Poemas, frases e mensagens de Frederico Rego Jr

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Frederico Rego Jr

A OVELHA NEGRA

 
A OVELHA NEGRA
 
Cuidado com a ovelha negra! Com a mosca na sopa! Com a pedra no sapato! Quem nunca ouviu estas frases ditas sempre por pessoas mais velhas, supostamente mais esclarecidas? É um lugar comum em nossas vidas: esse menino é a perdição do grupo, essa menina só tem idéias malucas, desde que esse diretor chegou à escola ela nunca mais foi a mesma! É muito difícil para o homem aceitar o diferente, nós queremos o mundo do jeito que o vemos e o entendemos, as mudanças causam transtornos em nossa mente, em conseqüência em nossas vidas. Nada mais normal do que questionar o diferente, as mudanças, o aparente transtorno. No entanto, não existe nada mais errado do que aceitar essa sabedoria enganosa e preguiçosa. A vida só evoluiu em nosso planeta através das pequenas mudanças, mutações, que ocorrem no genótipo dos seres vivos, o que permite que a vida se adapte às alterações de ambiente. Sem essas pequenas rebeldias moleculares, sem a ação dessas “ovelhas negras” celulares, talvez não passássemos de pequenas, insignificantes e esquizofrênicas bactérias! Com a nossa civilização não aconteceu nada diferente, quantas não foram às ovelhas negras enforcadas, queimadas, trucidadas por acreditar em coisas que ninguém acreditava, ou por ver coisas que ninguém via. Jesus Cristo, Tiradentes, foram típicas moscas na sopa de romanos e portugueses. Com o passar do tempo o que acreditavam e o que viam esses desafortunados e injustiçados, passa a ser o que todos acreditam e vêem. Não é raro um cientista ser questionado e às vezes injuriado por seus pares mais graduados e mais cheios de verdades, por trazer à tona alguma descoberta que questiona o conhecimento aceito, até então. E com o passar do tempo ver a sua descoberta, aberrante, ser incorporada ao arsenal do saber humano pelos colegas que antes o injuriavam. Também não é difícil encontrarmos exemplos de filhos que acharam caminhos diferentes daqueles escolhidos por seus pais e que depois deram graças a Deus por terem sido um moscão na sopa dos pais, já que foram mais felizes que os próprios pais em suas escolhas.

Portanto não amesquinhe a sua existência e a dos outros com seus preconceitos religiosos, científicos, ou de qualquer outra natureza, com sua vontade de que tudo deve ser como sempre foi, com a visão distorcida do que a vida precisa pra seguir sendo vivida. E lembre-se você não é uma ameba! Talvez não seja por vontade própria, mas não é!
 
A OVELHA NEGRA

MODERNIDADE

 
É sinal das grandes cidades,
Chegam sem pedir desculpas.
As impossibilidades não são desejadas.
Tudo cabe na quase matéria.
É chegada a imbecil idade!

Somos todos, marcas, logotipos,
Padrões, números, griffes...
Tudo consumível, perecível...
Todos com sabor de iguarias,
Magras e pálidas...
Que alguém,
Em algum lugar,
Vai degustar e enojar,
Por não se encontrar
Dentro do combinado.

Um padrão carmesim;
Um patrão desalmado;
Um número na fila sem fim;
Um úmero descarnado;
Um logotipo chinfrim;
É bom ser domesticado
Isso evita motim!
 
MODERNIDADE

O MELHOR DA VIDA NÃO É CARO

 
O melhor da vida não é caro

As coisas que realmente me dão prazer hoje em dia, nenhuma delas tem relação direta com dinheiro. Essa semana minha filha caçula me trouxe de volta aos tempos de juventude, me ligou de Campos, onde estuda, pra dizer que um cachorro tinha seguido ela da Universidade até seu prédio e que estava com pena de deixá-lo ali na portaria. Sobe com ele, depois vemos o que fazer, foi minha resposta. Fiz muito isso quando jovem. Ver minha adorável Ana Paula fazer o mesmo, me deu um prazer sem igual. Outra coisa que me dá muito prazer, as maluquices que meus parceiros de quatro patas aprontam todo santo dia. Não posso esquecer do meu trabalho que me dá muito, mais muito prazer. Realizar uma cirurgia difícil e ver, algum tempo depois, seu paciente de pé querendo te morder, não tem preço. Estar com os poucos amigos que se tem, conversando amenidades, ouvindo uma boa música e balançando numa rede cheia de cães e gatos é completamente impagável. Conseguir escrever alguma coisa que preste, também é muito bom e não custa nada. Almoçar na minha irmã Anamelia e aproveitar e ter os cabelos cortados por ela também estão incluídos entre grandes e simples prazeres de minha vida atual. Almoçar com meus filhos e netos é muito bom, também. Você pensa, vou chegar em casa e fritar aquele aipim e comer com uma cerveja pra lá de gelada, e para sua surpresa, o aipim frito já estava te esperando, a Célia havia lido meus pensamentos, não tem preço ter uma mulher que adivinha seus sonhos, por mais simples que sejam. Hoje meus grandes prazeres são muito simples e baratos e nem por isso comuns no mundo em que vivo, onde a maioria acredita que a felicidade é cara. Com certeza é barata e não custa quase nada do vil metal, hoje vejo isso de um modo cristalino.
 
O MELHOR DA VIDA NÃO É CARO

O PORQUÊ DOS POETAS

 
Com a espada afiada nas palavras,
Cravejada de brilhantes e espinhos,
Cortam a tirania mundo afora.

Atiram versos ao léu,
Vez por outra acertam o olho de um cretino,
O peito frio de um assassino,
A pele apodrecida de um racista,
O cérebro torto de um fundamentalista,
O coração alegre de uma amada despudorada.

Dão vida a vida,
Ressuscitam,
Todo dia,
Com o fervor dos loucos,
O que não merece fenecer.

Prosseguem nesta luta,
Pouco entendida,
Criando sentimentos,
Criando beleza,
Onde só há realeza
E cimento.

2008
 
O PORQUÊ DOS POETAS

O NÃO SABER

 
A ignorância é um prêmio ,
um bálsamo fatídico,
Em tempos de saber tão sofisticado
Nos livra de conhecer a corrosiva verdade
Que nos atropela sem identidade
Por qualquer motivo, por vaidade...
Deixa os sonhos e o sono com tranquilidade
Para suportar o lenitivo da equidade.
Deixa tudo alegre
Uma festa que não se perde
 
O NÃO SABER

7- Histórias de meu avô raiz

 
Meu avô, quando jovem, viajou muito de carona, fala que era muito melhor que viajar de avião... Numa dessas viagens, agora indo para Fortaleza, junto com dois colegas da Universidade Rural, o Nelson e o Carpenter, o caminhão onde estavam viajando, desde Campos dos Goitacazes, os deixou numa cidade do Espírito Santo, próxima da Bahia. Chegaram lá já anoitecendo, e como de costume tinham que arrumar um local para pernoitar. Meu avô ,com suas maluquices, sugeriu vamos na delegacia e fazemos o questionário com o delegado. O questionário era umas perguntas que faziam para autoridades das cidades onde chegavam, perguntas como: qual a principal fonte de renda da cidade, tem hospital, quantas escolas, e por aí vai. O delegado ficou surpreso com a chegada deles, mas foi simpático com a trinca de malucos. Disse que aquele questionário devia ser respondido pelo pessoal da prefeitura, que amanhã eles podiam ir lá. Terminada aquela conversa, meu avô com suas idéias de jerico, perguntou ao delegado , se ele tinha alguma cela vazia , que pudesse ceder para ele e os colegas pernoitarem, já que não tinham onde passar a noite. O delegado assustou com a pergunta. E falou, de jeito nenhum, imagina que vou deixar vocês dormirem numa cela! Encaminhou meu vô é seus amigos para uma pensão, com direito a jantar e o café da manhã, tudo por conta da delegacia. Era o que eles precisavam... Meu avô me confidenciou que aquele questionário e a camisa da Universidade ,que trajavam nas viagens, facilitava muito a vida na hora de conseguir as caronas e os pernoites. Ele suspeitava que as autoridades entrevistadas, suspeitavam que eles eram fiscais federais disfarçados e assim facilitavam as coisas para os três. Meu avô doidão, só podia ter amigos do mesmo naipe.
 
7- Histórias de meu avô raiz

O MENINO E O CÃO

 
O MENINO E O CÃO
 
Um pedaço de pão
Que o amigo come na mão;
Irmãos de olhos alegres
Que se precisam,
Em afetiva relação;
Laços de indissolúvel paixão,
Como o coração impulsivo
E o sangue quente.
Adoração que só eles entendem.
Que ninguém deve atrapalhar
Esse terno amar.
 
O MENINO E O CÃO

SEM TEMPO PARA SONHAR

 
Uma saudade
Que não podia estar ali.
O presente conspirava
Contra o futuro,
Deixando tudo esmaecido,
Sem emoção,
Quase em comoção.

Como uma novela
Que não se deixa partir,
Já surgindo outra no horizonte
Não deixando brotar saudade,
Do que está por terminar;
Não há tempo para sentar
E sonhar.

Passam, passam...
Sem contemplações,
Os fugazes fragmentos
De nossa história pessoal,
De nossa vida sentimental,
De nossa vida, quase, terminal.
 
SEM TEMPO PARA SONHAR

A REVOLTA DOS GATOS

 
Não vamos deixar você partir
Não precisa sair daqui
Temos de tudo um pouco
Temos pombos que nos transformam em loucos
Sofás ,camas e redes para repousar um pouco
Tem aquela música que dá um sono...
Não há nada de bom para fazer fora daqui
Não precisa partir
Temos o sol do meio dia
O sol da meia noite está por vir
Temos até uma cachorra maluquinha
Que está virando uma gatinha
Não, você não precisa partir
Saudade não é coisa para se deixar no coração dos amigos
 
A REVOLTA DOS GATOS

O DESTINO DO ALQUIMISTA

 
DESTINO DO ALQUIMISTA

Um desfigurado alquimista,
Desprezado e perseguido
Por reis e rainhas,
Fazia, em noites inúteis,
Em aparelhos inocentes,
A ciência dos vadios,
Transformava terra em mel,
Insetos deformados
Num mal qualquer,
No patê que nutre
Vermes ensandecidos.

Faz, ainda, por amor,
Ou rebeldia,
Da flor,
Troféu a ser dado
Aos espartanos
E aos homens que se matam,
Mordem-se,
Num tablado qualquer,
Com um canhão vulgar,
Com uma bomba sem nome,
Para glória de um mentor
Sem rosto,
Sem pátria,
Sem tempo.

Foi quase enforcado
O rebelde alquimista,
Ao propor em público,
Que seria de grande utilidade
Para o povo
Do reino,
Que se queimasse em fogueira,
As armas do monarca,
Que se empregassem os operários
Que viviam de fazer defuntos,
Do mesmo aço que faz um parafuso,
Uma colher faminta,
Uma enxada suja de barro,
No fabrico de espetinhos
Para brincar com dóceis répteis;
Seriam mais úteis
Com a nova tarefa!

Foi procurado,
Por quase um século,
Ao propor,
Em alcova de nobre
E volúvel senhora,
Indecorosas formas de amar.

Foi perseguido,
Por muito tempo,
Ao colocar em seus manuscritos
Proscritos,
Idéias torpes
Que fariam, em breve,
Brotar a prosperidade
Na cidade dos prisioneiros,
Arrebanhados em batalhas
De heroísmo duvidoso.

Passou intermináveis dias
Em infecto e frio calabouço,
Por defender,
Em asquerosa taberna,
Da violência e vexames injustos,
Impostos por mercenários
Oficiais do rei,
A vil cafetina,
Mal vista por diabos e santos,
Por territórios, muito além,
Das fronteiras da nação.

Execrado em praça pública o foi,
Dezenas de vezes,
Teve suas obras queimadas, pilhadas...
Suas opiniões
A respeito da real importância humana,
Questionadas por clérigos,
Juristas e pensadores da época,
Inconformados com o mesquinho cérebro,
Que se divertia,
Criando fantasmagorias heréticas,
Que mostravam o homem não tão importante!

Foi em período turbulento
Seus dias de glória;
Envolvido em quimeras,
Carregado em marsúpio
De inquieto monstrengo,
Criação de madrugada exuberante,
É chamado ao palácio medieval,
Para em poções,
Misto de raízes exóticas
E essências esotéricas,
De balsâmica aparência,
Trazer de volta a saúde
De sua alteza real.

Logo inverdades
De pátrios cidadãos,
Legaram ao alquimista
Batina de cores esmaecidas,
Em seus santos desconhecidos,
Para em poeirentos caminhos,
Em intermináveis charnecas,
Por abandonados mosteiros,
Encontrar, uma vez mais,
A solidão da irrequieta criação.

Quando os cabelos
Mostravam o destemor da idade,
Louca paixão se apossou
Do incompreendido indivíduo;
Em companhia da sábia e bela mulher,
Para muitos signatária de subversivos manifestos,
Para outros ungida feiticeira,
Viu passar muitos sóis em sua vida.
Até que o corpo paixão
Desapareceu,
Pela mão de algum carrasco inquisidor,
Deixando para o alquimista
A verdade eterna,
A ser derramada,
Como oração,
No ventre da massa comensal,
Que percorre extasiada
Séculos de horror.

Foi perdoado ontem,
Quando seu corpo apodrecido
Por séculos de história,
Foi encontrado
Na tumba dos esquecidos,
Onde se lia na lápide,
Em inscrições,
Quase imperceptíveis:
“Aqui jaz a razão”
 
O DESTINO DO ALQUIMISTA

AS DIFERENÇAS

 
   AS DIFERENÇAS
 
A dificuldade de aceitar a nova idéia,
A vergonha pela vaia da grande plateia
Ou o orgulho pelo aplauso da alcatéia.
A impossibilidade da centopéia
Sem patas.
A infelicidade da mariposa
Sem pouso.
A curiosidade do louva-deus
Agnóstico.
A inutilidade do laudo
Prognóstico.

A brancura ariana
Em sua plenitude,
Nos vermes que vivem no fundo do mar,
Nos confins da negritude.
As dificuldades de aceitar as diferenças,
Justificam um mundo
Cheio de crenças,
Cheio de desavenças,
Cheio de esperanças.
 
   AS DIFERENÇAS

Corumbá, jóia do rio Paraguai

 
Corumbá, jóia do rio Paraguai
 
Lembro de ti felina,
Sempre que algo me oprime a alma,
Sempre que sopram ventos frígidos,
Sempre que o calor chega inclemente, indolente...

Felina misteriosa,
Quem és tu criatura,
Que trazes na alma
O encantamento, a magia,
Que alucina,
Os que te estimam,
Os que te menosprezam,
Os que te invejam?

Pouco te importa o mundo!
Auto-suficiência que só a alma felina entende.
Aproveitas o prazer de ser singular, insular...
De ser uma pérola que os homens desejam,
Mas, não entendem.

Sua ira momentânea,
Já não me assusta;
É própria dos que se sentem livres
Para serem livres.

Espreita, silenciosa,
O mundo que te envolve,
Que te enclausura,
Com a altivez dos felinos selvagens.

Ensinaste-me, felina querida
Muitos segredos do mundo,
Aqueles que compartilhas,
Quando a lua está por explodir,
Quando as estrelas arranham os céus,
Partindo com estardalhaço.

Quem de longe te avista,
Gata centenária,
Envolta por águas, lendas, sonhos...
Tem certeza de estar partilhando
Algum raro e singelo
Enigma da natureza,
Não é à-toa que te chamam de a jóia do Paraguai

Fiz essa poesia para Corumbá no Mato Grosso do Sul.Cidade onde vivi dez anos e que me traz muita saudade.
 
Corumbá, jóia do rio Paraguai

O DESTINO DA SEMENTE

 
A Semente
Carrega o mundo e o imundo,
Os cuidados dedicados fazem brotar um ou outro,
Sejam de árvores, de animais ,de gente...
Quantas não foram para o lixo,
Quantas não apodreceram ao sol de um mundo torto,
Que não merece o milagre do novo,
Quantas não brotaram em lugares inóspitos
Dando luz à escuridão de um povo ou sombra no deserto.
É sempre um grande mistério o que carrega no corpo
Uma obra de Deus , pelos homens cultivada com esmero
Ou uma criatura imaginada pelo demônio
E cultivada de qualquer jeito,
Por homens que vivem ao relento.
 
O DESTINO DA SEMENTE

Quando a guerra acabar

 
DEPOIS QUE O CHEIRO
DE PÓLVORA DISSIPAR,
QUANDO O ÓDIO AMAINAR,
QUANDO OS CADÁVERES FOREM SEPULTADOS,
QUANDO NÃO HOUVER
MAIS LÁGRIMAS PARA VERTER,
QUANDO O VENTO ESPALHAR AS CINZAS,
CHEGAM OS ARTISTAS , OS POETAS, AQUELES QUE CONVERSAM COM AS ESTRELAS,
COM SUAS ARMAS E FEITIÇOS,
PARA QUE A REALIDADE FRIA E MAL ACABADA,
GANHE CORES E UM JEITO NOVO DE EXISTIR.
E QUE ATÉ OS ESCOMBROS ENCONTREM UM MODO DE SORRIR.

2013
 
Quando a guerra acabar

MUDANÇAS

 
A curiosidade e o desejo de mudança são os motores que impulsionam a civilização humana . O achar que aquilo pode ser feito de modo diferente e melhor é o que nos impulsiona à frente. Por outro lado é muito mais cômodo e menos doloroso não mudar o curso das coisas: se está funcionando por que mudar? É esse sempre o dilema se acomodar com algo que aparentemente satisfaz nossas necessidades,e isso acontece em tudo que fazemos na vida .Não são raros os casais que se acomodam com uma relação pra lá de falida; todos os dias o indivíduo pega um engarrafamento dos infernos pra chegar ao trabalho, mas não procura outra opção para aquele suplício ;existe um acesso cirúrgico melhor para o paciente neste tipo de cirurgia que realizo todos os dias, mas já me acostumei com minha maneira de operar; meu partido político virou uma agremiação de malfeitores, mas já me acostumei com isso; meu time de futebol não me agrada nem um pouco, mas só sei torcer por ele; minha religião já não fala ao meu coração ,mas tenho medo do que vou encontrar em outra igreja. O mudar, ou procurar algo que melhore sua vida ,um caminho alternativo, pode ser difícil , as vezes até doloroso, mas no acerto final, nunca é ruim. A vida é cheia de desafios ou pelo menos devia ser assim para todos nós, ter medo de mudar, acreditar que não se deve mexer com o que funciona ,razoavelmente, se todos assim procedessem , se o comodismo fosse geral, estaríamos , com certeza, por inventar a roda e nossas mansões seriam soturnas cavernas.
 
MUDANÇAS

VIDA MODERNA

 
Aleitados em gélidas tetas,
Que regurgitam,
Ao bel prazer,
Poção de aspecto triste, indiferente...
Educados, já desde o ventre,
Por ecléticas máquinas,
Poderosas e impassíveis.

Sem irmãos de carne e osso,
Sem amigos para brincar, para brigar...
Sem bichos para amar.

São irmãos da televisão,
Filhos do computador,
Passam seus dias envoltos
Por mundo digital e insensível.

Sem terra para criar,
Sem espaço para correr,
Sem merda para pisar,
Sem vidraça para quebrar,
Sem ira para esquecer,
Sem pai para imitar.

Pequenos seres cibernéticos,
Com sonhos de quem não tem
Por que sorrir,
De quem não tem por que chorar.
 
VIDA MODERNA

O GAVIÃO QUE NÃO COME PASSARINHOS

 
. O GAVIÃO QUE NÃO COME PASSARINHOS
Determinado gavião, forte, bonito e corajoso , era o que mais alto voava , dos gaviões daquela região. Apesar de todas as características para ser um grande gavião, gostava de fazer amizade com passarinhos, ao invés de persegui-los .Preferia a comida que seus amigos lhe ofereciam , insetos, minhocas , pequenas cobras e outras coisas que a passarada adorava degustar e que os gaviões não gostavam de comer. Os amigos de Arthur, este era o nome do gavião amigo dos passarinhos, apesar de não concordarem com seus hábitos exóticos, não atrapalhavam sua vida, não contaram nada para o gavião líder. Mas não tardou que algum gavião fofoqueiro, fizesse chegar ao ouvido de Perseu, o líder , o comportamento diferente de Arthur. Ficou muito impressionado com o que ouviu e mandou chamá-lo para se explicar.
-Por que não comer passarinhos, Arthur?
- Por que comê-los Perseu? Arthur responde ativamente para o seu líder.
- Ora por que comê-los? Os gaviões sempre se alimentaram de passarinhos , não vai ser você a mudar esse hábito milenar!
-Podemos comer muitas outras coisas, como sempre fiz e veja que não sou um fracote qualquer.
- Você não parece frágil, mas não queremos ninguém de coração mole por aqui. A partir de hoje você não pertence mais a família dos gaviões e deve procurar seus novos amigos.
Partiu, então , triste , mas convencido de não ser um covarde, como insinuou Perseu. Vou morar com os passarinhos e ajudá-los a se defender dos gaviões. Arthur e Gabriel, seu amigo ,também um gavião rebelde, prepararam milhares de passarinhos para fazer frente aos inimigos quando fossem atacados.
É chegada a manhã da grande batalha, vários pontos negros aparecem no céu- Eles estão chegando! É dado o alerta na mata. Uma nuvem nunca vista de passarinhos liderados por Arthur e Gabriel, alça aos ares. São coleiros, andorinhas, canários da terra, sabiás, e uma infinidade de outros pássaros todos dispostos a vencer os gaviões na grande batalha que se avizinha. Aquela enorme nuvem multicolorida, fazendo um ruído ensurdecedor, envolveu cada um dos inimigos, que machucados e quase surdos são obrigados a bater em retirada. Na mata, nunca se viu festa igual! Até os que não sabiam cantar, faziam barulho para comemorar a grande vitória. Os maiores inimigos haviam sofrido, pela primeira vez na história, uma fragosa derrota. Até os pardais, notórios salteadores de ninhos , resolveram aderir ao grupo de resistência.
Aqui nesta mata ou os gaviões mudam seus hábitos alimentares ou vão morrer de fome, comemoravam os dois rebeldes e seus novos amigos e aliados .
 
O GAVIÃO QUE NÃO COME PASSARINHOS

FILHOS

 
Doces olhares,
Sorrisos encantadores,
De esperança, de coloridos sonhos...
Ficamos pequenos, impotentes...
Perto do que a vida, a incontrolável vida,
Carreia de surpresas,
Desesperanças,
Abissais desavenças,
A esses pequenos sonhadores.

Para nós,
Sempre belos,
Sempre de incerto destino,
Pequeninos e indefesos
Esses pedaços soltos
De nossa alma.

Fogem de nossos braços,
Na incontrolável dança da vida!
Como seria bom
Tê-los por perto,
Poder livrá-los
Do que na vida é incerto;
Abraçá-los
Quando a alegria
For à única certeza.
Acariciá-los,
Quando o mundo destila
Suas vilezas.

Pedaços nossos,
Pedaços do mundo,
Que não há como controlar,
Só amar!
 
FILHOS

O homem de pedra

 
De um monte de pedras escurecidas,
Esverdeadas por musgos invasores,
Modelaram teu rosto,
Teu corpo,
Teu pranto;
Cresceram teus membros rígidos
Daquela pedra fria, indiferente...

Sob o peso do martelo imponderável,
Lacerando a rocha sólida,
No espaço de polir,
Fizeram-te sorrir.
Revestiram-te com a argamassa
Que recobre os poderosos.
Invadiram o âmago da pedra,
Que pulsou como coração,
Com a força telúrica da grande criação.

Colocaram-te,
No pedestal dos predestinados,
Em meio ao povo que te fez
E te amou pela mão do artista,
No desejo da perfeição.

Desapareceu um dia,
No encanto de um butim fetichista,
Misturando-se em meio à multidão.

Nunca mais foi encontrado o homem de pedra.
Confunde-se, hoje,
Ao mais comum dos mortais,
Nas praças,
Favelas,
Congressos
E catedrais.
 
O homem de pedra

Não há praça para o meu monumento

 
Muitas vezes os monumentos parecem de paz,
Talvez tragam lamentos mudos,
Talvez palavras e gestos sangrentos,
Talvez até a própria paz!

São sempre ricos e cheios de glória.
Sempre gritam à história de um povo
Num corpo de bronze.

Qualquer dia desses ergo um monumento.
Não um monumento ao que é grande.
Sim um monumento incompreendido.
Um monumento de barro e sangue.
Um monumento de pedaços de jornal velho,
Um monumento de ossos e ouro,
Um monumento coberto de folhas de outono,
Um monumento úmido,

Porque traz lágrimas,
Porque traz tristezas e alegrias,
No choro e no riso,
De heróis e bandidos.

Há quem diga que não há praças
Nem história para o meu monumento.
Há os que farão com cuspe e violência
O fim do meu monumento.
Há os que farão sorrindo o ridículo
Do meu monumento.

Com certeza a neve de inverno
Mutilará o meu monumento.
Cobrirá com um manto frio
O sangue e o barro.
Com certeza o sol de verão secará
O pranto do meu monumento.
Talvez a inocência de pássaros e crianças
Faça fim à história do meu monumento.

Mas, não importa que destruam.
Ou mutilem o meu monumento,
Sempre que me der vontade,
Ergo um monumento sujo e incompreendido.
De sangue e barro,
De osso e ouro,
De pedaços de jornal velho,
Coberto de folhas de outono.

1974
 
Não há praça para o meu monumento