CONFUSÃO
Sigo o arvoredo denso
desta íngreme floresta,
de repente paro e penso:
É só isto que me resta ?
Estarei eu sozinho
neste perigoso caminho?
Serei eu, meu único adversário?
Já tanta escolha feita,
agora,
esquerda ou direita ?
Houve uma voz que minhas dúvidas,
para esta, pareciam fáceis.
Pegou em minhas lamúrias
e transformou-as em projecteis
até ao outro lado da escuridão.
Admito,
estou confuso
mas apertam-me a mão,
há tanto tempo que não uso
palavras de amor em vão.
Podemos dizer:
Vamos ser felizes os dois
e que a morte nos leve depois.
FADOS TODOS TEMOS
Esperas que a vida não te atormente
e segues muito imprudente
direcção: esse futuro eloquente
sem olhar para a frente.
É cíclico, algo que já é hábito,
furar pelo mato é o mais prático,
mas eu admiro quem não fica estático.
Petrificado ou adormecido,
já não me lembro de ter vivido,
se não, indicava-te o sentido
na voz de quem tenha morrido.
Ter dúvidas é normal,
parar de pensar é que não,
o meu caminho foi fatal,
vê se chegas ao fim do teu são.
Fui por caminhos usados já outrora violados,
esperei pela coragem mas a preguiça é mais rápida,
agora olho para os estragos, relembrados,
daquela vida parada e flácida.
Futuro.
Preocupo-me com o teu,
como um pastor com o seu gado,
mas aguentei o meu,
agora aguenta tu o teu fado.
SONHO COMUM
Vais dormindo,
esse teu sonho esquelético,
que te sussurra
palavras sem valor fonético,
que te penetram
como volts num circuito eléctrico.
Manténs a luta interna
agindo sem pensar:
sonhas com a morte,
com uma mão terna,
dás por ti numa corte,
onde é que isto vai acabar ?
Digo-te...
Ninguém sonha sempre até ficar contente.
És mais um que sonhou demasiado
é normal, ficas-te entusiasmado.
Choraste e ris-te
com o que vis-te.
Acordas estremunhado
mais um sonho,
um presente errado.
Soltas um suspiro desafinado
fruto do teu ego agora irritado,
olhas para trás revoltado
e viras-te para o outro lado.
Depois de tudo o que te disse
Vais voltar a dormir, a sonhar?
Se pelo menos alguém te despisse
esse teu mau bamboliar
de sonho para sonho.
És só mais um...
Que sonhou demasiado...
É comum...
Ficas-te entusiasmado.
M.A.P.A.
Poupem-me os poemas de amor,
esses versos que vos mastigam.
Poupem-me tamanha dor
em que vós próprios instigam.
Todos têm o seu momento
para sofrer o entendimento
da estranha forma de sentir
que é negar o sentimento.
Não são mais palavras
de reflexão que levam à razão,
são só mais contas
num problema à procura de solução.
Por isso poupem-me o desgosto
nas lágrimas do vosso rosto.
Culpem-me de não mentir
mas o amor é um monstro.
Poupem-me o vosso espanto,
voltem a amar sem sentido,
se do amor restar outro tanto
é por amor não ter sido.
JARDIM DE PEDRA
Mais uma cruz neste jardim de pedra,
choro sem fim, tristeza sem regra.
Mais um corpo aprisionado
junto a outro lado-a-lado.
Mais um com destino traçado,
ser só mais um acabado.
Viveu,
mas é aqui que mora, no jardim,
é diferente do que vejo agora,
está a olhar para mim
com a língua de fora.
encubados em filinha
todas estas caras,
mais feias do que a minha.
mas são outras as preocupações
que tenho para este pequeno:
quero que tenha algumas noções
e que viva a sua vida em pleno.
Pensava agora em teus passos,
caminho de sucessos e fracassos,
os teus objectivos sem meta,
corrida para uma felicidade da treta.
Farás todos os recados,
como se fosses um criado
num futuro viciado,
para no fim
seres só mais um falhado,
no jardim
com os outros deitado,
iguais a ti e a mim,
todos lado-a-lado.