Poemas, frases e mensagens de marceloinverso

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de marceloinverso

Eu vou te escrever um poema

 
Vou te escrever um poema
Tocante
Marcante
Quente

Falarei da minha tara
Meu vicio.
Tua pele
Teu sabor

Vou te fazer ficar louca. Por mim.
Por me ter
Me ter
Me ter

Tu sempre vai ler meu poema querendo
Minha mágica
Minha essência
Minha força

Vou estar no teu pensamento
Abrindo tuas pernas
Teu zíper.
Tua... poesia.

Meu poema vai te deixar sem ar
Sem métrica!
Sem rima!

SEM VERGONHA.

Será abusada!
Danada...
Vai sugar meu poema todo
Pra dentro de ti

Vai tirar minha camisa...
De força.
O cogumelo que traz
Alucinação.

Ficarás resoluta.
Vou te chamar de puta!
E na minha cara
Acertarás o tapa convicto.

Topo. Topo tudo contigo.
Topo te levar à lua
Topo te embebedar
E ficar do teu lado

Segurando tua mão no frio
Agarrando forte o teu cabelo
Provando do teu ódio
E provando o teu veneno.

Vou te escrever um poema.
Vou mesmo te escrever um poema.

Conheça mais em: marceloinverso.blogspot.com
 
Eu vou te escrever um poema

Os detalhes de um Adeus

 
O velho observa a garota, que observa o rapaz, que observa a mulher, que observa o homem, que observa o dinheiro, que é notado pelo mendigo, que é observado pelo policial que não olha para o carro, que esta sendo assaltado pelo bandido que por um segundo olha para a mulher que cuida do seu filho, que brinca no parque, que olha para o prédio.

E no prédio, o rapaz observa a rua. E do parapeito ele olha a cidade. E os abutres observam o corpo. Que cai.

Lentamente. Que o tempo não perdoa e deixa passar. Os segundos, o minuto.

Que não escuta voz alguma, que o coração ainda vive a pulsar, que pulsa uma vez mais sem se preocupar.
Não tendo ninguém a observar, seu corpo...quando se estatela no chão.

O detalhe da Rosa caindo em meio ao sangue...deu um ar poético à tragédia que, no vácuo de um pensamento, se concretizou.

Lástima!
Meu eu-lírico, se matou.
 
Os detalhes de um Adeus

Olhares [Revisitado]

 
O velho observa a garota.

Ela observa o rapaz que observa a mulher que observa o homem, que observa o dinheiro. O qual, é notado pelo mendigo, indigente, inocente criminal, que é observado pelo policial que não olha para o carro, que está sendo assaltado pelo bandido legal.

E, em não mais que a duração de um segundo, olha para a mulher que cuida do filho, que brinca no parque, sem revolta, e que olha para o prédio, que, em revolta, o olha de volta.

E, no olhar dissipado do prédio parado, o rapaz, com tédio, antevê a rua, com
ar abafado.

Vigília vazia.
Olhar insólito,
assombrado.

Ferocidade!

E, num solilóquio macabro, do parapeito ele olha a cidade. E os abutres olham o corpo,
sem porto.
.
.
Que, cai
.
.
...Len
... ... ...ta
... ... ... ... ...mente.
.
.

E o tempo, que não perdoa nenhuma sorte ardente, por mais que lhe doa ou lhe deixe contente, e que assim, deixa voar.

Os segundos... e, o insólito, minuto,
no ar, que não escuta voz alguma.

Mas já o coração vívido, ainda, há de pulsar; E que pulsa, uma vez mais, sem se preocupar.

Sem ninguém, a observar seu corpo...

...quando estatela o chão

ao troar.

Olha...

Olha!

Olha o detalhe da Rosa...

Caindo em meio ao sangue e vislumbrando a comédia dessa lúgubre tragédia que na mais ingrata poética,
em rima,
passou.

E que sozinho e que sem alento, o vácuo de um pensamento,
concretizou.

Lástima!

Meu eu-lírico,

se matou.

A saga de Raimundo na Estrada de algum lugar:
.
.
O homem na estrada: https://marceloinverso.blogspot.com/2022/10/o-homem-na-estrada.html

2) Raimundo: https://marceloinverso.blogspot.com/2022/10/raimundo.html

3) A lenda: https://marceloinverso.blogspot.com/2022/11/a-lenda.html
 
Olhares [Revisitado]

Sodoma e Gomorra

 
Um escritor escreve. Assim como um assassino assassina. Às vezes frio. Às vezes morno. Algumas vezes quente. Ou louco.
Um escritor escreve com arma de fogo. E mata apenas a si mesmo.
Mata o instante. O invisível.

O poeta sente a dor da morte. A dor da dor. A dor do tempo.
O odor da vida, e dos sentimentos. E as mulheres dançam nos seus sonhos.

Mas as lágrimas, que às vezes querem passar pelos olhos, estão presas.
Cárcere privado. Do poeta.
Se pudessem sair, revelariam as barbáries, e torturas que elas sofrem lá dentro.
E o poeta administrativo nunca a deixa sair.

Aquele peso escondido sob sua pele, sob seus ombros, abate a letra. A escrita.
E mesmo assim. Mesmo com essa pobreza de espírito. Esse podre homem é rei.
Rei sob seu domínio. Escárnio subversivo. A coroa de ossos é dada ao cego
que vela sua alma, na vala. Nos muros criados ao seu redor: “Sodoma e Gomorra” é seu poema.
 
Sodoma e Gomorra

Ávida

 
N'algum lugar do tempo algum anjo profetizava: Cuida! Cuida que a vida é ávida pelo retorno da própria vida na mesma vida em que tu vives.

Fora essa uma época em que aprendia a ler e falar, mas não ouvir.

Essa insanidade me perseguiu nos dias vindouros. Andava na rua e conheci alguém que bebia até gasolina, como eu. Tinha vômito na roupa, lágrimas nos olhos, lembranças solitárias, experiência sobre a vida, as coisas em geral e de coração vazio. Tinha vontade própria, conseguia andar por si, possuía a si e era ávida por viver. Não aceitava o lugar que a vida havia lhe imposto. Queria viver, queria amor, queria tanto.... O acolhimento oferecido fora incondicional até ficar de pé.

Mas a vida lhe tornou mais forte depois que partiu. Depois de adquirir tanto, mais do que imaginava.

Hoje, me encontro no fio da calçada comigo mesmo, sem esperança. Com o tempo, depois de aprender a ver, depois de aprender a ler, depois de aprender a falar, depois de tudo, ouvi. Mas só no fim, depois de tudo.

Hoje, e só hoje, percebi. A vida, na qual tentei ter paciência e ter controle sobre o que sentia, se fez implacável e retornou. Mas seu regresso se fez ao inverso. Colocou aquele que estava caído em pé e aquele que era a pé, no chão... Conversando com os ratos, comendo as migalhas dos pombos, refém do retorno, golfado por aquela mesma vida, ávida por regresso, no lugar do outro.

Assumi seu lugar e vi a vida se repetir.

Hoje, e só hoje, sôfrego e derrubado, sem admissão de rastejo, gatinho naquela mesma calçada, arredio, como todos que estão no mesmo lugar, em lamento. Agora percebo, sempre tem alguém lá. Se a vida derruba quem fica em pé, ela também levanta quem anda de quatro. Se existe esperança? impossível determinar.

À vida, ao lamento, às inebriantes sensações, à experiência, ao amor, ao vento e ao vinho: Um estilhaçado corpo humano ora, por hora, pela alienação fiduciária do bem querer.

A lenda:

https://marceloinverso.blogspot.com/2022/11/a-lenda.html
 
Ávida

O pequeno grande poema

 
O poema,
é
um
Uni-verso.
 
O pequeno grande poema

O grande momento da virada

 
Marck havia se cansado de todas as vezes em que havia sido deixado de lado por todas aquelas mulheres que não o entenderam. Havia chego o grande momento. O momento da virada.

Estava desde cedo decido: Iria para o bar à noite. Escolheria um Manhattan e ficaria sentado na cadeira. Observando. Escolhendo a mulher que seria o alvo da noite. Ora vamos... Não seria desrespeito nenhum ou, tão pouco, desmerecimento algum com todas aquelas lindas mulheres que escolheriam aquele bar para passar a noite. Nem todas elas perderiam tanto tempo se arrumando, gastando dinheiro na compra das maquiagens, dos perfumes, das lingeries, dos sapatos e afins, por esporte. Ficarem lindas como um feixe de luz refletido em diamante, apenas para entrar em algum lugar, falar trivialidades, beber um Martini e sair como se nada tivesse acontecido, sem nenhuma emoção, ou sem ao menos uma boa história para contar. Marck tinha convicção de que elas estariam esperando os caras de sempre. Os manjados e superficiais paqueradores de bar. Eles sempre estão lá. Estão sempre em todos os lugares. Mas aquela noite a sorte estaria com os gatos dessa vez, e não com os cachorros.

Comprou roupa nova... E toda aquela ladainha. Estava pronto. Cigarro, fígado, sobrancelhas treinadas e armadas. Tudo no devido lugar. E claro, sem esquecer a caderneta de cantadas, que hora ou outra seria usada na ida ao banheiro. O jogo havia começado bem. Já avistava uma loira linda e meiga lá... láááááááá adiante. Notara as pernas, a boca, o cabelo, as pernas, os seios pequenos, novamente as pernas... E surpreendeu-se com as pernas da mulher. Sentiu a energia fluindo. Ela era perfeita. Poucos passos à frente e já havia notado mais três lindas mulheres. Todas atraentes e carregavam aquele... aquela... Aquela coisa sabe? Aquele olhar de enfrentamento, de auto-suficiência, de superioridade, aquela coisa de superfêmea. Toda aquela boça típica. Enquanto ainda permanecessem sóbrias. Logicamente.

Sim. Alvos claros na mira, drink na mão. Chapéu e perfume. Faltava a grande situação. Avistou e avistou e avistou. Enfim, tudo estava claro em sua mente. Duas morenas e uma ruiva já estavam na mira dos cachorros. Mas elas foram lá querendo eles. Não estavam preparadas para o gatuno Marck. As pernas da loira e sua amiga continuavam lá, mas agora nem tão adiante assim. Observou como elas olhavam as pessoas e teve a certeza que ela seria sua rainha aquela noite. Já sonhando e desejando a amiga das pernas também. Mesmo sendo ridículo, sonhou.

Já havia se passado uma hora e meia no mínimo. Já havia feito contato visual com a loira, as pernas, e toda a pele que estava à mostra. Aproveitou e fez contato visual com a amiga também. Analisou a situação e percebeu que a loira já havia desconsiderado alguns cachorros, alguns gatos e alguns ratos. Tinha certeza que ela seria seu trunfo. Deve-se aproveitar para dizer que ficou um pouco confuso ao ver a loira olhando com sedução para outra loira, e acompanhou o andar maravilhoso de uma morena que passara na frente dela. No fim, gostou. Mas não teve muita sorte em olhar a morena. E a loira estava toda sorrisos. Perfeita, outra vez. Sim... Ela estava no papo. Era ela... Tinha que ser ela... O ponto de desequilíbrio naquela vida de bunda mole de Marck. Chegara o momento. A amiga da loira saiu para ir ao banheiro, ao que tudo indicava, e deixou as pernas no sofá. Antes ainda, deu uma olhadela para o rapaz gato e charmoso que estava no bar e pateticamente fingia que bebia seu drink. Manhattan. E aquela bela criatura linda ficou sozinha. Certo de sua investida levantou-se convicto e com toda coragem que poderia carregar. Não era tanta, mas era suficiente. Porém...

Nem meio passo andou, e uma mão segurou seu ombro. Broxante. Ao olhar para trás viu que um rapaz notavelmente mais experiente naquela arte de gatunar em bares, com um sorriso simpático o cumprimentou com um olá de saudação. Indignado. Totalmente indignado com o rapaz, Marck franziu a sobrancelha com uma expressão improvisada e jogou cabeça à frente no ar tentando se desvencilhar daquela mão masculina e de aspecto feminino. O rapaz, que era muito educado, estranhamente estava usando o mesmo feitiço contra o feiticeiro. Ele estava simulando a desenvoltura que Marck havia treinado. Quis dar um tiro na sua própria testa, mas só imaginou a cena. O fato é que ele falou para Marck, que ele estava ali com alguns amigos, e um desses amigos era uma garota que estava olhando para ele a noite toda. Quando Marck levantou-se, ela havia pensado que ele iria embora e pediu ao amigo que lhes apresentasse. Ironia do destino? Talvez. Sentindo-se como se alguém lhe houvesse dado um tapa com aquelas luvinhas brancas patéticas cirúrgicas, ficou meio desnorteado. Mas encontrou novamente seu rumo quando viu a amiga do rapaz. Ou melhor, A AMIGA DO RAPAZ!!
Ela era linda. E perfeita. Tinha gengivas sadias e dentes alinhados, brancos e sem batom manchado. Pernas e pele. Perfeita. Bobo, e imbecil, abriu largo sorriso. E ficou na hora interessado. E foi ao encontro de Fernanda.

Enfim... Marck desencalhou. E por ironia do destino, Fernanda havia dito à Marck que algumas vezes é necessário aquele “momento da virada”, que se luta contra a lei natural da má sorte que abate a muitas mulheres. Sorrindo, e finalmente usando as sobrancelhas treinadas para matar, disse que a entendia perfeitamente.
Olhou para trás na saída, ainda enroscado na cintura de Fernanda, viu uma cena que fez com que sentisse novamente orgulho em estar vivo. As pernas da loira perfeita, atracada com as pernas da amiga. Lindo... Lindo de se ver. Isso sim chamou de: O GRANDE MOMENTO DA VIRADA.
 
O grande momento da virada

Metalinguagem

 
A tela branca:
Foi aí que percebi
que eu deixei de existir.

Na tela branca:
Foi aí que percebi:
Meu existir.
 
Metalinguagem

O Beco

 
San Francisco, CA – 1966.

Charlie. 8 anos. Bermuda pouco acima dos joelhos. Camisa listrada marrom. Punhos cerrados. O esquerdo na altura do peito próximo ao queixo, e o direito à frente, para marcar território. Há pouco havia jogado seu boné contra o chão.

Bob. 9 anos. Meias cinza, pouco abaixo do joelho. Suspensório e camisa listrada vermelha. Punhos serrados e cara de mau.

Charlie caminha lentamente em sentindo horário. De costas para a Mason Street, e de frente para os fundos do “Fior D’Itália”. Sua baixa estatura e seu porte físico não estimulam muita confiança. Isabelle aguarda o resultado.

Bob Flecher era conhecido por liderar a gang dos Garotos Gordos. Este sim era digno de aposta. O sorriso irônico no canto da boca incentivava os gritos da torcida.

“Os Gordos” como eram reconhecidos. Não que fossem gordos, mas eram eles que “controlavam” os lanches dos rapazes nos intervalos da escola. Havia também a gang dos Pit-Stop Boys (ou P-SB). Uma brincadeira feita com os pit-stops dos garotos que iam ao banheiro nos intervalos, e que para ter acesso, precisavam pagar o pedágio. Os “P-SB” eram rivais dos “Striker’s”. Um bando de pequenos marginais que roubavam a grana dos rapazes. Sempre mudavam seus líderes. E um líder dos Striker’s nunca poderia fugir de um desafio. O problema é que muitos garotos disputavam a liderança do grupo. E por fim, os “Striker’s” eram os rivais dos “Gordos”.

Bob, quase nunca entrava em uma briga. Era um garoto esperto e tirava boas notas. Seu porte impunha respeito, e ele o usava com sabedoria. Tanto que, quando foi eleito líder, nunca mais saiu. Afinal, boas notas, um titulo de respeito e imposição, eram sinais de poder em qualquer lugar.

Já Charlie não cheirava. Tão pouco fedia. Mas se metia em muitos problemas... Muitos... Muitos... Muitos problemas, por ser namorado de Isabelle. Não há nada de surpresa nisso. As garotas só trazem problemas afinal. Uma suspensão aqui, uma acusação de furto ali, um castigo acolá... Quando não, um nariz quebrado. Não que elas fossem as responsáveis por tudo, mas quando se tem uma namorada, todos fazem de tudo para ver você se ferrar. Incluindo as amigas mais tímidas, que são capazes, inclusive, de tentar te beijar quando a sua garota não estiver olhando. É sinistro. Porém, não da para reclamar de tudo. Uma namorada é sinal de respeito também. Seus pais se gabam para os vizinhos e para os familiares. As tias da cantina lhe dão uma porção a mais... E por aí afora.

Poucas coisas mais divertidas haviam do que uma boa briga. Rolavam boas apostas. E quem conseguisse acompanhar a maioria delas, saberia bem em quem apostar. Apesar dos azarões que, hora ou outra, apareciam para estragar as estatísticas. E esta, sim senhor, foi uma boa briga.

Bob havia roubado o lanche de Isabelle, que reclamou. Sem pensar nas consequências (para Charlie), falou que se ele não devolvesse, chamaria seu NAMORADO. Bob sorriu. Mas quando uma garota de 8 anos diz alguma coisa, é lei. Ainda que isso não mude muito até os 90 anos, continua sendo lei. E conforme prometido, Isabelle notificou seu amado do ocorrido e o intimou a devolver a honra que lhe haviam roubado. Charlie não entendia, naquela época, que o lanche roubado de uma garota era sua dignidade posta no lixo. E, assim, continuou sem entender pelo resto de sua vida. Mas não havia escolha: Ou desafiava Bob, ou perdia sua insígnia. Na visão de Isabelle, claro. Pois para Charlie, ele poderia não fazer nada e seguir sua vida normalmente, ou também não fazer nada, que tudo continuaria no seu devido lugar. Sempre havia uma saída. Mas ele nem precisou se preocupar em escolher. Bob o segurou pelo colarinho e disse apenas: “Amanhã. Três horas. Atrás do restaurante italiano”. Já há algum tempo, Bob se sentia entediado com aquela vida fácil e sem emoção de roubar lanches, por isso precisava de algum divertimento de vez em quando. Normalmente, ele não faria o que fez. Era forte, líder dos Gordos, e respeitado. Não precisava fazer nada. Já Charlie... ... Bom... ... ... Coitado do Charlie.

Caminhando no sentido horário, Bob foi surpreendido com a atitude do adversário. Esquivou-se do soco, que voou solitário no ar. Ele sem dúvida conhecia seu segundo provérbio preferido: “Quem bate primeiro, ganha”. Logo após o: “Bata antes, pergunte depois”. Culpa das noites em que assistia a filmes de ação escondido de seus pais.

Porém, nada aliava a tensão de Charlie. Pelo menos até levar o primeiro soco. Ou o segundo. Ou o terceiro... Enfim, chances de alivio de tensão não faltaram. Apesar de alguns socos bloqueados, Charlie acabou por absorver a grande maioria deles. Bob se divertia. A plateia adorava o espetáculo. Giulio, o garçom, também se divertia enquanto fumava para passar o tempo, antes de voltar a lavar a louça. Por fim, com o nariz já um tanto torto, um vermelhão no olho e um pouco de sangue no canto da boca, Charlie, tonto, quedou. Isabelle, que era a terceira garota mais linda da escola, (segundo pesquisa dos “Garotos Selvagens”, gang aventureira que desbravava a cidade com suas bicicletas) deu as costas, furando o círculo que rodeava a briga e foi embora para casa.

Charlie então, se tornou o garoto mais poderoso da escola.

Naquela tarde, ao cair, Charlie cerrou seus dentes com raiva e levantou-se rispidamente. Dando tempo de Bob apenas iniciar o sorriso sarcástico enquanto ainda estava em pé. Foi açoitado com cinco socos consecutivos na cara e terminou nocauteado, e meio desacordado. Seu sorriso ficou torto no chão.

Naquele mesmo dia Charlie foi à casa de Isabelle para informar que estava tudo terminado. Pela primeira vez alguém conseguiu fazer Isabelle não dar a última palavra. Nas outras oportunidades, ela jogaria algum objeto na cara dos rapazes e saía porta adentro fingindo um choro forçado dizendo que estava tudo acabado. Muda, contudo, observou Charlie ir embora, iniciar o namoro com a garota número 1 do colégio, se tornar o líder dos Gordos, dos P-SB, dos Striker’s, dos Gárgulas, (que surgiram tempo depois) e, pouco a pouco, se tornar um cafajeste ordinário.

Anos mais tarde, Bob se formou na faculdade.

Charlie foi preso.
 
O Beco

Flerte Irresistível

 
Eu não resisto a um flerte bem dado.

O teu corpo camuflado
Deixa o ato de simular
Dissimulado.

Faz jogo de lapidar
Para o amor dilapidar
No fogo dilacerado

Eu, realmente, não resisto a um flerte bem dado.
 
Flerte Irresistível

Quadrilha de mim

 
Eu não sei ser profundo
Não sou eloqüente também
Quem sabe seja um moribundo
Quem sabe não seja ninguém

Se, sendo o que sou
Já não sei o que quero
Se, soubesse aonde vou
Saberia desvendar o mistério?

Se fosse o que pensei em ser...
Seria, o que sou agora?
Quereria o que quero ter
Ou seria o que fui outrora?

Eu não sei saber ser coerente
Sabias que sou o que quero?
Quando rio riso irreverente
Navego no mar que impero

Eu sei saber ser o que sou
E tu sabes ser o que é?
Se tentares ir aonde vou
Prepara-te p’ra ires a pé

Até no ato de fingir
Eu mesmo falho
Fingindo até no fingir
Acredita que eu me atrapalho?

Se fosse apenas ser em dia
O que aos outros agrada a prazo
Se fosse, acho que morreria
Ou viveria sempre em atraso

A ordem perante a mim se mantêm
Pelo rei idoso e pela rainha feia
Se pelares mais alguém
É certo que vou p’ra cadeia

Eu não sei saber ser normal
O que é certo e o que é errado.
Se fosse mais imoral
Teria sido espancado?

Se eu soubesse rimar
Até mesmo em dilema
Poderia eu amar
E escrever um poema?

Ouvi rumores que profundo
É lugar que não meço
Se conhecesse o mundo
O saber me seria regresso

De tantos mundos que sei
Como tantos mundos que sou
Às tantas cruzes me dei
E nenhuma delas pregou

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Quadrilha de mim

P.o.e.i.ra

 
Subtitulo: Fragmento

Pela lente observo o passo,
[O moço passa...]

E o descompasso do moço.
[Inerme o tempo]

Retratos do passado.
[A todo o momento]

.

Presente também em:
https://marceloinverso.blogspot.com/2018/10/fragmento.html
 
P.o.e.i.ra

Música: Arte encantada

 
A música é arte encantada,
a qualquer hora cai bem.
O silêncio, que vive do nada,
é triste e sem ninguém.

O som me revela também
uma estrada mais animada,
A música é arte encantada,
a qualquer hora cai bem.

Nos céus fora encontrada
a melodia que tem
beleza inigualada,
que os anjos dizem: Amém!
A musica é arte encantada.

Conheça também | Poeira:

https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=226375
 
Música: Arte encantada

Sorriso de Monalisa

 
Eu te odeio
Do fundo do meu coração eu te odeio.
Com todas forças do mal, eu te odeio.
Te odeio como o ódio dos meus rivais.
Te odeio como todos sentimentos brutais

EU TE ODEIO
Eu te odeio mais do que demais,
Eu te odeio com as tropas dos espíritos dos meus ancestrais,
Eu te odeio em todas as línguas possíveis,
Eu te odeio em francês,latim,alemão,português...
Eu te odeio com todos os porques,
Te odeio de todas as formas terríveis.

Eu te odeio, te odeio, te odeio, te ODEIO!!!
Eu grito mais alto do que nem sei.
Gritos mudos dentro da prisão,
Minha alma alva encontra a escuridão,
É a catástrofe do meu coração;
De bonzinho ao vilão mais vil.
Assim te odeio e te mando pra...ponte que partiu.

Mas pra ser sincero, eu realmente te odeio!!!
Mas na essência, te odiar faz-se necessária a sua presença.
Pois se você não existir, a quem mais vou odiar?
Amo a todos (mentira). Com exceção de você (verdade). Você é o que me equilibra
Você faz parte da minha vida. Sem você, sou eu pela metade. Justamente esse fato que eu Odeio em você.
Porquê ser tão cheia de amores, cheia de angustias, ser assim tão cativante, e linda como Diamante?
Se me queres até mesmo como amante, digo-lhe te odeio, mas te quero a todo instante.
Não adianta. Não vou me contradizer. Acordado e consciente eu repito: Odeio você!

Eu te odeio te odeio, e cada vez mais te odeio ainda mais...
Eu te odeio com todos os numerais. ( Infinitos ímpares e negativos. )
Eu te odeio com a força das vogais. ( EO, O-E-I-O, OE )
Odeio o amor que consome o ser desumano. Frio e desagradável é um belo de um tirano.

Estranho lamento do dia que te chamei,
Com tua voz suave eu quase pequei.
Passando-se alguns dias, a ti, meu amor entreguei
Dizendo-lhe quão afável meu coração ficou.
Você?
Acolheu-me piedosa, sacou o revolver, e disparou.

Assim recolho-me aos meus aposentos. Lá, apenas lamentos. Que perante o fim dos dias
O sangue foge-me, buscando o desfiladeiro.
Como, à lástima foge a chama,
É cruel saber que enquanto morro, te odeio
E voce sorrindo ainda me ama.

Adicionado no blog www.marceloinverso.blogspot.com.br na data de 28/08/2008.
 
Sorriso de Monalisa

Desértico, árido e profundo

 
São oito horas da noite e o sol ainda não despencou do céu. Continua com seu trabalho infinito na órbita da terra, enquanto, de cabeça baixa, aquela criatura vê no canto da folha amarelada e carcomida a inscrição colorida do seu número de série. Ainda não anoiteceu, mas está quase. Ainda não comeu, mas já está quase.
Um berro seguido de um nervoso abrir de portas é o sinal de sair de casa e ir para a escola. Acordar todos os dias. Acordar e nascer de novo. Todos os malditos dias acordando e trocando de roupa; todos os malditos dias acordando e limpando aquela ramela amarela dos olhos, pois houve choro nas noites anteriores. E não sabemos quantas chances mais serão precisas até que ramelas amarelas sejam descontadas nas limpas orelhas de um travesseiro encardido que já não suporta mais o seu trabalho de todas as noites. Cada dia uma ramela diferente.
Ele vai à escola e quando volta já não é mais o mesmo. Percebe pelo reflexo da chave que no seu rosto há uma penumbra negra. Seu movimento é apressado e a sua expressão é severa. Se questiona porque na vida somos igual peças de xadrez.
Ele já não limpa mais as ramelas porque simplesmente desistiu de chorar.
 
Desértico, árido e profundo

Trilhando o Inefável: Destino, Sorte e a Dança do Tempo

 
“A lenda geralmente é criada pela maioria do povo da aldeia, gente equilibrada.
O livro geralmente é escrito pelo único homem da aldeia que é louco.”
Ariadne

Indubitavelmente, foi lá em Mont Blan'c, ou em Aparecida. Apesar disso, confesso, sinto em meu coração que uma parte do todo não veio, tão somente, em absoluto, da parte dela, senão também, daquele que veio de Tiradentes e depois foi para o Espírito Santo; ou Goiás, não tenho certeza, infelizmente.

“Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então.”
Heráclitão

Com uma precisão bastante rasurada, como no mundo dos espelhos e das Maravilhas, é que se pôde vir a afirmar que os caminhos para a chegada dessa ideia vieram no fim, só no fim, depois de tudo. Talvez oriundos de alguma história, fábula, conto ou livro; disso eu sei, felizmente.

"...quando eu me aceito como eu sou, então eu mudo."
Demócrites

Mas é genuíno se deixar enganar de que a premissa toda veio de mim mesmo. Ou que fora, todavia, num sonho impecavelmente verdadeiro que emergiu e que posso afirmar, categoricamente, que não sei de onde surgiu esse pensamento.

“Não é que eu goste de complicar as coisas, elas é que gostam de ser complicadas comigo.”
Borges.

Rumores de que havia um homem na estrada que se chamava Raimundo. Ávido, rumava por aí, de lado a lado, rangendo os dentes, o seu cavalo. Desprovido de tantas coisas, como raiva ou questionamento, promovia, em trote despreocupado, o pó que impregnava todo o seu cavaleiro. Quando o bigodudo moço, num estalo, se põe a pensar no que era e do que era feito o destino. Mas, desde já, não era mais ele.

Antes de conhecer qualquer coisa, parte-se da certeza de que não se sabe se existe um destino. Esse ponto é problemático. De muitas abordagens que se pode aceitar, há algumas que causam intriga. Porque essa ideia do lugar destinado a um fim específico não tem parâmetros. Vão dizer que o destino é um só. Mas é fulcral a questão: É um caminho só ou permite variações?

Assumimos que o desígnio seja a chegada ao ponto B saindo do ponto A. Mas o que acontece com todo o resto? É sempre do ponto A ao ponto B? Um só? Sem variação? Assumindo também que seja um problema adquirir a ideia que se universaliza nesse ponto, se faz necessário que se coloque em jogo o caso particular.

Assumimos a regra de se chegar a um lugar pré-determinado, havendo um ponto de partida, tomando-a como imutável. Assim, pelo costume, chamamos isso de “Destino”. Entretanto, o estranhamento acontece quando suspeitamos da indeterminação do lugar de chegada se for considerada a possibilidade de particularização dessa mesma regra, cuja qual, afirmamos anteriormente, é uma só.

Com efeito, posso sair do ponto V e chegar ao ponto L. Antes que a mente dê nó, explica-se, que o abecedário deu a volta. A regra permanece a mesma, entretanto, essa foi uma particularização (quando não, uma variável), da regra que não mudou. (Aqui, o navio de Teseu está sozinho na floresta, e não há ninguém lá). Mas que droga! E todo resto?

É Destino o percorrer das outras letras também?

E se, para chegar ao ponto A, saindo do ponto H eu precise percorrer também a letra O? Mas, e se o descaminho do caminho me forçasse a ir ao encontro da letra R, para que então eu possa ter cumprido meu Destino de chegar na letra A? E só depois, no fim, depois de tudo, eu tenha percebido que minha trilha me levou ao caminho da H.O.R.A? Se tivesse parado em outros pontos, teria eu cumprido essa façanha? Teria, ainda assim, sido um destino; o meu destino? Teria, no fim, cumprido a H.O.R.A? Ou teria feito algo incompreensível como H.O.R.T.A? Seria o Destino um papel, único, puro, santo e quase virginal, no qual se talha uma única vez? Ou, não, seria antes, o escárnio de um palimpsesto?

Chegamos aqui a uma descoberta sobre essa caminhada, portanto: Não sabemos se o destino é um só caminho ou ele é variável. Se ele é um só, como se escrevesse em cima de uma fôrma, já moldada pelas forças invisíveis do destino, ou se ele é um papel fácilmente rasurável que, sagazmente, se reescreve para sempre fazer caber a sua história nas bordas limítrofes da folha, para se afirmar que nada há fora da história. De um modo que se não há relato, não há história, e sem história não há destino; mas só há a história e só há o destino quando ele cabe no rasurável papel da folha que define a existência de todas as coisas: desde a história até as letras e o destino.

Tão pouco sabemos, também, se ele tem uma única direção, sem permitir escolhas. Ou as escolhas moldam o destino enquanto se caminha “recalculando a rota”. No fim de todas as respostas, só temos perguntas.

Outra delas é a seguinte: O Destino é rastreável? Se há rastros de destinos, eles são rastros destinados a serem rastreáveis, ou não, antes do destino deixar a deriva seus rastros para serem apreciados, eles são escondidos? E, se são escondidos, é possível conhecê-los? Ou o pior: porque não o seriam?

E se não existisse destino? E se existisse tão somente interpretações dos rastros de desígnios que não estão escondidos e nem tem propósito destinado à eles? Podemos conhecê-los? E se há interpretações, há também interpretadores? Mas e se não haver destino nem interpretações e apenas vontades? Chegamos aqui a uma descoberta sobre essa caminhada, portanto: no fim de todas as respostas, só temos perguntas.

O pó, impregnado no bigode, também não responde. Menos, o equino. E já não se pode projetar esperanças no Raimundo, uma vez que já não o é mais. Quando Raimundo encontrou a sorte e a sorte encontrou Raimundo, nos foi dito, que não era o destino deles se encontrarem. Mas eles o fizeram. Talvez por teimosia, talvez por acaso, talvez até por outros motivos, mas assim o fizeram e construíram a sua história. Ela navegou nas possibilidades do Destino e se fez presente marcando uma trajetória. E dela foram retiradas muitas pegadas que ainda viriam a ser fragmentos históricos que seriam apenas os rastros de um destino.

Nos foi contado também, que não era o destino da sorte encontrar Raimundo e vice e versa. O que sabemos foi que ambos se tornaram parte da história um do outro, com ou sem sorte. Eles andaram juntos e deixaram suas marcas. Haviam não apenas pegadas na areia, como também, marcas históricas que se tornaram, anos mais tarde, em rastros de destino. Seus rastros eram rastreáveis e por isso, de algum modo, alguém pôde juntar esses pedaços rasurados nas folhas de uma carta (de um conto, de um livro, de uma nota, de um bilhete ou de uma fábula), e com perplexidade foi revelada a história do bigode e da bonança. Já era o fim desde o princípio. Mas esta foi apenas a interpretação do intérprete do destino.

Acompanhamos, juntos, a sorte e o Raimundo. Todos, com dificuldades interpretativas, não poderíamos ler nas cartas tais rastros que o Destino têm. Não sabíamos e nem poderíamos saber o que nos desígnios se escondia. Não sabíamos e nem poderíamos saber deles pois não nos ensinaram a ler o acaso. Éramos apenas uma canção para embalar marujos. Não sabíamos, eu sei, que o Tempo é ainda pior.

Referências do texto:
https://marceloinverso.blogspot.com/2022/10/raimundo.html

https://marceloinverso.blogspot.com/2022/10/o-homem-na-estrada.html
 
Trilhando o Inefável: Destino, Sorte e a Dança do Tempo

No quiero ser normal.