorte por desfrutar de toda essa diversidade que representa os vários ‘brasis’ existentes no meu bairro.
Conforta-me muito saber que o modo que tenho de ver e pensar o mundo teve fortes influências neste local. Conhecer e conviver com pessoas como o “seu” Waldomiro da Farmácia (profissional com uma postura ética e uma habilidade para unir competência e humildade, que era impossível não admirá-lo); o “seu” Zé Padeiro (exímio conhecedor e observador político de Rondonópolis); “seu” Medeiros (homem que se fez empreendedor, quando o empreendedorismo ainda não era palavra de ordem.), e tantos outros, me fizeram melhor. Assim, vida pessoal, e a vida profissional ambas colheram mais bônus do que ônus, enquanto eu me fazia útil e funcional no meu trabalho.
Hoje sei que minhas vivências neste bairro, enquanto profissional de farmácia, possibilitou-me aprendizados que fazem parte da minha formação, e foi deste modo que entendi o valor das diferenças; descobri nas minhas imperfeições e na dos outros que somos seres inacabados, o que evidencia a grandeza de saber viver nas divergências; saber que os obstáculos que a vida oferece são estímulos para arquitetar o espetáculo da tolerância, e dessa forma, nessa construção humana consentir um pouco de Deus em mim. Só assim, posso adquirir a habilidade de não permitir que meus interesses comerciais, ou minhas simpatias de balcão me furtem as possibilidades que eu tenho de servir.
Noto, no meu bairro que às pressas de alguns são antagônicas com as demoras de outros, são os contrastes entre o moderno e o antigo, entre os agoras e as saudades, mas o bom é saber que toda essa dinâmica chamada vida adquire formas de esperanças, que se convertem em uma energia boa, que motiva as pessoas a darem continuidade na busca dos seus sonhos. Aliás, essa riqueza de significados se faz presente na fé, na gratidão e na generosidade da minha gente, e são estes os sentidos maiúsculos que temperam os motivos do acolhimento proporcionado por esse povo que aqui vive ou trabalha.
Pois bem! Assim é o meu bairro: dos serviços, dos esportes, dos sabores, dos amores, das contradições, das pressas, das calmas... Do Manus, do Vilson e do Queijinho, do Zé e da Dona Maria, do Léo e da Luzia... Assim sou eu: recolhido no conforto da dúvida, vejo o tempo perder a pressa na certeza que hoje sou um pouco mais este BAIRRO.
 
MEU BAIRRO...

Minha Mãe e seu Oficio.

 
Mãe, na sua luta permeada por longos silêncios, durante o trabalho duro, era possível perceber satisfação no seu rosto. O quintal era o espaço conquistado, ali estava o seu varal pesado de roupas. A sua rotina era molhar, ensaboar, esfregar, bater, torcer, enxaguar, quarar, secar, passar, dobrar e entregar as roupas limpas e secas que não mais lhes pertencia. Pertencia a alegria do dever cumprido. Em seu olhar vivo você tinha o brilho da certeza de um futuro melhor. Assim nos fizemos filhos orgulhosos de você. Se a vida não lhe sorriu, você sorriu muito para a vida. Aliás, considero que na sua quietude você “desenhava” o caminho a ser seguido pelos filhos, deixando como herança a honestidade e o bom humor.
A benção mãe.
 
Minha Mãe e seu Oficio.

Minhas Saudades e Eu...

 
Entre ritos e mitos...Entre atos e fatos...Entre falas e silêncios...Entre ditos e esquecidos...Entre lembranças e saudades... Fez-se a vida em sociedade, e eu me fiz humano e civilizado. O que eu não sabia é que nada é mais desumano do que a civilização. Hoje, sinto que minha alma está algemada, e esta prisão tem nome: Modernidade.
Ludibrio meu cárcere viajando às minhas saudades. Consigo assim, construir contentamentos em meu existir. Reencontro com lembranças quase esquecidas que estavam recolhidas nos lapsos da memória, e movido por uma nostalgia doída, junto os ‘retalhos’de pensamentos adormecidos que ainda se fazem presentes, acordo-os, e confecciono distrações. Envolvido com esta satisfação por rememorar meu passado em imagens presentes, começo a sentir saudades de ser o que já não sou. Uma saudade diferente. Saudade de ser criança novamente.
Neste retorno ao passado, visitando minhas memórias, promovo um encontro comigo mesmo. A satisfação é maior no momento que revivo os ‘causos’ do meu avô; a música de viola de meus tios; as orientações que meu pai, sentado em sua cadeira de palha, ‘tecia’ pra gente ser feliz; os sabores da comida caseira que minha mãe preparava no fogão de lenha... Enfim, coisas simples de uma vida rica em magia.
Agora sou adulto, e me tornei órfão dos hojes que se negam a recolher as sabedorias dos ontens. Não compreendo, porque os instantes recusam os distantes, e nos projeta rumo à maioria dos nós que nos afasta de nós. Só sei que me adeqüei ao suportável e ao sofrível, para conseguir tolerar ao intolerável. Se ao menos, eu soubesse ontem o que sei hoje, não teria medo dos esconderijos do silêncio. Escaparia de todas as receitas: de sucesso, de progresso, de riqueza... Porém, eu não esqueceria que o “cinza é "filho" do preto e do branco”, e são tantas as possibilidades de novos tons que eu sepultaria todas as verdades absolutas.
Hoje faço dos meus sentidos o reverso das lógicas. Concorro comigo mesmo. Consigo ver melhor com os olhos fechados. Minha visão tem apurado meu paladar. Meus óculos auxiliam a minha audição. Minhas dores anestesiam a minha alma. Não sou um conceito opcional, sou prioridade em todos os modos de pensar que mantenham acesa a chama da dúvida.
Cavalgo na pele de águas desconhecidas sobre ondas alucinadas em busca do nada. Sinto os redemoinhos provocando gotas de um orvalho ainda por acontecer. Ouço o eco do oco que formata em meu labirinto um som incompreensível, mas perceptível a olho nu e audível em contato com o olfato. É sublime a junção dos sentidos que me devolve ruídos enriquecidos por murmúrios que se perdem dentro de burburinhos de vozes ainda sem vez para compreensão dos ‘normais’.
Mergulho na superfície da vida e descubro que o tempo passou e as perdas foram inevitáveis. Agora vivo minha lucidez, aguardando um reencontro com minha inocência. Inocência? Talvez, trocaram seu nome, e hoje a chamam de experiência. Por isso, acolho as minhas necessidades, e me valho do desconhecido. Lá, ainda estou isento de opiniões.Lá, sem entender encontro meu existir dentro dos meus vazios. Lá, convivem bem o que eu sei e o que eu não sei. Lá, sou parte do que penso e também do que não penso, Lá, sou utopia, sou sonho, sou esperança, sou tudo e sou nada. Lá, sou puramente instinto...
Ah! Eu preciso de um sorriso de criança em todos os dialetos. Alguém pode conseguir?...
 
Minhas Saudades e Eu...

Sou Quem?...

 
Sou quem me elaborou, projetou, analisou, descreveu, interpretou, construiu... Acontece que sobrevivi, e entre a minha construção e um vácuo deixado pelos executores da obra, escapei e me fiz também. Hoje sou a dúvida de quase todas as certezas. Nego muito do que do que fui e do que sou, pois sei que vontades alheias aos meus desejos determinando quem eu seria me trouxeram mais dissabores do que sabores. Sendo assim, renuncio a minha autenticidade.
Tento dizer o indizível, me faltam palavras para expressar meus sentimentos, nesta hora me valho do meu olhar, mas quantos o entenderão? Não tem importância, o poeta avisou: “Quem não compreende um olhar, tampouco compreenderá uma longa explicação”.
Vazios existentes promovem um encontro comigo mesmo, e de forma revigorada eu continuo a minha luta em prol das vozes sem som. Faço festa com o desconforto dos saberes, e como meu sol tem sabor de lua, encontro reconforto nos alucinados.
Neste “bolicho” de proscratinações, me transformo na esperança do moribundo, converto desespero em alegrias, e fantasio-as como a leveza de uma embriaguez.
Manter a chama das ilusões é agigantar-se no ínfimo; é saber que os defeitos são autênticos, e os perfeitos são excêntricos; é manter a jovialidade sem a preocupação de ser jovem; é entender que ser belo é produzir belezas, que ser novo é construir novidades; e que para ser feliz, quase sempre requer ser o sim do não e enchê-lo de nada.
Andando por asfaltos de areia movediça, blefando comigo mesmo, ouço os gritos dos calados, que sem liberdade continuam sonhando em ser livres. Despertar os sentidos adormecidos e fazê-los desistir dos limites é uma forma empolgante de extrair o sabor do nada e abastecê-lo com magia e mistério.
A eficácia da mediocridade torna as almas descrentes e extravagantes, acolhendo quase sempre desilusões. Não quero isto para mim, o que eu quero é ser a birra da criança transgressora, exteriorizando sentimentos sem medo de desagradar ou não.
Sou tantos e sou nada, abrigo em mim à incompreensão do presente, mas quem sabe não metamorfosearei o futuro? Só não tente me entender, porque eu já sou outro...
 
Sou Quem?...

O senhor X.

 
Domingo de manhã, como é meu costume, fui à feira da Vila Operária. Ali as barracas dos feirantes são organizadas num agrupamento simpático, e mostram a beleza daquele espaço, que representa bem a diversidade de Rondonópolis. São vendidas hortaliças, frutas, sucos, cafés, temperos...E dentre tantas iguarias que são apreciadas, também se encontra, de forma especial, o pastel da feira. Porém, toda essa mistura de barulhos, comidas e calor mudaram o foco da minha atenção, permitindo que meu olhar ficasse a serviço do meu coração, e pude então perceber um homem que estava sentado no chão pedindo ajuda às pessoas que passavam. Era o senhor X. Notei que a sua esperança estava concentrada ouvindo os burburinhos recheados de vozes dilacerantes que se espalhavam na multidão. Percebi que ele via o que não sentia, e sentia o que não via. Seu olhar falava com cheiro de saudades. O olfato apurado ouvia as imagens coloridas de uma feira ainda em preto e branco...Observei que as expectativas do senhor X estavam órfãs de um progresso que não aconteceu...Vi seus murmúrios particulares se mostrando em um silêncio enigmático. Seus vazios promoviam a incompreensão dos sentidos, enquanto escarafunchava em seu monopólio de simplicidade o porque das coisas serem assim. Sem resposta ele continua a busca por uma lucidez que se perdeu nas frestas da vida.
Ele é o X...
 
O senhor X.

ZICO