Poemas, frases e mensagens de FRANCISCO QUARTA

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de FRANCISCO QUARTA

SOU UMA PESSOA ALEGRE, TIMIDA E MUITO SOCIAL, AMIGO DE SEU AMIGO.
ADPETO FERRENHO DOS DRAGÔES, ADORA LER E ESCREVER E AMAR ACIMA A CIMA DE TUDO.

ALMA INQUIETA

 
ALMA INQUIETA

Utopias dum poeta,
Que nunca atingiu a meta,
Dão-lhe os sonhos alimento!
Ri-se dele qualquer um;
Chama-lhe o senso comum:
-Pobre cabeça de vento…

Contudo, não desanima:
Vive para a sua rima,
Grande amiga e confidente!
Mesmo que não lhe dê pão,
Tem sempre uma absolvição:
Fá-lo acreditar que é gente!

E, na sua ingenuidade,
Dando o braço à honestidade,
Mesmo que esta pouco exista,
Tropeça nas amarguras;
Mas, voando, nas alturas,
Julga ter alma de artista…

Rasteja na vida, assim,
Sem flores, no seu jardim,
Já nem vê quem o rodeia!
Pouco lhe importa ser louco!
Não liga a quem faça pouco:
Sonho é fogo que incendeia…

Na tristeza ou na alegria,
Em tudo vê poesia,
Chora e ri, a cada passo!
Envolto na solidão
Caminha entre a multidão,
Que o considera um palhaço.

Ninguém vive de quimeras;
E, se em vez de homens, há feras
Quem o vai compreender?!
Na luta da subsistência,
Se o amor se chama violência,
Poetas… não pode haver!...

E, nascendo na pobreza,
É bem maior a certeza
Que nunca irão triunfar!
Lutam por causas perdidas;
Vencem, sendo almas vencidas,
Sucumbirão, a sonhar…

Troçam; chamam-te pateta!
Mas nunca morras, Poeta!
Traz-nos um mundo melhor!
Sê sempre a cigarra amiga:
Nos trabalhos da formiga,
Teus cantos: hinos de amor!...
 
ALMA INQUIETA

MÃOS A OBRA

 
MÃOS À OBRA

Deixem-me em paz; não tenho remissão.
É muito tarde para acreditar
Que algo, para melhor, possa mudar.
Já sucumbi a tanta decepção!

Rebelde sou, porque esta humanidade
Porfia, em vez de pão, dar-me veneno;
Vindo a sorvê-lo, já, desde pequeno,
Não acredito em solidariedade!

Da teoria à prática, os abismos
Foram sempre impossíveis de transpor.
Quem corra o mundo, procurando o amor,
Encontra, em seu lugar, só egoísmos!

Ditam-se leis, que alguém irá cumprir;
Acabam de sair dum gabinete.
Quer a metralhadora ou a cacete,
Às ordens ninguém ouse resistir.

O que esperam de mim? Sou revoltado,
Leal, sem máscaras de hipocrisia.
Comprar sorrisos choca, e é vil mania,
Que ultraja sempre o mais necessitado.

Quem diz que os homens são todos irmãos,
É sonhador ou pouco inteligente:
Trabalhar mais é ser mais indigente;
Lucram, de pé enxuto, os maiorais.

Tentar que vença a força da razão,
Será mesmo ignorar realidades.
Que eu morra, sim, mas sem calar verdades!
Nunca um fraco terá opinião!

Sorrisos, punhaladas à mistura,
Deviam ensinar-nos a lutar.
Exijamos, foi ganho a trabalhar,
O pão. E abaixo toda a escravatura!

Amigos: labutar com dignidade,
Não é encher a pança aos sugadores!
Aniquilar, sem dó, esses traidores,
Eis a libertação da Humanidade!
 
MÃOS A OBRA

APOIO INCONDICIONAL

 
APOIO INCONDICIONAL

Sempre gostei de ti, desde menina:
Achava muito graça ao teu brincar!
É este o sentimento que me anima,
E nunca deixarei de te apoiar!

Desesperando, julgas-te sozinha;
Vives atravessando um mau bocado!
Mais do que nunca, agora bem convinha
Tivesses um amigo dedicado…

Já tens idade para decidir,
Careces talvez ser aconselhada;
Deves, para teu nem, sempre fugir
De qualquer decisão precipitada!

Quiçá? Não me conheces muito bem,
Á falta dum convívio mais profundo.
Acreditar em todos, não convém,
Mas ninguém vive só, cá, neste mundo!

Não vás sacrificar a tua vida,
Forçada por qualquer perseguição.
Pondera, enquanto é tempo, sim, querida?...
Não sufoques a voz do coração!

Já conheci exemplos bem fatais,
Que só causaram mal e desventura!
Não te ofendas, e pensa nos teus pais:
No fundo, sentirão grande amargura!

Sem criticá-los, sei que o resultado
Dum casamento à força é decepção!
Por isso mesmo, deves ter cuidado,
Não entregando à toa o coração!

Na tua idade, enfim, quem não se ilude!?...
Naufragando em maré de indecisões!
Oh, como é generosa a juventude,
Buscando sempre novas sensações!

Alegra-me esse rosto, minha linda!
Carrancas não te fazem nada bem!
Tem confiança, que esta vida, ainda,
Vai fazer-te feliz, como ninguém!

Só folgarei, quando te vir contente,
Julgo-me, na verdade, teu amigo!
Encara os outros, sempre bem de frente,
E, quando queiras, hei-de estar contigo!
Uma cachopa gira e sorridente
Que no futuro tenha confiança,
Eis o que deves ser, urgentemente,
Porque só ganharás, com tal mudança!

Não gostas desse jovem? Paciência!
Não te hão-de faltar outros, por aí.
Desagradou-te a sua convivência?
Alguém há-de chegar… gostar de ti…

Mas não lhe queiras mal; é bom rapaz,
Embora mostre pressa em demasia!
Talvez fosse melhor deixar-te em paz,
Se não aceita apenas simpatia!

Ninguém se faz, querida; isso é verdade!
É isso que ele tem de perceber!
Se não podes amá-lo em liberdade,
À força, terás muito que sofrer!

Eu também já passei por tais caminhos!
Sei, melhor que ninguém, dar-te o valor!
Temos de resolver, porém, sozinhos,
Esses problemas graves, os do amor!

E quando errarmos, foi por nossa conta;
Não podemos então culpar ninguém!
Contudo, a submissão é uma afronta,
Que ultrajará homem de bem!

Tens direito de amar e ser amada,
Viver tuas delícias, livremente!
Quem não sonhou em ser acarinhada?!...
Tu és sensível, como toda a gente!

Coragem, nesse mar, de ondas bravias,
Procura resistir aos vendavais!
Terás de escolher bem em quem confias,
Não deixes subjugar teus ideais!

Conserva estas palavras de carinho,
Oxalá elas possam ajudar-te!
Aceita, juntamente, o meu beijinho.
Deus te faça feliz, em qualquer parte!
 
APOIO INCONDICIONAL

VELHICE

 
VELHICE
Bordão em punho, roupa remendada,
Olhar cansado, sempre rente ao chão,
És um farrapo e já nos deste o pão,
Hoje porém, ninguém já lembra nada…

Coluna vertebral encorcovada,
Caminha, sem qualquer aspiração!
Pesam-lhe os anos, mais a ingratidão…
Velhice… vives tão abandonada!...

Conserva, embora roto, o seu chapéu…
Não pode comprar outro que é tão caro!
A reforma?!... não dá para comer
 
VELHICE

CASEBRE

 
CASEBRE

Fizeste alguém sofrer, inconsciente;
Teu nome cheira a velho... cafuão!
Já foste humilde e tosca arrumação;
Eis-te um quarto arejado e bem decente...

Estás hoje em festa: aceitas tanta gente,
Que te olha com profunda admiração...
Recebe os difamados, que aqui vão
Celebrar suas núpcias, cristãmente!

Resgata o seu bom nome, sem temor
Jura a sua inocência, que é verdade;
Tu foste a testemunha mais fiel!

Voltam a ti, jurando eterno amor...
Trazem perfumes de felicidade
Serás mais doce aqui, lua-de-mel!...
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CASEBRE

EGOÍSMO

 
EGOÍSMO

Quero-te soda, toda para mim.
A mais ninguém tu podes pertencer.
Feliz, sempre comigo hás-de viver;
Que delícias terás, na vida, assim!...

Depôs, ambos sozinhos, num jardim,
Onde tu, meigamente, irás colher
Florinhas, que, ditosa, irás trazer:
Um goivo, uma açucena, ou um jasmim…

Mas, não! Não falarás a mais ninguém.
Embora vivas uma eternidade,
Todo esse tempo para mim será!

Troca o mundo por mim, meu doce bem;
Pois só assim terás felicidade,
Que nunca, nunca mais acabará!...
 
EGOÍSMO

INCONFORMISMO

 
INCONFORMISMO

Casar é ter mulher, filhos, família,
Quando se é homem.

Porém nos nossos tempos é quezília:
Ou se há-de ser fidalgo ou indigente…
Quando termina o dia, e nos deitamos,
Em princípio, será para dormir.
Exaustos, mas sem sono, interrogamos:
-Bom: amanhã, que mais irá subir?!

Manteiga, leite, queijo, gasolina,
Gás, óleo, azeite, e o mais que se verá!
Remédios? Só por luxo! Nem morfina
Já nos sossega; quem acudirá?!

Que horror! Velhos e novos com catarro!
Lamenta cada um a sua sorte!
Vamos ao barracão: nem um chicharro!
Há sempre algum finório, que os exporte…

Oh, terra de lavoura e pescadores!
O que produzirás tu, afinal!?
Há quem queira que sejas só Açores:
Mas, para mim, és sempre Portugal!

Que descriminação! Tens filhos pobres!
Mas outros, levam vida regalada!
Estes, passeiam; gozam os seus cobres,
Rindo dos outros, que não têm nada!...

Isto está mal, assim, tem paciência!
É forçoso lutar, sem sucumbir.
A corrupção conduz `d delinquência;
Mas, para debelá-las, há que agir.

Longe de nós ideias conformistas,
Que só trunfos darão ao ditador!
Façamos vigorar nossas conquistas,
Exigindo mais pão, vida melhor.

Vítimas de injustiças sociais
Somos, por não vencermos o papão.
Refilemos, nem alto: -Isto é demais!
É tempo de acabar a servidão!

Temos nem aprendido à nossa custa;
Porem ninguém se emenda, infelizmente!
Se a voz dos oprimidos não é justa,
Vejam se o provam, mas, concretamente!

De impostos carregais nossa pobreza;
De longe mandais vir carros de luxo.
Que austeridade é essa riqueza?
Pudera! Foi roubada ao nosso bucho!...

Vamos, população: abre esses olhos!
Teus músculos, a força do país!
Os filhos que lhes dás, tombando, aos molhos,
Mais te enfraquecem, Pátria; e já não ris…

Caindo, vivos, neste cemitério,
Pelos abutres somos devorados!
Muito conseguiremos, falo a sério,
Quando lutarmos, todos aliados!

Chora e morre à miséria a pobre infância:
Já quase nem migalhas tem no prato!
Mas quantos têm carne em abundância
Fresquinha, para si, o cão e o gato!...

Foi a bela igualdade que nos deram,
Que dizem ser forçoso conservar.
Que espertalhões! Nem sei como puderam
Uma nação inteira subornar!

Aproveitaram bem a circunstancia
Do cansaço que havia em toda a gente!
Veio a penúria, em vez dessa abundância
Que prometeram; tal não é decente!...

Acabemos depressa com a fome.
Ou, se a tivermos, seja partilhada.
Chamando sempre as coisas pelo nome,
Esmaguemos, sem dó, tão vil cambada!
 
INCONFORMISMO

DEVER SAGRADO

 
DEVER SAGRADO

Chora de comoção o passaredo!
Já se cobre de negro a terra inteira!
Serás, festa do pobre, a derradeira,
Que esta família faz, com tanto medo!...

Ai, pobre humanidade; és um brinquedo,
Nas mãos da morte, cega e traiçoeira!
Há lágrimas ocultas na lareira…
Mesmo o porco, ao morrer, chora em segredo!

Porque lavamos nós, tão febrilmente,
O leito dum ser vivo e devorado,
Com este pranto, se ele vai morrer!?...

Ouve estes filhos, Pai de Céu, clemente,
Cumprindo um dever triste, mas sagrado!
Que o pai terreno, vivo, os possa ver!
 
DEVER SAGRADO

NATAL DO DEFICIENTE

 
NATAL DO DEFICIENTE
 
A Associação Portuguesa
de Deficientes chama:
Vamos confraternizar!
Nosso apelo é singeleza:
desculpem, se este programa
Não vos consegue animar…

Tentámos com alegria,
Agradar à preferência
Dos ilustres convidados.
E, se assim for, neste dia,
Após bela convivência,
Estaremos realizados!

A todos um bom natal;
que cada um crente ou não,
viva em paz, com muito amor!
No mundo e em Portugal,
Possa todo o cidadão,
Ter uma vida melhor

E nós os deficientes,
Com o direito de sonhar,
Não fugimos aos deveres.
No trabalho, diligentes,
Se este se proporcionar,
Busquemos nossos haveres!

E quem se disser cristão,
Jamais ponha o pai natal
No lugar do Deus Menino.
Se Este nasceu, nosso irmão,
Barbudos só fazem mal;
Julgamos ser mau ensino!

Peço perdão se assim penso:
Mentir a cada criança,
Só a vai prejudicar.
Que todos tenham bom senso;
Pais, inspirai confiança
Aos filhos que ireis criar!

Que esta festa de ternura,
Se prolongue vida fora,
Não sendo um dia banal!
Mas oásis de ventura!
Cristo, que nasceu outrora,
Nos dê um Feliz Natal!
 
NATAL DO DEFICIENTE

CORPO SEM ALMA

 
CORPO SEM ALMA

Este sopro de vida, que me agita,
E tem feito girar, maquinalmente,
É qualquer abstracta, que não grita:
Desisti de pensar que já fui gente…

Nasci sem culpas; quis viver num mundo,
Que só me apedrejou, desde criança!
Lançou-me num abismo tão profundo,
Onde não entra a luz da confiança.

Atacaram-me vermes, com furor;
Ai, tantos! Nem sei qual o mais temível!
Acabou por ser vão o meu vigor.
E reagir, sem ele, é-me impossível…

Viver sem ilusões, é não ter nada
Que justifique a roupa e o alimento!
Carece de razoes esta jornada,
Que pesa tanto, como o meu tormento.

Tendo regularmente algum salário,
Fazem-me as aparências refilão.
Que me importa cumprir um eterno horário,
Se em troca do trabalho há menos pão!?

Qual manequim andante, sem vontade,
Acompanho os demais, no dia a dia.
Em nada tenho fé, nem ansiedade:
Envolve-me cruel anestesia…

Julgo que infelizmente esta doença,
Ai ponto que chegou, não tem mais cura!
Companheira fiel, desde a nascença,
Nem me abandonará, na sepultura…

Fui-me sentindo aos poucos mutilado:
O vírus do fracasso, o meu algoz!
Absurdo era lutar, amordaçado,
Pois ninguém ouviria a minha voz!

Num colete-de-forças me envolveram,
Destruindo o melhor que havia em mim.
Fôlego e coração me mantiveram,
Para o martírio ser maior, assim…

O cérebro não sabe reagir:
Impedem-no de tal as decepções.
Todas as noites, sem poder dormir,
Desespero, no leito, em convulsões…

Inconcebível, um jardim, sem flores;
Um corpo já sem alma, como o meu!
Rude apatia congelou-me as dores,
E apenas o desdém sobreviveu…

Efeitos dum lutar quotidiano,
Com toda a gama de dificuldades.
Sou hoje um corpo amorfo; o ser humano
Sucumbiu, sem talvez deixar saudades…

Encerrei-me em mim próprio, avaramente:
Quase desconheci vozes amigas…
Revoltado, fugi de toda a gente;
Adeus, pura amizade; não me sigas…

Deixa-me só; não vou ser egoísta:
Não te quero arrastar à perdição!
Não há boa vontade que resista
Ao peso de tamanha frustração!

Não há ingratidão; porém, nobreza,
No derrotismo deste vacilar!
Triste conformação, mais que incerteza:
Sendo estátua, não vou raciocinar…

Alegria ou furor, já nada existe:
Sou massa óssea, mas sem reacção!
O maquinismo humano, que persiste,
Manobra tudo; sentimentos, não!

Ouço pregar a paz, fazendo a guerra;
Falam mais da moral os opressores.
E quem mais desrespeita as leis, na terra,
São, por descuido, os bons legisladores…

A revolta dum ser inanimado
É fraca; não detém o cataclismo…
Oh, raça humana, não terás pensado
Que quem te via matar, é o teu cinismo?!...
 
CORPO SEM ALMA

RECORDAÇÕES SÃO VIDA

 
RECORDAÇÕES SÃO VIDA

No princípio do fim, sonhar contigo,
É regressar às ternas ilusões,
Pensar que tenho vida, ingenuamente.
Como vai longe o tempo em que um abrigo,
Doce união dos nossos corações…
Então fui tão feliz… porque era gente!

Alegre, caminhei, mesmo ao teu lado;
Levavas ao colo uma criança…
Às tantas… enlacei tua cintura!
Ressurreição confusa dum passado…
Loucamente vibrei, com tal lembrança:
Se era imprudência, havia amor, ternura!...

Seguíramos caminhos tão diversos:
Já déramos a outrem nossas vidas,
Porém este momento era sublime!
Chocam-se os sentimentos tão adversos!...
Dever e amor, em lutas fratricidas,
Acusam-se; Eu, porém, não vejo o crime!

Por uns instantes de felicidade,
Mesmo fictícia, tudo vale a pena!
Que nos importa grite a multidão?!
Não podemos sempre a verdade!
Bem melhor desprezar quem nos condena,
Que sufocar o próprio coração!

Foi o que fiz: notei tua anuência…
Quiçá, entusiasmo, em partilhar
Algo, que já lá ia, tão distante…
Fugir, temendo alguma consequência?
Oh, nunca! Pois irei decepcionar
Aquela que se dava, delirante!...

Todavia, acordei; foi-se a quimera!
A mocidade vã me abandonou,
E, sonâmbulo, entrei no dia a dia!
Querida: mesmo em sonhos, quem me dera
Ver este oásis, que me visitou…
E desfrutar da tua companhia!...
 
RECORDAÇÕES SÃO VIDA

MULHER

 
MULHER
 
Mulher é este ser consolador,
É essa deusa bela e carinhosa;
Serpente meiga, quanto venenosa
Cuja peçonha alguém chamou amor…

E como és desejada com ardor?
Fazes feliz um lar, quando extremosa,
Mas, ah! Quanto és terrível, caprichosa,
Com esse teu sorriso enganador!

A tua fraca força os fortes vence;
É tal o teu poder, qual a magia…
Verdade que não posso perceber!

Uma lágrima falsa nos convence…
Mas, eu… jamais dispenso a companhia
Do incrível paradoxo: a mulher!
 
MULHER

PRECE

 
PRECE
 
PRECE

Meu Deus, meu infinito Salvador:
Compadecei-Vos desta criatura!
Bem perto está da triste sepultura,
Que podemos fazer, em seu favor?!...

Já sofreu tanto, pobre pecador!
Vemos chegar ao fim esta tortura!
Dão-lhe, Senhor, melhor vida futura,
Na terra teve só trabalho e dor!...

Não pedimos a vida deste pai,
Já que ela, felizmente, é passageira,
Abre-lhe as portas, oh, meu bom Jesus!

Os seus pecados todos resgatai!
Nesta agonia atroz e verdadeira,
Tornai, Senhor, mais leve a nossa cruz!
 
PRECE

CRUEL SEPARAÇÃO

 
CRUEL SEPARAÇÃO
 
CRUEL SEPARAÇÃO

Longe dos teus, enfim, estás sepultado;
Oh, pai amado, que me deste o ser!
Triste verdade, a que te ouvi dizer;
Já não me poderias ver casado!...

Deixas teu nome limpo e respeitado;
Teus filhos hão-de honrá-lo. É seu dever!
Meu Deus! Quem terá forças de viver?
Porque não nos levaste, pás amado!?...

Teus órfãos e viúva, nesta hora,
Chorando a tua eterna despedida,
Sentem o coração despedaçar!

Ficas connosco; não te foste embora!
Um pai só é chorado, nesta vida,
Se os filhos não o sabem respeitar!
 
CRUEL SEPARAÇÃO

PAÍS DE DELÍCIAS

 
PAÍS DE DELÍCIAS
 
PAÍS DE DELÍCIAS

Meu nobre Portugal, quem te conduz,
Na senda do progresso e dos aumentos?
Quem poderá comprar roupa, alimentos,
Se o dinheiro não chega para a luz?!

Essa luz, que tão bem nos ilumina,
E só nos deixa às cegas, quando calha…
Faltando, os nossos nervos arruína,
Dificultando a vida a quem trabalha.

Puxa, Sr. Ministro! Outro passeio?
Pois claro! Isto é zelar pelo meu povo!
Sabe? Não me convence o seu paleio.
Promete, e nunca dá um mundo novo.

Promessas? Estamos fartos. Excelência!
Discursos, não nos enchem a barriga!
Cuidado! Se nos falta a paciência,
Vai sair-lhe bem cara essa cantiga…

As dívidas alheias que pagamos,
Neste regime, onde há “democracia”,
As misérias que temos, empenhamos,
Sendo este o nosso pão de cada dia!

País maravilhoso e progressista,
Aonde há mais comícios que trabalho.
Das torres dos palácios, que se avista?
Mendigos, aos milhões, sem agasalho…

Que mudança foi esta, Santo Deus!
O que significou revolução?
Ficarmos sendo apenas europeus?
Termos cada vez mais falta de pão?...

Lá de longe, faláveis contra a guerra;
Contra o regime atroz, de ditadura!
Deu-se a reviravolta; e a nossa terra
Está livre; e, de pobreza, há mais fartura!

Elucidai o povo, apartidário,
Que já não sabe mais o que fazer!
Coitado! Bem que estica o seu salário,
Não consegue jamais sobreviver…

Se defendeis assim a classe pobre,
Que confiou em vós, nas eleições,
Tomai cautela; pois, se alguém descobre,
Ainda vão chamar-vos aldrabões…

Não vos queixeis, depois, quando for tarde:
A fome dá fartura de rancor!
Encheis a pança, sem fazer alarde,
Ante a revolta do trabalhador…

Se antigamente não se abria a boca,
Com medo dos castigos, na prisão,
Na santa liberdade, que nos toca,
Pode-se hoje à vontade ser ladrão…

Fascismo… reacção… democracia…
Vocábulos sem fim nos ensinaram!
Quatro anos, bem contados, dia a dia,
E em todos eles, só nos enganaram!

Se o dinheiro ia para o ultramar,
Que fazem dele, agora, meus senhores?
Gastam-no, enchendo a mula, e a passear,
E este país é casa de penhores…

Se a força da razão já não impera,
Então mandemos tudo à outra banda!
Pretendeis transformar o povo em fera?
Pode-vos devorar… é quem mais manda…

Seria bom; porém, tão desunido,
É presa fácil, como vos convém!
Protesta, cada um, desiludido,
Sem medir o valor que a união tem…

À morte o “orgulhosamente sós”!
Urgente é sepultar tempos passados!
Idolatrai, com fume, o novo algoz,
Mas “orgulhosamente” depenados!...
 
PAÍS DE DELÍCIAS

REALIDADE, HIPOCRISIA E REVOLTA

 
REALIDADE, HIPOCRISIA E REVOLTA

Saceia em mim a tua cupidez!
Porquê morrer à fome, se há comida?!
Penetra-me, com ânsia, tanta vez,
Que eu parta, satisfeita, desta vida!

Destrói em mim os mitos da pureza.
Que ganho em conservar a virgindade?
Tolice é recusar-me à natureza:
Fingir o que não sinto, é falsidade!

Beija-me; enlaça, enfim, como quiseres,
Teu corpo ao meu; mas vem, sem hesitar!
Sou apenas mais uma, entre as mulheres,
Que o tempo inutilmente vê passar…

Não me contento só com galanteios;
Ultrapassei as horas da recusa.
Tortura, com delírio, estes meus seios;
Saibas que a timidez, já não se usa.

Se ao homem tudo é lícito e banal,
Hei-de esmagar tamanha servidão!
Qualquer matéria humana é sempre igual:
Faço o que me aprouver; ou sim, ou não!

Acalma-te, mulher; não endoideças.
Não irás resolver a vida, assim!
Atende o meu aviso, e não te esqueças:
Nada é eterno; tudo chega ao fim…

Não sujes o seu nome, com más famas,
Nas ilusões fictícias do prazer!
É falsa a liberdade que reclamas:
Nunca podes vencer, porque és mulher…

Todos te olhavam, como prostituta:
Só terias desprezo, em vez de amor!
Julgas-te agora forte e resoluta;
Mas… não suportarias tanta dor!...

Os homens vencem sempre, minha amiga:
Pintam a manta, e nada lhes sucede!
Cai na miséria qualquer rapariga
Que cede a tudo quanto se lhe pede.

Podem vir filhos, fome, privações,
Lágrimas, sem remédio, do mal feito!
Perde-se tudo; surgem decepções
A cada passo, e já não há respeito!

Não praticarás tu religião?...
Olha que essas loucuras são pecados.
Dominemo-nos, pois, pondo travão
Aos nossos ímpetos desenfreados!...

Oh, homem; eu detesto os moralistas!
Já passaram de moda, sabes bem.
Palavras muito lindas, dão nas vistas,
Mas não se enche a barriga, sem vintém!

Porque não me hei-de então manifestar?
Dizer tudo o que sinto, livremente?
Dos meus desejos, não me vou privar!
Não dou satisfações a essa gente!

Cada ser vivo tem necessidades:
Comer, vestir, e partilhar carinho!
Quem procura esconder estas verdades,
Oprime, cada um, no seu caminho…

Dar conselhos inspira simpatia;
Pode até iludir os inocentes.
Quantos deles são vil hipocrisia,
Dados pelos mais pulhas delinquentes!

Há paradoxos na religião,
Que enganam muito mais do que esclarecem.
Vegeta nela cada santarrão…
Simulam servir Deus, mas enriquecem!

Se Cristo nasceu numa estrebaria,
Viverão os cristãos em humildade?!
É vê-los, cada um, no dia a dia,
Enganando o parceiro. Em caridade!

Tenho vivido muito revoltada!
Sou pobre, e vou gritar: independência!
Se não puder amar e ser amada,
Altiva, enfrentarei a decadência!
 
REALIDADE, HIPOCRISIA E REVOLTA

AQUELE MAR

 
AQUELE MAR
 
AQUELE MAR

Agora bravo, logo sossegado;
Matando a uns, a outros dando cura.
Trazendo mal e bem sempre à mistura,
Quem se fiar de ti, sai enganado...

Por tua causa tenho eu chorado:
Causaste-me prazer e desventura:
Roubaste-me essa amada criatura,
Que eu conheci, por ter-te atravessado!...

Só posso maldizer-te a cada instante,
Aquele mar tirano que causou
A nossa mais cruel separação!

Deixou-te sozinha, tão distante...
Da tua companhia me privou,
Dando, em troca... Dor e solidão!...
 
AQUELE MAR

SONHO DE AGONIA

 
SONHO DE AGONIA
 
SONHO DE AGONIA

Beijei-te, num impulso de ternura.
Com fúria para mim então olhaste!
Meus afectos tão mal interpretaste!
Destroçado, mergulho em amargura!

Foges de mim: vais dar-me a sepultura!
Quantos segredos tu me confiaste!
Será que agora não adivinhaste?
Meu gesto era amizade, criatura!

Acordo em sobressaltos de aflição:
Tacteio à minha volta; estou sozinho!
Que máscara de pânico e terror!

Querida amiga, dá-me o teu perdão!
Não te ofendas: deixei o meu carinho
Envolver-te! Não é pecado o amor!
 
SONHO DE AGONIA

BEIJO DE DESPEDIDA

 
BEIJO DE DESPEDIDA

Chegara a hora amarga, mas forçosa,
Da nossa tão cruel separação!
No teu lugar, viria a solidão
Esfacelar meus sonhos cor-de-rosa!

No cais, tu, junto a mim, dor tenebrosa,
Via o tempo voar, com aflição!
Sentia rebentar o coração…
Porem tinha de ser, sécia mimosa!

Chamaram-me; já tenho de partir!
Hesito, sucumbido, até fraquejo,
Ao peso duma dor, que não tem fim!

O meu triste fadário vou cumprir!
Recebo e dou, sofrendo, um triste beijo…
O último… talvez! Pobre de mim!...
 
BEIJO DE DESPEDIDA

DOCE MARTIRIO

 
DOCE MARTÍRIO

Amar sinceramente a um alguém,
É desejar ventura ao seu redor.
Ver no mal que nos faz apenas bem;
É suportar com ele a sua dor!

É ser, enfim, escravo voluntário
Daquele ser que só nos maltratou.
Quase feliz, levar para o calvário
A cruz que um lindo sonho destroçou!

Funesto quão sincero este amor,
Nascido, para dar cabo de mim!
Teve início, tal como a minha dor;
Contudo nenhum deles terá fim!

Bem sabes como vivo amargurado,
Vendo outrem ocupar o meu lugar!
Os braços cruzarei, aniquilado,
Já que será inútil protestar!

Terei de suportar este castigo,
De ver-te dar a outro o coração!
E tudo aceitarei, chamando “amigo “
Ao homem que desfez minha ilusão?!

Não consigo enfrentar esta verdade,
Demasiadamente dolorosa!
Às vezes dois bem menos, falsidade,
Se não matas os sonhos cor-de-rosa!

Depois, quando eu te vir a outro unida,
Que paradoxal dor vem até mim!
Será melhor morrer, desejar vida?..
Resolvi conservá-la, até ao fim…

Na morte eu via o fim de tanta dor,
Porém neste refúgio há cobardia!
Viver será sofrer o dissabor
De ver outro na tua companhia!

Porém se a pura luz desses teus olhos
Existe apenas para enfeitiçar,
Ferido, viverei, por entre abrolhos,
Pois se morrer… terei que te deixar!

Quando chega ao domingo, vais-te embora;
Que amargas horas tenho de passar!
Porém não fico só, por ter agora
Saudade inconformada, em teu lugar!

Sabendo que outro irás falar,
Trocar talvez carícias, que tormento,
Mesmo assim tento não desanimar:
Quando regressas, volta o meu alento…

Prefiro a tudo um só dos teus carinhos,
E sei que não são meus, infelizmente!
Risonho, ando a trilhar falsos caminhos,
E neles me detenho, persistente…

Irá cicatrizar esta ferida?
Poderei eu achar outra afeição?
Quem adivinha o rumo desta vida?!
Já não te posso ouvir mais, coração!
Vai suplicar àquele que ela ama,
Que a faça venturosa, eternamente!
Mancebo, faz ditosa aquela flor,
Nascida num lindíssimo jardim!
Recebe e retribui o puro amor,
Que eu tanto desejava, para mim!

Envolve de ternura o seu viver,
Sendo um baboso pai dos seus filhinhos!
Que ela jamais se possa desprender
Dos teus braços, e viva em mil carinhos!

Porém, se vais causar-lhe desventura,
Que vivas no pior dos sofrimentos.
Que a morte mais cruel, sem sepultura,
Seja a parte menor dos teus tormentos!
 
DOCE MARTIRIO