Poemas, frases e mensagens de CarlosAle

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de CarlosAle

Os garranchos da sua covardia...

 
Eu não pude esconder minha tristeza
no momento da nossa despedida
Em meu peito ficou uma ferida
que não sei calcular a profundeza
Quando ela negava com frieza
que estava fazendo a traição
um pedido sincero de perdão
que fizesse a mim já bastaria
Os garranchos da sua covardia
arranharam demais meu coração

Nunca imaginei que fosse ver
um amor tão bonito se acabar
Tantos sonhos pensei realizar
com aquela que só me fez sofrer
Eu agora preciso é esquecer
suas juras de amor feitas em vão
pois pra minha maior decepção
me deu nada quem tudo prometia
Os garranchos da sua covardia
arranharam demais meu coração

O silêncio da noite é que tem sido
testemunha das minhas amarguras
Abalaram-se minhas estruturas
quando sem dar motivos fui traído
Vendo nosso amor ser destruído
foi melhor não manter a ilusão
Mas se agora aprendi uma lição
foi por meio da dor daquele dia
Os garranchos da sua covardia
abalaram demais meu coração

Eu queria amar só Jacqueline
e a dita não quis o meu amor
Eu carrego comigo esta dor
tão amarga que verso não define
Mesmo que seu descaso determine
estar longe a nossa união
provarei que a minha intenção
nunca foi uma promessa vazia
Os garranchos da sua covardia
arranharam demais meu coração

Sei que o grande amor da minha vida
foi o que só senti por Jacqueline
mas ainda que o tempo extermine
esta minha paixão mal resolvida
pra que ela por mim seja esquecida
eu preciso deixar o meu sertão
que somente com esta precaução
esta brasa em meu peito se resfria
Os garranchos da sua covardia
arranharam demais meu coração

Não que seja melhor viver sozinho
ou vagar pelo mundo magoado
Pois já fui um bobão apaixonado
e da flor só fiquei com o espinho
Mas não quero ganhar o seu carinho
e pagar com a minha sujeição
Mergulhei de cabeça na paixão
pra sofrer o que eu não merecia
Os garranchos da sua covardia
arranharam demais meu coração
 
Os garranchos da sua covardia...

A beleza das mulheres

 
O encanto de uma flor
que se vê numa mulher
não é para ser versado
por um poeta qualquer
É preciso muita verve
pra cumprir esse mister

É preciso de Petrarca
fluência e sonoridade
de Homero a inventiva
de Camões profundidade
de Neruda a riqueza
de Lorca a intensidade

Se eu pudesse escrever
com o estro de alguém
do porte de um Vinícius
Drummond e Cabral também
não diria nem metade
do valor que a mulher tem

Ela tem da margarida
a graça e a singeleza
do jasmim tem a ternura
do lírio tem a pureza
da rosa tem elegância
do cravo a delicadeza

Contemplando a natura
com suas formas singelas
nas paisagens primorosas
as flores são as mais belas
e a beleza da mulher
supera a de todas elas
 
A beleza das mulheres

A filha da noiva do pistoleiro

 
No faroeste selvagem
de nativo e forasteiro
aconteceram histórias
de enredo aventureiro
Uma delas é A filha
da noiva do pistoleiro

A nossa trama começa
em cidade do Arizona
que é onde um xerife
por uma linda colona
que procurava seu pai
com furor se apaixona

Nós já sabemos que Fred
com a Jéssica se casou
Foi um caça-recompensas
que depois se aposentou
Mas uma filha tiveram
que a sua mãe puxou

No rancho do pai a moça
trabalhava sem fricote
sabendo usar o machado,
o martelo e o serrote
aprendendo com a mãe
o manejo do chicote

Certa feita num salão
Fred estava entretido
esperando que chegasse
na cidade um bandido
quadrilheiro perigoso
só por ele conhecido

Com ele estava o xerife
esperando o bandoleiro
pra dar ordem de prisão
e levá-lo prisioneiro
só precisando que Fred
apontasse ele primeiro

Ele nem desconfiava
que esperavam em vão
O bandido procurado
já estava na prisão
Mas seriam envolvidos
numa outra situação

De repente ali chegou
em um bonito alazão
a jovem filha de Fred
já de chicote na mão
Amarrou o seu cavalo
e penetrou no salão

Vestida como rancheira
parou olhando os presentes
como quem procura alguém
que está entre os clientes
enfrentando os cobiçosos
olhares concupiscentes

E apesar da sua roupa
ser de rancheira singela
seu traje não escondia
a beleza da donzela
que faria um roseiral
chorar de inveja dela

Avistando o pai na mesa
com ele já foi gritando:
- Papai o que você faz
em mesa de bar jogando?
Já faz tempo que estou
na cidade o procurando!

Surpreso ao ver a filha
chegando de relancina
Fred a ela retrucou:
- Não é você na cantina
que não sabe que aqui
não é lugar de menina?

Mas a jovem a seu pai
não conseguia escutar
uma vez que o pianista
(um artista do lugar)
um piano barulhento
não parava de tocar

A moça pediu silêncio
mas ele não quis parar
Nisso o fio do chicote
deu um estalo no ar
e na perna do piano
começou a se enrolar

Com bastante agilidade
a jovem deu um puxão
e a perna enroscada
se partiu no safanão
fazendo todo o piano
cair e quebrar no chão

Demonstrando embriaguês
nas expressões faciais
um mineiro aproximou-se
e com gestos teatrais
gritou para a menina:
- Mas assim já é demais!

O chicote novamente
com força foi estalando
Na garrafa de vermute
que ele estava segurando
com extrema rapidez
foi o fio se enrolando

Para longe do sujeito
a garrafa foi puxada
e batendo na parede
terminou estilhaçada
Todo povo admirou-se
com aquela chicotada

O mineiro incomodado
com aquela humilhação
tentou sacar a pistola
mas ficou na pretensão
que com outra chicotada
a arma saltou da mão

A jovem disse: - Vocês
não sejam tolos assim!
Se 1 outro engraçadinho
quiser atirar em mim
vai levar as chicotadas
rinchar e comer capim!

Numa mesa 1 jogador
disse a ela: - Querida,
aqui é lugar de jogo,
de mulheres e bebida
e a porta da entrada
é a mesma da saída!

Em resposta ao sujeito
nesse momento se ouviu
um estalo de chicote
que no esticar do fio
o charuto aceso dele
num golpe seco partiu

Com aquilo o jogador
por perder a sensatez
foi sacando a pistola
com notável rapidez
pra fazer a mira nela
mas nem isto ele fez

Antes que ele pudesse
sua pistola apontar
levou outra chicotada
que fez a arma voar
Só a mão do jogador
ficou parada no ar

E como se não bastasse
ela enroscou o chicote
na perna da mesa dele
que só cobra dando bote
puxando com tanta força
que ela deu um pinote

Deixando mesa e piano
pelo chão desmantelados
aquela jovem rancheira
com seus modos arrojados
já testava a paciência
dos clientes enraivados

Foi ali que o xerife
fez a sua intervenção
explicando para a moça
que eles tinham razão:
- Você precisa sair!
Não queremos confusão!

- Só vim buscar o meu pai
que só anda desarmado!
Já terminaram seus dias
de pistoleiro afamado!
Não quero vê-lo voltando
para casa embriagado!

- Eu entendo sua queixa,
mas preciso dele agora!
Então peço que você
fique esperando lá fora!
Com pouco dou permissão
pra vocês irem embora!

Palavras não eram ditas
e a jovem já respondia
com mais uma chicotada
no chapéu que ele vestia
que voando para o alto
no meio se repartia

Com maior velocidade
o xerife disparou
e no cabo do açoite
o seu tiro acertou
Finalmente o chicote
da mão de Daisy vuou

Pegando no braço dela
sem qualquer hesitação
o xerife levou Daisy
para fora do salão
querendo ligeiramente
resolver toda questão

- Reconheço ter você
muito boa intenção
Por zelar pelo seu pai
tem minha admiração
mas o zelo pela ordem
é a minha profissão...

Não querendo fomentar
atritos com a donzela
ou mesmo com o seu pai
o xerife por cautela
foi recolher o chicote
e o devolveu pra ela

Perto da porta apartada
ela sentou-se chorando
De repente vislumbrou
um forasteiro chegando
que apeou do seu cavalo
e foi no salão entrando

O tipo mal-encarado
gritou pra todo salão
com um jeito insolente
que chamou a atenção
avisando ao xerife
em tom de provocação:

- Vim aqui para propor
ao xerife aqui presente
um duelo de pistolas
pois no passado recente
levou pra forca meu pai
que estava inocente!

O xerife se erguendo
disse ao desconhecido:
- Para forca ou prisão
já levei muito bandido!
O juiz é quem decide
como alguém será punido!

- Eu declaro a vocês
que a questão é pessoal!
O juiz foi corrompido
e quero um ponto final
decidindo num duelo
de igual para igual!

O xerife achou melhor
para infundir respeito
aceitar esse duelo
e tirar algum proveito
encerrando a questão
com 1 susto no sujeito

Como aquele xerife
era firme em seu brio
foram eles para rua,
ribalta do desafio,
como já era de praxe
no faroeste bravio

Assim disse o sujeito
com seu ar de cafajeste:
- Você está confiante
que pode passar no teste
mas eu sou o mais veloz
dos gatilhos do oeste...

O xerife deu ao tipo
a resposta merecida:
- Meu brio é suficiente
pra defender minha vida
O receio não me dobra
nem medo me intimida!

Com a gente do salão
inteira testemunhando
em tal silêncio os dois
ficaram se estudando
que daria para ouvir
até mosquito passando

A rancheira misturada
com a gente do salão
depois de ficar ciente
de toda a situação
ficou atenta pra ver
o xerife em ação

A tensão tomava conta
daquele breve momento
Parecendo estatuetas
aspirando ao movimento
só o lenço do xerife
se movia com o vento

O estranho confiante
que no tiro era melhor
não fez caso da torcida
do xerife a seu redor
e não tinha em seu rosto
nem um pingo de suor

Quando sacaram as armas
só um deles disparou
Foi o xerife que o tiro
na mão do outro acertou
Ninguém viu pra onde foi
que a arma dele vuou

Foi então que o xerife
disse ao desconhecido:
- Acertei só a pistola
e você não foi ferido!
Espero que considere
o duelo concluído!

Pensando que o sujeito
tinha aprendido a lição
o xerife confiante
virou-se pra multidão
pedindo que todos eles
voltassem para o salão

Todavia o forasteiro
pela vingança movido
ao notar que o xerife
já estava distraído
foi sacando um punhal
no casaco escondido

E sabendo usar a arma
com espantosa destreza
foi arremessando ela
com ataque de surpresa
para não dar ao xerife
uma chance de defesa

Nisso ouviu-se o estalo
de um golpe magistral
do chicote da rancheira
que acertando o punhal
desfazia em pleno ar
seu movimento fatal

O forasteiro pagou
pela sua ousadia
Por atacar o xerife
com nefanda covardia
pelo mesmo foi levado
para uma enxovia

E com Daisy o xerife
ficou muito agradecido
perguntando para ela
se o queria por marido
que bastante satisfeita
aceitou o seu pedido

O FIM
 
A filha da noiva do pistoleiro

Cada não que recebo é um desgosto...

 
Você é intocável como a rosa
cravejada de espinhos para mim
Entretanto não saio do jardim
pra arrancar toda planta venenosa
Vendo sua corola mais viçosa
só aumenta a minha aflição
Sou um fruto caído no seu chão
que esperando acaba decomposto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Eu fiquei recordando outro dia
do momento que eu lhe conheci
O primeiro interesse que senti
foi crescendo além da simpatia
Quando fico na sua companhia
só procuro nutrir sua afeição
pois entendo que numa relação
sentimento não pode ser imposto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Não queria nem mesmo ter lembrado
que no abril começou nossa amizade
Já em maio pra ter felicidade
eu ficava mais tempo do seu lado
Se em junho fiquei apaixonado
vi em julho crescer minha paixão
Hoje sofro depois da confissão
rejeitada em meados de agosto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Um sujeito que teve o predicado
de mostrar a você adjetivos
com certeza lhe deu muitos motivos
para ter seu carinho e cuidado
No período que fui analisado
você quis aplicar a correção
Pelos termos da sua revisão
me faltou vocativo e aposto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Ao fracasso causado só por mim
eu não posso imputar outro autor
Se na trama quem vence é o amor
eu vou ler o romance até o fim
O meu sonho é você dizendo sim
Pesadelo é você dizendo não
Mas história de dor e solidão
é o enredo que não está proposto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Eu não sei se agi com afoiteza
e o momento não era o devido
mas você recusou o meu pedido
sem mostrar no entanto aspereza
Eu preciso somente ter certeza
que você encerrou essa questão
Mas não tenho sequer a impressão
que me dê a idéia de sol-posto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Fiz de tudo para lhe conquistar
e ainda lhe tenho esperado
Com as flores e estando preparado
novamente irei me declarar
Se os amigos vierem me alertar
que você vai rasgar o meu cartão
eu respondo sem ter hesitação
que o repúdio ainda é suposto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Já tentaram até me convencer
que a minha paixão é doentia
Como ela aumenta a cada dia
não consigo parar de lhe querer
Penso às vezes que para esquecer
só se eu fosse embora pro Japão
Mas refuto depois a solução
que faria somente a contragosto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Minha ação não perdeu o objeto
pois a lei do amor lhe afiança
Eu não quero perder a esperança
mesmo estando meu sonho no projeto
Se viajo perdido sem trajeto
nas estradas da minha ilusão
esperando pela degustação
nosso vinho ainda está no mosto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Eu não posso dizer que não lhe amo
desmentindo num verso apaixonado
no momento que sonho acordado
e no pranto que por você derramo
O seu nome sonhando ainda chamo
e não quero negar minha paixão
pra depois na primeira ocasião
declarar a você só o oposto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Toda noite eu fico desejando
nos seus beijos matar a minha sede
Certa feita deitei na minha rede
e sonhei que estava lhe abraçando
Assustado eu fui me acordando
pois na rua estourou um foguetão
Como sonho não tem prorrogação
levantei nesse dia indisposto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

É difícil aceitar que essa dama
a quem eu declarei meu sentimento
transformou meu desejo em lamento
abrandando o calor da minha chama
Mas se ela ainda não me ama
continuo a lhe dar minha atenção
Um soldado na guerra da paixão
não deserda nem abandona o posto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Eu não quero viver de amargura
mas a falta de afeto me afeta
Minha alma já anda inquieta
suspirando com essa desventura
Eu preciso saber se é loucura
ou se existe um motivo ou razão
pra esperança na mesma proporção
desse pranto que molha o meu rosto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Quero ser pra você igual Romeu
superando a rixa das famílias
ou até navegar por muitas milhas
como fez o valente Odisseu
Quero ser cavaleiro ou plebeu
pra salvar a princesa do dragão
Mas você me negando a sua mão
vou chorar igualmente um rei deposto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Pra provar a você o meu valor
só preciso ter oportunidade
Eu só quero lhe dar felicidade
todos dias lhe amando com ardor
Hoje sou no banquete do amor
um faminto atrás da refeição
pois o prato da minha solidão
com desprezo foi temperado a gosto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Do seu meigo olhar você me priva
Do carinho que tenho não desfruta
Meus projetos de amor você refuta
e das minhas propostas se esquiva
Mas diante da sua negativa
fiz uns versos pra ter consolação
Meu consolo é fazer lamentação
e o lamento deixei aqui exposto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração

Pra poder reverter perdas e danos
faço tudo que está no meu alcance
Só desejo a ventura de um romance
com você aceitando os meus planos
Nos amando seremos dois pianos
afinados num só diapasão
E o hino da nossa união
nesse dia feliz será composto
Cada não que recebo é um desgosto
que afeta demais meu coração
 
Cada não que recebo é um desgosto...

O ciclista

 
Se um poeta é aquele
que alguma hora do dia
se dedica a escrever
o que sua verve cria
é isso que tenho feito
com a minha poesia

Mas privado das imagens
que a inspiração projeta
por vezes fico pensando
que ainda não sou poeta
e deixo de versejar
para andar de bicicleta

Só preciso pedalar
para ter esse prazer
de ir fazendo nas ruas
que estou a percorrer
a combinação perfeita
de esporte com lazer

E dobrando as esquinas
com a minha bicicleta
nem fico questionando
se sou um bardo atleta
ou apenas um ciclista
que é metido a poeta

Até porque escrevendo
não expresso a beleza
harmonia e perfeição
das coisas da natureza
que eu vejo pedalando
nas ruas da redondeza

Nas entranhas da cidade
deparo a fauna e a flora
seja numa trepadeira
que na cerca se escora
seja num joão-de-barro
lá no poste onde mora

E tanto no preto e branco
definido da andorinha
quanto no arroxeado
esboçado na azulzinha
eu vejo uma poesia
mais bonita que a minha

E me vejo a passear
pedalando a magrela
subindo por uma lomba
ou descendo com cautela
sem saber se ela me leva
ou se é eu que levo ela

Saindo da Agronomia
que atravesso primeiro
cruzando viela e beco
pela Lomba do Pinheiro
vou fazer em Belém Velho
meu passeio costumeiro

Variando meu percurso
com prazer vou pedalando
e a encosta dos morros
no entorno observando
tendo sempre na lonjura
o horizonte me chamando

Escanchado no selim
e estribado nos pedais
vou atento deparando
os campos e matagais
numa região repleta
de belezas naturais

Montado no meu camelo
subo e desço ladeira
nas ruas de Porto Alegre
sentindo a brisa fagueira
Se não faltasse pulmão
cruzava uma cordilheira

Se no trajeto escolhido
a subida é mais custosa
no declive a gangorra
vai descendo silenciosa
e posso parar na sombra
de uma figueira frondosa

E na sombra da figueira
eu descanso assistindo
um bando de passarinhos
em revoada subindo
e o colorido vistoso
de arbustivas florindo

E fazendo uma parada
ou pilotando a magrela
eu vejo um belo cenário
sem moldura nem janela
Sou como a ave que voa
no meu passeio com ela

Margeando a estrada
entre carro e pedestre
vejo toda a variedade
da vegetação rupestre
e no tempo que faz jus
a paisagem silvestre

É quando vem a vontade
nesse trecho que percorro
de morar numa casinha
dessas de cima do morro
com galinheiro, pomar,
horta, poço e cachorro

Pra ter na minha varanda
o mais extenso mirante
do panorama espraiado
no horizonte distante
desfrutando o privilégio
da beleza circundante

Entretanto essa idéia
é somente um devaneio
inspirado na paisagem
que vejo nesse passeio
manobrando o guidom
na estrada que costeio

E um roteiro diferente
que faço na zica amiga
é seguir pra Vila Nova
que é uma vila antiga
O bairro mais italiano
que nossa cidade abriga

Bisnetos de imigrantes
cultivam seus parreirais
nesse trecho do caminho
de paisagens rurais
que nossa serra gaúcha
nos faz recordar demais

Um cariz diferenciado
esse percurso descerra
Seus vinhedos no verão
parecem com os da serra
que lembram por sua vez
os vales da outra terra

O verde dessas videiras
tem variações sutis
contrastando com o céu
no seu imenso matiz
e o sol alegra as imagens
de ambientes pastoris

Em resumo é onde vou
nessas minhas pedaladas
com a minha bicicleta
pelas ruas e estradas
conhecendo a cidade
nos declives e lombadas
 
O ciclista

O fracasso da causa e a causa do fracasso

 
O fracasso da causa comunista
promovido em quase o mundo inteiro
sendo efeito do erro mais grosseiro
de se crer numa idéia utopista
ampliando os lesados dessa lista
que tem Laos, Camboja, Rússia, China,
Alemanha cercada na cortina,
a Coréia e países africanos,
repetiu-se aqui com os cubanos
e avança na América Latina...

Por aqui a esquerda brasileira
prometendo fazer muitas mudanças
retirou do país as esperanças
com mãos cheias de óleo e sujeira
Foi não foi levantou sua bandeira
escondida na sombra do gramscismo
A corrente do patrimonialismo
com os anos foi mesmo ampliada
Nossa pátria está sendo acuada
empurrada que vai para o abismo

Engendrando uma vã teologia
disfarçada de crença religiosa
a disputa na igreja foi rendosa
devorando no bolo uma fatia
Resultado de trama tão sombria
foi o lobo ficar mais atrevido
Atacou um rebanho iludido
na de Roma, Lutero e Metodista
pra rezarem cartilha marxista
como se estivessem num partido

Foi Karl Marx na sua juventude
um cristão numa vida desregrada
Caminhando em trilha tão errada
corrompeu-se por sua atitude
Com a alma sofrendo inquietude
conheceu a mudança imprevista
Os relatos dão mais de uma pista
de que a sua fé sofreu revés
aceitando por guia Moses Hess
para entrada na esfera ocultista

Pois é esse o mentor do socialismo
que nas teses que havia formulado
foi de Deus inimigo declarado
para ver triunfar o satanismo
Basta ver nos anais do esquerdismo
o terror do passado mais grotesco
a barbárie em drama gigantesco
genocídios,expurgos, crueldades,
escravismo e demais atrocidades
e a fome em grau sempre dantesco

Bibliografia:

Era Karl Marx um satanista?
Richard Wurmbrand

O Livro Negro do Comunismo
ANDRZEJ PACKZOWSKI,
JEAN-LOUIS MARGOLIN,
JEAN-LOUIS PANNE,
KAREL BARTOSEK,
Nicolas Werth,
e Stéphane Courtois
 
O fracasso da causa e a causa do fracasso

Hoje é o dia mundial do livro

 
Dia 23 de abril

Se o livro é a base da cultura
para o povo não pode faltar nada
A leitura é pra ser compartilhada
que é pra isso que serve a leitura
Quem trabalha com a literatura
desenhista, poeta ou escritor
se no texto ele hospeda o leitor
é no livro o lugar que ele mora
Hoje o dia que o mundo comemora
é do livro e direito do autor

Nesse dia é preciso promover
proteção aos direitos autorais
que os livros nos são essenciais
e é ato importante o de ler
Todo aquele que vive de escrever
nas idéias que passa a expor
da cultura se torna um defensor
com as obras que ele elabora
Hoje o dia que o mundo comemora
é do livro e direito do autor

Nosso mundo está muito avançado
no progresso da tecnologia
que na mídia aparece todo dia
um recurso pra ser utilizado
mas o livro não foi ameaçado
por aquilo que é inovador
já que ele mantém o seu teor
com o mesmo prestígio de outrora
Hoje o dia que o mundo comemora
é do livro e direito do autor

Nessa data é preciso promover
uma grande e profunda discussão
onde o povo receba a atenção
no direito de ler e escrever
O acesso aos livros pode ser
uma meta que temos que propor
que se falta escola e professor
é questão que o governo ignora
Hoje o dia que o mundo comemora
é do livro e direito do autor

Parabéns a quem faz divulgação,
sem visar interesses mercantis,
dos autores que tem nosso país
promovendo a leitura em profusão
Merecida é a comemoração
mas o prêmio quem ganha é o leitor
quando abre um livro de valor
e nos seus cotovelos se escora
Hoje o dia que o mundo comemora
é do livro e direito do autor
 
Hoje é o dia mundial do livro

O resultado das apostas em jogos de azar

 
O assunto em questão
é um problema real
São os jogos de azar
que no estágio atual
já estão configurados
num flagelo social

Eu pergunto ao leitor
que aposta seu cascalho
em bozó, briga de rinha,
bingo, bicho ou baralho:
que lucro dá o dinheiro
recebido sem trabalho?

O apostador só quer
se divertir no início
depois fica seduzido
por um lucro fictício
e a praxe da jogatina
termina virando vício

Quem joga pode mostrar
os sintomas de um doente
Onde mora ou estuda
vai se tornando ausente
Ter mais tempo pra jogar
é seu desejo fremente

E quem fica endividado
com os jogos de azar
vende tudo o que tem
mas não para de jogar
que o vício no comando
não dá ordem pra parar

Investir na jogatina
é um processo oneroso
Quando o jogador acerta
com um prêmio fabuloso
paga tudo o que deve
em um ciclo vicioso

Se ganhar dinheiro fácil
era o primeiro incentivo
acaba na bancarrota
porque o vício ativo
conjuga o verbo jogar
sempre no imperativo

Tem muitos jogos de azar
que estão legalizados
onde poucos vencedores
tem sonhos financiados
com dinheiro que foi pago
por milhões de azarados

Quem procura no cassino
um negócio lucrativo
vê a sorte se ofertar
com um preço abusivo
e só premiar os donos
com poder aquisitivo

O freqüentador do bingo
clandestino ou liberado
de cartela em cartela
com o vício é premiado
e só busca o tratamento
quando está endividado

Já no turfe é a paixão
que arrecada o dinheiro
O prêmio passa montado
no cavalo mais ligeiro
e o acaso atropelando
sempre chega em primeiro

Se vê no jogo do bicho
que é comum apostador
sonhar com o resultado
e perder grande valor
e o bicheiro vai fazendo
fortuna com sonhador

Vejam que a loteria
é um estranho rateio
onde o governo promove
com o capital alheio
benefício só pra um
escolhido por sorteio

Foi não foi um pobretão
vai jogar na loteria
compra apenas um bilhete
que o capricho premia
e um novo milionário
vira da noite pro dia

Deslumbrado na riqueza
que não sabe onde gastar
com os seus novos amigos
em tudo quer esbanjar
como se aquela fortuna
nunca mais fosse acabar

Ele passa o ano inteiro
com o pé no aeroporto
Desperdiça nos presentes
da mulher de cada porto
gozando a ostentação,
o prazer e o conforto

Quando as suas despesas
já se tornam abundantes
termina dando um calote
em hotéis e restaurantes
retornando pra miséria
mais arruinado que antes

Se a sorte pode pagar
pra somente um sortudo
o azar sempre consegue
um rendimento polpudo
levando até o dinheiro
daquele que aposta tudo

Outro golpe que a sorte
pode dar na clientela
é entregar a bolada
a quem não precisa dela
e o azar não indeniza
os projetos que cancela

Eu pergunto novamente
que lucro dá o dinheiro
apostado em jogatina
parcelado ou inteiro
se bagunça o processo
do sistema financeiro?
 
O resultado das apostas em jogos de azar

Ascensão, apogeu, declínio e queda de uma paixão

 
Hoje em dia um rapaz
não deseja ter família,
ser fiel a uma esposa,
educar filho ou filha
Diz até que casamento
é um fardo sem rodilha

Um amigo que casou
ele olha com desdém
Sua vida é uma festa,
a balada é seu harém
Pensa até que liberdade
só quem é solteiro tem

A viver sem compromisso
já está acostumado
mas um dia experimenta
um poder inusitado
Numa troca de olhares
ele fica apaixonado

Os amigos apresentam
a mulher especial
Ele entra na conversa
com assunto trivial
repetindo para ela
a cantada mais banal

A mulher que ele quer
joga com a sedução,
finge até desinteresse,
faz comer em sua mão
É ali que ele conhece
os arroubos da paixão

Começando o namoro
seu tormento é completo,
fica noites sem dormir,
passa o dia inquieto,
conhecendo uma lei
que vigora sem ter veto

Ele diz para os amigos,
mesmo para quem duvida,
que agora encontrou
a mulher da sua vida
pois em antes e depois
sua história é dividida

O sujeito apaixonado
muda até sua rotina
pra estar com a mulher
que lhe ama e alucina
Nessa mente obsessiva
já circula a dopamina

Quando pensa em declarar
tudo o que por ela sente
bota uma faixa na rua:
-Vou te amar eternamente!
como prova desse amor
de paixão entorpecente

Os seus nomes no umbú
ele escreve a canivete
Quando estão no celular
para ela se derrete
Manda flores e bombons
ou e-mail pela net

Ele troca de emprego,
muda pra outra cidade,
pra ficar mais perto dela
e abrandar sua saudade
pois só na sua presença
é que tem felicidade

Cego por essa mulher
pensa nela todo instante
Gasta tudo o que tem
pra comprar um diamante
e lhe dar como presente
que ela aceita radiante

Mas um dia ele descobre
que na trama tinha três
Ela toma a decisão
de voltar para seu ex
e o que sentia por ele
nega de uma só vez

Não querendo aceitar
ele começa a beber
Com a língua enrolada
diz que quer lhe esquecer
Quando fala da amada
dá risadas sem querer

Ele diz que quando bebe
sabe a hora de parar
divertindo os amigos
que estão naquele bar
Diz que é só a paixão
que lhe pode embriagar

E tomando outros goles
aos amigos ele diz
que ele é o bom partido
para fazê-la feliz
Só não entende por que
sua amada não lhe quis

Paga mais uma rodada
para quem está na mesa
Dizendo ser o mais rico
vai ficar com a despesa
mas só fala na mulher
que não quis sua riqueza

Com mais doses de bebida
vai ficando mais valente
Diz que bate em qualquer um
que esteja ali presente
se falar da namorada
que deixou-lhe de repente

Ele xinga os clientes
que estão naquele bar
Os amigos que ele tem
fazem ele se calar
E lembrando da mulher
ele começa a chorar

É levado para a casa
por amigos carregado
perguntando o motivo
de ter sido rejeitado
e adormece na varanda
num tapete estirado

Acordando já nem lembra
das bobagens que ele fez
Na ressaca só recorda
que a sua embriaguez
foi por causa da mulher
que deixou-lhe duma vez

Essa história termina
num tormento sem mister
e o sujeito que padece
pelo amor duma mulher
por entrar em desespero
se transforma em esmoler

Isso tudo é o que faz
os caprichos da paixão
Seja leigo o sujeito
ou de muita instrução
ela consegue apagar
a lanterna da razão
 
Ascensão, apogeu, declínio e queda de uma paixão

Minha musa

 
Sentindo a inspiração
mais intensa e profusa
eu me ponho a escrever
com vigor, brilho e fiúza
pra revelar os encantos
que eu vejo em minha musa

Minha Rosa tem a graça
que inspira qualquer artista
e a mim faz desfrutar
de uma verve imprevista
sendo uma mulher bonita
em qualquer ponto de vista

Ela tem o esplendor
que ninguém sabe medir
Tão fácil reconhecer
e custoso definir
mas todo poeta aspira
em seus versos traduzir

Há mulheres graciosas
porém ela é demais
A beleza é um barco
atracado no seu cais
e no mar da poesia
quero ser o seu arrais

Um sorriso mais bonito
não há em todo universo
Tem tamanha excelência
que não cabe no meu verso
e deixou meu coração
no rio do encanto imerso

O brilho arrebatador
que dos olhos irradia
como as luzes da noite
e do sol trazendo o dia
sugere tanto mistério
e extravasa em poesia

O beija-flor é feliz
quando uma flor visita
e o sabiá cantando
sua canção favorita
Eu sou feliz descobrindo
quanto ela é bonita

Me enlevo na formosura
que da aurora é provinda
e reconheço que as flores
tem uma beleza infinda
mas não comparo a dela
porque ela é mais linda

Admiro a lua cheia
quando a vejo da janela
e cada estrela no céu
que na noite se revela
porém me fascina mais
quanto minha musa é bela

Eu vejo a brisa passar
acariciando uma rosa
e o vento jogar na rocha
uma onda vigorosa
e não consigo esquecer
quanto ela é graciosa

No mar o navegador
olha o céu e suspira
namorando uma estrela
que brilha como safira
e é isso que eu sinto
por ela que me inspira

O sol pode recolher
o seu halo rosicler
e a lua pode mudar
escondendo seu mister
mas nela sempre reluz
sua graça de mulher
 
Minha musa

Queria fazer um verso...

 
Queria fazer um verso
que pudesse expressar
o retumbar da cascata
as ondas altas do mar
o dia com sua alva
a noite com seu luar

Queria mostrar no verso
a imponência do condor
as nuvens como ovelhas
o vento como pastor
e as abelhas bebendo
o mel na taça da flor

Queria mostrar o sol
acendendo como tocha
despertando a montanha
enxugando cada rocha
e aquecendo a corola
do cravo que desabrocha

Queria ver no meu verso
o resplendor do luzeiro
e num dia de outono
o empenho do barreiro
fazendo sua casinha
no ombro do ingazeiro

Eu queria versejando
falar de uma formiga
que levando uma folha
de capim ou de urtiga
nunca se perde na trilha
nem descansa com fadiga

Eu queria descrever
a lagarta de cor preta
que o carcará procura
com seus olhos de luneta
mas consegue escapar
quando vira borboleta

Queria mostrar a seda
na aranha peçonhenta
que caminha entrelaçando
um fio que não rebenta
mesmo sendo esticado
na ramagem quando venta

Queria saber falar
de um dia nebuloso
onde o sol se escondeu
esperando cauteloso
pra abrir sua cortina
de tecido luminoso

Queria mostrar o vento
desenhando sem modelo
na grande tela do céu
suas montanhas de gelo
desmanchando e refazendo
calmamente e com desvelo

Queria a serenidade
das águas de uma fonte
e a claridade que chega
esboçando atrás do monte
o final da madrugada
nos portais do horizonte

Queria ser um poeta
com o estro mais afim
quando vejo a roseira
vicejando no jardim
cercada de borboletas
pedindo verso pra mim

Eu queria ter o dom
de ilustrar o que eu vi
num certo dia de maio
quando um raro colibri
bailava suavemente
ao redor de um bogari

Eu queria versejar
como canta o sabiá
entre os ramos em flor
de um velho jacarandá
nos momentos de lirismo
que a primavera nos dá

Queria ser um poeta
que mostrasse comovido
no primor da natureza
que por nós é conhecido
um claro remanescente
do paraíso perdido
 
Queria fazer um verso...

O que é a paixão?

 
É aquele sentimento
que em excesso se reprova?
Quando não correspondido
cada dia se renova
ou se guarda em segredo
como faz a lua nova?

É o desejo de viver
um romance permanente
que se quer definitivo
sempre intenso e ardente
e que tenha a expansão
da lua em quarto crescente?

É o caminhar na praia
de um casal que não receia
ter seus passos um por um
apagados na areia
porque vão iluminados
no esplendor da lua cheia?

Ou apenas um ardor
que se almeja constante
mas se mostra com o tempo
uma chama hesitante
que só vai diminuindo
como a lua no minguante?
 
O que é a paixão?

Vou fumando o cigarro da saudade

 
Para mais agravar a minha dor
que maltrata que só um enfisema
a bronquite na fase mais extrema
e o derrame que causa o estupor
acendi um Marlboro sem pudor
desejando fumar sem pensar nela
Mas sem ter acabado a cartela
eu percebo já com perplexidade...
Vou fumando o cigarro da saudade
e a fumaça escrevendo o nome dela

Sem jamais esquecer que a nicotina
que eu trago dá câncer na laringe,
na bexiga, nos rins e na faringe,
a trombose, aneurisma e angina,
que também o tabaco contamina
com doença fatal ou com seqüela,
sem falar que existe erisipela
ou infarto maior em gravidade...
Vou fumando o cigarro da saudade
e a fumaça escrevendo o nome dela

Tudo aquilo que é chamado vício
sempre traz a promessa do prazer
Mas o vício aumenta sem trazer
pra saúde sequer um benefício
Quando o gozo se torna um suplício
numa grossa corrente se revela
e na dor punitiva que flagela
o seu corpo sem dó nem piedade
Vou fumando o cigarro da saudade
e a fumaça escrevendo o nome dela

É o corpo que sofre com cigarro
com a hérnia, gangrena e rinite,
catarata, halitose ou gastrite
por efeito do fumo e do sarro
Alternando soluço com pigarro
toda hora passando na goela
eu não quero pensar que é mazela
mas respiro já com dificuldade
Vou fumando o cigarro da saudade
e a fumaça escrevendo o nome dela
 
Vou fumando o cigarro da saudade

Versos diversos

 
Conheci minha flor na primavera
quando não resisti a seu encanto
Todavia a mulher que amo tanto
hoje está diferente do que era
Margarida que estava na espera
de negar seu perfume ao jardim
E por ela mudar tanto assim
nunca pode me dar felicidade
que por ela eu sofro de saudade
mesmo ela estando junto a mim

Poesia em sentido figurado
é um fruto da imaginação
Seu sabor é a interpretação
Sua polpa é o verso inspirado
O pomar onde ele é cultivado
é o grande pomar da estesia
Nesse fruto o leitor se delicia
com a casca, o gomo e a semente
O bagaço é cuspido e somente
a essência do fruto nos sacia

Definir a beleza da mulher
é querer limitar o infinito
e nem mesmo o verso mais bonito
poderia cumprir esse mister
Hoje sei que o poeta o que mais quer
é compor para ela um doce hino
porque ser nossa musa é seu destino
cada dia, semana, mês e ano
É por isso que afirmo sem engano
que sou fã do semblante feminino

Foi no tempo que eu tinha uma rede
que eu buscava um livro para ler
uma água de coco pra beber
e um gancho fixado na parede
Com a água eu matava minha sede
com o livro aprendia uma lição
com o pé eu só dava um empurrão
para ver se a rede balançava
e com esse balanço que ela dava
eu dormia com meu livro na mão

Nesse mundo eu já tinha observado
que a maldade costuma triunfar
e aquele que passa a praticar
a bondade é sempre castigado
E buscar na maldade resultado
essa foi a mancada que eu dei
Quando soube o mundo que errei
num instante o castigo me enviou
Só pra mim é que ele funcionou
Quis bancar o esperto e me ferrei

Se a mulher que me ama possuir
uma herança enorme pra gastar
e meu preço vier me perguntar
seu dinheiro não vai me seduzir
Eu só tenho apenas que sentir
que seu beijo e abraço tem calor
não me dando motivos pra supor
ter somente interesse passageiro
Eu não tenho amor pelo dinheiro
e dinheiro não compra meu amor

Esses versos que estou escrevendo
num estilo medido e rimado
são vagões de sentido figurado
de um trem de poesia se movendo
E as rimas que você está lendo
são paradas em uma estação
O bilhete da interpretação
você paga pra ser um passageiro
da viagem que faz nesse roteiro
pelos trilhos da imaginação

Eu me sinto já quase arrependido
de partir só pensando no regresso
E se eu procurando por sucesso
descobrir que meu sonho foi perdido?
Voltarei lamentando por ter ido
para um canto distante do meu lar
Não deixei o meu pai me ver chorar
no momento que fiz a minha mala
Eu deixei minha rede lá na sala
e parti com vontade de voltar

Quem não sabe cantar improvisado
pode ainda ser um bom glosador
que cantando sozinho o cantador
canta mais do que mal acompanhado
Se for bom pra você ficar calado
nunca perca esta oportunidade
Mostre o cantador facilidade
pra cantar com talento e maestria
e aquele que escreve poesia
faça glosas de muita qualidade

Meu pomar, minha horta e meu jardim
quando lembro me ponho a chorar
Vim pra cá sem vontade de ficar
Voltarei lastimando porque vim
É por isso que estou sempre assim
com saudade apertando o coração
Eu só quero voltar para meu chão
donde fui sem apelo desterrado
Fui menino do mato e fui criado
nos rincões esquisitos do sertão

Só quem pode entender o meu queixume
é quem tem alegria no seu lar
Passo hora e mais hora a lamentar
e queixar-me não era meu costume
O tesouro que tenho se resume
nas lembranças que tenho do passado
Se voltar ao lugar que fui criado
eu não saio nem por decreto-lei
Foi com muita saudade que deixei
meu casebre de taipa abandonado

Não desejo, não quero nem preciso
dessa vida agitada na cidade
Não consigo encontrar felicidade
nesta selva de pedra que eu piso
O lugar que nasci é o paraíso
onde outrora deixei meu coração
Quando eu retornar pro meu rincão
da espera serei recompensado
Vou voltar ao lugar que fui criado
pra matar a saudade do sertão

Não queria sair do meu lugar
pra viver em cidade tão distante
Eu deixei o que é mais importante
obrigado que fui a viajar
Não podia sequer imaginar
que seria distante meu destino
Com o povo que amei desde menino
já perdi até mesmo o contato
Vou falar do sertão pra ver se mato
a saudade do povo nordestino

Não me venha dizer que é preconceito
pois dinheiro não faz minha cabeça
Eu espero que nunca me aconteça
de aceitar a cobiça desse jeito
Com mulher que possui esse defeito
nunca vou dividir meu cobertor
A que só pra riqueza dá valor
só atrai pretendente interesseiro
Eu não tenho amor pelo dinheiro
e dinheiro não compra meu amor

Sei que eu lhe amar não é delito
mas você recusou cumplicidade
Pra privar-me da minha liberdade
seu desprezo me fez um veredito
Esse crime jamais será prescrito
se assim não quiser meu coração
A distância me fez uma prisão
o abandono tá sendo minha grade
Fiz um túnel na cela da saudade
pra tentar escapar da solidão

Quando lembro do tempo que na vida
eu vivi na total simplicidade
acho mesmo que a tal felicidade
foi estar com família reunida
O carinho da minha mãe querida
e o do pai com abraço apertado
Tanta coisa já tenho recordado
sem falar do namoro lá na praça
Não há nada no mundo que me faça
esquecer do sertão que fui criado

Minha flor, minha estrela, minha dama
a quem eu declarei meu sentimento
transformou meu desejo em lamento
apagando o calor da minha chama
Se é um erro amar quem não me ama
esse foi dos maiores que eu fiz
No amor sou apenas aprendiz
Tem segredos que eu não conhecia
Eu deixei de querer quem me queria
pra sofrer por alguém que não me quis

Eu não pude esconder minha tristeza
no momento da nossa despedida
Em meu peito ficou uma ferida
que não sei calcular a profundeza
Quando ela negava com frieza
que estava fazendo a traição
um pedido sincero de perdão
que fizesse a mim já bastaria
Os garranchos da sua covardia
arranharam demais meu coração

Eu deixei se envolver meu coração
num amor passageiro e fugaz
e perdi meu sossego e minha paz
quando foi descoberta a traição
Eu não quis concordar com a razão
nem ouvir os conselhos que ela diz
Mas eu tinha que amar só a matriz
pois quem ama não pode abrir franquia
Eu deixei de amar quem me queria
pra amar a alguém que não me quis

Tão contrário a si mesmo é o amor
já dizia o poeta português
e na definição que ele fez
é ferida que arde sem ardor
Coração é o grande traidor
dos conselhos prudentes da razão
Quem sentiu a pungente aflição
de amar e do amor ser prisioneiro
sabe quanto é penoso o cativeiro
das correntes tenazes da paixão…
 
Versos diversos

A verdadeira história do mentiroso

 
Leitores, agora vou

em estilo de trancoso

escrever A verdadeira

história do mentiroso

recriando um enredo

que já é muito famoso

Todos sabem que Esopo

foi um grande fabulista

Das histórias que criou

muito extensa é a lista

Esta aqui eu vou contar

pelo meu ponto de vista

Pois um moço empregado

no trabalho de pastor

quando estava sozinho

entretido em seu labor

precisava pouco tempo

pra ficar de mau humor

Olhando suas ovelhas

a pastar pela campina

ele um dia resolveu

pra mudar sua rotina

fazer uma brincadeira

com o povo da colina

Sabendo que na aldeia

conseguia ser ouvido

pra fazer o povo ser

por seus gritos atraído

foi gritando que um lobo

do mato tinha saído

Camponeses se armaram

pro tal lobo enfrentar

e chegaram todos juntos

avexados no lugar

encontrando na campina

só ovelhas a pastar

Por aquele ajuntamento

o pastor ficou cercado

Ele então foi explicando

que tinha apenas brincado

mas com muita rigidez

foi por todos censurado

E passando a encenar

como coisa costumeira

seus pedidos de socorro

sempre daquela maneira

fez o povo se cansar

com a sua brincadeira

Pois um dia o rapazote

levando susto tamanho

viu que um lobo chegava

pra atacar o seu rebanho

como sempre acontecia

nas lugares de antanho

Quando tentou avisar

a todo povo gritando

que um lobo estava ali

as ovelhas atacando

pensaram que outra vez

ele estava só brincando

Sem ninguém pra ajudar

nem ter mais o que fazer

ao moço restou somente

ver o lobo a abater

as ovelhas que sozinho

não podia socorrer

Voltou para sua aldeia

amargamente queixoso

onde ouviu uma lição:

- Na boca do mentiroso

tudo o que é verdadeiro

se altera em duvidoso

FIM
 
A verdadeira história do mentiroso

II - O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha

 
II - Segundo episódio que trata da primeira jornada que o genioso Dom Quixote da Mancha fez na sua terra

Vou agora prosseguir
com a minha narrativa
recolhida nos anais
da memória coletiva
ou até em documentos
de pesquisa exaustiva

O leitor ficou ciente
no decurso do relato
como foi que o fidalgo
decadente mas pacato
começou a baralhar
lenda, ficção e fato

Nem o mais abilolado
nunca não tivera antes
a idéia que ele teve
em favor dos semelhantes:
restaurar o resplendor
dos cavaleiros andantes

Quando ele convenceu-se
que seu plano era rotundo
e a moral cavalheiresca
já fazia falta ao mundo
na fazenda onde morava
não ficou nem um segundo

Vestindo sua couraça
com bastante confiança
embraçou a sua adarga
empunhou a sua lança
só pensando em avançar
na estrada sem tardança

Cavalgando satisfeito
com a velha armadura
uma idéia quase o fez
desistir da aventura:
- Não existe cavaleiro
antes da investidura...

Como já não separava
o real da fantasia
nessas horas o velhote
seus problemas resolvia
recordando os romances
que na memória trazia

Pois pra ele as novelas
forneciam um roteiro:
- Tudo posso resolver
ao topar com o primeiro
que quiser me ajudar
me ordenando cavaleiro

E passou a divagar
que um grande escritor
da estirpe de Homero
narraria com vigor
sua saga estupenda
encantando ao leitor

- Não duvido que narrando
minha história verdadeira
ao contar as aventuras
desta jornada primeira
num estilo exuberante
faça por esta maneira:

- O paladino Quixote
de engenho tão subido
o território espanhol
percorria decidido
escrevendo a epopéia
do guerreiro destemido

- Oh, cronista, peço que
em seu relato facundo
lembre que o cavaleiro
que é da Mancha oriundo
sem ter o seu Rocinante
não assombraria o mundo!

Desdizendo o velhote
no decurso desta rota
não estava acontecendo
nada digno de nota
Mesmo o que ele fazia
não daria uma anedota

Esperando encontrar
na estrada um gigante
foi não foi ele apeava
do cavalo Rocinante
com intento de mijar
pra então ir adiante

Por veneta o cavaleiro
escanchando-se na sela
repetia pra si mesmo
a linguagem de novela
imitando do seu jeito
trechos retirados dela:

- Minha doce Dulcinéia
que na hora da partida
aceitou minha viagem
com a alma dolorida
sei que foi aquela dor
a maior da sua vida!

- Se a saudade quiser
prolongar o sofrimento
deixe ser a esperança
o penhor do seu alento
que sem ela nada sou
mas com ela me ausento!

- E com tanta esperança
me levando pra diante
eu prometo, doce amada,
que o primeiro gigante
derrotado em batalha
deixarei a seu talante!

Disparando disparates
feito um doido varrido
Dom Quixote cavalgando
por um trajeto comprido
foi ficando ainda mais
de miolo amolecido...

Depois de desperdiçar
muito tempo em viagem
com o dia terminando
avistou a estalagem
que cansado e faminto
escolheu como paragem

O lugar que encontrou
era um sobrado singelo
mas Quixote absorto
em seu mundo paralelo
presumia estar diante
do mais imenso castelo

O velhote conduzindo
o cavalo pra pousada
conservando a viseira
do seu elmo levantada
viu duas moças na porta
cada qual mais assustada

Totalmente envolvido
pelo mundo das novelas
Dom Quixote presumiu
serem duas damizelas
Refreando Rocinante
foi dizendo para elas:

- Se as moças permitirem
eu explico a que venho
pois da ordem cavaleira
sou um defensor ferrenho
e por damas tão galantes
com mais zelo me empenho

No estado que estava
ele não podia ver
que as duas em questão
eram feias de doer
e discursos empolados
não iriam entender

Sem falar que elas eram
da baixa sociedade
mas Quixote já estando
longe da realidade
enxergava em cada uma
um modelo de beldade

Na presença de figura
tão faltosa de juízo
inda mais com um colete
velho, feio, sujo e friso
essas duas se olhavam
sem poder conter o riso

Quase ficando a ponto
de perder a polidez
mas fazendo um esforço
para se manter cortês
Dom Quixote para elas
foi falando outra vez:

- Nada existe mais afim
com as vossas formosuras
no que tange à etiqueta
que a virtude das mesuras
mas os risos malbaratam
o padrão das composturas

Escutando o discurso
de linguagem rebuscada
e ficando novamente
sem ter entendido nada
elas passaram do riso
para grossa gargalhada

Vendo elas se portando
sem nenhuma etiqueta
e que ambas já estavam
gargalhando com careta
Dom Quixote foi ficando
de cordato pra ranheta

Passariam desse ponto
se não fosse o vendeiro
ir saindo da taberna
caminhando bem ligeiro
para ver se poderia
atender o cavaleiro

Ajudando Dom Quixote
a descer da montaria
mesmo ficando cismado
pelo traje que vestia
indagou se ele estava
procurando pousadia:

- Se o amigo quiser
retardar sua partida
deixe o cavalo comigo
e prove nossa comida
Só não posso oferecer
um lugar para dormida

- Castelão, em humildade
ao senhor não me igualo
Eu tenho plena certeza
que terá o meu cavalo
um distinto tratamento
ensejando seu regalo

- Meu corcel é Rocinante
um cavalo sem iguais
que na liça mais renhida
não retrocede jamais
exibindo o seu valor
em pujanças colossais

Mas o taberneiro viu
que o velho matusquela
tinha só por montaria
um cavalo de Gonela
arriscando se vergar
só com o peso da sela

Sem ter muita paciência
com sujeito extravagante
inda mais fantasiado
como cavaleiro andante
carregou o seu matungo
entregando ao ajudante

Da cocheira retornou
reparando divertido
que as moças com Quixote
já tinham se entendido
ajudando o cavaleiro
para que fosse despido

E na mesa da cantina
sentou-se ao lado delas
conversando com as duas
que chamava de donzelas
Elas o tinham levado
para perto das janelas

E assim foram tirando
a lombada e corselete
pra deixar o cavaleiro
sem o peso do colete
A maior dificuldade
foi tirar o bacinete

Depois de tanto puxar
sem ter visto resultado
Quixote solicitou
que o deixassem de lado
parecendo para todos
um cogumelo sentado

Ele imaginando estar
numa enorme fortaleza
e que estava recebendo
tratamento com fineza
fazia belos discursos
para as damas da mesa:

- Nunca fora um cavaleiro
por damas tão bem servido
como fora Dom Quixote
o guerreiro mais subido
Dele tratavam donzelas
com o melindre devido

Elas foram escutando
sem dar muita atenção
só pedindo que parasse
com a sua explanação
na chegada do momento
de fazer a refeição

No cardápio apresentado
por motejo ou descaso
tinha pão que foi servido
com dois dias de atraso
num pirão de caldo grosso
dentro de um prato raso

E no prato com o caldo
parecendo uma lavagem
disputavam o espaço
agrião, jiló e vagem
com o sal e a pimenta
temperados sem dosagem

Mas pra ele a gororoba
era o mais fino jantar
dizendo que o tal prato
se um rei fosse provar
a receita honraria
o seu nobre paladar

E mesmo que na cabeça
lhe pesasse o morrião
parecendo satisfeito
com a nobre refeição
para as damas ele fez
uma breve confissão:

- As damas vão assentir
que agora eu não minto:
se a fome está na mesa
para ser claro e sucinto
quão difícil é jantar
sem parecer um faminto!

Nisso foi chegando ali
distraído um porcariço
que entrava na taberna
retornando do serviço
assoprando cinco vezes
sua flauta de caniço

Escutando aquele som
(para ele harmonioso)
Dom Quixote confirmou
comovido mas ditoso
que estava no salão
dum palácio suntuoso

Mas estava incomodado
com a tal investidura
pra poder de uma vez
se lançar na aventura
percorrendo a Espanha
na sua cavalgadura
 
II - O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha

O drama dos jogadores compulsivos

 
Escondido no disfarce
da diversão inocente
o vício da jogatina
tem lesado muita gente
fazendo o trabalhador
ficar pobre e doente

Cerca de quatro milhões
nessa praxe doentia
de aposta em carteado,
bicho, bingo e loteria
tem um problema que só
se agrava a cada dia

O apostador da rinha,
caça-níquel ou corrida
corroendo seus recursos
em cada aposta perdida
é desse jeito que esta
destruindo a sua vida

Também os jogos em rede
que dão esse incentivo
para jovens e adultos
tem efeito obsessivo
É o mundo promovendo
mais um drama coletivo

Quem procura distração
com os jogos virtuais
e navega a internet
jogando tempo demais
fomenta para si mesmo
prejuízos sociais

Comprovando que o jogo
é vício muito voraz
quem decide não jogar
perde o sono e a paz
Você vai saber aqui
o mal que o jogo faz

Existe pai de família
que era trabalhador
mas perdeu a honradez
devido a ser jogador
pois os jogos de azar
são um mal devastador

Um sujeito que calcula
que pode lucrar ligeiro
nem percebe que está
só repetindo o roteiro
de quem perde no final
o controle do dinheiro

Na mesa do carteado
ele aceita uma proposta
e animado pela sorte
vai dobrando a aposta
mas no lance decisivo
o azar manda a resposta

Se às vezes sai da mesa
levando dinheiro vivo
com a emoção do jogo
vai ficando compulsivo
Quando volta pra jogar
já nem sabe o motivo

Dizendo que o azar
é um risco calculado
e pensando que está
com a sorte do seu lado
vai jogando todo dia
e acaba endividado

O dependente do jogo
sofre feito um escravo
Apostando o que não tem
se não vence fica bravo
Se vence volta a jogar
perdendo cada centavo

O vício da jogatina
chega sem lhe dar aviso
Quando ele reconhece
é total o prejuízo:
já perdeu o seu emprego
a família e o juízo

Quando o salão de bingo
funcionava legalmente
o serviço de primeira
e o luxo do ambiente
eram pra impressionar
e atrair o cliente

Hoje a sala é escura
insalubre e escondida
onde jogador retorna
quando tem a recaída
jogando pra lamentar
outra rodada perdida

Só aumenta o capital
do barão da jogatina
um algoz do jogador
que lhe vendo na ruína
abandona a carcaça
feito ave de rapina

Para o dono do salão
o negócio é lucrativo
mas quem fica esperando
por um lance decisivo
deixa as suas finanças
com um saldo negativo

O viciado jogando
esquece as obrigações
e ficando sem jogar
não quer outras opções
Esse flagelo funesto
já prejudica milhões

São jovens sem estudar,
empregados demitidos,
empresários competentes
que terminaram falidos
e os lares de milhões
totalmente destruídos

O povo tem que saber
que o jogo escraviza
onde perde quem não tem
ganhando quem não precisa
e o que se perde no jogo
dinheiro não indeniza
 
O drama dos jogadores compulsivos

I - O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha

 
Apresento um herói de epopéia
como aqueles que havia no passado
ou somente um maluco apaixonado
pela sua princesa Dulcinéia
Dom Quixote empenhado na idéia
de fazer o retorno dos andantes
confundiu os moinhos com gigantes
sempre junto de Sancho o escudeiro
se tornando o bizarro cavaleiro
no maior personagem de Cervantes

I - Primeiro episódio que trata de como um fidalgo sonhador se transformou no último cavaleiro andante

Num vilarejo da Mancha
dos tempos de antigamente
vivia em uma fazenda
um fidalgo decadente
que de amigos e vizinhos
era em tudo diferente

Sem jamais compartilhar
interesses com seus pares
repetia relutante
as rotinas regulares
se mostrando entediado
entre bailes e jantares

Vestia trajes decentes
mas modestos no valor
Tinha um velho pangaré
e um galgo corredor
O que mais o comprazia
era ser madrugador

Seu repasto eram ovos
com torresmo na farinha
Carne, queijo e batata
já faltavam na cozinha
Nos domingos escapava
com um caldo de rolinha

Dizem que este manchego
com sua vida discreta
por uma tal de Aldonza
nutria paixão secreta
sem cupido nunca ter
acertado nela a seta

Convivia em sua casa
com sua jovem sobrinha
uma velha empregada
prestimosa e sozinha
e um moço responsável
por tarefa comezinha

Era um cavalheiro magro
beirando cinquenta anos
começando a mostrar
nos atos cotidianos
toda aquela rabugice
natural dos veteranos

Seu provável sobrenome
era Quixana ou Quezado
mas importa é sabermos
que o fidalgo mencionado
tinha tempo até sobrando
pra ficar desocupado

Certo é que a gerência
da fazenda esquecia
e perdia o interesse
em caçada ou pescaria
quando começava a ler
livros de cavalaria

Fascinado por novelas
de cavaleiros andantes
tinha livros a granel
atulhando as estantes
onde vinha reunindo
traças, grifos e gigantes

E por sempre aumentar
o seu tempo com leituras
cada vez gastava mais
em cadernos e brochuras
precisando mais dinheiro
pra arcar com as faturas

Com as grandes coleções
consumindo sua renda
resolveu por desatino
demarcar e por à venda
para quem pagasse mais
partes da sua fazenda

A sobrinha se alegrava
sempre que chegava o dia
de ver o seu velho tio
indo pra barbearia
ou no rumo da igreja
pra ouvir a homilia

Acontece que o fidalgo
com o cura e o barbeiro
só falava em romances
por ficar o dia inteiro
discutindo qual seria
o mais nobre cavaleiro

Por um tempo cogitou
escrever sua novela
com gigante, feiticeiro,
sem faltar uma donzela,
e também um cavaleiro
para ser vassalo dela

Seu intento era mostrar
triunfando em campanha
um guerreiro até maior
que El Cid na Espanha
mas trocou a narrativa
por idéia mais estranha

Por encher sua cabeça
com tanta coisa que lia
e ficar toda semana
trocando noite por dia
pouco a pouco se deixou
mergulhar na fantasia

De tanto ler e reler
novelas e coisas tais
foi ficando convencido
que elas eram reais
e a fantasia dos fatos
já nem separava mais

A empregada servindo
a farofa com torresmo
certa feita o escutou
dizendo para si mesmo:
- Na condição de fidalgo
eu estou vivendo a esmo!

Ele ainda prosseguiu
dizendo em sua loucura:
- Quero ser um paladino
indo atrás de aventura
e vou me tornar famoso
por meus atos de bravura!

A sobrinha igualmente
deparou com o seu tio
de pé em cima da cama
num completo desvario
quase não acreditando
nas coisas que ela viu

Empunhando o seu bastão
qual se fosse uma espada
dava golpes na parede
deixando ela riscada
Ela viu o destrambelho
mas não entendia nada

Foi não foi ele dizia
um e outro disparate:
- Já deixei 4 gigantes
derrotados em combate
mas não é com o cansaço
que um soldado se abate!

Foi então que decidiram
retirar do seu alcance
todos livros com o tema
de novela ou de romance
calculando que depois
não teriam outra chance

Todavia elas ficaram
sem saber o que fazer
quando ele sorrateiro
começou a se esconder
sempre com a intenção
de continuar a ler

Certa feita procurando
esconder-se um momento
no porão da sua casa
encontrou o armamento
que o saudoso bisavô
conservou do regimento

Encontrou um chifarote,
uma adarga, um cinturão,
as ombreiras e as grevas,
o gorjal e o morrião,
os coxotes e manoplas,
e a lança espontão

Completava uma couraça
bolorenta e amassada
que apesar de apresentar
leves manchas na lombada
pelo seu tempo de uso
reputou por conservada

Experimentou o traje
que ficou meio folgado
mas na sua fantasia
tudo estava ajustado
como se ele já fosse
um guerreiro do passado

Pela falta de viseira
no seu velho morrião
ele improvisou a peça
recortando um papelão
amarrando com arames
como a grande solução

Ao olhar-se no espelho
com aquela armadura
novamente acendeu-se
a centelha da loucura
decidindo nessa hora
se lançar na aventura

- Cavalgando meu corcel
marcharei numa campanha
reparando as injustiças
dessas terras de Espanha
pra honrar os cavaleiros
em mais de uma façanha!

No momento que estava
essas coisas cogitando
de repente escutou
o cavalo relinchando
como se o matungão
estivesse lhe chamando

Convencido que já era
um guerreiro de novela
foi até seu pangaré
colocando nele a sela
enxergando um corcel
no matungo magricela

Quis montar com altivez
imitando a narrativa
mas depois de repetir
mais de uma tentativa
a subida por um mocho
foi melhor alternativa

Já montado no matungo
decidiu ser importante
só chamar o seu corcel
por um nome elegante
e de tantos que pensou
o melhor foi Rocinante

- Sairei no meu cavalo
viajando em toda serra
Um perfeito paladino
a cruzar por essa terra
e Dom Quixote da Mancha
será meu nome de guerra!

- Meu intento é honrar
os que já vieram antes
restaurando o apogeu
dos cavaleiros andantes
sendo o mais prodigioso
em façanhas relevantes!

Como todo cavaleiro
tem por musa a donzela
a quem ele considera
a mais virtuosa e bela
o fidalgo já sabia
que Aldonza era ela

Mas pensando que a moça
tinha um nome embaraçoso
preferiu chamar a musa
Dulcinéia de Toboso
que na sua opinião
ressoava harmonioso

Tendo o nome escolhido
e trajando a armadura
com desejos de fazer
grandes atos de bravura
Dom Quixote decidiu
se lançar na aventura

A sobrinha avistando
o figalgo na estrada
cavalgando com o traje
disse para a criada:
- Ele nem nos avisou
onde é a mascarada...
 
I - O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha

XXI O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha

 
XXI - Vigésimo primeiro episódio que trata da grande aventura
e preciosa conquista do elmo de Mambrino, com outras coisas acontecidas
ao nosso invencível cavaleiro

Cavaleiro e escudeiro
indo por um matagal
adentraram de repente
em uma zona rural
encontrando no trajeto
um extenso milharal

Quando entraram ali
procurando por atalho
avistaram de passagem
um prosaico espantalho
que era só um boneco
costurado com retalho

E Quixote o apontando
disse a seu escudeiro:
- Não podemos prosseguir
sem examinar primeiro
aquele velho estafermo
de treinar um cavaleiro

Sancho Pança intrigado
respondeu a seu patrão:
- Isto ali é um boneco
de remendo de algodão
feito só pra espantar
as aves da plantação

- Eu terei que repetir
que o seu conhecimento
sobre a lida campeira
é debalde num momento
em que o tema das armas
novamente toma acento?

- Pois ali no estafermo
que deixaram escondido
você vê um espantalho
só porque é parecido
esquecendo que no tema
sou bastante instruído

- Pois você tem o dever
uma vez que é escudeiro
de fazer adestramento
como faz um cavaleiro
ainda que não alcance
o primor de um lanceiro

- Na vara do estafermo
vou amarrar a rodela
Você monta em Rocinante
e avança contra ela
como se fosse Amadís
defendendo uma donzela

E depois que seu escudo
foi no boneco amarrado
Dom Quixote o carregou
para o amplo descampado
que pra ele era o lugar
onde tinha sido usado

Desejando só brincar
Sancho a tudo aceitou
Como se fosse lanceiro
em Rocinante montou
e a lança de taquara
no espantalho mirou

Foi ali que o escudeiro
imitando Dom Quixote
deu a carga esquecendo
já não ser um rapazote
e gritou se aprumando:
- Sou agora Lancelote!

Com a lança apontando
pra sua sorte ou azar
bem no meio do escudo
conseguiu ele acertar
e com a força do golpe
fez o boneco rodar

O espantalho girando
desferiu de supetão
uma varada em Sancho
que deixando um vergão
fez o mesmo desmontar
caindo bambo no chão

Quixote foi acudir
o escudeiro estirado
dizendo que o revide
do boneco era esperado
e ali mesmo no chão
Sancho foi elogiado

O que Sancho retrucou
tem o grau do desatino
de um longo praguejar
o qual repetir declino
pois teria que o fazer
só em verso fescenino

O leitor mais exigente
que procure nos relatos
do cronista Benengeli
uma apuração dos fatos
feita com maior rigor
em impressos correlatos

Sancho Pança pra poder
da queda ir recobrando
precisou ficar sentado
um momento descansando
e os dois aproveitaram
esse tempo conversando

Permeando a conversa
com ditados populares
coisa que o escudeiro
conhecia aos milhares
falaram de cavaleiros
e assuntos similares

Sancho Pança descobriu
que Dulcinéia, a rainha,
era Aldonza de Lourenço
com quem parentesco tinha
sendo ela a concunhada
do avô de uma vizinha

Disse ele que na vila
onde era conhecida
era simples porcariça
que só andava fedida
trabalhando na pocilga
com os porcos entretida

Dom Quixote na defesa
de Aldonza ou Dulcinéia
disse que ela seria
pra sempre a sua tetéia
comparando a sua musa
com a grácil Galatéia:

- Pois vivia numa ilha
um monarca escultor
que no seu belo jardim
trabalhava com ardor
Todo o povo conhecia
seu trabalho e valor

- A não ter uma esposa
já estava decidido
que só damas indecentes
o queriam por marido
mas tiveram todas elas
recusado seu pedido

- E fazendo a escultura
de uma linda donzela
mesmo sem ter uma dama
para ser modelo dela
percebeu que estava ali
a sua obra mais bela

- E a deusa Afrodite
adentrando seu jardim
vendo tanta perfeição
na donzela de marfim
já sabia que na ilha
não havia dama assim

- E ficando Afrodite
nesta hora comovida
desejando dar ao rei
a esposa pretendida
fez então uma mulher
da imagem esculpida

- O rei Pigmaleão
no sonho realizado
com a bela Galatéia
ditoso ficou casado
Pela sua compostura
ele foi recompensado

- Os poetas são assim
feito um Pigmaleão
Quando elegem sua musa
pra lhes dar inspiração
é a quem vão dedicar
versos cheios de paixão

- E assim vejo Aldonza
virtuosa e requintada
que tem uma louçania
só com fadas comparada
e pra mim sempre será
minha Dulcinéia amada

Essa Aldonza que conheço
apenas de ouvir falar
é a princesa perfeita
a quem sempre irei amar
e meus feitos valorosos
sempre a ela dedicar...

Sancho Pança escutando
disse que tinha 1 porém
pois mesmo a sua patroa
a quem mais queria bem
tinha suas qualidades
e seus defeitos também

- É fácil amar a princesa
que nunca lhe dá ensejos
de saber se ela existe
tal e qual os seus desejos
e nem possa transformar
seus suspiros em bocejos

Sancho Pança sugeriu
a Quixote uma idéia
de irem ao povoado
conhecer a Dulcinéia
pra saber se ela seria
mesmo a sua Galatéia

Estando nestas conversas
começou um chuvisqueiro
Montado no seu jumento
apareceu um barbeiro
que distraído subia
na vereda do outeiro

Pra poder se proteger
da chuvinha que caía
o barbeiro colocou
na cabeça uma bacia
e montado num jumento
o barranco ele subia

E Quixote o avistando
disse a seu escudeiro:
- Sancho Pança, veja que
vem subindo um cavaleiro
cavalgando num corcel
que galopa bem ligeiro

Sancho Pança intrigado
disse sem acanhamento:
- Eu só vejo um cidadão
que montado num jumento
vem subindo na colina
com um trote meio lento

Mas Quixote respondeu
já montando no eqüino:
- É mais uma aventura
que nos trouxe o destino
O guerreiro na cabeça
tem o elmo de Mambrino!

Dizendo isto Quixote
seu cavalo esporeou
Na descida do outeiro
resoluto disparou
e pra cima do sujeito
com a lança avançou

Rocinante que descia
galopando no embalo
progredia na ladeira
com tropeço e resvalo
Dom Quixote confiante
foi gritando no cavalo:

- Escute o que eu digo
cavaleiro atrevido!
Me entregue o morrião
que a mim só é devido
ou vai conhecer a lança
dum guerreiro aguerrido!

Sem ao menos entender
o que estava acontecendo
o barbeiro do jumento
bem ligeiro foi descendo
e derrubando a bacia
para o mato foi correndo

Dom Quixote satisfeito
vendo a bacia no chão
disse para o escudeiro
recolher seu "morrião"
que depois de um exame
deu a dita a seu patrão

- Se um dia retornar
para minha parentela
vou limpar esta bacia
com estopa ou flanela
pois parece muito boa
de fazer a barba nela

- Pois foi o mago Frestão
que com a sua magia
fez o elmo de Mambrino
parecer uma bacia
mas é como um bacinete
que tem a sua valia...

- Acontece que isto aí
nunca foi um capacete!
Eu conheço uma bacia
e conheço um bacinete
A não ser que isto seja
talvez um bacianete!

E os dois se revezando
entre falante e ouvinte
as suas próprias idéias
defendiam sem acinte
Vamos ver como ficou
no episódio seguinte
 
XXI O genioso fidalgo Dom Quixote da Mancha

A beleza das flores

 
As flores tem o desenho
mais belo da natureza
O jardineiro ocupado
em cuidar sua beleza
sempre olha o jardim
com renovada surpresa

Também o campo de flores
que a ventania agita
exibe muita beleza
difícil de ser descrita
e uma flor vista de perto
é ainda mais bonita

As flores dos arvoredos
na devida estação
abrem as suas corolas
como a cauda do pavão
e até nos rios e lagos
tem plantas em floração

Certamente elas não tem
poucos admiradores
Quem não para seu olhar
nas borboletas e flores
do canteiro quando estão
combinando suas cores?

Vicejando sempre foram
tema de muitas pinturas
Quem não gosta de escolher
essas frágeis criaturas
nos arranjos variados
que tem as floriculturas?

Cada espécie de flor
na sua beleza extrema
somente por existir
merecia um poema
Tanto verso já foi feito
e não esgotou-se o tema

Pensando nessa beleza
não é difícil supor
que nos tempos de outrora
o primeiro trovador
fez o seu primeiro verso
inspirado pela flor

É por isso que as flores
nas relações sociais
são o presente perfeito
em datas especiais
sendo um gesto de afeto
apreciado demais

Quem nunca deu uma flor
para a sua namorada?
Depois do parto a mãe
com flor é agraciada
e as coroas enfeitam
o fim da nossa jornada

No lugar onde trabalho
eu conheço um setor
onde uma funcionária
como é do seu pendor
de tempos em tempos dá
aos colegas uma flor

Todo homem ou mulher
durante o expediente
sempre é merecedor
de ganhar esse presente
e o perfume da amizade
se percebe no ambiente

Os colegas ficam gratos
com a sua gentileza
vendo em seu coração
aquela mesma beleza
expressada pelas flores
que enfeitam cada mesa

Eu com essa linda flor
também fui presenteado
ficando meio surpreso
no entanto motivado
a um pouco refletir
no seu significado

Nesse mundo que vivemos
tão carente de valores
onde as ações se pautam
pela troca de favores
é o amor sem interesse
expressado nessas flores

Esse presente ofertado
espontâneo e sem aviso
é a troca de uma flor
na ternura de um sorriso
pois a cordialidade
não nos causa prejuízo

Precisamos praticar
da mesma forma singela
esse gesto cordial
que é praticado por ela
quando faz que uma flor
se torne ainda mais bela
 
A beleza das flores