Solidão
Sinto-me vazia e extenuada,
Desconfigurada em pleno arrebol,
Banho-me com a luz do sol
E umedeço de brilho a pele suada.
Dia claro e de forte calor
Massageia-me o corpo com sua brisa,
Minhas mãos de veludo a tez alisam
E me sinto renovada, pronta para o amor.
Na noite dos pirilampos há força motriz
Que meu organismo expele como diarreia
Entre as quatro paredes da suíte sem plateia...
Depois o sono numa penumbra de verniz
Acaricia o sonho que se esvai pela janela
De um quarto sombrio onde dorme a cinderela!
Perdida em mim...
Do alto da montanha
Olho o mundo e contemplo
A rainha natureza brotar amor...
Do alto da montanha
Observo a natureza e contemplo
O mundo colorir-se de flor...
De dentro de mim mesma
Vejo a solidão instalar-se
E como não sei onde encontrar-te
Fico sozinha a contemplar a minha dor...
De dentro do mundo
Escuto soar a tua voz
E como sempre estou a sós
Já nem sei mais onde estou!
Convite à Reflexão
Estou com a cabeça sob as estrelas
Em um céu bordado de ponta a ponta,
Quero versejar nesta noite que desponta
Sem coibir minha inspiração, nem corrompê-la...
De norte a sul o vento vem em solidariedade
E sopra uma brisa que me dispõe a escrever,
A imaginação vagueia num circuito de prazer
E as palavras bailam cutucando uma saudade...
O brilho da lua desvenda uma penumbra
Dos galhos frondosos que balouçam e fecundam
Meu pensamento que busca no firmamento, o metafísico...
Minha luz interior ronda intenso aclive
E um vexatório poético que jamais tive
Descreve em nuances as artimanhas do meu tear psíquico...
Quem me dera...
Quem me dera...
Compartilhar dos anelos da inocência !
Chorar, apanhar, gritar, brincar...
Quem me dera...
Conviver com os atributos da eloquência !
Ser exato, conciso, inovador, perfeito...
Tudo são sonhos, meros efeitos !
Quem me dera...
Instituir regras de justiça !
Ser o exemplo, o equilíbrio, a moeda...
Quem me dera...
Instaurar a concepção de respeito e amor!
Ser o carinho, a ternura, a meiguice...
Tudo são devaneios, mera pieguice !
Quem me dera...
Amplificar o Evangelho para todos!
Ser a boca, o versículo, o livro santo...
Quem me dera...
Poder governar o universo !
Ser a lei, o alimento, a amizade...
Tudo são desejos, meros artifícios da verdade !
Espelho da Ilusão
Os ventos alijaram minha esperança
E minha alma de inocente criança
Grita no vácuo da noite, abandonada...
Tempestades alucinógenas derribaram meus planos
E transformaram meus amores em desenganos
Ceifando de sedução minha paixão desvairada...
Ouço o uivo sibilante da brisa noturna
E tateio na escuridão da noite meu corpo suado,
Imagino-me sequiosa nos braços de meu amado
Que transita livremente por entre lindas curvas...
Em meu semáforo íntimo já não há o vermelho,
E o verde é um convite para um belo passeio,
Sonho com tuas mãos em meus róseos seios
E de repente vejo-me despida e trêmula diante do espelho...
Velhas magnólias
Em meu coração só não há magnólias,
Cultivo todos os tipos de flores,
Todos bem de acordo com meus amores
E cada qual tem sua própria história.
Perfumes aromatizam minha alma
Que ébria vagueia sem rumo pelo jardim,
Numa agenda compulsória dedetizo a mim
E ressabiado o amor se instaura.
Meu olfato capta o que há na flora
E joga irremediavelmente fora
A essência que de mim destoa...
Há uma vacância que meu coração descreve
E logo imediatamente mais que breve
Preenche com extratos que sobram à toa!
Átomos Sensuais
Sento-me na varanda,
Olho em todas as direções,
Vislumbro os andarilhos e suas sensações
E me inspiro com emoções tantas...
Cruzo distraidamente as pernas,
Ao longo observo as ondas do mar
Que se quebram vadias ao luar
Espalhando espumas brancas e eternas.
Pés descalços perambulam pela areia úmida,
Violões em serenata provocam nostalgia profunda
Nas bocas que se beijam num ímpeto sedutor...
Mãos bobas percorrem afoitas corpos quase desnudos
Desabrochando átomos sensuais que varrem tudo
O que as almas segredam na noite de amor!
Colheita
Beijo-te duas vezes ao dia:
Ao deitar-me profundamente enamorada
E ao levantar-me após extensa madrugada
Sonhando ainda com tua fisionomia.
Sei que da moldura não sairás
E ao teu sorriso dedico meu pranto,
Os dias que passam me consomem enquanto
Meu amor cresce sempre mais e mais...
Por que tanto sofro por ti que já partiste ?
Por que este amor em devorar-me insiste ?
Não sei, é como se ainda tivesses vida...
Entendo agora que jamais poderei te esquecer,
Deixaste dentro de mim uma fagulha do teu ser
Em quem perceberei tua presença assaz refletida !
Exotismo
Amamento caricaturas de devaneios
Que tingem minha alma de solidão,
Encarapuço tais sonhos em meu seio
E deixo que fantasmas povoem meu coração.
No solo infértil de meu ventre
Há uma saudosa andorinha que sibila ressabiada,
Seu canto se perde pelos confins das madrugadas
E o silêncio apodrece a saudade de repente.
Nas areias negras do meu deserto escorre o pranto
Que meus olhos céticos e pálidos de espanto
Permitem o germinar do meu indócil pensamento.
Um oásis desponta numa seca superfície da terra
Onde torvelinhos engordam uma ficção que encerra
Acordes sinfônicos que desequilibram o despertar do sentimento!
Farra de Amor
Quiseste fazer-me um montepio,
Deliberei que isso seria desejar tua morte,
Quero-te sensual, sadio e muito forte
Para satisfazer-me quando eu estiver no cio.
Não te permuto por qualquer que seja o dinheiro,
Sem ti abrir-se-ia em mim intensa vacância,
Não vejo em ninguém teu porte e elegância
E de tudo que for último serás sempre primeiro.
Nas brancas grinaldas que o mundo me ofertou
Só tu descobriste por onde anda o amor
E na adesão ao sexo soubeste pintar o que se quer...
Na farra do tesão bebes de todas as cachaças
E sinto de ti o néctar que me despedaça
E que me torna senhora e musa, amante e mulher!