Poemas, frases e mensagens de lip

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de lip

O trilho que a história traçou

 
Se me descrevo,
É sem o desejar,
Pois escolho a morte lenta
Em vez de me suicidar.

Nessas linhas tão tortas,
Existe um mundo secreto,
Que tanto odeio como amo,

É o jardim das mil flores,
Que o embelezam todo o ano,
Mas é também o jardim de todas as sombras,
As do futuro, as do presente e as do passado...
Das que vagueiam através do tempo,
E que flutuam entre mundos e mundos,
Num frenesim desesperado,
De quem morreu sem viver,
E que entre correntes e chamas,
Se consomem e desesperam,
Porque morrer sem sentir o prazer de viver,
É nascer sem acordar, sem ver e sem tocar,
E na penumbra da sua existência,
Se torturam,
Por não ver,
Por não sentir,
Mas a minha pena não levam,
Pois só eu a posso sentir,
Sem a ver e sem a tocar,
Como um viajante invisível,
Que vai e vem sem precisar de descansar,
Que passa mas não fica,
Que abranda mas não para,
Como a chuva de sal,
Pedida para afastar o mal...

E no imenso oceano das palavras,
Mergulhei para me perder,
Mas afundei-me devagar,
Só para te recordar,
E ver-te assim ao meu lado,
Descendo devagar o inferno da tentação,
Fez-me verter,
AS lágrimas que nunca vi
E envolto nessas lágrimas
Que eu tinha jurado nunca mostrar,
Viajei de costa a costa,
Sem me mover e sem respirar,
Despertando então no jardim,
Que eu criei e que alimento...

Entre a quase morte e a morte
Cresce o infindável sofrimento,
Que transforma os outros em nós,
E a nós nos varre com o vento
Por entre as certezas e as dúvidas
Em que se faz cada momento...

E desse momento se faz a felicidade,
E da felicidade se faz o fim,
Que depois trará um outro fim...
Tudo isto dentro do meu jardim,
Que cresceu, vive e morrerá,
Algures dentro de mim.

Sinto agora o tempo a passar,
Com as suas carícias e o seu toque de mel,
Estimulando os meus sentidos e
Aprofundando a minha dor,
Como um livro sem nome e sem nada,
Que se lê de olhos vendados
Nas tardes solarengas de um Outono qualquer,
Entre o bailado das folhas caídas
E o murmúrio das árvores despidas,
Desapoderadas e sábias como as areias do deserto,
Que nos engolem e cospem,
Sem o saber e sem o desejar,
Simplesmente para seguir
O trilho que a história traçou!
 
O trilho que a história traçou

Maré negra que me invade

 
Em que negra água
Me terei banhado,
Porque obscuro feitiço
Terei sido tocado,
Nestas terras do sol nascente?
Que águas tão negras e pútridas
Me inundam e me escondem,
Me sacodem e me arrastam
Por estas ruas feitas rios,
Por entre carcaças
Por entre detritos,
Perdendo o sentido das formas,
E as formas dos sentidos?
São só negras águas,
Dos copos vertidos,
Nas ruas desertas
Onde o meu desejo de morte
É sempre maior que o teu,
E onde um corpo de sombras se esconde
Do tempo que nunca existiu…
 
Maré negra que me invade

Presente

 
Este é o século dos ninguéns,
Dos que são mas nunca foram,
Dos que já foram e nunca mais o serão,
Este é o século do não pensamento,
Da felicidade enquanto momento
E das decisões tomadas pelo vento,
Pelo mesmo vento que comanda as guerrilhas,
Que varre o mar e esconde as feridas,
Que oculta a dor,
Sob as correntes de lava,
Do grande rio,
Que transporta e semeia o terror,
Nas cabeças tão férteis dos não pensadores...
Mas as minhas expressões são tão vagas,
Como aquilo que eles pensam saber,
E se as palavras me inundassem
E jamais pudesse parar,
Talvez pudesse finalmente encontrar
Um final para o sofrimento
Que insiste em me acompanhar...
 
Presente

Pássaro perdido

 
Pássaro perdido,
Sem destino e sem crença,
Por entre o sangue varrido
Desta infinita matança...
Encontras e desencontras
E nunca perdes a esperança,
Foges de mim e de ti
Como uma prova de força...
Podes fugir, podes te esconder
Mas não podes evitar
Essa força de viver...
Esqueces que o tempo
Eterno como o vento
Te obriga a existir
Para depois te matar?
Rasgas os céus
Com gritos de poder
Rezas a Deus nenhum
Quando não sabes o que fazer...

Pássaro perdido
Que rasgas os céus
Que esqueces o tempo
Que foges e te escondes
Que encontras e desencontras
Sem nunca perder a esperança
De um dia
Poder simplesmente viver...
 
Pássaro perdido

Lágrimas

 
Lágrimas
São beijos de dor
Saídos das entranhas
De um ser redentor
Lágrimas
São golpes rudes
Dados no coração
Lágrimas
São rosas selvagens
Que florescem no meio da floresta.
Lágrimas
Escorrem suavemente em largas viagens
Juntam-se aos rios
Inundam as margens
Lágrimas
São laivos intocáveis de paixão
Que repousam
No eterno silêncio deste caixão
 
Lágrimas

Nestas palavras

 
Nestas palavras,
Simples rascunho duma qualquer verdade utópica,
Sinto o meu sangue correr,
Como um rio em direcção ao mar...

É o sangue todo que perdi
E todo aquele que irei perder...
Enquanto espero,
Na sombra da solidão,
Onde nada tenho a ganhar e onde nada tenho a perder,
Apenas abraço docemente
Uma dolorosa vontade de viver...

Sei que nunca o disse mas que já o gritei,
Sei que sempre o fiz mas que nunca o disse,
Que sedutora e doce melancolia,
O desejo de jogar só para poder perder...

Deitei fora a minha alma,
Deitei fora a inspiração,
Só para me entregar a ti
Como um cioso e moribundo cão...

E entreguei-me a ti,
Quando a noite já era velha,
Mais velha do que a eternidade,
Num vale de lágrimas e sangue,
Onde encontrei a resposta
Para a tua pergunta…
Aquela pergunta
Que nunca chegaste a fazer...

E quando a noite já era inválida,
Mas como sempre persistente,
A tua imagem tão pálida,
Aparecia e desaparecia de repente...
Como o sol de Inverno,
Nos Invernos de toda a gente...
 
Nestas palavras

inconstante...

 
Desconheço já,
O significado das palavras,
Guio-me apenas
Pelo sentimento com que as paro,
Como uma mãe protectora
Que controla as crias pelo faro…

Completamente envolto pela cegueira,
Deste mundo sem sentido,
Ando de cadeira em cadeira
Cuidadosamente escondido,
Entre as trevas da minha própria imaginação,
Que me leva e que me traz,
Montado nos rasgos de loucura
Onde a minha alma se satisfaz…

Satisfaz os meus desejos,
E alimenta os meus medos
Fugindo como uma sombra
Por entre os meus desatentos dedos…

Sendo fonte dos meus medos,
Sendo lar dos meus prazeres,
Espero de ti muito mais
Do que espero de todos eles…

Sinto as palavras morrer
Sinto o prazer a desfalecer,
Neste turbilhão de emoções
E na pressa de querer viver,

Dando sentido ao absurdo,
Sentindo na pele o papel,
De existir nesta perpétua
E intermitente vontade de ser,
Que me consome como se eu fosse
Uma colher,
Dum doce e suave mel…

E pudesse eu tê-lo sido,
Mero fruto de um desejo,
Ou obra nascida do prazer,
Que apesar de desconhecido
Insiste em se fazer sentir,
Insiste em me fazer viver…
Nos rasgos da loucura
Em que construo e desconstruo todo o meu ser…

Nesses rasgos de loucura
Brota a minha identidade,
Num misto de alucinação e verdade,

Sempre à espera do passar do tempo
Numa montanha russa imparável,
Feita de dor e saudade,
Onde o tempo se perde
Numa procura incessável
Pela luz tão desejada,
Nesta escuridão provocada
Pela cegueira incurável
Que oculta o mundo da vida,
E que da vida oculta o limiar da realidade…

É a realidade tornada jogo,
Um repetitivo jogo de esconde e foge,
Onde a vida se torna prisioneira do tempo,
Onde o tempo viaja com o vento…
 
inconstante...

Anjos mortos pelas ruas

 
Anjos mortos pelas ruas
Verdades tão cruas, tão nuas
A insatisfação…
O prazer, a procura e
O destino que sem pudor
Inevitavelmente a vida fura,
Compreender o nada,
O infinito por explicar
Fechado numa boca calada…
Morrer,
Solidão,
Saudade,
Mentir é a verdade
Sofrer é tentar escolher,
É Procurar na dor
O lado oculto do prazer
E o fim que não existe,
Foi pelo tempo Destruído e caiu
Mas para todo o sempre persiste
 
Anjos mortos pelas ruas

TU

 
Tu,
Impávida e serena,
Continuas a tua viagem,
Sem olhar para trás,
Sem misericórdia
E sem piedade…

Apesar de sentires a proximidade da ruína,
Caminhas, caminhas e caminhas,
Apenas caminhas,
Deixando pelo caminho
Um rasto de círculos e espirais concavas, que se assemelham
A abismos carregados de trevas,
Aos quais te entregas estoicamente
E nos quais te afundas,
Numa dança absurda
Com sabor a loucura…
 
TU

Tormentos

 
Se eu pudesse pelo menos explicar,
Ou quem sabe simplesmente dizer
O quanto me atormenta
Este silêncio ensurdecedor,
No qual sufoco e morro…
Se eu pudesse pelo menos descrever
Esta claustrofóbica sensação,
De quem está eternamente a morrer…
Se eu pudesse gritar,
Como outrora gritei,
Sem temer e sem nada,
Com nada…
Por nada!
Só para sentir o vento parar,
E eu passar a ser vento
E o vento passar a ser nada…
Quem me dera ser tudo
E nada ter que ser,
Correr pelo céu
Sem parar,
E só parar ao morrer…

Quem és tu que vives dentro de mim
E me fazes sofrer?
E quem sou eu que to permito
E continuo a viver?

Eu sei que apenas pertenço à morte,
Que me espera paciente
Ao virar duma esquina qualquer…
Mas sei também que posso ser quem eu quiser,
Pois nada sou,
Sou apenas aquilo que tu fizeste nascer…
 
Tormentos

desobediente

 
....Quanto eu quero
do nada que me dás,
Quanto eu espero
do nada que me satisfaz,

O amor converti em lei,
e da lei só guardei rancôr,
Sentado nesta dor esperei
Sentir um dia o teu amor,

Limpo a lágrima que te fiz verter
do teu rosto ensanguentado,
Seguro teu coração a tremer
com meu todo rasgado...

Penso nunca ter tentado
por nesta solidão me encerrar,
meu coração esventrado
espera um dia te encontrar

Quem te ensinou a sentir?
quem te faz chorar em vez de rir?
Quem te ama de forma tão pura
mesmo vendo-te partir?

Ando às voltas dentro de mim
Sangro como um cordeiro
vasculho o meu jardim
por um sinal do teu cheiro...

quanto dói, quanto sofro
quanto sangro e me contorço
tua ausência, minha morte
minha fraqueza, tua sorte

Ó morte que tanto tardas
E te insinuas a toda a hora
Mostra-te e diz-me
porque demoras...
 
desobediente

Vida/Destruição

 
A destruição,
Dá-se de forma aleatoria,
Nesse caos induzido
Que conduz a vida
Através dos infinitos abismos
Orgulhosamente cavados
Pelos detentores das verdades,
Das verdades mortas
Imitadoras dos zombies,
Que sem motivos aparentes
Ou justificações divinas,
Propagam a morte
Atropelando a existência,
Que inócua,
Já se arrasta pelas esquinas,
Como um brinquedo abandonado
Num caixote do sótão,
Sem vida ou esperança,
Sem futuro e sem memória…
 
Vida/Destruição