Poemas, frases e mensagens de BrunoPereiraGarcia

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de BrunoPereiraGarcia

Nossos olhos.

 
Se um dia alguém te machucar, lembre-se que essa pessoa tem dois olhos. Olhos que mostram histórias e bordam pinturas intocáveis, que se encontram com outros olhos que dependem desse olhar. Não, não sinta raiva. Apenas olhe nos olhos, olhe como se fossem os olhos de seu irmão mais querido, olhos de quem já sofreu e de quem um dia sofrerá. Tenha misericórdia e apenas sorria para a ofensa que da qual os olhos não concordaram. Perceba que cada olho, cada qual em seu canto, guarda segredos, amores, felicidades, tristezas, saudades e todos os outros sentimentos que o seus também guardam. Não repare na cor ou se um está alinhado com o outro, vá além. Veja se eles te mostram algo, se eles deixam escapar algum dos segredos fazendo-o com que escorra pelo rosto. Os olhos são as janelas para a alma, é a chave para qualquer coração trancafiado, é o sorriso que abraça e cala qualquer pranto. Os olhos não falam, os olhos te mostram. Os olhos não gaguejam, eles te mandam a mais nítida imagem. Os olhos não mentem, eles apenas escondem por um tempo indeterminado. Não odeie os olhos de alguém, não ofenda a deus. Deus um dia olhou e um dia olhará nos olhos de quem você odiou. Atrás de cada pupila, bem lá no fundo, há um pedacinho de deus, em TODOS.
Se um dia eu te ofendi, desculpe-me. Eu tenho apenas dois olhos.
 
Nossos olhos.

Sucumbida

 
A lágrima presa do choro não declarado.

Morta no imenso vazio de seus olhos.

Não escorrida e por fim tão pouco sentida, mal sabia do seu destino mortificado.

O que é viver?

Sentir o constante gosto da amarga morte que tarda mas não falha?

Viver na esperança de nunca receber a tal visita?

Ver tua vida virar mera migalha.

Ó vida, o que trás ai para mim?

Mais dor desamparada.

A ilusão de achar que ainda vivo.

A ilusão de ser lembrada, apenas no passado fiquei como amada.

Ó dor que me angustia.

Se tu soubeste o mal que me faz, fazia.

Se tu soubeste o que tive que deixar.

As pedras eu achava que era algo que me valia.

Porém vejo que eram os sorrisos que faziam a constância de um alegrar.

Ó dor, ó vida.

Como agora vou enterrar tudo que um dia me fez amar?

Como podes ser tão cruel e tempestuosa, vida?

Tu me ouves?

Preste atenção, essa pode ser minha partida.

Olhe para mim, perdida.

O que queres mais? Não posso mais.

Meus olhos se esgotam ao lembrar da minha vida.

Transbordam, encharcam e me matam.

Ó vida que me remete a dor de todo ardor, finalizo aqui já sucumbida, me entrego já tão ferida, mas assim tão bem vivida, vida, já tão entardecida.

Deixe-me ser eterna, na fagulha doída porém, agora sentida.

Vida.

Tu me ouves ?
 
Sucumbida

Amada inconstância.

 
Quer saber? Viva a bipolaridade dos sentimentos. Um viva para cada sim que virou não e cada não que virou sim. Um viva para aquele amor que você jurava que iria ser eterno e que depois de um mês escorreu entre os vãos dos seus dedos, um viva para a superação, por achar que iria morrer sem a pessoa e hoje percebe e repara ; Aquilo era meu amor ? Obrigado inconstância. Por me fazer desistir de pessoas e tentar outras que meus olhos não enxergavam. Só pude vê-las por sua causa. Por ser uma metamorfose inconstante constantemente. Não se prenda a uma rotina, a uma pessoa, a um amigo, a um sonho. Se prenda a efêmera vida que te arrasta para caminhos imagináveis. Se você tiver que deixar, deixe. Se tiver que voltar, volte. Quem tiver que aceitar, irá aceitar.
Às vezes, um dia de sol era na verdade uma tempestade oculta. Às vezes, um dia nublado e um tempo frio que é o certo para você.
 
Amada inconstância.

Brasil Brazileiro

 
Em uma tela pintada de tinta óleo azul.
Entre as ranhuras brancas e o laranja misturado com o lilás,
Eu posso ver.
Entre a pelugem verde e os pequenos pingos coloridos,
Eu posso viver.
Sentir umas simples e terna alegria que não se cala.
No horizonte vejo a diferença bordada, linhas de todos os tipos se conjugando com as mais diversas cores.
Alegria dos olhos se completa com a fala.
Sonoridades diferentes e jargões locais, compreendidos e respondidos por sorrisos.
Em cada canto uma poesia, de dor ou alegria.
Em cada canto um cantarolar, de felicidade ou agonia.
Um alguém que grita na mesma frequência que abraça.
Um alguém com história, nem sempre de vitória.
Um alguém que não escolhe á quem, simplesmente se entrelaça.
Entre, pode conhecê-lo .
Ele não liga pra sua “raça”.
Nesse bordado simples e acolhedor,
Divido entre a dor e o amor,
Você pode plantar sua flor.
 
Brasil Brazileiro

O Preto dos Seus Olhos.

 
Talvez o seu amor não fosse algo bom.

Talvez seja apenas um falso “felizes para sempre”.

Como algo que não sumisse pelas manhãs.

As lagrimas se coagulam em meus olhos castanhos, agonizam ao todo esplendor da sua maldade.

As memórias latejam em minha cabeça, me torturam feito uma criança assustada.

O preto dos seus olhos é a mentira eternizada em uma alma vadia de sentimentos.

O preto dos seus olhos é a tesoura dos laços, dos abraços.

O preto dos seus olhos é o barbitúrico da Monroe.

Seu brilho é plástico inoxidável, sua beleza é Mac e seu caráter inexistente.

Você sonha em ser Pin Up mas é apenas uma Isabel Bathory.

Sua pelagem é vagabunda de vergonha, despida de lealdade.

Ó vida, porque a resguarda tanto?

Ó vida, porque não enxergas?

Marilyn, eu te entendo.

Vida, não me venha com sua transmutável moral, que suas pedras arranco nos dentes.

O preto dos seus olhos é o grito de dor do amor.

O preto dos seus olhos é o ultimo suspiro da paixão.

O preto dos seus olhos é o enterro das flores.

Seu “Eu Te Amo” é um escarro que ofende a poesia, faz Meireles chorar e Vinicius agonizar.

Faz toda uma literatura perder seu sentido.

Seu sentimento faz com que qualquer verso se torne pobre e vulgar.

Seu beijo é coroado com uma coroa de espinhos.

Seu choro é efêmero, desprezível.

Seu sofrimento é blasfêmia, oportunista.

Seu amor é Cocaína que entopem as “Aguas de Março” e empurra o “Bêbado Equilibrista”.

Seu eu não vale nada.

Usurpadora da paixão, assassina do amor, prostituta da confiança e vagabunda dos homens.

Você desonra as mulheres, desmotiva os apaixonados.

No amor você é o parto perfeito entre Hittler e Stalin.

Você tenta ser obra de arte mas só consegue ter as sobrancelhas da senhorita Kahlo.

Deus a perdoe, sua promiscuidade vem de berço.

Deus não se engane.

Há uma cobra enrolada em seu terço.
 
O Preto dos Seus Olhos.

Felicidade.

 
A felicidade é momentânea mas sempre nos visita. É uma visita tão presente e estonteante que toda vez que chega, é como se nunca tivesse vindo e toda vez que ela vai, é como se nunca mais fosse voltar.
 
Felicidade.

Deixamos ser.

 
Deixamos assim, você não me vê de tal forma que eu não te vejo. O tempo passará de um jeito maroto, tão rápido, que logo será um sopro. Nossos segundos nunca serão esquecidos, nossos momentos jamais serão perdidos. Nunca chegamos a tê-los. Somos apenas uma troca de olhar, uma garganta irritada, um breve e profundo suspirar. O amor perfeito que nunca corri atrás. O amor que se tornou perfeito por eu nunca ter corrido, deixado de enfeite, sem ter vivido. Somos a flecha guardada de recordação por um cupido aposentado. Te amo tanto que nunca cometeria o erro de te querer, deixamos assim, apenas ser. Somos o esbarrão no corredor com um recíproco e suave sorriso. Somos Elvis e Marilyn, o casal perfeito que nunca existiu.
 
Deixamos ser.

Lápides da Memória.

 
Quando minha pele já não puder mais aguentar.
Quando minha vadia e livre juventude for apenas versos jogados em cima do piano.
Você ainda estará para sussurrar nossos versos íntimos?
Quando apenas meus olhos puderem falar com os seus e assim rimar.
Quando apenas faltar um ano.
Você irá me procurar?
Procurar-me na insanidade, procurar-me em cada quarto enumerado.
Você ainda me chamará para viajar?
Passear pelo Alasca em seu cavalo alado.
Seja vaga-lume no meu quarto escuro, pisque sobre os papéis guardados, as flores das quais fui incapaz de jogar.
Deite aqui, preciso ser abraçado e por alguns instantes me sentir amado.
O último suspiro de ar a esbravejar no cata vento do mármore esquecido.
Lugar onde o sonho é calado.
Lá no canto, debaixo da velha árvore e suas ranhuras há todo um sorriso adormecido.
Onde as flores nascem e os anjos aterrissam.
Onde o sol toca e a lua beija.
Lá no canto, na velha árvore há entalhado a formula secreta que todos precisam.
O vento irá trazer o perfume de alfazema e as borboletas para que eu veja.
E novamente assim.
Eu seja.
O único retrato na parede de seu quarto.
A única foto ao seu lado.
 
Lápides da Memória.

Deixe Tocar.

 
Olga : - Dona Sara, o telefone está tocando.
Sara : - Deixe tocar.
Olga : - Mas dona Sara, se for algo importante?
Sara : - Na idade em que estou, não há mais nada de importante minha filha.
Olga : - Não fale assim, e se for o “seu Guilherme”?
Sara : - Deixe tocar.
Olga : - E se ele não ligar mais?
Sara : - Deixe que vá.
Dona Sara se levanta com as pernas bambas, apoiando-se em sua bengala e vai em direção a antiga vitrola. Escolhe o velho vinil de Edith Piaf e retorna a poltrona vermelha.
Sara : - Olga, faça um favor?
Olga: - Claro que sim, o que a senhora deseja?
Sara : Dance comigo?
Olga : - Pois não?
Sara : - Conceda-me essa dança, jovem bela?
Olga: - Mas eu não sei dançar dona Sara.
Sara : - Apenas deixe Piaf te controlar, deixe “ Non, Je Ne Regrette Rien” entrar.
Olga: - Mas e se a senhora cair?
Sara: - Você me levanta e muda de música, começamos de novo.
Olga: Tudo bem, a senhora é muito insistente e teimosa.
Olga pega calmamente Sara pelos braços, a abraça enquanto vai de um lado ao outro naquela pequena e antiga sala.
Sara : - Você sabes que, quando ele me pediu para dançar pela primeira vez, foi exatamente daquele jeito ?
Olga : De que jeito?
Sara : - “Conceda-me essa dança, jovem bela ?”
Olga: - E a senhora aceitou ?
Sara:- Obviamente que não, era o primeiro pedido. Só fui aceitar no terceiro.
Sara e Olga, riem enquanto rodopiam, tropeçando e esbarrando em alguns móveis, mas dançando como se tivessem em um salão de gala.
Olga:- Mas como você sabia que ele ia pedir novamente ?
Sara: - Eu não sabia minha filha. Quem desiste de uma dança, desiste de um amor de maneira rápida e traiçoeira.
Olga: - A senhora sempre soube de tudo não é?
Sara:- Minha mãe sabia, eu apenas aprendia. Minha mãe era uma verdadeira dama, uma que eu nunca fui e nem nunca serei.
Olga : - Você é uma dama Sara.
Sara: - Você me lembra Francisco.
Olga: - Quer que eu acenda um charuto também?
Olga sorri enquanto vê algumas lágrimas brotarem do rosto de Sara.
Olga: - Desculpe-me, não quis ser rude.
Sara: - Não foi, para ser sincera, eu gostaria sim.
Ambas, novamente, caiem na risada.
Olga: - A música parou.
Sara: - Apenas continue dançando, preciso dessa dança.
Olga: - Logo já está na hora do jantar e a senhora não anda comendo bem.
Sara: - Hoje não irei jantar aqui, irei sair e jantar fora.
Olga: - Vai sair com o “seu Guilherme”?
Sara: - Sou uma mulher de um único amor. Só temos um nessa vida, só somos suficiente para um amor. Já vivi o meu.
Olga: - Mas vá se divertir, apenas comer em algum lugar bonito.
Sara: - Não plante sementes que não poderás regar.
Olga: - A senhora sempre com uma bela resposta, te amo como uma neta.
Sara: - Você é minha neta, desde que Francisco te contratou, você foi a única que ficou. Mesmo com o salário atrasado.
Como de costume, elas riem e conversam de forma terna.
Olga: - Isso já deixou de ser meu trabalho dona Sara, você também é minha família agora.
Sara: - Quando eu morrer, fique com Piaf para você.
Olga: - Não diga uma coisa dessas.
Sara: - Apenas fique, você se lembrará. De mim, de agora.
Olga: O telefone está tocando, preciso atender.
Sara: - Deixe tocar.
Olga: - Mas e se for sua filha ?
Sara: - Estou abraçada em minha filha.
Olga: - Mas você não pode ser tão dura dona Sara.
Sara: - Se quisesse me ver, viria. Quer apenas um consolo para não vir, quer apenas ver se ainda estou viva ou se preciso de alguma mesada.
Olga: - Ela quer a mãe dela, sente falta.
Sara: - Minha mãe dizia para eu nunca ligar. O telefone afasta a companhia. Queres saber como estou ? Venha me visitar. Passava toda semana na casa dela, ela adorava. Eu achava uma perda de tempo, hoje choro querendo atravessar aquela porta e encontrar aquele chá amargo que eu tanto odiava, mas que me fazia bem. Minha filha, percebi muito tarde que as coisas que eu não gostava, eram as coisas que me faziam bem.
Olga: - A senhora quer um chá antes de dormir ?
Sara: - Tomarei chá hoje ...
Olga: - Você parece cansada, quer se deitar ?
Sara: -Posso pedir outro favor ?
Olga: Sempre.
Sara: Meu doce. Pegue aquele vestido rosa para mim ? Você sabe qual é.
Olga: Dona Sara, aquele que você me mostrou ? Aquele que você usou no primeiro jantar com Francisco?
Sara: Ele mesmo.
Olga: Irá usar ele para sair hoje ? Ele está tão velho.
Sara: Usarei ele mesmo, amo-o. Meu pai me deu depois de pescar quilos de peixe. Ele chegava fedendo como a morte, mas mesmo assim, eu o abraçava. Em meu aniversário de dezoito anos, ele me trouxe esse vestido. Usei durante uma semana inteira, até cheirar como meu pai.
Olga ri, se levanta e vai pegar o velho e amado vestido. Quando volta, Sara está deitada no sofá, com um olhar distante.
Olga: - Você não que ir para cama e desmarcar esse jantar ? Parece cansada.
Sara puxa o vestido da mão de Olga e o abraça.
Sara : - Ele ainda tem o mesmo cheiro.
Olga: - De peixe ?
Sara: - De amor.
Olga: Vamos dona Sara, eu levo seu jantar na cama. Com quem a senhora irá sair ? Eu ligo e desmarco.
Sara: - Não posso desmarcar.
Sara fecha os olhos e se aconchega no sofá. Agarrada no vestido, ela suspira.
Olga: - Mas quem é essa pessoa tão importante?
Sara: Minha filha vire o disco e coloque-o para tocar novamente?
Olga se levanta e obedece dona Sara, “Ne Me Quitte Pas” toma conta do lugar.
Olga: - Conte para mim, não confias mais em mim?
Sara: - Claro que confio.
Olga: - Então quem é?
Sara: Francisco.
Olga: - Não brinque assim.
Sara: Queria tanto brincar com você agora. Mas, tudo nessa vida chega ao fim minha menina. Segure minha mão, estou com medo.
Olga em lágrimas agarra a mão de Sara e implora:
Olga: Ne Me Quitte Pas.
Sara com um último suspiro responde:
Sara: Jamais.
A mão de Sara já não aperta, já está fria. Olga chora como se tivesse perdido sua mãe. O choro é cortado pelo tocar de telefone. Olga se levanta e atende:
Filha de Sara: - Mãe ? A senhora está bem?
Olga: - DEIXE TOCAR.
 
Deixe Tocar.

Cor Bordô.

 
Quero ser lembrado.
Por uma mente de menina em meio aos seus doces pensamentos.
Quero ser lembrado pela chuva que cai feito um choro perdido.
Ser representado por cada gota derramada em queda livre.
Quero ser a melancólica tempestade cortada por um surgir de raio solar.
Vou ser o arco íris de seus devaneios.
Vou ser tudo e quem sabe seu nada.
Vou ser sua liberdade com respingo de saudade.
Vou ser quem eu quero ser.
Vou fingir que ainda me amas, do mesmo jeito que vou esquecer que te amo.
No álbum de fotos de cor bordô.
Vou colecionar as memórias junto ás noites tristes, ás mais belas ilusões.
As pinturas bicolores.
As semanas bipolares.
Os sonhos mais desejados.
Foram assim,
Desperdiçados.
Por uma troca de valsa,
Por uma troca de olhares,
Por uma troca.
Mas eu sei,
Com toda certeza,
Que eu serei.
Seu sorriso acanhado,
Junto e abraçado,
Ao seu passado.
 
Cor Bordô.

Amar-te.

 
Amar-te é esquecer-te.

Lembrar-te é sofrer.

Feito chorar em um leito de morte.

Amar-te é querer-te.

Tê-la é um sonho impossível.

Não me deixe aqui á chorar.

Pela dor irreparável de todo um sofrer.

Porque me fui deixar apaixonar?

Permiti e dei-me a essa dor,

Que confundido,

Chamei de amor.

Agora em cada canto,

Só me resta á oração,

Um pranto.

Que não se cala em um amanhecer,

Que não se acalma no anoitecer.

Não me deixe aqui, sempre a procurar-te.

Por uma memória qualquer esquecida,

Que deixe por pouco tempo,

Minha alma aquecida.

O tempo não irá apagar,

Com um choro calado, engolido.

Irei aguentar sem mais esperar.

Apenas ligue-me para dizer como sua vida está maravilhosa.

E não esconda,

Que estás orgulhosa.

Seus filhos indo as aulas de piano,

É o seu sucesso na vida amorosa.

E não mintas,

Que às vezes se encontra fervorosa.

Por já não se lembrar de tudo que passou.

Mas você não se lembrou de tal forma,

Que nem ligar, ligou.

Não me deixa aqui.

Ne me quitte pas.
 
Amar-te.

Sou.

 
Eu sou a chuva que nunca cai, o sol que nunca nasce.
Sou a hora que nunca chega, o tempo que nunca passa.
Sou tudo, sou nada e ainda não sei quem sou.
Sou a peça perdida do quebra cabeça, sou o verso que não se encaixa.
Sou um momento, um vulto, um vento.
Sou eu mais você na mesma constância que sou eu e mais ninguém.
Sou quem ?
Sou um alguém.
A melancolia de uma flor afogada em sua própria terra.
A indescritível depressão de um passado não praticado.
Sou um olhar escondido.
Um abraço aguardado e por fim, guardado.
Sou o espaço na gaveta, o ultimo na sarjeta.
Demente na arte de viver, crente na arte de apenas ser.
Sou aquele que não quis nascer mas não ouso morrer.
Suicida imortal, atemporal.
Sou uma lágrima presa no canto do olho, envergonhada de escorrer.
Vermelhidão ocular, vulgar.
Escondo-me quando alguém tenta ver.
Sou cruel na boca de quem se abre e impiedoso nos ouvidos de quem ouve.
A angústia do silencio, o soluçar no intervalo de cada titaquear.
Sou o livro esquecido na prateleira, quem sabem alguém algum dia me leia, queira.
Quem sabe algum dia ...
Deixa para lá.
Não vou voltar ao sonho que me iludia.
 
Sou.

Memória.

 
Fazia tempo que eu não escrevia. Achava que era apenas alguma ausência de pensamentos poéticos ou algum simples desleixo misturado com uma preguiça aguda. Mas deparei-me com a realidade, descobri aquilo que tanto escondia que de tal forma até esqueci-me de procurar. Lembrei que odeio me visitar.
Sim, cada quadro na parede me traz a angustia de uma memoria imbatível e inexorável. Cada monumento de decoração, intocável, de partir qualquer coração. Sempre que entro fico preso pela porta emperrada de emoções. As janelas rangem assustando qualquer pássaro que aguardava um sonoro e alegre bom dia. O pó consome os carpetes, as colchas de retalhos que cobrem as camas que resguardam as noites mal dormidas. É como visitar um parente distante que está doente, você sente e logo vem a velha tristeza que te abate. Mas não, você não chora. Você sente por seu parente mais próximo estar sofrendo, por estar perdendo alguém ou até por não ter conhecido profundamente tal pessoa que já estás sendo carregada pelos abraços da morte, sente por um fim de história mas logo de cara, aceita. Quando olho meus álbuns antigos de fotografias, sinto o mesmo. Não quero viver aquelas emoções novamente, mas sinto falta delas. Não quero mudar as decisões já tomadas, mas me arrependo. Quero me arrepender, mas um sorriso no rosto já foi bordado.
A casa é tão vazia e velha que nem os ratos ousam roer interrompendo tal mórbido silêncio. É casa de campo, confortável feito a solidão. Desesperador, feito a solidão. A cada aconchego no sofá já sobe aquele cheiro que me traz alergia aos olhos e entope o nariz. Os olhos ficam vermelhos até escorrer, a boca racha como chão de terra seco, esquecido. O peito aperta até descobrir que não é a alergia que me afeta, mas sim a saudade que me visita. Ela entra sem ser convidada e já logo pede algo para beber. Poe os pés na mesa de centro e te derruba as mais obvias e cegas moralidades. Quando termina de beber o copo cheio de lágrimas, se levanta, te beija na testa, e vai. Tão de repente, que você sente, saudades.
Andando pela casa, você vê taças quebradas, coladas e sofridamente disfarçadas e outras nunca usadas. Você vê fiapos do casaco da indescritível visita da saudade. Você vê pessoas que já foram conversando em pequenos flashes. Você vê tudo em um devaneio que não te mostra nada. Pela janela você a vê de pé, te olhando e observando, mas você eu já sei quem é. Olá angústia, não precisa entrar que só de olhar você me faz lembrar. Uma visita que não fala, não interage, apenas te olha. Uma visita que você conta tudo sem nem pisar em sua casa. Na janela, ela aparece e some.
Abrindo alguns armários você encontra peças de roupas que não te serve mais, mas que você insiste em experimentar. Elas te apertam, sufocam mas você veste por um simples agrado no espelho. Acho que vou telefonar para a saudade e dizer que sua presença pode ser bem vinda. Remexendo em algumas peças vejo a melancolia sentada e chorando atrás dos paletós do cabideiro. Ela me olha e corre assustada para outro canto da casa, esperando ou não, ser encontrada.
Depois de algumas visitas, de várias emoções, de varias memórias lidas e relidas. Eu repenso, o que me falta olhar? E percebo que o único número que restou na agenda, escrito a lápis e já meio apagado, era o único que eu tinha que ligar e procurar.
Alô, felicidade ? Venha me visitar, temos uma casa para limpar.
 
Memória.