Poemas, frases e mensagens de Manito

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Manito

Vozes do silencio

 
Da manhã do tempo ouço seu clamor,
Vozes do silencio de mim desgarradas.
Ávidos lamentos do não amado amor
Escondido nos cúmulos das incertezas
Amordaçadas.

Eco longínquo de vozes sem vida
Dos rascunhos de sonhos de amores não tidos
De verbetes não lidos da estrofe perdida
Nos mananciais de princípios e dogmas
Poluídos.

Reclama das horas sepultadas em devaneios
Por não amar com o amar que o amor quis,
Quando quis do amor subjugar os anseios
Enxertados com espectrais e renitentes receios
Desde a raiz.

Róseo fulgor não havido que haveria de ser,
Nesta negra e poeirenta mina de hulha,
Ora resta lutuoso brilho do anoitecer,
Sob o olhar vago e profundo da ave penitente
Que infeliz arrulha.
 
Vozes do silencio

Quadras finais

 
O verbo em mim se esvai isso é verdade,
Desfalecido na fuligem do meu peito.
Engano ter-me crido um alvo eleito,
Sirênico sonho, ser do estro a raridade

Lança aguda – fere e fende a sanidade –
A vaidade, sutil madrinha do imperfeito,
Risonha e fácil insinuou-se em meu leito,
Vestal profana, por progênie a veleidade.

Esvai-se o vento e sem rumo meu adejo
Esvoaça ao sol, adentra a noite, ao relento,
E as certezas, a segurança e até o talento,
Já distantes, apagam os rastros de sobejo.

O silencio que me veste o verbo inteiro,
Vem sem rosto, vem sem vulto e sem matiz.
Do fracasso é talho vivo e é cicatriz
È a tristeza a libertar-me em seu viveiro

Pra que da liberdade agora ser posseiro?
Pra que asas quero longas sem ter céu?
Silencia-se bufa ópera ao meu te-déum;
Secam-se me as folhas, reaparece o canteiro!
 
Quadras finais

Quase oração

 
Mandei meu coração pousar na lua;
Com ele meu olhar para aos anjos procurar.
Ou quiçá ventura maior ao meu olhar debrua
E tua face meu Deus venha-me o céu iluminar.

Por muito que daqui da terra O busque,
São tantas penumbras e luzes de difuso aspecto
- Até do solar espectro - que talvez me ofusque,
Tornando-se embuste ao desatento intelecto.

Se em vão da lua espero por Tua face amiga,
Dela não me despeço sem Te admirar, presente,
Seja no intenso brilho da supernova mais antiga,
Seja no azul utópico da Terra em que vivo gente.

Mandei meu coração pousar na lua.
Com ele meu ouvido pra no silencio escutar,
Pois na terra dos risos e dos cânticos o ressoar atua
Na ara de tantos deuses e já não Te ouço me chamar.
 
Quase oração

Minha janela

 
Abro a janela, a do meu quarto...
Ninguém a espera
Não diviso, do dia que finda, a quimera,
Nem da lua o parto.

Encontro-me aqui, atônito...
Aparvalhado com a rudeza da hora
Dos pardais o gargalhar irônico
Do reluzir do céu a demora...

Porque abro-te então, crepúsculo, a janela?
Já, os sonhos, te arranquei na aurora...
Em teu anúncio frígida cela...
Porque atrais meu olhar agora?

Não me dizes, nem o sei...
Se a esperar não há ninguém, pois,
Quiçá seja a espera dos amores que não amei,
O reencontro do que ficou pra depois...

Muitos os charques que ao sol deixei!
Tantos foram os grãos que colhi...
Revisando, porém, o que plantei,
A mirar-me em seu vão,
Alentada janela...
...não é em vão estar aqui!
 
Minha janela

Luz da inspiração!

 
A Lua bordando o poente em prata
Cor dos sonhos que sonho em vão
Desperta os pardais, desperta a mata
Pós noites frias de cálido verão

Sua ausência derrama-se em cascata
Num vale incerto nominado solidão
E nesse coração que não é de lata
Dilata a mesma voz sem compaixão:

Saudade... Saudade... Saudade...
Persistente não cala, não fala, só mata
No regaço vazio, prístina verdade,
Voz do passado que ao presente arrebata

Nem mais identificar-te posso,
Como ao rumor de finda calmaria
Troa longínquo tudo o que foi nosso
Apagam-se me os sorrisos da fronte fria.

Descubro-me nada, alma vazia
Ausência do que tenho e do que falta
Identidade lá se vai mais que tardia
Procuro-te, oculta estrela, em noite alta.

Declina o sol e não te vais, te avivas;
Aviva-te banhada de lua, bela e nua
Nas lembranças que te são cativas
Herdade da poesia sempre sua
 
Luz da inspiração!

Como o sol

 
Como o sol que irradia sem aviso
e se avisa cabe à noite interpretar,
sem aviso a luz brotou no imenso mar
entremeando criaturas, fluidez e furor
e o céu, sem concordar nem se opor,
intérprete fez-se do amor de amar preciso.

Ao marear de sensos ao longe mergulhados,
emergem pérolas ao acaso, bordado de estrelas,
e luzem na emoção de quem da terra pode vê-las
aos clarins e harpas, as trombetas e toda banda!
Sob as rochas, se houver, restará nota nefanda
do passado que não passa e é do agora nó atado.

Regenerados sonhos, imperiosa realidade!
Semente germinada ao sol e ao sabor do sal
do mar de incomum beleza que descura todo mal
n’alvura de sua espuma que a garça expõe altiva,
silente, no altar da laje, como a doar-se cativa
no mosaico recomposto do manto azul da verdade.

Como o sol que irradia sem aviso
Sem aviso, daquele mar, emerge a luz da unidade.
 
Como o sol

Rosa de pano

 
Lá está, beleza postiça,
Até provoca cobiça,
Artificial rosa de pano.
Nunca foi pequena,
Sua tez não amorena,
Seu rubor é puro engano.

Mantém o porte da flor,
Tem até a sua cor,
Porém seu perfume jamais.
Nunca se viu botão,
Espera os beijos em vão,
Dos colibris nos quintais.

Mirra-te a pele? Aceita.
Toma a via estreita,
De uma vida menos ditosa.
Exigir forma perfeita?
Se flor de pano enfeita,
Dela nunca brotará outra rosa.
 
Rosa de pano

Paz

 
Ouvir-te o pairar não posso
Nem mesmo com o olhar te alcanço
Reconheço-te o aroma de ostra fresca e inerme
Degustar-te o fino sabor?... Nem me lanço!
Sinto-te, não minto, sem captar-te a epiderme.

Temperas-me o percurso ensolarado
Aos aposentos sombrios adornas as ribadas
Anestesias-me, das batalhas, as sangradas
Teu pisar manso, salvado ao marolear das ondas,
Atenua da trupe os cascos e os clarins das rondas

Não te enxergo a face, não te ouço,
Não te espiro nem degusto-te o gosto
Mas me extasia a ausência do teu murmurinho,
Encanta-me o balançar mansinho,
Da traineira, em teus braços, mirando-te o rosto.

Quando estás, pesca, indolente, a gaivota,
Espreguiçando-se, o entardecer beija o crepúsculo,
Da densa noite só o estrelado se nota.
Em teu alvo manto, onde não vige derrota,
Se o poder não o amarrota, o penar faz-se minúsculo.

Porém, se presente não te encorpas,
Arquivas em reminiscências o de cor... Paz ausente.
Daí, tua falta te põe em alta e saltas às retinas...
Das tropas em marcha, o aulido ouço-te, plangente...
Ao desabrido das atitudes vais-te... declinas...

Vais-te e faz-se o ranger dos gonzos, dos ferros!
Envenenam-te, do ódio, da inveja e da vingança, as toxinas...
Aos quadrantes ouço-te os soluços e os berros.
Então, devoro-te o amargor da ausência,
Vislumbro-te no sol que já não iluminas.

Reconheço-te perdida, ferida... pura carência!
Recomeço a sonhar... novo raiar do peito arranco!
E então, refugiado no Amor, na “sua” essência
Sonho-te colorindo-me o breu com pétalas pequeninas
De azul, de luz e de branco... De branco do mais branco!
 
Paz

Dissidentes ...

 
Aglutinando a paz e as gentes,
Andar célere e olhar atento,
Passa o mundo róseo e calado,
Fitando sob o céu ardente
Dissidentes passando ao lado.
Gentes que olvidaram a canção,
Que esqueceram o tom da poesia,
Tartufos de almas vazias
Mergulhados no ermo da urgia,
D’avareza e do pisar apressado,
Sem passado brotado do chão
Ou planado no ar da alegria.
Marchando sobre nuvens e lombra
Gentes agentes da sombra
Que assombra o verde cerrado
Com serras e a lei do machado,
Que mancham as marchas dos rios.
Gentes em castelos vazios
Lestas e austeros em vão,
Vão ávidos, segundo a segundo
E alheios, à margem do mundo,
Não o veem passar sem ruídos
Disposto a ofertar em penhor
Até ao sátiro agenciador de gemidos
Seu rosto azul “manchado” de amor.
 
Dissidentes ...

O nada que me cerca

 
O “nada” que me cerca e não tem fim
Sustenta enfim ativo meus sentidos;
atrai-me, inexorável, ao limiar do infinito
e confirma, da razão que me aprisiona,
a verdade que “sou” pra ele e ele pra mim.

Do que vejo existe pois o olhar;
Do que cheiro só o cheirar existe...
Assim com o tato, paladar e audição.
Nada possuo, e é verdade que não resiste;
- a vida vivida no corpo é como ilusão.

Aqui onde todo me encontro ser,
ser sou se sou do olhar um ser cativo,
se a imagem que me vê pra me conter
inclui-me impresso nas retinas d’um amigo,
Confirmando-me na ilusão que é viver.
 
O nada que me cerca

Corre Coração

 
Corre no pensamento coração, corre...
Corre neste entardecer sem brilho, e exaustivo,
Arranca-me o fôlego que te manterá vivo,
Oculta-te na dor da escuridão que morre!

Avança sem tropeços no passado,
Sem descanso na guarita da saudade,
Sem guarida ao torpor que o peito invade...
Corre, não te permita entregar-me derrotado.

Incontentado, saberei manter-te o impulso
Quando o percurso do vigor dos meus desejos,
Em devaneios doridos por reprimidos beijos,
Morrer-me na esperança, e de ti ver o amor expulso.

Corre então em meu lamento coração, corre...
 
Corre Coração

versos e Versos

 
Versos e Versos

La adiante, além cúmulos e montes,
Extraviado na linha turva da exceção,
Vêm-se, fixando o olhar no horizonte
Intuitivo e permeável da razão,
Com sentidos em debandada,
Os versos derreados, feridos,
Da razão própria baldarem perdidos.

Célere o esmeril da popular idade
Em limalha inservível os destina,
Cridos ébrios resolutos, à iniquidade
Da imane abjeção e chacina
No roto senso de gírias desgastadas,
E as palavras ao pó sem brilho atiradas
Rasuras fixas em páginas de ruínas.

Heroicas páginas inquiridas, reticencia
Entre o branco das poéticas emoções,
A inundação digital da ineloquência,
E as rasas e chulas interposições
Da verve das esquinas do moderno,
Que, sem culpa, sem honra ou galhardete
Nos anais montam guardas de enfeite.

La, porém, além-túmulos e fontes,
Ainda além da linha turva da exceção,
Em porfia, contumaz, no horizonte
Afortunado e permeável da razão,
Do brilho em versos a garantia ecoa
Em Florisbela e Vinicius, em Sophia,
Em Luís de Camões e Fernando Pessoa.
 
versos e Versos

Viajante no tempo

 
Conduzir-me há no tempo o que sei e sou,
Sinfonia amalgamada do alfabeto a erudição
Fonte rutilante de aurorais memórias e gratidão,
Que no verniz de polida imagem o saber cumulou.

Conduzir-me há no tempo a luta que não findou,
Na vertente do cansaço e das derrotas do coração,
Não por frágil que fosse e sim pelos afrontados “não”
No pretérito desposar da felicidade que faltou.

Conduzir-me há no tempo os acordes da canção
Da fé desfalecida na fragilidade dos membros
E acolhida na residente têmpera do espírito,
Transudada em vigorosa couraça e proteção

Conduzir-me há no tempo a coragem restante
De voltar a crer no amor, o fiel do destino,
Que descura a glória e acura o níveo toque d’um sino,
Como esponja dos desatinos do infiel errante.

Conduzir-me há no tempo o arguto olhar d’um vigilante,
Ainda que, deste Santo tempo, o mais infiel viajante.
 
Viajante no tempo

Gota de orvalho

 
Descida do firmamento
Em movimento recamado,
Com suavidade e leveza,
Ao belo soma ornamento
Pelo céu estimulado.

Úmida, maternal, sem pecado,
se deita sobre arranha gatos,
Sobre ramagens e flores
E em ritmo contínuo e calado,
Transcende em altar os matos

É pérola inimitável
No seu estar passageiro,
Tal e qual o pensamento,
Que no tempo insaciável
Do presente é prisioneiro.

Viça pelas manhãs a rosa
E depõe-se no dia ao meio,
Mas, se o sol a quer enxuta,
Ao balanço da flor viçosa
Esparge sem ter receio.

Em folha seca pousada,
Brilhante qual passageira,
Úmida gota de orvalho,
Anuncia nova ramada,
Primavera alvissareira.

Ah, Déa de efêmera glória...
Celebrando seu estar solene,
O orvalho por ti se enluta
E a rosa tem na memória
O beijo que a faz perene.
 
Gota de orvalho

Vigília

 
Procura o olhar da Luz o brilho
Na cinza agonizada que esfria,
Oculta, irrefletida, sem vida, sem sentido;
Pirilampo revoado ao clarão do dia;
Candelabro à escuridão rendido.

Da mesma luz branca o coração procura
O fluente brilho, dantes denso e quente,
Para emprestar às sombras regenerada alvura
E aquecer a face fria do presente

Na cela, as paredes mudas e frias
Aprisionar decidem a solidão da hora
E as moribundas certezas em pele e pano
Revelam-se falsas pérolas, sem demora,
Na prontidão do presente soberano.

Alertados todos, auscultam os sentidos;
À soleira o inimigo espia.
É noite, noite tardia e a flacidez ausente.
O silencioso coração que por si não pulsa
Silencioso, provado, mas presente,
Dos ritos pontuais sobe à gávea e vigia
Por sobre as ondas dos desertos temporais
E franqueia ao mar aberto da solidão tardia
A alma criança que ora... E vigia... E ora mais.
 
Vigília

Acaso amas?

 
Vindo por essa trilha
trilhando o mesmo caminho
avistei um passarinho
preso numa armadilha.

A pena se me abateu!
Cuidei-lhes as feridas
em meio a penas partidas,
dialogando, ele e eu.

Já estando por ir embora,
disse-lhe que por tal maldade,
pelo privar da liberdade,
até o ser humano chora.

Fitou-me com caridade,
mas também com altivez,
indagou-me se o homem, talvez,
sabe o que é liberdade.

Sim, respondi de pronto,
com o melhor sorriso que tive,
- É assim que o homem vive,
livre como me encontro.

Ai veio seu argumento,
em suave tom sibiloso
com seu olhar amoroso,
e eu ouvindo atento:

“Pode o homem pensar,
pode sorrir,
pode até sentir.
e também sonhar!”

“Porem de tudo que sente,
dos seus sonhos e seu pensar,
pode livremente falar,
ou tem vezes que mente?”

“Como livre ele se enxerga,
quando dele brota cobiça,
e o paladar o eriça,
e o possuir o cega?”

“Preso está a cordas tensas,
das soberba e vaidade,
do sexo e da iniquidade,
e diz-se livre!... Pensas!... “

“È assim a liberdade?
Um cálice de crenças,
um feixe de diferenças,
uma trouxa de saudade?”

“Sentem-se livres por ir e vir
por comer e beber,
por dormir até o sol nascer,
mas serão livres pra servir?”

“Pois afirmo sem enganos
Pra conhecer a liberdade
Só resgatando a idade
da soma de todos os anos.”

“Está no supremo penhor,
de Deus quando tudo criou,
que por nós de ser livre deixou,
E Se fez Prisioneiro do Amor”

Então a mim me perguntou,
firme mas com meiguice,
e antes que perplexo eu partisse,
bateu asas e voou:

“Livre, pois, porque te chamas?
Acaso em alvas nuvens fluís?
Por ventura sempre ris?
Acaso amas?”
 
Acaso amas?

Ainda que te negue...

 
Ainda que o penar te negue
Ainda que de ti me esconda
Na ronda cantada dos pássaros
O amor em ti me sonda, me segue.

Ainda que a cerração te esconda
Ainda que por meu sol te negue
Inspira-te o pulmão no salso aroma
De Ti exalado pelo mar nas ondas

Ave que em sublime gorjeio,
Minh’alma arrancas da noite
E a adornas, consolas e acalma;
Atenuas-lhe o açoite, reforças o enleio.

És abrandamento em meu penar
Sendo sentidos, ele, a te ouvir
Em cantata de amor na natureza!
Nela não hei Te trair nem negar

Quedado, nem mais amor te peço,
Por saber, Te peço, saber amar,
Até sentir o coração em chamas
E nelas arder por amar em excesso

Nem ofertar-me mais dons te peço,
Só peço-te o dom de saber ofertar
Ofertar da noite o tremor e o medo
Do dia os segredos do Amar que professo.
 
Ainda que te negue...

Soneto ao amigo

 
No ar, e mais que no ar, n’alma cativa,
No perene presente permanece
Da amizade sincera, expressiva,
Perfume dum jardim quando amanhece.

Num crepitar em roxas o amor ativa
E o borralho do tempo só aquece
A amizade que em lida não esquiva
De amar e dar de si em muita prece

Pras feridas arrebanhadas ao cilício
Até do enfrentamento já passado
Não há melhor remédio ou abrigo.

Merecer, pois, grandioso benefício,
É, a nós, o maior bem já ofertado:
Sentir, ao nosso lado, um amigo!
 
Soneto ao amigo

A Rede ...

 
Te desespera a espera de ti
Depois de agora pior não ser?
Te devora esta demora que ri
Dos males tidos que almejas não ver ali
Onde chegar desejas com ardor poder?

Sim; oportuna idade a tiveste e tens a
Ainda se em após iminente parecer-te vã.
Ages! Pagas as pagas que insurge lá
No “face” e apaga no ato toda ação má;
Ora novo, de novo agora te seguirá o fã

Renova a “rede” não a si; o que se lê.
Em si, ato imediato, um mero fato
É um barato se de fato clicam você
E o ato, que nem o era, viraliza e o mundo vê;
Não te demora, após agora, o louro abstrato!
 
A Rede ...

Só ...

 
Só, no morno ninho da esperança,
Factual princípio no éter da existência,
Aguardado pendor de inteligência,
Afronto o sorvedouro incógnito da vida...
Só, na contenda de sobreviver criança,
Adentro a ermida.

Só, fendendo a massa trapaceira e proba,
Andejo incerto de infindas veredas, ardidas
Nas insidiosas chamas da iniquidade,
Mitigando no vinho as marcas das feridas...
Só, rondando a toga da justiça, como quem rouba,
Atinjo a maior idade.

Só, sob a mortal parreira da esperança,
Recolho os raros e róseos bagos da felicidade
No silencio da ocultada brisa do Amor,
Nos insinuantes alísios do altruísmo, debalde...
Só, na porfia de retornar ao ser da infância,
Procuro o Criador.

Só, até que se eternizem em oração,
Ressoantes, no epílogo silencioso da lápide,
Minhas lembranças se apagarão, e a dor...
Assim, completamente diluído, terei por égide
O “renegado” corpo da perfeição:
O Salvador
 
Só ...