Poemas, frases e mensagens de Histeroneurastenia

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Histeroneurastenia

«Cheiras a incenso!»

 
Dizes: - “cheiras a incenso!”
E eu digo-te que a tua voz exala o odor quente da morfina.
E bebo dos teus lábios esse eterno demónio do fingimento,
que me leva para o oriente do teu corpo no meu corpo.

A noite traz até ao nosso abismo
a fragrância da volúpia que adivinho das tuas mãos.
Inspiro-a, golfada após golfada e digo: - “cheiras a morfina!”

E o incenso do meu corpo estala em sulcos que
percorres com o mármore dos teus lábios.
Estremeço; mas agarras a minha garganta
e transbordas em mim a lava da tua malícia de que bebo avidamente.

Estou impregnada do veneno da tua essência;
e num abraço violento rasgo em ti a alma
para que possa cobrir-nos com ela.

Mas o efeito da morfina já escasseia
e o palco da nossa lascívia evapora-se
e quando dou por mim, nunca lá estiveste.
Mas nas paredes do meu quarto a tua voz ressoa, dizendo: - “Cheiras a incenso!”

6/06/2009

Ana Limão Ferreira

PS: Um especial agradecimento ao Caopoeta que me ajudou a dar à luz estas palavras.
 
«Cheiras a incenso!»

Sou louca

 
Sou louca
 
Sou louca por amar esta loucura
De quem diz que me ama
Louca por desejar ternura
Nos braços de quem não sonha

Sou louca, apenas louca e insana
Por sentir quem não posso tocar
E não desejar quem me ama
E acorda comigo ao acordar

in "Resquícios de um conto inacabado", de Ana Limão Ferreira, Edium Editora, 2008
 
Sou louca

Memórias de império impotente

 
Memórias de império impotente
 
"(...) Sinto-me uma história incompleta de onde arrancaram três anos de enredo. Sinto-me uma personagem dilacerada pela indiferença de um narrador louco. Não tenho para que lugar ir. A história estagnou na partida que assisti desta janela. Quem a escrevia adormeceu para a morte e eu vou permanecer aqui à espera que alguém retome o caminho para um final qualquer. Imagino como ele seria... uma tragédia de um suicídio perturbado numa noite vazia ou um final feliz com um sol sorridente. Dois opostos sinceros, duas vertentes que choraria. Mas hoje não está ninguém aqui para assistir. Poderia encenar verdadeiramente todo um drama de flagelos e loucuras que ninguém o iria presenciar. Poderia de igual forma encenar uma felicidade perfeita e sorridente que não iria ter com quem a partilhar. Porque sou uma personagem numa janela indiferente à vida. Porque sou um formigar de consciência vazia num tormento de multidões, onde a dor é um milésimo de segundo no olhar de cada ser humano."

Excerto de um dos textos do livro "Resquícios de um conto inacabado", de Ana Limão Ferreira, Edium Editora, 2008
 
Memórias de império impotente