Poemas, frases e mensagens de Toze Ribeiro

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Toze Ribeiro

Aventura no Metro

 
O ritual repete-se diariamente, o mesmo trajecto, a mesma viagem, só mudam os odores. As caras também se repetem, quase sempre as mesmas. Raramente se vê alguém sorrir. As caras fechadas, impenetráveis, são uma constante a que já estou habituado, ou não fosse este um país de gente que se julga superior aos outros. Sigo viagem sentado à janela, lendo como habitualmente. As minhas companhias perfeitas são, o jornal diário, os meus livros e o mp4.
Reparo em duas senhoras, uma sentada ao meu lado e a outra em frente. Os odores à minha volta mudam de repente, uma mistura de peixe cru, fora de prazo, e suor de quinze dias pairam no ar. Falam do dia-a-dia em voz alta e fazendo gestos com os braços, com as mãos, pernas, cabeça e tudo o mais... como é típico em Portugal. Sou obrigado a ouvir mesmo não querendo, tal é o volume do som e da conversa. Ainda pensei pedir-lhes educadamente: " Por favor minhas senhoras, não se importam de baixar o volume? E já agora podiam evitar o gesticular dos braços? É que o odor que vos sai dos sovacos cola-se às minhas narinas. Ah…E por favor, fechem as pernas por causa das moscas! Muito agradecido". Mas não sou capaz. Fico calado a olhar para as guelras de um carapau amanhado pendurado no avental de uma das senhoras.
Olho lá para fora, não consigo concentrar-me no livro.
A conversa das Marias continua. Dizem mal de gente que não está presente, (mais uma nobre característica dos portugueses) , e assim tomo conhecimento da vida de mais de uma dúzia de pessoas, que moram no meu quarteirão.
- Sabias que a filha da Chica abortou?
- Meu Deus, não me digas!!!
- É verdade mulher, até eu fiquei parva!
"Pronto... Vai começar a discussão sobre o aborto, só me faltava esta", pensei. As moralistas continuam a acusar quem aborta, e blá blá blá…Nesse preciso momento, uma delas, olha-me de esguelha como se estivesse à espera de um comentário meu para poder cair–me em cima, de certeza, e não tardou:
- Desculpe, o senhor não acha mal que se aborte assim de qualquer maneira, só porque sim?
Respondo-lhe:
- Eu não acho nada minha senhora. Desde que não abortem para cima de mim, está tudo bem!
Faz-se um breve silêncio, olham uma para a outra. Felizmente a seguinte paragem é a minha. Peço licença, e saio apressado ao mesmo tempo que um sujeito, sentado num banco lateral, sorri e diz:
- Boa!
Sinceramente, acho que desta vez me livrei de "boa"!

(Toze Ribeiro)
 
Aventura no Metro

Todas as Noites...

 
- Todas as noites, à mesma hora, na mesma estação. Eu sentado na ponta do banco junto à paragem, e tu na outra ponta. Não nos conhecemos. Não nos falamos. Casualmente trocamos o olhar, um olhar muito breve, apenas para para nos certificarmos de que o outro está ali, sentado, na ponta do banco junto à paragem, à mesma hora de todas as noites. Dirás: “preciso de te saber ali” eu direi: “precisamos de nos saber ali”. Aguardamos o mesmo Metro. Procuras sempre a primeira carruagem, sentas-te na segunda fila do lado esquerdo junto à janela. Já reparaste que procuro sempre a primeira carruagem, e que me sento sempre na segunda fila do lado direito junto à janela ? Acredito que sim. Gosto de pensar que sim. Ambos os bancos sempre livres, como se estivessem reservados para nós, engraçado. Seguimos viagem. Sabias que de tanto te olhar aprendi o teu rosto ? Terás aprendido o meu ?
- A tua estação chega sempre mais cedo, eu prossigo mais 12 paragens até chegar ao meu destino, mas isso tu não sabes ! Sempre que sais deves ficar a pensar qual será a minha estação. Um dia se te deixares ir até ao fim da linha, ficarás a saber.
- Sentado na ponta do banco junto à paragem, à mesma hora de todas as noites, na mesma estação, e tu, há dez noites que não apareces, sim, são dez. Eu a procurar-te na outra ponta do banco, e a não te ver, eu à espera do (nosso) Metro, sozinho, eu a entrar na (nossa) primeira carruagem, a sentar-me no sítio de sempre, a olhar para o teu banco desocupado onde todas as noites aprendi um pouco do teu rosto, eu a olhar a estação em que sais sempre, e tu sem sair porque não estás, e eu a dizer-te sem que ouças (como sempre) “Até amanhã” e eu, mais 12 paragens.
- Amanhã e sempre, procurar-te-ei na ponta do banco junto à paragem, até que o Metro chegue...

Toze Ribeiro
 
Todas as Noites...

Tão pouco...

 
mas se tudo
é isto
então
é tão pouco
e o resto
que falta
nem chega
para se chamar
esperança
 
Tão pouco...

O Rochedo

 
Escuto e observo em silêncio...
As ondas que se quebram, mil vezes !

É admirável a paciência infinita do rochedo...

(Toze Ribeiro)
 
O Rochedo

Que importa ?

 
Que importa que faça sol ou não
Que importa que as horas passem
Que importa que eu acorde...sem ser a teu lado
Que importa se a chuva cai
Que importa se já não és minha
Que importa se já nada sinto
Que importa se já nem lágrimas tenho
Que importa que já não me ames
Que importa se sem forças fique
Que importa que a dor não passe
Que importa que a mágoa me mate
Que importa o que eu vivi ?
Que importa o que eu passei ?

Seguimos caminhos diferentes
levámos um pouco, um do outro
Sei que te importa... que eu esteja bem
Eu só me importo... de não te ter

(Toze Ribeiro)
 
Que importa ?

Sempre/Nada/Tudo/Mesmo

 
-----------Sempre...
------------------os mesmos rostos
---------------------------os mesmos nãos !
---------Sempre eu aqui
--------------------Sempre tu aí...
------------------------------nem sempre os mesmos ais
--os mesmos gestos
----------Sempre Tudo
---Sempre o mesmo Nada...
-----------------------------o mesmo dizer
----------------Sempre o mesmo sentir...
-------------------------------Passos que não meus,
----------sempre os mesmos
-----a pisar-me !
----------------------Sempre a mesma estrada
-----------------------------------o mesmo caminho...
----deixar------- pensar----------- seguir
ir ir ir...
-----------------Sempre os mesmos dias
----------------o mesmo ninguém
...sempre eu
-------------------------Parar...
-------------Gritar- -------------------Não
-----------Inventar uma partida
----------------------------...para regressar !
-----Ninguém sabe de nada , nada, nada...
-----------Sempre Nada...
-------------------------------Tudo...
------------------------------------Mesmo...

(Toze Ribeiro)
 
Sempre/Nada/Tudo/Mesmo

Perdemo-nos...

 
Porque é que eu não disse nada ?
Porque é que ela não disse nada ?
Porque é que não dissemos nada !?

(Perdemo-nos...sem nunca nos termos tido)

Toze Ribeiro
 
Perdemo-nos...

O Medo

 
Todos temos Medo.
Tudo nos mete Medo.
Crescemos e vivemos na sociedade do Medo.
Os políticos metem-nos Medo com as promessas.
Os patrões metem-nos Medo, com os despedimentos.
Os Amantes metem-nos Medo com as chantagens.
Temos Medo porque nos estranhamos a nós próprios.
Temos Medo porque estranhamos os outros.
Ter Medo é uma defesa inconsciente !
 
O Medo

Espero... (Sophia e eu)

 
"Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda."

(Sophia de Mello Breyner)

Haja o que houver...
eu espero por ti.
Mas volta depressa !
Os dias lá se vão...
Não sei contar os quantos,
que ainda hão-de vir.
E passam com eles,
os minutos em marcha lenta...
dolorosamente lenta.

Espero por ti

Espero de ti uma...
fantástica vinda !

(Toze Ribeiro)
 
Espero... (Sophia e eu)

Momento

 
A noite ainda não é noite
o dia já não é dia
do outro lado do horizonte
um repouso que se anuncia.

Retenho a memória viva
deste instante presente...
nesta suave melancolia
que já é passado...Nostalgia.

Toda a tranquilidade do Mundo...como fundo.

Gaivota sentinela
de vigília à água escura...
na serenidade do azul
um bailado singular
cheio de harmonia !

Um momento de vida, luz, e calma...

Estas nuvens, que me sobrevoam
são poemas aéreos...
sonhos que todos nós temos,
a ecoar na imensidão!

Amem o momento,
Silenciosamente...

(Toze Ribeiro)
 
Momento

Outro que vendeu a Alma...

 
Tenho uma história para vos contar, que tem muito de fantástica. Nesta história entra o Diabo, criatura odiada por todos vocês, mortais. Sempre dispostos a acreditar em Deus, e muito raramente no Diabo. Por isso se os senhores quiserem acreditem. Eu cá não tenho crenças nem certezas, nem fé. A crença e a fé, guardem-nas. Deixo que as certezas fiquem com os antropologistas, sociólogos, psicólogos e psicanalistas, etnólogos, políticos e outros tolos...

- Certa manhã estava eu a pensar na minha vida. Um aborrecimento mortal. Um tédio imenso. Diante do espectáculo do mundo, eu não reagia. Sentia-me vazio. A morte não me servia e a vida não me agradava. Queria outra vida, pensei então no Diabo.

- Nisto bateram-me à porta - Abri.
- Quem era ?
- O Diabo.
- Entrou sem cerimónia, deu umas voltas pela sala, sentou-se e perguntou: "Que queres de mim ?"

Toze Ribeiro
 
Outro que vendeu a Alma...

Menina de farrapos vestida !

 
Lá vai a menina
de farrapos vestida
sozinha num beco
descalça e perdida

sobre pedras e vidros
caminha... a chorar
a pobre menina
só quer a fome matar

cansada e dorida
procura um cantinho
sem forças prá vida
só pensa num ninho

não entende o abandono
não conhece a palavra mãe
só quer que o sono
a leve para o Além !

agora sim !
acordou num outro mundo de ilusão
que ela sempre tinha imaginado
assim se deixou ficar presa ao sonho
a tentar descobrir , como seria ...
se algum dia tivesse sentido paixão
ou sentir-se um ser amado
mas continua sem perceber a palavra Mãe !
aos soluços lá está ...
a menina de farrapos vestida!

só ela sabe o medo de acordar amanhã...

(Toze Ribeiro)
 
Menina de farrapos vestida !

Almas...

 
Dizem que normal, o natural, é ouvir gente viva. Eu considero que o normal e natural, é ouvir gente viva e Almas mortas. As Almas mortas são mais sossegadas, falam mais devagar. Falam suavemente. Não levantam a voz, não viram as costas quando não são ouvidas e raramente se zangam. Só quando levadas ao extremo, e esse extremo quase não existe, aliás, não existe mesmo! Por isso são Almas maiores. Almas pequenas são as nossas, as dos vivos. Regra geral ninguém liga aos mortos. Mas eles também se sentem sozinhos, também têm sentimentos como todas as pessoas. Mas ninguém repara neles ou lhes presta atenção. E é para chamar a atenção que começam a habitar as casas e a mexer nas coisas durante a noite.

Não é para assustar, mas sim para que lhes prestem atenção, para que os ouçam. Não querem meter medo, apenas querem companhia. Tenho umas quantas Almas mortas a viver cá em casa. Só me irrito quando me escondem as chaves ou o comando da Tv, ou então quando começam com cantorias. Ao princípio atravessavam paredes e assustavam o papagaio, mas como nunca lhes dei grande importância deixaram de fazer isso. Querem, a todo o momento, a minha atenção. Habituei-os mal, julgam que tenho a vida deles. Três deles conheço-os porque fizeram parte da minha vida enquanto vivos, os outros foram chegando sem serem convidados.(Só podem ter sido convidados pelo Zé Pedro, já em vida aparecia lá em casa com gente que eu não conhecia de lado algum, e sem terem sido convidados. Enfim... Sempre que convidava o Zé P. tinha que contar com mais cinco ou seis pessoas) .

Como são boas Almas, não me incomodo, mas também convém não os incomodar, por isso uso apenas o candeeiro com a luz regulada no mínimo, para não tropeçar na sala, as Almas não gostam de muita luz. Sei, que se a Alma passar muito tempo na eternidade, triste, na solidão, constantemente ignorada, quando só o que quer é ser ouvida, ou que lhe resolvam um qualquer assunto inacabado, acaba, mais tarde ou mais cedo, por se tornar mal-humorada, e nessa altura, o melhor é sair-lhe da frente, melhor ainda é sair mesmo de lá para fora!, não vá alguma coisa cair-nos em cima da cabeça. Alguns são pura e simplesmente maus, mas não tanto como os vivos. Ouço gente viva, mas sobretudo Almas mortas...

Toze Ribeiro
 
Almas...

Sou como esta rua deserta

 
Gosto de ruas desertas
de as percorrer na madrugada
de olhar para o cimo dos prédios
e de, descobrir, o que nunca ninguém vê !
Gosto das noites de Inverno
e de ter por companhia, a chuva
agrada-me, a melodia que ela deixa !
Não gosto de multidões,
gosto apenas da alegria estampada,
nos rostos que por mim passam
Gosto de sorrir com as brincadeiras das crianças !
Gosto de gostar de pessoas,
Não gosto, de não ter tempo para ninguém !
Gosto da minha solidão,
a minha melhor companhia
Gosto de coisas banais.
Da vida, nada espero,
a não ser a morte !
Não tenho projectos,
E muito menos sonhos.
Sou como esta rua deserta,
sim...como esta rua deserta.
estou aqui...apenas !

(Toze Ribeiro)
 
Sou como esta rua deserta

Dúvidas quem as não tem !

 
Se a Morte não tivesse sido inventada, nunca teríamos nascido ?

Poderá alguém não saber nenhum segredo da vida, e viver ?

Quase tudo na nossa vida depende, da vontade dos nossos ossos ?

O nosso mundo interior é tão vasto como o mundo exterior ?

(Toze Ribeiro)
 
Dúvidas quem as não tem !

Um dia quero partir nas tuas asas...

 
Um dia quero partir nas tuas asas

Voltas todas as noites
desfilas vestida de anjo
sigo-te os passos que julgo ver
o trajecto de sempre
o nosso jardim
a sala
o quarto...
paras no nosso retrato...
e voltas a partir,
mas já não te sigo,
preferes assim.

Amanhã espero-te
a porta fica encostada
como sempre...
o jardim
a sala
o quarto
o nosso retrato,
voltas a partir
e eu não te sigo...

Um dia quero partir nas tuas asas

Toze Ribeiro
 
Um dia quero partir nas tuas asas...

Lutarei até te encontrar !

 
Deixa que seja eu, o teu mais querido...
quero resgatar... e levar-te ,
desse teu repouso, que julgas ser eterno,
onde vives apenas da ilusão
ilusão essa que te fez prisioneira,
onde gritas , sem ser ouvida...
onde te dói a alma,
onde já não sentes o sangue,
nessa pele rasgada, pelo ódio !
deixa-me sofrer o teu lamento
não te escondas mais !
quero te poder encontrar,
para que vivas o sonho em mim !
e assim sejas feliz !

Lutarei até te encontrar !

Chegarei a tempo !...
nem que batalhe contra ventos...
nem que a terra desabe á minha volta ,
lutarei em todas as frentes...
derramarei o sangue dos infiéis,
que um dia te abandonaram !
serei furacão nas lutas,
serei tormenta das marés...

Lutarei até te encontrar !

Sinto a sombra nos céus, dessas aves ,
que procuram os teus destroços !
gaivotas que se tornam abutres
que agora te rondam, com a sede da fome,
sinto-me já perto...
chegarei a tempo !...

Lutarei até te encontrar !

tentarei encontrar-te...por mil caminhos,
até que amanheça, seguirei o teu rasto,
seguirei sozinho !
por sítios que já foram nossos,
mesmo que o tempo pare...
mesmo que a morte chame...
ou que vida me tire os sentidos
tentarei !
mesmo sem o teu rasto...
tentarei !
Só quero lá chegar, e partir contigo

Lutarei até te encontrar !

Toze Ribeiro
 
Lutarei até te encontrar !

É assim:

 
Na verdade, a velhice toma conta de ti, vais perdendo o romantismo para ganhar no reumatismo. É mais ao menos isso!
 
É assim:

Filosofando com os meus botões

 
Penso que todas as pessoas têm um número de princípios orientadores que constituem a sua filosofia de vida. No meu caso são 10 os princípios (até hoje...) . Deve haver quem tenha mais e quem tenha menos, ou quem apenas não tenha, por isso, limitando-se a seguir os principíos dos outros, o que naturalmente acho ser o maior dos erros. Poderia aqui deixar alguns dos meus princípios, mas não o farei porque simplesmente, só servem literalmente para mim por mais profundos ou contraditórios que sejam. Cada um terá de encontrar os seus próprios princípios, sem a ajuda de ninguém...sózinhos.

(Toze Ribeiro)
 
Filosofando com os meus botões

O Olhar dos teus Olhos

 
Esse olhar fala-me de viagens
De lugares distantes
De vidas imaginárias
De caminhos esquecidos
De Ilhas criadas !

São lugares
Onde voltas sempre...
(porque se volta sempre)

Olhar largo, límpido
Sereno e brando
Olhar-Riso

Fecho os meus... e busco os teus!
(estou agora dentro dos teus olhos...)

(Toze Ribeiro)
 
O Olhar dos teus Olhos