Poemas, frases e mensagens de Carlos Said

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Carlos Said

Vida virtual

 
E assim virei um ser virtual, exilado do coração da cidade que amo, amizades certas se tornando incertas, nada restou que me agrade, além do teclado, da rede, aqui vivo ancestralmente nômade, cidadão do mundo...virtual . Aqui posso ser eu, despido de convenções e obrigações, aqui sou poeta porque quero não porque sou, lá fora comercializo meu tempo .E em sendo virtual não posso negar meu amor á mulher que me observa, a boca meiga, olhos cheios de caricias, que não contém em si e transborda em versos. Aquela mulher construí-se de palavras me conquistou com frases, envolveu-me em versos, tornou-se real, a ponto de sentir seu cheiro de mulher e marejar meus olhos. Ao lê-la espreito sorrateiro e solerte o tempo que passa e morre efêmero de pura beleza. Inebria-me, transporta rejuvenesce apresentando-se plena, nua, linda, enluarada. Já não vejo no espelho a nuvem encobrindo um homem que viu tudo e julgava nada mais ter a ver “gestando” sua morna velhice. Refaz, resgata-me deste claustro sem fobias. Sequioso de apresentar-lhe meus olhos despidos das mazelas do mundo...puros, virgens de vida e morte, inocentes como um mito.
Carlos Said
 
Vida virtual

Descartando sonhos

 
Entre meus sonhos figuram tantos livros a ler e a imprimir, talvez escrever algum que explicasse a tristeza de tantas idas e vindas, viagens de buscas tantas e inúteis, de lugares úteis ao meu laser, prazer e trabalho, como se houvessem lugares que me abrigassem de mim.E lá vou eu procurando não sei o que, num lugar que não sei onde, no tempo do não sei quando, num mundo do faz sem conta, do não se importa, da eterna dissimulação de felicidade, que não se encontra fora mas aqui ,dentro do peito, pungente como o grito agudo de um golfinho.A vontade incontida de ir ao fim do mundo...tem luz no fim do mundo ?.como sempre há luz no fim de todos os túneis? Procuro a face do amor perdido, no reflexo incerto dos ladrilhos polidos e só vejo metade de mim, pois a outra não se reflete em ladrilhos ou espelhos, escondida que está dentrodo peito, de mim.E volto sempre ao mesmo ponto sem interrogações a fazer nem pontos finais, onde encontro minha terra e minha gente andando rápida na velocidade da ambição e da obrigação de não parar a cidade que não dorme, e as vezes esquece do manto dos seu próprio crepúsculo e nos lança sem aviso na escuridão da noite, na solidão populosa de suas ruas, e ainda assim é motivo do meu amor imenso, indivisível, indizível, por esta terra, agoniada,”desamada”, desalmada , “concretada” de onde realmente nunca parti... Que meu abraço encontre o seu sorriso.
Carlos Said
 
Descartando sonhos

Despedida...quase uma ode.

 
Partiu distante de mim, soube por terceiros. Mas creiam no dia e hora em que viajou do corpo para suas paragens da alma, uma dor funda, pungente, fina como uma lamina, apequenou meu peito, me apertou o coração. Senti por momentos, como se um pedaço de mim houvesse sido arrancado, a partir daquele momento um espaço vazio ocupou minha alma. O câncer lhe havia tomado um seio, depois outro, enfim corroera sua vida. A ultima imagem é de nosso ultimo encontro, extirpara um seio e me explicava num bar que costumávamos nos encontrar, porque não dissera, me deixara sem noticias tanto tempo, me amargurara em sua ausência, se desculpava com seus imensos, mansos e lindos olhos azuis, de coisas que sua simples presença já apagara. Mais tarde na penumbra, inusitada do quarto, que providenciara cerrando as cortinas, para que a cicatriz que ocupava onde outrora fora a curvatura perfeita do seu seio esquerdo cujo direito ainda recordava o par formado, não se apresentasse nú em sua fealdade.
Me dizia em lagrimas, enquanto eu abafava as minhas...-Tinha que ser você, o primeiro a possuir este corpo mutilado. Nos possuímos em suas lagrimas, até que seus soluços substituem-se em gemidos, gozaramos o amor que nos dávamos, substitui a lagrima por um sorriso que manso lhe “adelgava” os olhos de gata. Ao saber que partira e como partira, me desesperei – mais tarde a medida que fui reencontrando a mim mesmo, num mar de despojos que compunham minha solidão, não penetrava a realidade desta morte, nem assimilava a realidade do seu desaparecimento. Caminhava a insone e insano, pela cidade, visitava lugares que gostávamos, supunha assim talvez pudesse depará-la de um momento para outro, acenar-lhe com a mão pensando...-Não disse ?. Ela esta ai, viva como sempre foi e será ela é imortal. Ela foi morrendo aos poucos para mim, minuto a minuto, hora a hora, dia a dia, eu acompanhava calado e lúcido, essa agonia que se estendeu ao longo dos anos. Morreu em mim de infindáveis mortes, ora na praia no pedaço de areia que estendia sua canga, ora através de caminhos por nós percorridos, ruas, vielas de nossa Sampa, ora no lugar que escolhia no cinema. Assim, tudo que a rodeara, que vivera com ela e dela, ou servira de testemunho á sua presença, fora perdendo o efeito, enrijecendo-se, incorporando-se ao resto anônimo e sem interesse das coisas. Este foi o modo como morreu, de sua longa morte, de sua morte maior que sua própria existência, que jamais enterrei, enterrei sua morte e tudo o que representava sua perda.
Carlos Said
 
Despedida...quase uma ode.

Perto do seu céu

 
Ha muitos anos atras estava a trabalho em Salvador.No hotel um grupo de turistas todos de meia idade, nos confraterizamos no café da manhã antes que me viessem buscar para reuniões e a eles para passeios.Um olhar me revelou o mesmo mêdo da solidão desesperada das paralelas que nunca se encontram em uma das turistas, eu recém separado ela idem .Dois dias de conversas rapidas e reservarmos para nós o fim de semana.Aguardei ansioso o sabado que amanheceu nublado.Veio ao meu encontro com uma inúsitada capa de chuva sorrio e ela se defendendo -Sou paulistana como você e prevenir...Saimos de mãos dadas, adolescentes trocamos breves caricias.Na cidade baixa a tempestade anunciada nos obrigou a tomar abrigo na entrada de um dos casarões.Ela me olhou maliciosa com um sorriso de -Não disse ? A chuva não dava tregua-Vamos ?.Abriu a capa para que ambos nos protegessemos, procuramos abrigo mais adequado, ao meio do caminho foi inevitavel, aquele cheiro de intimidade sob a proteção de sua capa, nos encostou aos beijos em uma outra entrada agora me lambusando em seus beijos viajando em sua boca.A chuva continuava olhei para cima e somente vi sua capa ouvi o barulho da chuva.Foi o mais proximo do céu que cheguei naquele ano.Dormimos juntos, dia seguinte ela se foi a excursão não podia parar.Nenhum de nós cumpriu as promessas de amor eterno, cartas, visitas, não havia e-mails então.Nunca mais nos vimos, mas como isto é forte dentro de mim...Era uma vez eu perto do seu céu...onde quer que você esteja.
Que meu abraço encontre o seu sorriso
Carlos Said
 
Perto do seu céu

A dama de Botero

 
Deixava seu corpo relaxar na cama, ainda divagando do sexo feito com carinho e sem amor, suas mãos lembravam seu passeio entre as dobras de gordura do corpo da mulher ressonando ao lado. Coxas imensas, barriga dupla confundindo-se com os seios, rosto redondo quase infantil dormia plácida, imerso o cérebro em seu leito de gordura. Entre suas coxas formavam-se pregas de carnes flácidas resíduos de um regime recente onde perdera 30 dos originais 140 quilos que carregava pela vida, quando em pé e nua balouçavam ao andar livres das amarras imposta pela calça jeans justa e agarrada que os moldavam sobre os ossos perdidos no corpo adiposo. Havia sido um encontro marcado pela internet, onde surpreso vira a mulher disforme e simpática, usar todos os argumentos verbais e de manipulação para convencê-lo a ir para a cama. Enveredara em suas carnes observando o ondular da gordura sob a pele a cada estocada, acompanhando flácidos os movimentos do sexo sem duvida estranho, mas prazeroso.
A mulher ressonava mansamente satisfeita mais em ter proporcionado prazer do que em senti-lo. Assim tem sido sua vida desde que desregramentos desmedidos e contumazes depositaram algumas dezenas de quilos á silhueta já encorpada. Usava roupas agarradas para tentar conter aquele desmando de carnes e gorduras ameaçando desabar ao chão sua exuberante e disforme silhueta. Em casa informalmente usava grandes e confortáveis batas que lhe davam liberdade ás carnes, mas o ar senhorial que emprestavam ao seu corpo não lhe agradava. Criatura ingênua quase selvagem, tudo que lhe dizem crê ser verdade tanto mais se aproximem dos seus próprios desejos e imaginação. Como um exercício de auto-estima para o seu fragilizado ego, cantava aos quatro ventos seu talento em proporcionar prazer com suas carnes pródigas e lascivas, avivar-lhes a curiosidade por um sexo desmedido e sem medidas que permitia tudo e tudo permitia. Lisonjeada pela frase de um pretenso escritor que a chamara carinhosamente de dama de Botero repetia a exaustão o fato aos amigos e amigas e aos desconhecidos com quem cruzasse. Fizera-se fã do pintor, imaginou-se pintada por ele, pele lisa formas redondas perfeitas sem as dobraduras que lhe emprestavam a idade e o efeito sanfona dos regimes a esticar e murchar sua pele ao perder e ganhar peso .
Mãos gordas, curtas, formavam covinhas marejadas de suor no verão, distribuindo acenos e frases espirituosas insinuadoras ou jocosas para chamar a atenção, como para isto não bastasse o corpanzil, desenvolvera um senso de humor cínico e malicioso onde exagerava palavras de baixo calão, com investidas sem recato a possíveis parceiros. Sorriso perpetuado nos lábios grossos, derretia-se para os jovens executivos e estagiários prometendo-lhes o prazer de todas as virgens em uma só... ela... ao homem que com ela deitasse, e, nela a pátria do leite e do mel. Andar rebolativo, pernas abertas para evitar atrito entre as pernas onde sofria pruridos que só acalmavam com pomadas, provocativa, com um rabo de olho observava as reações ao seu desfile de carnes, se um olhar revelasse o mais leve interesse incontinente ganhava um piscar de olhos mais que sugestivo. Convidava com olhares cúpidos seus superiores no trabalho a uma noite de prazeres sem conseqüência, o que não raro era aceito. Salvaguardas feitas garantias de segredo total solicitados por eles que ela cumpria rigorosamente, temerosa de perder os parceiros, no mais das vezes de uma única e jamais repetida experiência.
Uma imperiosa necessidade de machos a deitava com todos os homens que se aproximassem, uma entrega total sem decoro, uma necessidade de satisfazer os mais infames desejos do parceiro eventual, como recompensa por aceitar seu corpo disforme não escolhe aceita, como fosse uma cama de hotel. Na rua seus olhos gulosos
seguiam machos que passavam na calçada ou baixo á janela de seu pequeno apartamento, o rosto redondo se afogueava, as moles e salientes bochechas inchavam, os olhos azuis pareciam escapulir-se das órbitas, ao meterem-se gulosos no volume peniano insinuados sob as calças dos jovens homens nas ruas, imaginando-os rijos a vasculhar suas entranhas, sugar-lhes o sêmen entupir-se do liquido da vida. Tremem-lhe os músculos do pescoço, olhos temerosos, sapatos plantados na calçada, mexem-se como se quisessem escapulir-se dali, mas ficam imóveis rígidos imobilizados sem poder desgarrar os olhos dos impávidos machos das ruas que queria para si, não somente como eventuais parceiros mas como companheiros de sua vida, para lhe dar o sabor e a graça que faltavam, se conformara em ser o sexo casual de alguns por falta de opção acostumara.
Fora assim com o jovem bonito e musculoso que conhecera na internet, mandara uma foto antiga do rosto aonde ainda conservava um resquício de beleza. Ao telefone esbanjara uma voz sensual como só as mais sensuais mulheres conseguem. Não fora fácil traze-lo á sua cama, não fossem as promessas de total submissão aos seus desejos fossem eles quais fossem, manipular seu sexo com propriedade, mais mordidas sabias nos lóbulos da orelha e não estaria ali ao seu lado dando-lhe o conforto de um corpo jovem e quente em sua casa, em sua cama. Apesar das dores em todas as entranhas, maxilar cansado, satisfez todos os seus desejos, e afinal nem foram tantos, valera a pena ter uma bela companhia mesmo que por momentos. Abre os olhos, azuis infantis, não mais tem a companhia do parceiro, sem palavras, um grito apenas, rouco, selvagem, uma dilacerante interjeição de dor que não cabe nem em seu peito revela a decepção incontida. Preparara um lanche, guloseimas, vinhos e queijos, champanhe, na tentativa de mante-lo mais tempo ao seu lado... em vão. O jovem se fora sem despedidas...nada levando, nada deixando, além do vazio que encontrara, e em sua nua e obesa solidão... a dama de Botero.

Carlos Said
S. P. 08/2008
 
A dama de Botero

Despedida... Opus 4

 
Quando o rubor da madrugada, desenhar a silhueta das casas com sua luz amanhecida .Quando os galos abanarem suas penas iniciando o canto que convoca a aurora, e as gotas de orvalho deixarem os leitos das folhas para iniciarem a viagem sem volta que umedece a terra... eu já terei partido.Sem rastros de som, para não te acordar.Não deixarei sequer o calor do meu corpo no pedaço de cama que me coube ao criarmos nela a fronteira invisível que nos separava.Terei olhado na penumbra, seu corpo desenhado sob as cobertas, seus cabelos espalhados na fronha, depositado um derradeiro beijo em seu rosto adormecido, que sequer mudará o ritmo da sua respiração.Já vestido, terei fechado a porta sem ruído, percorrido o corredor que tantas vezes nos levou ao nosso canto sem recatos.Me despedido dos livros, dos Cd’s, DVD’s, do calor que sobrou incorrupto no sofá da sala, não terei tido a coragem de apagar as marcas invisíveis das tantas vezes que dançamos, nem o som que nos levou à dança.Mala em punho, leve, das coisas poucas que levo, melancolia das muitas que deixo, terei olhado pela ultima vez a sala, as poltronas, e tentado ouvir nosso riso perdido no tempo.Já terei visto as arvores se emoldurando na luz longínqua do sol por nascer, aberto a porta, respirado a madrugada.Ligado o carro, temendo acorda-la terei partido.Quando o sol me encontrar na estrada observando a paisagem e vendo o passado se afunilando pelo espelho retrovisor, você já terá acordado.Sentirá minha ausência, e imagino uma dorzinha incerta no peito e a alegria triste como a minha de sentir-se livre, sabendo que cumprimos nossa solitária sina.Me envolvo no mundo, acelero o carro, saindo de sua vida para entrar na minha.

Carlos Said
 
Despedida... Opus 4

A noite do destino.

 
Se acaso interessasse, teriam visto seus olho, assustadores eclipses de onde a vida partira.Olhos, onde antes se hospedavam cupidos, agora um pântano derramando visões tantas, segredos, belezas e torpezas piedade do próprio estado de abandono. Perceberia o vento sem forças sequer para encrespar a maré pequena, oriunda de uma única gota de sangue esfomeado de vida devolvida gota a gota, átomo a átomo, ao grande incógnito vazio do Universo, que já não era necessário penetrar em seus pulmões ? O ar não se agita o mar permanece imóvel translúcido sem ondas, sem movimento, um grande lago sem vida, tanto vale a tumba quanto o regaço materno.
Não haverão de conhecer neste rosto pálido cerâmico os caminhos tortuosos esculpidos pela mão invisível e implacável do tempo.
Nada disto acontecerá nem a visão da felicidade alheia confortadora, nem a visão perturbadora da cólera alheia, nem a visão molhada de amores perdidos. Neste tumulo em que se transformara, ninguém se irrita, ninguém sorri, ninguém se mostra, o ódio não é permitido não é permitido sofrer além desta esperança desprovida de metas sem energia, este tédio sem fim.
O universo infalível da ostentação tecido no seu cérebro putrefava solitário nos seus sonhos dispersos, e estas luzes pálidas rotas que encharcavam úmidas e prateadas seu corpo abandonado, nada revelavam ou distinguiam. Todo o resto eram ofensas, emoções para este corpo nascido e morto da noite do destino.

Carlos Said
 
A noite do destino.

Quando chegar a hora

 
Quando chegar minha hora e eu partir, nada deixarei, além da imagem de um ser humano inacabado.
Carlos Said
 
Quando chegar a hora

O quadro

 
As costas formavam um arco, onde uma luz esmaecida em tons amarelos deslizava até o inicio do vale insinuante que dividia suas nádegas. Traseiro redondo e firme em sombreado de luz, formava uma virgula manchada em sua pele. O côncavo voltaico da espádua juntava-se ao minúsculo convexo do arco dos pés, montando um lindo pedestal, que sustentava a magnífica e impudica... bunda.
Os braços estendidos a frente num movimento bailarino, ocultavam parte do rosto, emoldurando a curvatura dos seios, um semi encobrindo o rijo, atrevido e excitado bico do outro, que observava curioso a ponta do seu queixo. Cabelos contidos num coque negro desnudavam o esguio pescoço, onde a luz se aninhava nos finos fios formando um raro e inesperado halo de luz.
Sobrancelhas desenhadas sinuosas como as curvas de Niemeyer assombravam olhos imensos aveludados em castanho esverdeado que boiavam no branco dos seus globos. Um nuance de sombra contornava a perfeição do nariz aquilino, clássico, grego. As coxas limitavam o desenho composto em luz e sombras. Entre-coxas lambidas de sol abrigam em seu vórtice, seu sexo parcialmente revelado pelo inicio do púbis depilado que se perdia nas sombras do vão das pernas.
Afastando para ver o conjunto...um fundo negro impreciso, construído pela luz “irídia” vazado do alto de uma clarabóia. Sobre ele sentada de cócoras, sobre um tablado de veludo vermelho, arqueada num movimento lúdico, sinuoso, elegante e harmonioso como o pescoço de um cisne. A mulher... linda simples, nua e sensual se oferece inteira a luz cobiçosa e reveladora do sol, que a aquece... e agradece.
O quadro ... pintado em prosa.
Carlos Said
 
O quadro

O encanto das palavras e dos carinhos.

 
Jamais uma mulher deitou-se em minha cama, por meus dotes físicos, apenas seduzidas pelas palavras e pelo encanto dos carinhos.
Carlos Said
Verão 2008
 
O encanto das palavras e dos carinhos.

Dias de Sampa, desenhos da vida.

 
Deixei a água quente escorrer pelo corpo, não me esfregava, expulsava a água da pele como se expulsasse um demônio, um ato de exorcismo, expulsava de mim aquela mulher por quem me deixara levar, e ao conhecê-la melhor mal disse a hora e os meus ímpetos.Contou-me de sua vida, seus infernos seus homens, detalhes pequenos de relacionamentos menores ainda, casuais, sem sentido, me surpreendi a noite olhando-a dormir... um ressono alto, boca aberta revelando uma dentadura, que lhe cobria o palato detalhe que não vi nem senti.Na despedida fria ficou claro que havia sido um primeiro e derradeiro encontro, para ambos a surpresa fora desagradável. Lavei a cabeça, deixei a água correndo pelos ombros e pescoço para relaxar a tensão...cabeça a mil...me enxuguei esfregando com força todos os membros até a pele ficar vermelha e sensível.
Resvalo o olhar para a janela, diviso o fundo dos prédios da vizinhança. Um pedaço da Rua Augusta se emoldura na abertura entre os prédios do estacionamento a céu aberto ao fundo do apartamento, na sacada ao lado a única flor do vazo solitário da minha vizinha viúva, a arvore encobrindo os pássaros que abriga projeta uma sombra obliqua sobre as varandas . Volto a cozinha esqueci-me de lavar a louça do café...desanuvio a cabeça ao deixar minha louça limpa, se agiganta o prédio em construção, quadra e meia acima cobrindo o sol tomando quase por inteiro a paisagem da janela da área de serviço, nos tapumes que cobriam a obra “grafitaram” a frase ”Breve aqui, menos céu mais concreto” sorrio ao lembrar o dia que li, e foi o primeiro sorriso do dia. Não ouço o barulho dos operários nem presto atenção aos seus movimentos sei que se agitam como as maquinas da obra. Os passos do salto alto da vizinha do andar de cima batendo como castanholas com seu andar “sincopado” me irritam me fazem imaginar o que estará fazendo, sei que sairá pois se dirigem para a porta, não os ouço mais, saiu.Lembro a frase de Monica, “sexo a gente faz, amor a gente constrói”.
Meus sentidos estão voltados para dentro de mim e aqui dentro não há nada, além desta ansiedade e de um vazio que me entorpece. Confiro meu rosto no espelho, e me deparo com alguém mais velho que eu, olhos assustados e tristes, cabelos brancos, uma insinuação de calvície que me desespera. A mão invisível do tempo, traçou no meu rosto caminhos sinuosos, alguns sutis, outros mais profundos, rugas inacabadas, rascunhadas por alegrias, tristezas, vicissitudes enfim a vida... que lá vai iniciando mais um pequeno caminho no canto da boca.

Carlos Said

(Tomei a liberdade de publicar parte do texto, agora o coloco inteiro)
 
Dias de Sampa, desenhos da vida.

Adeus, poetisa ...

 
Inquieto, preocupado, vejo sua separação de nós...algo como um sorriso amarelo de despedida que não queria, algo triste como esta distância oceânica que num momento nos uniu. Ja sinto saudades do pouco que tinha de sua presença, não sei o quanto de saudades terei nesta promessa de adeus...sei que não mais colherei seu sorriso em meus abraços...nem terei voado na imaginação dos seus carinhos...nem mais lerei seus poemas encantados.
Ficarei aqui encantado a sua espera...até que o encantamento me leve para algum lugar do passado...onde conheci, virtualmente, uma mulher que me sabia a alma...mesmo não sendo real, continua em mim... linda como um sonho.
Que meu abraço encontre sua luz, que ela nunca falte ao seu sorriso, que seus olhos saibam que além do horizonte que se perde no mar, tem um um homem que se fez maior em seus poemas.
Carlos Said
 
Adeus, poetisa ...

Para voce, que me tirou do cinza...

 
Nuvens cinza, geradas no inverno do meu descontentamento, toldavam minha alma, meu sorriso cada vez mais raro, minha vida.Foram se dissipando, com o carinho da sua atenção, o calor do seu sorriso, o aconchego dos seus braços, a suavidade de sua pele, a doçura dos seus beijos, a loucura do seu sexo.Faz surgir nos meus lábios sérios e enrijecidos o principio de um sorriso, dissipando nuvens, nascendo flores perfumadas de primavera, céus azuis como já não existem, um sol cálido envolvente de verão, vida e amor dentro de mim...
Carlos Said
 
Para voce, que me tirou do cinza...

Aos veleiros que mentem seus portos.

 
Nós sabemos o que custa, vencer a resistência tenaz de duas pernas unidas.Assim como sabemos o sabor amargo da falta de um carinho um alento, o ar da madrugada soprando nossas faces nossos membros entorpecidos reclamando ao despertar o frio esquecido no corpo que se aquece.Novamente se “outonam” as arvores, folhas mortas, aquecendo o fim do inverno. Brilham, vielas, becos e ruas sob a garoa fina e tardia espelhando no asfalto molhado a velocidade dos poucos carros num “flash” veloz que os olhos não acompanham.Ao calor fugaz dado ao transeunte solitário no porto do seu destino ao cantarmos uma melodia “entediante”, que nos sabe a passado sem futuro.E já mais tarde quando os veleiros mentirem por quererem outros portos ansiados e nunca alcançados o ar marinho se infiltrar pelas narinas e preencher de mar nossos pulmões talvez neste momento de paz nos perguntamos...porque e quem. Quem não teme perder, mesmo o que não se ama ?E porque temos mais medo de perder do que ganhar, já que vida não é ganho ou perda, mais valia ou menos valia, mais vaidades que encantos ...a vida é a vida e é bonita, e é para ser vivida.Para olhar a moça sentada a soleira da porta sob um sol de verão, lendo alheia ao meu olhar e desatino, os 100 anos de todas as solidões simular seus sonhos juntando-os aos meus, esta mulher, de versos lindos que me enternecem e me fazem sonhar, se despe de si e encarna de repente uma dama dos anos quarenta, espiando a vida numa fresta de cortina.Enquanto seus dedos mágicos tecem poesias que me alimentam ao anoitecer, me fazem sorrir ao recorda-las pela manhã.Quantas vezes acordei faminto de ler seus versos na madrugada silenciosa e solitária, para que além de mim ninguém os visse como se fossem feitos para mim...e não para todos os que amam seus versos...tenha uma noite acalentada em versos e prosas.
Carlos Said
 
Aos veleiros que mentem seus portos.

Vazio no peito

 
Me empresto o silêncio da noite,tento reproduzir o que sinto, transformar em palavras, este vazio no peito, este amor inacabado que exige emoções tateantes, tatuagens na virilha, delicadeza de beijos roubados, brutalidade de corpos amassados, mordidos depois beijados, mamilos acariciados entre os dedos.Filtrar assumir o personagem “facebookiano” e mandar meus textos aos amigos preencher esta lacuna, com recados carinhosos que me fazem bem a alma.Vejo o vídeo de um bando de maritacas que me mandaram lá das Minas Gerais, dos olhos saturados de montanhas a procura de mar da amiga de Fora.Delicadeza de atenções pequenas, lembranças vagas, textos coerentes com meu estado de espírito, um fim de vida por viver intensamente.
Carlos Said
 
Vazio no peito

Indefeso como um mito.

 
Quando as aves cegas e noturnas voarem sobre vasos de rosas de crepom...cubra-se.Aqueça-se nas metáforas, ausente de você o frio pequeno destas estações confusas. Mantenha o crepúsculo, o sol e o primeiro amor dentro do peito, inesquecível como o primeiro e o último beijo.Olhe a estrela e imagine um planeta de folhas mortas prateadas, procure sob elas o amor desaprendido, recolha-o, e veja que diariamente a vida nos solicita a viver, e só se vive uma vez, amar muitas, e se o esquecermos sob alguma folha morta, só nos restará viver sem amor e sem amor não vale a pena.Temos que aceitar e querer e viver e amar muito, portanto olhe para o dia vindouro, mantenha mais incerta a tristeza, menos escura a noite, aqueça a indiferença. Bastam duas paginas de um livro para termos, eterna a eternidade em nós.Dorme em seu coração proibido, antes que batam as derradeiras badaladas da noite, e volte para casa sem jamais ter sido, Cinderela, princesa de contos de fadas, herói dos sete mares, galã de novelas... nem feliz Dispa-se do dia, banhe-se no orvalho da noite, acalente-se no sono, que te desperte a vontade de despertar .Sinta-se disposto, valente, lutador, guerreiro imbatível da vida.Que se afasta como um barco de papel balançando sobre as ondas rumo ao não sei onde e estará inteiro, pleno, capaz e indefeso como um mito.
Carlos Said
 
Indefeso como um mito.

Despir-te das amarguras

 
As vezes quando te dispo, nego a mim o prazer de despir e te visto com os carinhos que esqueci de dar, com a luz que sobrou do nosso ultimo olhar, com as marcas do nosso amor, com folhas secas que marcam as paginas de um livro antigo e querido bom de reler como te leio.Te visto com sorrisos de criança, com pétalas de rosas vermelhas, coloco guirlandas sinfônicas dos meus sabias neste corpo onde não consigo ver o tempo pois te visto da juventude madura do meu amor.As vezes quando te dispo, dispo de você todas as maldades do mundo, todos os momentos ruins, todos os dias amargos, todos os sorrisos amarelos, todas as más noticias, todas as tardes frias de junho,desencantos tantos que te visto após te despir. Te visto de realidades minhas encantadas em você, com as ruas queridas da minha cidade, te visto num monumento ao que sinto, quando te dispo.As vezes quando te dispo desnudo sua alma e vou tirando peça a peça os defeitos que te incomodam, te dispo do cotidiano amargo, das incertezas certas, das ansiedades desmedidas, do medos de jamais ser despida .As vezes quando te dispo procuro o que falta em meu corpo pois teu corpo o completa tanto que o meu não pode ser um sem o seu, as vezes quando te dispo te visto de mim e coloco em seu rosto um sorriso despido de amarguras. quando te dispo as vezes...
Carlos Said
www.diasdesampa.blogspot.com
 
Despir-te das amarguras

Sua ausência

 
Sempre tão meiga e discreta, partiu tão suavemente que o abandono foi quase uma caricia.Só me restou guardar o silêncio e um resto do seu sorriso.
Carlos Said
 
Sua ausência

Que seja breve .

 
Quero a felicidade, mas que seja breve, não quero perder a capacidade de me indignar com injustiças, quero me indignar, mas que seja breve, para não me tornar amargo, quero me amargurar, mas que seja breve, o suficiente para tomar atitudes, quero tomar atitudes cidadãs, mas que seja breve, pois não quero perder minha capacidade de amar, quero amar, mas que seja sempre, para que eu possa ser feliz, me indignar, me amargurar, me entristecer, mas como Che jamais perder a ternura.
Carlos Said
10-09-2012
 
Que seja breve .

Era uma vez no futuro.

 
Ontem uma lufada de nostalgia me fez pegar um DVD antigo nosso e ver de novo, o filme “Era uma vez no passado”. Quando vimos este filme, achamos a musica linda e a historia fraca. Quando você partiu de nós, nunca enterrei nossas lembranças, enterrei sua morte, como ja escrevi antes. Esta musica e o filme passaram a ser importantes para meu equilíbrio emocional, deixei de te procurar em nossa cama, que já não é mais nossa. Deixei de procurar em outra mulher o que eu tive em você...e sei que este meu amor por você irá perdurar....muito além do futuro, esteja onde estiver, com quem estiver, você será sempre parte de minha felicidade. Saudades Sonia. Não creio em vida após a morte por isto te amei tanto em vida, e continuo te amando.
Carlos Said

http://www.youtube.com/watch?v=06fi8hdTwEo
 
Era uma vez no futuro.