Poemas, frases e mensagens de SERÁaBENEDITA

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de SERÁaBENEDITA

NEGOÇANO

 
NEGOÇANO
 
Às vezes
Fica tudo coisado
Vivia em Belzonte
Mas era do Ridijaneiro
Me tapiava
Com uns bolin di chuva
Dizendo que me amava
Um trem.

Causdequê
Fui pra Paris
Beber champã
Dibadascobertas.
antionti
Tomei fé
Arribei as tangas
E disse-lhe:
Tadin docê
Casca fora
Tô bem dimais
Da conta.

Botei o amor
Dendoforno prassá
Vê se eu viro fulô
Cadiquim a cada dia
Eu tô que tô.
 
NEGOÇANO

UM QUENTE E DOIS FERVENDO

 
Perguntou, desavisado

És virgem?

Disse, de ar blasé

Sou de câncer

Daí minhas fases lunáticas

E quando rio

Também choro

E se me pedires

De joelhos

Faço chover na tua horta,

Facas, canivetes

Tudo temperado

Finas iguarias

À mel e baunilha

E a minha dura poesia.

Insistiu:

És crente?

Respondi num bater

De pestanas:

Sou. Crente que sou.

Foi ali

E já volta

Pensei alto:

Vem com o teu quente

Que eu tenho dois fervendo.
 
UM QUENTE E DOIS FERVENDO

Falácias oportunistas do falo

 
"Fi-lo porque qui-lo"*...

Quando
Me olhas
Com cara de
Credo creuza
Com certeza
Lamentas minha inveja
Uterina, passional.
Olha
Não faz mal
Retoco a alma
Corpitcho
E cara- de- pau
Com muito pancake
À mistura de
Bosta de pombos
De templos indianos
E non sense
Hollywoodiano
(receita de minha guru-dermatologista
Lotada em Cannes).

Engano seu
Zebedeu
Ledo engano.
Olha-me de novo
Absorto e atento.
Falo bonito?
Mas não é
De um peixe erótico
Que falo
Falácias oportunistas
Quando o artista fala.
Falo do jeito
Que falas de mim.
Falas com jeito
Mete o pau em mim
Mas
Fa-lo.

* Frase atribuída à Jânio Quadros.
 
Falácias oportunistas do falo

SOY YO

 
Posso ser anja
De Angelina
Metade bicho
Metade mulher
Praticamente
Mula-sem-cabeça
O mito.
Tem um gato
No meu colo
Chamado Alfredo
Outro passeia entre
As pernas
Esse, o Adolpho
E faz questã do ph
Que lhe dá
Um ar meio blasé- chiqué.
Ah, comidas frugais
Mas com muito
Macarrão
Adoro os minerais
Especialmente o ouro
24 quilates
E nenhum que mordes
La plata, siempre!
Corro da morte
Como o diabo da cruz
Credo em cruz.
Aguardo o príncipe
Consorte
Que conazar
Nem morta.
Nem casada, nem solteira
Tico-tico-no-fubá
Da paixão o dobro
Ou nada
Passeio ando e corro
Tudo sem descer do salto.
Corro mais de porre
Mil sorrisos no rosto
Lágrima eu engulo
E faço cara de tesão
Sou amiga, rabugenta
E companheira
E amo a solidão
Balanço a cama na varanda
Rezo a deus e ao capeta
Que também é anjo
Às avessas
Santo de devoção?
São Benedito
Meu pretinho básico.
Avião, paraquedas e balão
Que dá mais emoção.
Como de garfo, colher
E vareta
E se puder
Meto a mão.
Busco amizade, intriga
E bafão
Meu nome
É Será-ABenedita
Básica com um tom over
Politicamente incorreta
E sem noção
Pero sin perder
La ternura jamás
Pero que si
Pero que no.

"Respirado" no poema do Gê "QUEM É VOCÊ?"
 
SOY YO

BREVE AGONIA DO ÊXTASE OU CATARSE VULCÂNICA DO POETA EM CHAMAS

 
Essa fome
De me ter
Não sei se é cacofonia
Ou redundância.

Esse texto não é erótico nem pornográfico. É indecente.
 
BREVE AGONIA DO ÊXTASE OU CATARSE VULCÂNICA DO POETA EM CHAMAS

O BANQUETE DO PRATÃO

 
Vou ali
Comer alguém
Consciente do meu lugar
Na cadeia alimentar
Elementar
Um boi
Um foie gras
Um churrasco de gato
Um big Mac
Uma língua de trapo
Antepasto dos deuses

A ave do paraíso
Comeu o fígado
Do Prometeu
Até em mim doeu
O Sísifo fez uma sopa
Da pedra
Numa versão fashion
Do seu castigo
O Sísifodeu

A Ana Carolina comeu
A Madona
A Bonitona comeu
Jesus
Credo em cruz
Mundo ateu
E cruel

Kronos comeu
Os filhos seus
O poeta comeu
Uma omelete
De Hamlet
E agora pensa
Que tem o rei
Na barriga.
 
O BANQUETE DO PRATÃO

A VIÚVA

 
Bebeu o morto
Carpiu o morto
Gozava o morto
Comia o morto
Pudesse ia.

Na campa fria
Sob as anáguas
De negro tule
Havia um fogo
Triste queixume
E ela se vinha

Sobre as florzinhas
Sobre a ramagem
Vertia um pranto
Gozo e blasfêmia
Que lhe jorrava
Tanta saudade

Da boca aberta
Dos grandes lábios.
 
A VIÚVA

A MULHER CENTOPÉIA E A FINITUDE HUMANA

 
Setembrina
Ela era
Primavera longínqua
Mil novecentos e guaraná de rolha
Centenária centopéia
A vida foi- lhe conferindo
Medalhas e pernas.
A mãe do ano
Máter dolorosa
Operária modelo
Meretriz apedrejada
Joana, a da fogueira acesa
Estrela pop
Musa do rock
O mito máximo
De Vênus
Platinada
Histérica, enfim
Básica.

Centenária dúvida
Nunca houve de responder
A questão primária:
Che vuoi?
A boca e o nariz se movem
Quando ela fala
E quando sorri
Dói nos dentes
E na alma pisada.

Mulher centopéia
Salto
15 agulhadas
No rim esquerdo
Da estrada.
Avara
Guarda cem pares
De sapatos
Para cada pé.

Um dia há de morrer
Mas, maquiada, de pé
E sobre os saltos.
 
A MULHER CENTOPÉIA E A FINITUDE HUMANA

Decadence avec elegance

 
Era um dia de revolta
O creme da Lâncome
Mofado sobre a penteadeira
O Brie, descobri
Mofado a milênios.
Meu Deus
Mo fodeu
Tanta finesse
Tanta frescura
E o olho borrado de rímel
Da china
Mofado!

Mofodeu na cara
Do espelho de cristal
Na menina dos olhos
Minha cara
Mofodeu
Recuso
O patê de foie gra
Mofo a menos
Nesse prato
De mágoas.
Vou pro Brasil,
Paris, au revoiar.
Jack, prá já
Um PF*
Feijoada completa
Com lascas do chiqueiro
E ambulância na porta.

*PF: prato feito
 
Decadence avec  elegance

A beleza de ser Bule ou ser Xícara

 
Chamava-se Avagina
Em justa homenagem
À Ava Gardner e Gina Lolobrigida
Beleza pouco feminina
Sonhava-se Bartolomeu

Foi partner
Do mágico Mr. M
O pigmeu
Bilíngüe
Tripartida
No advento
das modificações corporais
Tatuou uma maori
No bíceps
Uma tribal
No peito do pé.

Menina-homem
Menino-mulher
Mistura de drag-queen
Com síndrome de saudades
Mal-resolvidas.
Queria a vida
Em decassílabos heróicos
A alma
Ainda hoje anda perdida
Nunca soube
Da beleza de ser
Mesmo quando não se sabe
Se é Bule
ou se é Xícara.
 
A beleza de ser Bule ou ser Xícara

BALADA PARA UMA PERUA SÓ

 
Em noites
De insônia
Sônia Cristina
Guarda as giletes
As agulhas de vodu
As lâminas
Facas
Gumes de punhais.
Liga o aquecedor
Que o frio demais
Há de cortar
Os lábios
Num desenho leporino.

Corta as unhas
Longilíneas
Capazes de riscar
A pele e o pensamento
O espelho sibila.
O espelho olha
Estúpido
A sua falta de rugas
Só no canto do olho
Um quê de paranóia.
Ó Glória!
O coração
Na geladeira
Tira o cabelo pra lavar
Um visual Lady Gaga
Que ela vai arrasar
Na balada.
 
BALADA PARA UMA PERUA SÓ

Jesus, Prada e o princípio da mediocridade

 
Olha
Eu bem tentei
Mas não encontrei
Jesus
Nas coisas mundanas
E nas marcas famosas
O diabo veste mesmo
Prada
Lacroix.
O diabo, minha gente
Anda de havaianas
Dando mole em Ibisa
Pensa que é chique
Mas anda meio kitsch
Atende aqui e acolá
O princípio da mediocridade.
Novena, água benta
Valei-me São Benedito
Meu pretinho básico.
Livrai-me ao menos
De um pecado.
Sou tão, mas tão
Mas tão invejosa
Não suporto a visão
Da porta
Dando eternamente
Para o corredor.
 
Jesus, Prada e o princípio da mediocridade

Parides Burchellanus

 
Fugiu
Com a bailarina
Das coxas grossas.
Foi pro Japão
Comer sushi de bacalhau
Pro Afeganistão
Pagar promessa.

Deixou mulher
12 filhos
Dívidas na birosca
Do Manuel
Ah, cruel.

Malamada
Quis morrer
Afogada numa banheira
De leite de cabras de Israel
Sobrevivi
Fiz compressas
Com lama
Do Mar Mediterrâneo
E Moet Chandom
Jack, que bom!

Enfim, morreu.
Febre amarela
Atrás de uma borboleta azul
E rara
Uma tal de Parides burchellanus
Às margens
Do rio Amazonas.

Estranho é
O seu andar fantasma-da-ópera
A me chamar ainda:
Cristine, Cristine!...
Dá-me o prazer
Dessa contra-dança.
 
Parides Burchellanus

PEPINO DI CAPRI, BUCHADA DI BODI E OUTRAS FOMES

 
Bebida é água!
Comida é pasto!
Você tem sede de que?
Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida
A gente quer comida
Diversão e arte
A gente não quer só comida
A gente quer saída
Para qualquer parte...

COMIDA - Titãs

Não poderia ficar impassível a algo que li há pouco: coração com fome de me ter... Algures...
É que algures também é indecente. Quase um palavrão. O jeito é sugerir mais duas categorias de poemas: vulcânicos e indecentes. Vulcânico é auto-explicativo, indecente é o que fere os ouvidos, e pisa na língua-mater com o desprezo de um filho ingrato. Não sou contra o derramamento poético como forma de catarse, ou cada um chora por onde sente saudade, não necessariamente nesta mesma ordem. Também acredito na democracia e nas confrarias do tipo quem tem amigo não morre pagão. Acredito na ridicularidade democrática que afeta a todos nós, sem exceção. Sou extremamente ridícula na minha solidão, bebendo minha champagne à beira do Siena, e o meu eterno e inoxidável mordomo Jack, ao lado, feito uma múmia paralítica, e seu traje que o assemelha a um pinguim, fugido daquele filme... de mesmo nome ridículo. Para descombinar total, ouço um Pepino di Capri a cantar champagne Quer coisa mais kitsch? Ai que dói. Dói essa humanidade toda de que somos feitos, entre a tragédia e a comédia pastelão. Veem que isso tudo dá fome e sede, e evidente que há comidas e bebidas que combinam com esses estados de espírito. Nunca experimentei, mas não sou de fricotes,porém imagino que ponche de vinho sangue de boi com buchada di bodi (que é assim que se fala), seja uma exótica combinação para outros momentos do tipo “pisada na jaca”. Minas gerais, estado desse imenso Brasil (grande e bobo), tem comidas fantásticas para momentos “trash”,ou escorregadas no quiabo: a famosa vaca atolada, cueca virada, mané com jaleco. A ridicularidade gastronômica é universal, até na comida árabe, com o famoso mijadra (arroz com lentilha e penne). Há que ter cuidado ao pedir,. Não vá logo pedindo uma mijadra. Vai que o garçom é novo.. . Sobre o penne, ah que perigo... Atente ao plural. Não vá fazer como uma amiga da minha irmã, após comer o dito cujo e dizer com o coração: “Que maravilha! Comemos um penne incrível. Estava tão bom que pedimos dois pennes! É o próprio coração com fome de me ter.
Ulalá! Mon Dieu!
 
PEPINO DI CAPRI, BUCHADA DI BODI E OUTRAS FOMES

INCOMPATIBILIDADE DE GÊNEROS

 
Era

Absolutamente original

Até queria colocar

A sua retórica

Na minha pletora

Mas não deu

Danou-se

Fodeu

À despeito de se

Dizer hetero

Repetia aff

De 5 em 5 minutos

Dependente de cupcakes

Gótica

Mas com alma vintage

Eu não me daria bem

Com a sua calça cáqui

Ele vanguarda demais

Mas démodé

Eu sem querer dizer

Disse

Pera

To boladona

Tipo eu acho

Muitas coisas

Mas acabo me perdendo.
 
INCOMPATIBILIDADE DE GÊNEROS

Memórias de uma menina bruxa

 
Memórias de uma menina bruxa
 
Contornava as estrelas
Nas pontas dos dedos
Aonde mesmo
Nasceram-lhe as primeiras
Verrugas.
Passou a quebrar
Vitrais, cristais
E ilusões
Quando emitia
Um dó de peito
E sem razão.
Outros sinais vieram
Depois
Raspava o buço com gilete
E as aranhas fugiam-lhe
Como o diabo da cruz.
Queria ser médium vidente
Psicografar Marilyn Monroe
A cantar happy birthday mr. president
Mas, ó azar
O vestido da diva
Não entrou nem por feitiço.
Em sacrifício
Casou-se com um mago
Cornífero.
Lua-de-mel num famoso
Vulcão extinto
Do japão.
Antes, aprendeu o ofício
Comprou na liquidação
Um kit básico:
Chapéu, vassoura
E caldeirão.

Nota: totalmente autobiográfico.
 
Memórias de uma menina bruxa

Manual do Manuel

 
Se o problema
É na
Repimboca
Da parafuseta
Rode
A manivela
Da muvuca
Da braguete
Caso contrário
Acione
O ariri pistola
Da muvuca
Do carango
Por fim
Senta a pua
Logo atrás
Do songamonga
Sangre o porquinho
E acenda
O siriri
do ó
Do borogodó.
 
Manual do Manuel

JEAN PIERRE

 
JEAN PIERRE
 
Bichinha fresca
Saída do armário
Tão recente
Alma de menina.

Até se enxergar
Inteiro
Era de batismo
João Pedro.

Língua plesa
Paga semple no céu
Da boca.
Da infância
Levava a amiga
Cagolina
E o desprezo oculto
Dos meninos machos.

Explodiu em Paris
Anus depois.
Colocou peito
E bunda.
Um bistrô na Champs Elisées
Coiffeur em Saint Germain.
Placa fashion
Em bom português:
Corto cabelo
E pinto.

Antes que me detonem por homofobia: Jean Pierre ces't moi!
 
JEAN PIERRE

Bain de décharge (Banho de descarrego)

 
Bain de décharge  (Banho de descarrego)
 
Para afastar urucubaca
Para curar a ressaca
Lombeira, lezeira
E quebranto
Para levantar
Os caídos
Seios, pintos
Amor bandido.

Para quebrantar
As mazelas
As maldades, sinusites
Os fricotes
E os pitis
Tira verruga
Remela
Leva a ferrugem
O encosto
Sara do azambo
Ao mau-gosto.

E tome
Fumo, cachaça
Sal grosso
Arruda, guiné
Fedegoso
Ora-pro-nobis
Picão, alecrim
Sumaré.

Valei-me
Espada de Jorge
Cana, canela
Erva- forte
Leva o agouro
A má sorte
Traz o amor
E o dindin.

Foto: blog da madame.com
 
Bain de décharge  (Banho de descarrego)

"Livra-nos das tentações, mas não agora"
Santo Agostinho (livre Interpretação).