P'ro Zé
Esta é uma singela homenagem a ZéSilveira, um autor que muito admiro e estimo pela escrita e, na adversidade, pela atitude perante a vida.
Da árvore Silveira
caíram as folhas
Cansadas de lutar
Quando o outono,
Sobremaneira,
Chegou
(Foi tal a rasteira).
Mas no fim-de-tarde,
Mesmo antes
Da noite fria
Se aproximar,
Dos frágeis ramos,
Sem alarde,
Brotam versos
E um canto
Que é um encanto
Para quem o escutar!
Café simples
o pano de limpeza
que esfrega o balcão
não remove a tristeza
entranhada,
colada, espelhada
no brilho baço
de extremo cansaço
e desilusão,
nas longas horas
vazias,
no acentuar as esporas
que amargam os dias.
Meio-dia
uma pergunta
surge,
insistente,
no alto da cumeada;
uma resposta
urge,
silente,
para retomar a jornada.
(Na meia-idade),
A meio do dia,
o trilho certo
para descer a encosta,
é um livro aberto
de efémera poesia;
versos e refrões,
sonho e saudade,
mas, o necessário conforto
é amor e amizade.
Ciúme
surge no rosto
um veio indelével
carregado de raiva latente
lavada em sal.
a tão previsível
explosão de nada,
erupção de fel
sem racional,
irrompendo inflamada.
no rosto oposto,
indiferente,
bate a palavra absurda
irada e surda
que a pele não sente
e o coração não chora:
apenas ignora
a ignomínia final.
Problema Bicudo
Na verdade da tangencia
Toco nos bicos dos peitos,
Dois hemisférios perfeitos
De vibrátil saliência
E nessa quente circunferência
A que os dedos estão sujeitos
há excepcionais direitos
nas questões de ciência.
O calor os corpos dilata,
É do conhecimento geral,
Mas p’ra saber a área exacta
De uma elipse sensual
Só a tecnologia de ponta
De conceito digital.
toxicoIndependente
gosto de versos
efervescentes
e universos
resplandecentes
pulsando,
fervilhando
de imagem e cor
por vezes soluçando
num desgosto de amor
o meu delírio
é o arrobo sentimental,
dependência emocional
tornada vício
que não faz mal
ainda que digas
que são sentimentos piegas,
adoro o estilo empolado,
do impulso arrebatado
escaldante
e provocante,
para noutra dimensão
viajar sem razão
Album Duplo
Como comentário ao meu texto - LongPlay - Luka escreveu um poema de que gostei muito por captar e olhar noutra perspectiva a essência do LP. Publico agora os dois num Album Duplo, agradecendo a expressão que Luka dirigiu ao meu texto.
a toda a hora
e a seu jeito
gira o disco
com defeito,
tem um risco
tatuado,
indelével sinal
que silêncio retém.
mas todos sabem
que é amado
por quem o adora
no som imperfeito
quando ri e chora
Paulo alvão
Quando ri e chora
todo o som de uma melodia
para uns perfeito
para outros
triste agonia.
Mas que importa
o defeito do disco
se o que traz à memória
é um tempo
de uma história
a canção
vinda de um disco riscado
talvez por mim
tatuado
kirinka luka
Chuva miudinha
lá fora,
desliza na vidraça
a gota cristalina
espelha a retina
no instante que é agora.
são projetos e planos
que assim se esvaem
e dissolvem,
numa poça da praça.
ignorados nos danos
pela indiferença
que passa.
Início
(silêncio profundo
no relógio pontual,
a onze de Janeiro)
mais um segundo,
no tique-taque habitual
do mecânico ponteiro
criou-se um mundo,
um universo colossal
para um sonho inteiro
Sem Rede
não quero seguir
uma página qualquer
de um astro blogger,
do face ou do tweeter
não quero pôr
um polegar like
sentindo que é fake
antes quero a bike
ou um bom cupcake
não quero supor
que o mundo real
sejam emoticons a rir
com flores e fones
ou outros tantos ícones
com ar anormal
não posso admitir
que apenas um clic
certifique
o valor
de um avatar
que sofre por desamor
sem saber amar