Tento te ver por entre vestígios de luz e salpicos de mar ...
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Vejo o beijo mareando na pele azul de dois céus,
Comunicando através das lágrimas secas e molhadas
Vejo feixes de luz alcatroando a estrada de ouro e de prata
Vejo o pestanejar suave do mar na noite apresada
Vejo a vela raiada do sol, substituindo o negro das borbulhas douradas
Vejo o círculo … fechado … aberto … na horizontal … na vertical … de tudo o que é céu…
Vejo na alquimia das marés, a poesia de baloiço que traz e leva horizontes …
Horizontes que aqui defino, que aqui semeio:
Horizonte Tranquilo
Nessa lonjura que as promessas comprometem
Se extingue a solidão num reconfortar de mar
Horizonte (in) Tranquilo
Numa brisa crescente que amarrota o estômago num acenar
Os olhos ganham velas imaginárias, esbofeteadas pelo ondular
Horizonte Nocturno
O frio escurece as luzes das embarcações nos sons húmidos das ondas
Enquanto a lua inveja o farol que rodopia perante as estrelas mudas
Horizonte Saudoso
O espelho mais fiel ao reflexo da alma, buscando a parte que falta
Para lá da memória dos afectos, para lá do azul sem fim
Horizonte Longínquo
O céu tremido e distante embarga as saliências da morte,
No azul orvalhado que não obedece ao incómodo dos olhos
Horizonte (morto) Novo
O espírito fecha os estores e se desprende na brancura dos azuis
Gotejando gotículas solares, irrigadas de sal humano
Horizonte Teu
Aquele que não vejo mas sinto, quando refino o silêncio no peito erguido e te procuro …
E tu me respondes na voz do vento, no arrepio profundo das lágrimas, no sofrimento das estrelas …
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Musica
Come Home to Me -Tim Janis Ensemble
Foto pessoal-Praia dos Salgados
História do vento e de uma menina …
Uma menina na praia chorava, não era um choro qualquer … seu choro imitava o ritmo das ondas.
O vento lá longe, observava a musicalidade da sua tristeza, resolveu então se aproximar dos seus cabelos, tentou saber porque chorava, observando seu rosto, suas lágrimas e lhe perguntou:
- Por que choras menina?
Ela respondeu com amargura e cansada:
- O que queres tu de mim, não vez que eu mereço estar só, eu e o meu pranto…
O vento insistiu em conhecer o motivo do seu desencanto, rodopiou em seu redor até que lhe levantou um pouco da saia …
A menina irritada lhe respondeu :
- Deixa-me, vai te embora, todos procuram o mesmo, quanto mais frágil estamos mais nos querem enganar …só quero paz … não me venhas com falinhas mansas … vai-te embora …!
O vento entristecido se afastou …
No entanto não deixou de continuar a observar a menina que chorava sua alma …
Foi então que a menina resolveu entrar no mar revolto, o vento com medo, desceu sobre o areal e lhe soprou uma rajada para se afastar do azul mau, lhe dizendo ao ouvido:
- Não penses que não conheço tua tristeza …
Em seguida levantou a areia e subiu, trazendo a chuva no seu braço para regar a face da menina e com a voz molhada lhe disse:
- Vês como conheço o choro do céu, o teu, não é muito diferente. Por favor deixa me ser teu amigo, não prometo tornar doce tuas lágrimas, mas unicamente te peço, quando tiveres triste, procura esta praia e de certeza terás o reconforto do meu abraço …
Saudades lançadas ao mar numa garrafa de Baileys …
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Saudades
Troviscam como passos
Assustados
Na calçada de um jardim.
Saudades das tuas sardas, dos cabelos entornados de cenoura…
Saudades dos teus beijos, alagados
Dos abraços em estaca, durando horas,
Até que o olhar fechado,
Ganhasse os corais da praia …
Saudades em forma de farpas
Suicidando os vazios descobertos ….
Promessas ruindo como muralhas
Nestas cartas guardadas como tesouros
No mais íntimo dos segredos …
P.S:
Cada vinco de papel traz uma marca tua, que reveste de atlântico as reticências do coração…
Mesmo assim construi uma fortaleza de granito para suster a distância, acabei apaziguando a alma, mas não a recordação oceânica dos teus olhos …
Musica – Enya - Dances with wolves.
O muro perfeito do “Luso” ….
Aqui a alma estragada se zanga…
Na esperança de chorar água e não sangue
Aqui a mascara sorridente se queima
Aqui o grito se agasalha na dor velhinha
de uma criança
Nesta fonte, reflectindo centenas de rostos
me escondo
Para não violarem a única coisa que falta,
minha alma zangada
Aqui digo que perdi um filho da forma mais horrenda
E me roubaram um outro da forma mais desumana …
Num ninho com grades de feno
E abutres lá dentro …
Para vocês o que escrevo é arte,
Para Deus são lágrimas que ardem de um inferno que não era meu …
Prefiro o amor que chega mais tarde do que as paixões apressadas…
As paixões representam inesgotável loucura de dois amantes, que por vezes, apressadamente, decidem subir ao cume de uma montanha numa paisagem de sonho …
Já mesmo no começo, a montanha se torna lava, como a sede dos corpos, numa erupção estonteante …
Um vulcão de dentro e de fora…numa respiração cada vez mais sufocante …
Mas o problema chega depois da chegada ao cume, um dos amantes, acaba por esfriar como lava, tornando-se rochedo e nosso coração acaba por ficar como a paisagem negra e sem vida …
Esse amante rochedo, vai nos dizendo … “tudo foi um erro “… “foi bom quando durou “… “era apenas sexo ” …” não era isto que eu esperava “…
Por isso prefiro o amor, que demora, por vezes começa à beira-mar com dois seres descalços a serem banhados…
Dois seres que vão encontrando um no outro vestígios de sempre...rindo...chorando , apreendendo a dizer um ao outro, o mais profundo … através da linguagem do olhar …
E todos os dias será saudável seu encontro…
E sem nos apercebemos vamos sedimentando uma bonita história de amor, até que um dia frente ao mar, escondemos a pressa de tudo e permanecemos num beijo, enraizando a alma num abraço…
Percebemos então que já não somos dois, somos um pedacinho de mar que o destino juntou…
Não temos pressa de nos entregar por completo, preferimos antes amadurecer nos momentos raros de ternura, no tear sedoso das mãos …confundir o por do sol com o aperto da alma, quando um de nós adormece primeiro …
Até que um dia, decidimos acender uma fogueira, no silêncio das estrelas e nos deixamos baptizar pela voz do mar, na noite que será a primeira numa entrega total …
E a partir dai o sonho se torna uma mera consequência, genuinamente nossa …um tatuar de alma no céu, imortalizada nos corpos…e para sempre recordada na saudade…
Até pode ser que um dia esses dois seres se separem, mas vão se lembrar um do outro com um olhar triste e lágrimas felizes …
Musica -Danny Wright - Together Forever
Quero rasgar a pele e ser como tu…
Maldita alma, que herdas te a sombra das lágrimas e escondeste a nascente
bem perto do rosto …
Maldito o sonho, que não têm poiso e nem rumo…
Maldito o gosto que não têm sentido o sono do destino …
Alma funda
Ruína dos cravos
Coruja dos afectos
Pálida a sombra das lágrimas
E dos seu sais,
Cais,
Silêncio cego
Desordenado
Com o presente
Zangado com o passado…
No meio de tangeras e limões …
…alguns minutos depois , no percurso de Limerick a Dublin 27/ 9/1999
A raiva rudimentou a alma
Deixando que a seiva azeda
Ladra-se como arraias
…
Era o peito enchido
A respiração inchada
O grito fundo
A alma calada
Era a tua imagem
Apagada
Num desejo sem razão
Tudo isto afinal, não passou de um pasmo
De um coração agoniado
A ultima tentativa de suster as lágrimas ….
Depois de o cordão umbilical cortado …
Entretanto, o abanão se deu e o dilúvio se abateu
Na face esgotada
Empedrada de granizo escorregadio ….
...e nunca mais soube chorar lágrimas magras ...
O molde perfeito do meu amor é o teu coração …
Quiseste ser feliz sem o meu amor
Coleccionaste os tais momentos especiais
Retardaste o tempo nas horas de felicidade
Mas percebeste tarde,
que envelhecias de saudade
nas horas banais.
Encheste de coragem e me procuraste, sabendo da miséria dos meus olhos ….
Mas não imaginaste que no meu coração só tinha a tua imagem …
Tu adormecendo nos meus braços
Tu correndo na praia
Tu vigiando as aves raras que se despediam do mar …
Sempre desconheci a magreza das lágrimas…
Nasci a morrer dilacerada …
Ganhei rugas de infância …
Foi costurada
Enjaulada num berço de ilusão …
Trespassaram me a pele muito antes de conhecer
As carícias das mãos …
Silenciaram meus gritos
Na forma mais cruel…
…muito antes de ser criança,
Deram me a liberdade de ser escrava.
…muito antes de conhecer o reflexo ,
Conheci o medo de ser gente…
Muito antes de brincar, brincaram comigo…
Sem saber falar, solucei…
Sem fôlego solucei…
Até adormecer…sem poder gritar
Máscara de um vencedor vencido
Oh Mar rabugento!
Te devolvo este pedaços teus
A marear meu rosto
Entrego também versos incompletos
Queixumes de dor
Vozes entoadas nas ranhuras do ventre…
O tiritar dos dentes de um gemido invertido
Uma Pobre criatura, que morta se culpa …
Na distancia maior que o azul do teu ser…