Poemas, frases e mensagens de ChuvaCristalizada

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de ChuvaCristalizada

Não me toques!

 
Não me toques!
Não toques a pele que vesti.

Esta pele não nasceu para ser acariciada. Saboreia-a mas sem a sentires. Verás que gostos, que cheiros, que sedas ou veludos...

E tudo só porque não a conheces.
Por tudo...
Será o que de melhor conseguires.
 
Não me toques!

Deixa, é só um sonho

 
Deixa cair o sonho.
Os sonhos trazem um nome escrito na rota alfabética da vida e as nossas iniciais perderam-se num tempo ainda não gerado.

E se,

Por onde passares, sentires o perfume que foi teu, que me vestiste, sabe que terei sido eu antes de mais uma tempestade.
 
Deixa, é só um sonho

Tudo fica não sendo

 
Tudo fica como se fosse.

Contundente, este silêncio.
Arrastam-se as asas pelo telhado temendo o precipício e cair.

Não me assustes agora que adormeci de novo e o solo é escorregadio.
 
Tudo fica não sendo

Segredo

 
Que a tua mão direita não saiba da tua mão esquerda. Como a tua boca e o teu olhar não saibam da tua Alma.

Eis como me limito.

Amo-te.

** Na segunda pessoa, poderei não ser eu.
 
Segredo

Mote sufocado

 
Trago-te o mote dos poemas abandonados.
Amo-te.
Num parêntesis curvo, o ar já rarefeito, Amo-te.
Sufoco neste silêncio doirado, orgulhoso do seu Não!

Mas Amo-te.
 
Mote sufocado

Disse-lhe,

 
Disse-lhe, não chovas sobre a minha primavera.
A tua chuva é lava que anuncia o outono que deixas.

Incompreendido, saiu, acreditando menos em si do que nela.

Afinal,
As estações renovam-se, as almas não.
 
Disse-lhe,

Mala de porão

 
Há uma mala de porão na minha alma que se fecha com a luz. Não sei porquê.
Talvez no medo de cegar.
Talvez pelo receio de amar.
Talvez porque não consiga acreditar.
Não queira...

Foi lá que guardei a linha do teu horizonte.
 
Mala de porão

Serenidade

 
Sereno, deita-se ao meu lado ao encontro da curva do sono que já me embala no ritmo com que o sinto respirar, com que me deixo aquecer e enrolar nos seus sonhos.

Sem lhe responder, recebo-o vento nas minhas velas.
 
Serenidade

Digo-o,

 
Ah a frescura na face de não cumprir um dever!
Faltar é positivamente estar no campo!
Que refúgio o não se poder ter confiança em nós!
Respiro melhor agora que passaram as horas dos encontros.
Faltei a todos, com uma deliberação de desleixo,
Fiquei esperando a vontade de ir para lá, que eu saberia que não vinha.
Sou livre, contra a sociedade organizada e vestida.
Estou nu, e mergulho na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar em qualquer dos dois pontos onde estaria à mesma hora,
Deliberadamente à mesma hora…
Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida!
Até não consigo acender o cigarro seguinte… Se é um gesto,
Fique com os outros, que me esperam, no desencontro que é a vida.

Álvaro de Campos

Simples, abandono um sorriso a tudo aquilo que me faz ser triste.
Não há artifícios quando não conseguimos ser outro.
 
Digo-o,

diálogo

 
Um Homem.
Uma Mulher.

dizem que não se falam, não se olham, não se ouvem.
mas dizem o mesmo.

diz ele
confia
ouve-me
acredita
amo-te.

ela diz
não sei.
não acredito.
mágoa.

lembras-te?

vem, não, não posso, és um pássaro, voarás por cima das minhas raízes de árvore. eu ficarei e tu não.
sozinha.

esquece o frio, despe a malha e sente o abraço.
serei teu, minha tu, no diálogo mudo dos corpos.
 
diálogo

Peço-to!

 
Jura-me.

Não quero pássaros na nossa janela, brisa primaveril acordando as cortinas, cheiro a torradas sobressaltando as minhas narinas ou cheiro a café lembrando-me que as férias terão um fim.

Promete-me.

A tua mão nas minhas ancas.
A tua boca na minha espinha.
 
Peço-to!

[só aqui consigo a metáfora]

 
A chuva que não temo jaz vencida, engolida pela terra, sedenta.

No exterior, a humidade procura asilo no bolor que agora invade a casa observando o chapéu abandonado dispensado no caminho sem destino.

Saltitante, desnorteado, arrasta-se, suja-se, salta, na esperança de encontrar outra mão.

Enganoso.

De rosto colado às nuvens, procuro a água que agora rega os meus lábios, alimentando as raízes dos sorrisos que semeaste.

Acariciadora e faminta.

Como Esperança.
 
[só aqui consigo a metáfora]

Os pés seguem porque seguem

 
Sei que é em frente.
Sempre.
Ordena-o o calendário.
Sem pássaros.
Sem voz.
Algumas palavras.

Perguntaste mas eu não podia responder-te.
Tinhas de acreditar e fazer-me acreditar.
 
Os pés seguem porque seguem

quero-te meu

 
Quero-te meu.
Do mundo mas meu.

não é sede.
não é fome.

é apenas desejo
desejo de eternidade.

vejo nos olhares paixões perdidas, formas de eternidade antigas nos braços que se oferecem, nas rugas dos sorrisos.

e acredito que poderemos ser
um dia
eternos
sem idade.
 
quero-te meu

Os mudos nunca incomodam

 
Não te compreendo tanta raiva, tanto desprezo.

A minha voz, calada, sempre observou sem penalizar.

Tentando descortinar razões, mal-entendidos, recriminações, sem julgar. Por isso, não entendo.

Talvez, por isso, parta.
Mostraste-me tantas vezes a porta de saída que me convenceste. E sei que não darás pela minha ausência.

São as vantagens do hábito em silêncio.

Ah!
Naturalmente,podes continuar a ouvir-te a ti próprio e só, como sempre.
 
Os mudos nunca incomodam

Baloiço.

 
Rangentes,
as cordas suspendem pelo meio
a tábua
indiferente
como os pés ao solo.

Tangentes
ameaçam tocar-lhe
mas é o voo
que puxa o corpo
[a Alma]
para o alto.

Não me agarres
que eu fujo.
 
Baloiço.

Conclusivo

 
Como se quisesse deixar um ponto de final com tom exclamativo

disse

Não consigo esquecer a mentira que nunca me disseste e que eu senti desde sempre.

Não é o sentir que me afasta mas a suspeita.

Sempre disse que aceitava a mais dura das verdades, a confissão de uma mentira mas o silêncio, não.

Quando te perguntava, não me convenciam as respostas hesitantes, as perguntas ignoradas. Quando te criei espaço, te pedi... eram sempre as mesmas desculpas em fuga, evitando mais mentiras.

Apenas queria conhecer-te.
 
Conclusivo

O maior erro

 
O seu maior erro foi ter trazido o vento sem lhe ter mudado a direção.
Não estava preparada.

Sopra
Sopra-me suavemente.
Deixa-me respirar.
 
O maior erro