Poemas, frases e mensagens de Oswaldo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Oswaldo

Terra de meu pai

 
Não li a legenda
Teu lugar, que é meu
Meu pai me deu
Porque aí nasceu
Nas terras de lendas
Da água escondida
De todo povo meu.
 
Terra de meu pai

Socorro

 
Chama
Mar
Socorro
Grito
N'água
Ecoando
No ar
 
Socorro

Soneto do Galo Branco

 
Soneto do Galo Branco

O Galo Branco cantou
O muro baixo desabou
Na Cidade o choro ecoou
Ao Galo Branco voltou

Avó o bebê abraçou
Mãe vaidosa admirou
Pai orgulhoso gabou
Deus crianças abençoou

O Galo Branco cantou
A menina rosada nasceu
O menininho nasceu

O Galo Branco cantou
Ao Porto com todos vou
Escrevendo aqui estou.
 
Soneto do Galo Branco

Luz azul

 
Luz azul

— Céu azul?
— Pelo Sol.
— Sol azul?
— Ar azul.
— Azul ar?
— Azul Sol
— Tudo Sol?
— Tudo azul.
 
Luz azul

Casa de pedra

 
Casa de pedra

Num ceu a tarde inflama
Uma ilha depois do canal
Um caranguejo sai da lama
Dum mangue marginal

Nas estradas de chão batido
Um ônibus velho sacoleja
Atrás os cachorros com latidos
As senhoras descem para a igreja

A garça elegante e branca voa
Os gambás sobem nas árvores
Os pescadores saem pra lagoa

Casas pequenas de grandes lavores
Homens valentes rudes ansiosos
Mulheres simples de muitos amores
 
Casa de pedra

Vem todos os ventos

 
Vem vindo
Bem vindo
Saindo, indo e vindo
Levando poeira rindo
Levando flores sorrindo
Ente as camisas a brisa
De Misora luxuriante
Passa Siroco pelo deserto
Atravessa o Atlântico
A Sul adentra Minuano
Tornado em Sudoeste
Sobrevoa as terras Catrina
Gira pelo mundo num céu fecundo
Numa terra varrida pequenina
Sempre doce amável forte
Feroz manso sibilante
Estridente valente levado
Desobediente...
No Norte, no Oriente
No Sul, no Ocidente
 
Vem todos os ventos

E o poema vai todo prosa

 
E o poema vai todo prosa.

Olhe
Leia
Veja
Observe
Leia tudo
Confie em tudo
Desconfie de tudo
Encante-se com tudo
Desencante-se com tudo
Contudo não se desespere
Escolha um tema interessante
Deixe o tema interessante escolher
Negocie com o tema como crescer belo
Alimente-o com palavras, sons, ritmos etc
Exercite-se e exercite o tema com bastante força
Trabalhe você. Trabalhe o tema. Trabalhem juntos
Aos poucos
O poema
Nascendo
Surgem imagens, ritmos e sons combinados de forma a criar a forma
O poema vai. O poema vem... Ele aprendeu a lembrar dos amigos
Lembra dos pais dos amigos. Lembra daqueles que são música.
Lembra dos que são hinos. Já podeis ver os leitores gentis
Já raiou a liberdade nas letras do papel. A Liberdade voa
E nós vamos navegando sem parar por esse mar que não é nada calmo e gentil. Pode ser do Brasil. Pode ser da Índia, Portugal... Pode ser cor de anil. Bravas lutam nele as palavras com o ajuda do ritmo e da rima. Ácida ou alcalina (isso é forma de se classificar?). O poeta é livre para se expressar. E navegar. Navegar é necessário (mude um pouco o caminho de outros. É assim mesmo). O poema caminha no papel, na tela, no bastidor ou nos bastidores antes de belo estrelar.

O mar ficou meio tumultuado durante a navegação dos meus dedos até o site.
Tentarei acalmar o mar.
 
E o poema vai todo prosa

Encoberto

 
Encoberto

Acobertas
Em cobertas
Além do sol
A dor

Cobertor e Coberta
Sobrepostos
Rasgado
Fino lençol
 
Encoberto

Lugar de mutuns

 
Lugar de mutuns

Mais de cinquenta casas
Aos marinhos de cinquenta
Casas pequenas iguais
Casarões mais de noventa

O vento varre o asfalto
Morro abaixo morro acima
Os pássaros voam ao alto
Nos vales ótimo clima

Do alto do morro
Pela ladeira desço
Pela planície corro

Como tinta negros anuns
Córregos pretos sinuosos
No passado, vários mutuns
 
Lugar de mutuns

Soneto de fim de tarde

 
Hora de descansar.
O céu vai desabar?
A tarde vai terminar.
O galo cantou?

A temperatura a baixar
O vento a soprar
À casa pra esquentar
O chá sobrou?

Ouço portas a fechar
Janelas por trancar
A cigarra cantou?

Diante da tela a teclar
As palavras não sei usar
Alguém o soneto aprovou?
 
Soneto de fim de tarde

Pedras no rio

 
Pedras no rio

O menino atira a primeira pedra
Como um grilo saltitante ela vai
Na flor d’água fazendo pérolas
No estouro vai formando corolas

A menina atira a primeira pedra
Como pequena garça mergulha
No leito d’água rompendo a tensão
As ondas em círculos de imaginação

Atira a segunda pedra o garoto
Como lasca, corta a lâmina
Em tapas rápidos na água
Efeito de disco explosivo de mina

Atira a segunda pedra a garota
Era de barro espatifada no atrito
Arrepios d’água bem chiada
Bolhas sobem em aplauso e grito

Atiram a terceira pedra jovens
Cruzando o ar mergulha
Estouro forte levanta as águas
À entrada na precisão de agulha

Jovens atiram a quarta pedra
Cai funda num mergulho
Perfeita sincronia de movimento
De avanço e recuo a fazer barulho

Maduros atiram a quinta pedra
Vôo belíssimo em plácido mergulhar
A sexta pedra sai rolando pela grama
Cai na margem num turvar

Velhos atiram a sétima pedra
Ecos sucessivos de memória
Felicidades eternas seguem o rio
No navegar pleno da História.
 
Pedras no rio

Um tributo ao reconhecimento

 
Um tributo ao reconhecimento

A gratidão é um sentimento
O reconhecimento é seu irmão
Palavras não vão no vento
Quando ditas de coração

O carinho é o transbordamento
Dos sentimentos em afeição
Novamente o vento com talento
Traz as novas de emoção

Não importa o espaço nem o momento
O tempo não importa nem a nação
Bons sentimentos afastam sofrimento

A beleza e a força um dia se vão
O exemplo e a memória são alento
O amor e amizade sim perdurarão
 
Um tributo ao reconhecimento

Conversa de amigo

 
Conversa de amigo

— Amigo, você precisa de um dia para eu lembrar de você?
— Amigo, preciso de muitos dias para lembrar de você!
— Amigo, quantos dias, então?
— Amigo, tantos dias quantos forem os seus.
— Amigo, não sei quantos dias terei.
— Amigo, terá todos os dias que quiser.
— Amigo, então tenho o dia de hoje para conversar com você.
— Amigo, hoje é seu dia.
— Amigo, hoje é seu dia.
— Hoje é nosso dia.
— Feliz dia, Amigo.
— Feliz dia, Amigo.
 
Conversa de amigo

Guache

 
Água tinta
Água e tinta
Aguada
Guache
De gauche?
 
Guache

Receita de farofa afrodisíaca

 
A negra chapada está cada vez mais quente no fogo. No azeite ardente, o alho cai socado, a cebola picada, o coco moído, as castanhas de caju trituradas e as do Pará raladas como o gengibre foi. Os amendoins despejam-se todos já torrados e pelados. As uvas caem passas pretas e os cravos vão por cima com a canela reduzida a pó.
Um frenesi de aromas fortes na guerra dos sabores. Há calor demais. Muito calor. Ardor.

Perfuma-se com mais azeite. Um pouco de molho de soja salpicado. Ruídos... A farinha de mandioca vem deitar por cima. Mexe... Mexe... Enfia-se a colher de pau e continua-se a mexer.

Os líquidos são liberados. Respira-se leve... Felicidade...

Deitada num leito arrumado vem agora receber mimos verdes de salsas e cebolinhas.

É só seguir a receita. Dá certo. Podem experimentar.
Bom apetite.
 
Receita de farofa afrodisíaca

Quadriculado

 
Quadriculado

Em quadrinhos do Brasil
A banda desenhada de Portugal
O mundo todo no papel
Olhe bem ali
Os monstros, os herois
De Literatura maluquinha
Gostam muito
Menina Mônica, menina Magali
Adulto também lê
Não é, Will?
De Hagar, a gula
Do oeste, Búfalo Bill.
As idades não importam
Média de Gil Vicente
Renascença de Camões
Filosofia do verde Horácio
Em cores, Charlie Brown.
Sou professor cheio de brincadeirinha
Não quero dar um nó em orelha de coelho
Sou meio maluquinho. Vôo, solto teia
E tramo planos infalíveis de Cebolinha.
 
Quadriculado

Preguiça

 
A preguiça é uma espécie de medo momentâneo de acontecer por excesso de resguardo.
 
Preguiça

Cobra grande

 
Cobra grande

A pequena casa branca
O silvo assustador
A porta sempre com tranca
O réptil causava pavor

No horizonte Paquetá
Dos nordestinos o gravatá?
Descendo pela ladeira
A serpente da bananeira

Da verdura da grama
As flores pequenas amarelas
Com as rastejantes em trama

Uma folha no tonel boia
Crianças pra dentro
E o olhar de uma jiboia
 
Cobra grande

Farofa afrodisíaca

 
FAROFA AFRODISÍACA

Era um almoço daqueles chamados junta panelas, onde amigos comparecem levando cada um sua contribuição gastronômica. A mim cabia sempre um prato surpresa de minha própria criação ou apresentação. Já compareci com salada de manga, repolho e queijo minas padrão. De outra vez, levei gelatina de abacaxi com hortelã e gengibre. Meus pratos eram concorridos. E não era o único. Havia quem usasse batata inglesa para dar consistência cremosa ao sorvete, serviam macarrão goela de pato recheado com queijo e ervas ao molho de tomates frescos, quiche de milho verde e outras iguarias. A escolha do que comer e a disputa pela aprovação dos comensais era uma verdadeira batalha cruel de mãos ágeis armadas de talheres.
Numa dessas edições, resolvi levar farofa. Fui para cozinha, que é meio laboratório ateliê templo, juntei os ingredientes. Tinha farinha de mandioca flocada, cebola, alho, ervas diversas, queijo curado e manteiga. Preparei a farofa. Tudo muito branco. Precisava duma cor e dum sabor mais fortes. Reservei o prato. E por que não criar uma poção mágica em pó? Foi o que fiz. A farinha era ainda a flocada, o alho, a cebola e as ervas permaneceram. Acresci ao refogado coco ralado, gengibre, amendoim, castanha de caju entre outros secretos que não revelarei. A farinha vinha por último amalgamando. O cheiro era tentador.
No almoço, anunciei a existência de duas farofas: uma branca simples e outra afrodisíaca cor de canela. Não imaginava que a brincadeira fosse levada tão a sério. A segunda foi devorada sofregamente enquanto a primeira sobrava sem ninguém dela se servir. As pessoas comiam felizes. Crianças corriam de um lado para outro. Muita gente ria e repetia as porções. Casais saíam para casa. Leques improvisados surgiam do nada. O almoço terminou rapidamente.
Atualmente resolvemos elaborar um cardápio prévio e menos inventivo. As criações estão mais controladas. Mas da farofa todos se lembram e imaginam os efeitos. O cruel disso é que não a faço mais. Quem provou aproveitou para dividir felicidades. Quem não provou não sabe o que perdeu e o que fez perder. A receita não digo. Cada um tem a sua.
 
Farofa afrodisíaca

Praça XV e Candelária

 
PRAÇA XV E CANDELÁRIA

Do terreiro do Paço Imperial
Vejo o Arco do Teles lateral
Primeiro de Março atrás
Do Carmo ao Carmo
Caiu o passadiço
Ordem Terceira ladeia
Beco e a Santa Cruz
Dos militares em serviço

A Rua do Comércio
Guarda preciosa
A Lapa dos Mercadores
Pela nave saindo
Ganhando rua fora
Escultura sem cores

Voltando-se à larga Avenida
Olhando o mar a Candelária
Por cima de canteiro carmim
Avista a Guanabara sem fim
 
Praça XV e Candelária

Gosto de arte e de viver com arte.