Violão
Dedilho no violão
A inocência presente na infância.
Tento buscar na sonoridade das cordas
As notas que deram o tom perfeito
Aos sonhos que um dia alimentei.
Quando tocar uma canção,
Estarei dedilhando os anseios
Dos acordes perdidos
Na inconseqüência do tempo.
Elizabeth F. de Oliveira
Cavaleiro Andante
À luz da penumbra
silenciosa da noite,
tento repousar os anseios
que me trafegam
o sangue de ausências.
Nesse percurso gravado
por solitárias pegadas,
ouço passos
uníssonos aos meus.
Eis que surge
um cavaleiro andante,
que com sua pena
reescreve-me as páginas
já viradas de solidão,
contornando de palavras
e preenchendo com metáforas
os espaços dos devaneios
habitados pelo branco.
Nesse instante, sua mão
entrelaça de vontade a minha.
Jogo de Sedução
Seminua,
A caneta se insinua
Transparente
Em um aparente
Jogo de sedução.
Promete plena satisfação
E momentos intermináveis
De prazer.
Como sempre obediente,
Sinto que vou aquiescer
E me render totalmente;
Para que entre os lençóis da cama,
Chegue então ao nirvana
Por ter-me de todo sucumbido.
E ao raiar do dia,
Não terei me arrependido
Por entregar-me à poesia
Nesse amor tão desmedido.
Elizabeth F de Oliveira
Deserto
Peregrino no deserto da saudade
Em busca de um oásis
Que me flagre os sentidos,
Que me resgate do padecimento
Da espera.
Habito a aridez do sentimento,
À procura de uma miragem
Que me mate a sede dos olhos
E da boca.
Esse deserto ilusório e real
É o meu saara de sal
Encoberto por areias de saudade.
Sou peregrina da emoção,
Beduína da espera do oásis
Dos teus olhos.
Gestação
Todo poeta sente
Que cada composição
É uma espécie de gestação,
Mas com um parto diferente.
Que para nascer,
Não leva nove meses,
E, em quase todas as vezes,
A dor é pra valer.
Mas o poema bebê
Logo que nasce,
Mostra então a sua face;
E pra orgulho do genitor,
O rebento,
Que nasceu nesse exato momento,
É um lindo poema de amor.
Orientação
Há sempre um jeito
De apaziguar a dúvida das flores,
Que percorrem toda a primavera,
Buscando um sentido
Para o exercício da beleza.
O sentido subsiste em si mesmo,
Falta apenas a orientação dos olhos
Para emprestar-lhes a significação intrínseca.
Elizabeth F. de Oliveira
www.elizabethfdeoliveira.blogspot.com
Poeta
Quisera ser poeta de mão cheia,
Distender versos sobre a areia
E discorrer com rimas impecáveis.
Fazer uso da forma mais metafórica
E ter o direito de ficar poeticamente eufórica
Por tornar as palavras tão moldáveis.
O poeta que sabe o que faz,
Percorre o usual, o inusitado,
Transforma o comum em sagrado
Por ser instintivamente audaz.
Quisera ser um dia assim
Das palavras, tão senhora;
Faria de cada verso um nova aurora,
E na vida, seria poeta de mim.
Elizabeth F. de Oliveira
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Saudade
Somente tuas mãos
são capazes de atenuar
a dor que me excede
por entre os dedos.
Somente o teu abraço
pode devolver-me
o equilíbrio absente,
esquecido no caminho
extenuado do sentimento.
Eu te preciso-me
nos minutos da vida;
visto que eu-metade,
sozinha,
não me faço inteira,
só me faço saudade.
Elizabeth F. de Oliveira
www.elizabethfdeoliveira.blogspot.com
Uma questão de predominância
Eu adoraria
Conjugar todos os afetos
Que se me somam
As células da existência;
Nutriria-me os poros
Na caminhada que me segue
Na senda de sentir.
Mas, nem sempre é possível
Flexionar todos os verbos
Do sentimento,
Visto que os substantivos
(angústia, solidão, tristeza),
Impõem-se como vocábulos essências
Na gramática de existir.
Não sou eu que priorizo
A cronologia das vontades,
É só uma questão de predominância.
Elizabeth F. de Oliveira
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Amanhecendo
A vida me amanhece
Pesando os minutos de se permitir.
Não sei se lá fora o sol
Se levanta guardando em si
Um propósito de realização
Ou se as horas que se aguardam
Na senda do existir
São fios de vivência que subsistem
No caos ardente das emoções.
Elizabeth F de Oliveira