Poemas, frases e mensagens de Alter

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Alter

Por onde fui

 
Já fui por onde tudo me dizia quem tu eras, onde a paisagem era toda nos teus olhos e a verdade era não mais que o teu sorriso. Por lá andou o meu corpo a levar a minha alma aonde eras todas as minhas sensações. Passeei nas ruas das tuas mãos, nas praças do teu abraço, nos miradouros dos teus lábios. Ouvimos juntos a cidade suspirar por haver noite, por ser inteiro o céu no silêncio da tua voz. Não sou já quem por lá foi, pelo teu interior em busca paz para o meu. Alterou-se a paisagem aos meus olhos, a verdade já não sorri. Agora é a alma que carrega o corpo pelas ruas, pelas praças, pelos miradouros de onde apenas se vê cidade e noite, carregada ainda de sensações, mas tocadas de memórias de mãos, de abraços, de lábios que já não consigo tocar. O céu inteiro é o silêncio da tua voz.
 
Por onde fui

voz-me

 
Queria mais que uma presença ao largo, mais que uma mão dada às horas de sono e preguiça. Mantens-te aqui tão perto, na distância das palavras que não me dizes, que não calas por um segundo a quem te ouviu mais fundo do que o que eu alguma vez transpareci. E tento ouvir, tento que me digas, tento dizer querer-te mais perto que sentares-te ao meu lado. Parece que o que ouves é um intervalo, uma pausa no que dizes mas não me dizes, um entretanto não falar a quem te espera e logo volta a ter a tua voz. Quero vozes a entrar em mim, vozes de ti no meu ouvir, palavras que disfarcem de acordado este meu dia de sono e preguiça.
 
voz-me

dói-me

 
Dói-me ter que me transformar para conseguir dizer-te que as horas contigo se passam mais por trás dos olhos que nos teus olhos, como ver-te à janela e ela estar fechada e tão isolada que ver-te mexer os lábios é lembrar-me do que não ouço dizeres-me. Dói-me este processo de me alterar à tua frente sem que o vejas, sem que eu queira que notes, para conseguir dizer-te o que não ouves por ser não quereres acreditar. Queria tanto que me ouvisses, mostrar-me e assim mudado permanecer como sempre fui aos teus olhos, mas deste lado da janela, onde te pudesse ouvir e a tua voz não mais escondesse o que por trás dos olhos silencias.
 
dói-me

falar-te

 
Este outro consegue dizer mais, por ver a todo o comprimento o que não fui. Tu acordas, sentas e falas. Assim te vejo a olhar para o lado, para onde não estou, onde queria ser eu a saber-te ler nos lábios o que por trás dos olhos raramente vejo. Agora sou parado, de vez em quando uma pausa, uma espera que chegues e me atravesses em vez de estares e sorrires e nem saber porquê. O que não fui não to dizia, o que sou não o ouves. Mas a todo o comprimento to digo para que a tua ausência se disfarce enquanto estás à minha beira.
 
falar-te

sincera(mente)

 
Sinceramente,

Não é por não seres sincero comigo que to digo, por me mentires, por te esconderes, mas por te mentires a ti mesmo. Porque durante esses momentos, tens a mente num estado que não é teu, deixas de ser tu próprio, afastas-te de ti, e por isso não te estás a esconder, estás apenas a mostrar o que não és. É por querer estar contigo que to digo, e não com um avatar que se parece contigo, feito de propósito para te representar quando não queres estar comigo, fazendo-me crer que estás. Eu talvez preferisse não reparar, mas reparando prefiro que o saibas.
 
sincera(mente)

cortinas

 
Ali estava ela, a fechar as cortinas para que não entrasse mais luz que aquela que ela queria que ele visse. O som de um dedo a desviar o cabelo demonstrava nitidamente o que nunca disse, que luz a mais a faziam sentir nua. O olhar subido com o queixo descido era o sinal de se esconder na inocência. No entanto, a sensação de tudo estar à mostra quando nem a si se via direito era o que mais fomentava nele. Porque as casas são por fora a forma como nos sentimos lá dentro.
 
cortinas

degrau invisível

 
Moras no andar em baixo do meu, aqui tão perto, à distância de um degrau que só se vê cá de cima. Porque para ti estou ao teu lado, e abraçar-te é colorir-te a paisagem de sois a nascer. Mas como eu vejo as coisas, em cima de mim mora a solidão e eu estou tão perto dela. Porque no teu abraço todas as estrelas se poêm e eu fico sozinho com a noite.
 
degrau invisível

não é que os abraços

 
Não é que os abraços fossem só abrir os braços sem que os peitos se encostassem, mas o cheiro dos cabelos na zona do pescoço não saía da cabeça. E toda a gente sabe do acesso privilegiado às memórias que os abraços têm ao entrar pelo nariz. Quando os abraços acabam são os olhos que se tocam antes das costas ficarem frente-a-frente. Então o que fica é um pedaço do peito a pesar na cabeça. Não é que o peito deixe de ficar de braços abertos quando está de costas mas toda a gente sabe que a cabeça pesa mais por causa das memórias que o peito guarda.
 
não é que os abraços

ver-te

 
Tinha dúvidas se te chegava, se te era bem da forma como vias quem te conseguia ver, compreender, saber quem és. Eu próprio não sabia se te via quando te encontrava, nas horas de te ouvir falar de ti, olhar de frente e dizeres que me amavas. Era sempre mais que me parecia desejares-me, mais de mim, mais como quem te sabe o peso do coração na mão, da emoção na voz, do mar em cada lágrima. Este outro que hoje sou nestas palavras talvez te veja como queres, pendente entre a dor e a dor adormecida. Este outro que te escreve adorna-te de ti, enfeita o que te diz de te sentir. E ainda assim ficas além, também em mim, como o que de mim ainda não sei.
 
ver-te

Consoante

 
Muitos vestígios no lembrar,
Fortes evidências do adormecido…

Estive a lembrar a nossa primeira divagação acerca do que interliga o inseparável, e a meta da comunicação nunca saiu do abismo. Mas houve já a sensação de que ela foi atingida. Acompanha-te a minha sensação de que não te percebia a maior parte das vezes, e ao contrário, mas na mesma que era íntimo o que de nós falamos.

Consoante

As atitudes, num e noutro sentido, podem ter razões incompatíveis ao mesmo tempo, pelo menos enquanto encobertas, e a perspectiva nunca me deixa em paz.
Tanto as tuas eram difusas, como as minhas tentavam responder às tuas e não ao que pensava delas.
Pode ser que seja sempre assim, com mais ou menos claridade. Não quero julgar, Só constatar.
Mas isto adiava as respostas, ou as que provavelmente preferia.
As que se sobrepunham eram fruto dum árduo esforço de criação comunicativa, se é que (não) me entendes..
Aquilo a que chamava romantismo era tocado também por este tipo de fruto.
Era uma mistura de ficar com ir com chegar. Era o querer isso tudo ao mesmo tempo.
E no passado ser é igual a ir. Como ser a transmissão, a ligação o ser.
 
Consoante

esconder-me de quem me quer ver, mostrar-me a quem não me vê.