Desvario
Foge-me o chão
Surgem -me palavras
Lembranças guardadas
Do presente? Não!
Sim! talvez sim.
...Ou um engano talvez
Que seja assim.
Mas vivo! mais uma vez!
Deito-me de cansaço
Inquieto ponho-me a pé
Escrevo e apago o que faço
E a mesa leva um pontapé.
Pobre de mim tão rico
Em algo que é coisa nenhuma,
Que me põe eufórico
E me desarruma
Solitário...
Louco...
Acabado...
se soubesses ao menos
o que ainda guardo para ti
...dormiria muito mais descansado.
Ser Eu, Ser Medo
Breve instancia onde penso
Na Solidão em que me sinto imerso
Onde me afogo em tempos de espera
De incerteza, de tudo o que já era.
E vêm-me à memória
Traços, linhas soltas
Percurso de uma vida insatisfatória
Um esboço feito em idas e voltas
Traços de um esboço inacabado
Linhas muito imprecisas de exactidão
Cada uma um momento do passado
Cada uma com uma recordação
Esboço repleto de momentos
Que me trazem o calor da amizade
Abrigo para o frio destes tempos
Frios de inverno de solidão e ansiedade
A desilusão é tanta, que a ascensão irá levar tempo.
Nunca nada soube a qualquer tipo de arrependimento
Talvez se volta-se a desenhar
Uma daquelas linhas,
mas nenhum traço em particular
Não ficasse igualzinha
Talvez por regra ou azar
Mas nunca com intenção de a mudar.
Sonhar é agora ansiar
Com algo que não traga mudança
Que não me leve a cair em esperança
De ter um dia quem acompanhar
Mas ficar parado
Até a mim me mete dó
Faz-me sentir cansado
E a encher-me de pó.
Sinto ainda que há tanto para dar
Tanto que não cabe num só lugar
Que tem de haver com quem partilhar
Que tem de haver a quem contar
Faço traços loucamente
Na esperança íntima de encontrar
Algo que me preencha a mente
Algo que me faça sentir realizado
E que me deixe de sentir cansado
Ser Eu,
É o esforço presente de não pensar na ausencia que em mim existe.
Ser Eu,
É lutar contra o pensamento renegado, que sempre que vem presiste.
Ser Eu,
É ter medo, e viver em constrangimento não aparente,
É ver tudo o que não quero, seja onde for,
É ver todos em volta de forma diferente
É passar por lugares que me recordam vivências e trazem dor.
Assusta-me ter de viver,
Ter de cá andar, ou até cá voltar
Mas tenho mais medo de morrer,
Desaparecer, e ninguém me lembrar.
Só mais um, sem medo.
É tarde. Já escureceu.
É hora de sair de mim,
Fiz tudo quanto me apeteceu.
E cumpri o meu dever assim
Os dias já não me arrefecem,
Com aquele frio solitário.
Nem tão pouco me aquecem,
Muito antes pelo contrário.
Sinto-me só. É um facto.
Mas tenho quem me acompanhe,
Quem me mantenha em contacto
E ainda que não me estranhe.
Vale de pouco. Nada me ascende
Nem me alegra nem me contenta
Nem me sacia, nem me tenta.
Agora, já nada me prende.
Sou só mais um que eu sei,
Talvez não tão comum assim
Mas mais um, que eu bem sei
A dar o que tenho, "oh pra mim".
Cá dentro amanhece,
E eu sem ver pingo de luz,
Sou mais um. Acontece.
Mais um que em nada se traduz
No entanto, escrevo e avanço,
Sem problema, eu não me canso.
Nem sequer há com quem lutar
Quanto mais pra me derrotar.
Posso errar livremente.
Assim é como me sinto.
Solto, por entre o presente,
Livre de obrigações,
Digo o que penso, não minto,
E mesmo mentindo é sem preocupações.
Não há quem me pare, é certo
Nem ninguém para me segurar.
Não quero nem ninguém perto
Nem ninguém para afastar.
Talvez um dia, por um momento
Se solte de mim este pensamento
E dê por mim ao relento
A pensar no que aguento,
E vá procurar mais atento
Quem possa dar cem por cento.
Até lá espero desatento
Mantendo-me assim pelo cinzento.
Sou mais um? Sinto-me só?
É um facto. É verdade.
Mas sou feliz. Não haja dó.
Quero por inteiro, a dignidade.
E pensar que...
Não há muito onde me possa agarrar.
Um abraço é o suficiente para o provar.
Fico acelerado,
E noto que por momentos sinto o que sentia apaixonado.
Não é fácil gerir e digerir a situação,
Controlar o impulso revela-se uma tarefa difícil
Que chega a tocar no frustrante.
Há vontade no coração
Mas torno-me um autentico imbecil
E nada parece ser bastante.
Foram os tempos mais maravilhosos
Que alguma vez tive experiência.
E foram também tempos dolorosos
De longas esperas e devida paciência.
E sentia-me alguém.
Útil, como um guardião
À distância de uma mão
Sem importar mais ninguém.
Pouco mais pedia,
Que não me sentia capaz de exigências
Tinha tudo o que queria
Só não podia com a ausência.
Com as decisões tomadas,
seguem-se vidas separadas
Oh...e se deixam saudade...
e tanta amizade...
Tanto por dizer livremente, sem pressão
Sem qualquer força a oprimir o coração.
Da forma espontânea de outros tempos
Onde era fácil expelir sentimentos.
Que razão haveria de existir
para quebrar algo tão bonito?
Porque não podia ser a nossa história
Algo pertencente ao infinito?
Não sinto que tenha sido justo
Sinto-me ainda afectado do susto
Não me vejo sozinho
Nem só um bocadinho.
Sinto tanto para partilhar
Tanto para quem agradar
E vontade nenhuma de procurar
Ou de me voltar a enganar.
Sinto-me insatisfeito
inseguro.
Longe de ser perfeito,
Frio e o coração sinto-o duro.
E pensar em achar tudo o que já tive em mão.
Tudo o que pedi para voltar e resultou num não
Algo consistente e capaz de me fazer contente
Algo, que sem saber seria o ideal, exactamente.
"Sonhador"(Letra)
Hoje acordei num sonho que vivi,
Sentei-me em frente ao espelho e aqui estou,
Tentando explicar o que senti,
Querendo sair bem do nosso amor.
Lá fora a cidade,
Não pára de correr,
Mas dentro do meu quarto,
Eu sinto-me morrer.
Eu sei, tu foste o sonho, eu fui o sonhador,
Foi muito louco esse nosso amor,
Só que a saudade já não faz sentido,
Embora eu faça por esquecer,
Eu sei, tu foste o sonho, eu fui o sonhador,
Quando acordar não vou chorar de dor,
Porque a saudade já não faz sentido,
Tu foste o sonho, eu fui o sonhador.
Lá fora a chuva cai dentro de mim,
E a neve muito em breve vai tapar,
Pegadas dos teus passos no jardim,
Agora eu sei que tu não vais voltar.
Lá fora a cidade,
Não pára de correr,
Mas dentro do meu quarto,
Eu sinto-me morrer.
Eu sei, tu foste o sonho, eu fui o sonhador,
Foi muito louco esse nosso amor,
Mas a saudade já não faz sentido,
Embora eu faça por esquecer,
Eu sei, tu foste o sonho, eu fui o sonhador,
Quando acordar não vou chorar de dor,
Porque a saudade já não faz sentido,
Tu foste o sonho, eu fui o sonhador.
A rua da lembrança
Rua esta que me incomoda
Que trás à mente a solidão do agora
Que me faz lembrar a paixão de outrora
E me faz querer partir a louça toda.
É por certo uma lembrança
Da qual não tão cedo me desapego
Mas me faz perder esperança
E me causa um profundo desassossego.
Não dá para não lembrar
E por mais que possa assegurar
Que não estou perdido neste pensar
Penso e escrevo evidencias para recordar
Relembro vezes sem conta
Sempre no momento menos esperado
Coisas a que a memória remonta
De momentos vividos, lá do passado
Já estou livre, já o sinto
Mas nada do que possa dizer
Fará com que fique extinto
Sem que, mesmo que pouco, faça doer
Mas porque haveria eu
De calhar nesta rua, a estas horas.
Destino sarnento este o meu
Que me alucinas enquanto me devoras.
Depois azarado consigo juntar
Aqueles, daquela primeira hora
Que me viram fraco, prestes a desabar
E que ainda cá estão no presente, agora
Que "o que vai volta", são dizeres
E é o que realmente fica que importa
Quer no momento de anoiteceres
Quer quando amanheces de alma já morta.
E fica então para trás essa rua
Enquanto sigo deixando o meu rasto
Coisa que é nada, e muito menos tua
Coisa muito precisa de um impreciso vasto.
Sigo já sem pensar
Pelo menos naquilo em que penso
De forma a poder controlar
O caminho que agora dispenso.
Vou escrever, vou tentar
Cresci a saber que a saudade é uma coisa bonita.
Não há saudade de coisas más.
E saudade é...
É olhar para o nada e cair numa memória.
É lembrar...sobre tudo lembrar.
E sentir a sua falta, por de alguma forma não ter presente.
Seja que coisa for, seja quem for, resulta sempre desta forma.
É também uma forma de transmitir carinho.
Não é algo que se sente por querer, e não é fácil simular.
Quando sentida verdadeiramente, doi sempre um bocadinho.
Mas é uma prova imensa de gratidão e carinho.
E eu tenho saudade.
Saudade daquele sorriso que me traz tanta felicidade,
Daquele ar de quem não tem medo de sorrir
Daquela expressão belíssima a rir.
Anseio poder voltar a ver
Aquele olhar que me assassina
Por ter brincado sem querer,
E sem querer é um olhar que me fascina.
E quando mais terno o momento
Surge o olhar mais ternurento
Que me olha a sorrir
Pelo bem estar que se faz sentir
Sinto falta desse também
Pois sinto falta do que me faz bem.
E dou voltas a tentar dormir.
Ainda paira um certo odor no ar
Em lençois onde te encontrei a dormir
No espaço que agora está por ocupar.
Ainda sem dormir,
Torno me a virar
E sem conseguir
Vou escrever, vou tentar.
Recordar
Recordar. Recordar é viver.
É pelo menos uma forma de o ver.
A história é parte de uma vida
E viver sem o passado não há quem consiga.
Como tempo as memórias transformam-se
Os detalhes desvanecem-se,
Os rostos alteram-se,
E as cores diluem-se.
Com o passar do tempo
O que se recorda de um momento
Passa a ser algo selectivo
Do que realmente foi vivido.
E teremos sempre fotos para mostrar exactamente
O local as cores e as caras da gente
Um ponto de vista menos pessoal
De uma lente, de um ponto de vista original.
Escrevo com um só propósito.
Incluir todos detalhes verdadeiros.
Os meus, que transponho com êxito
E os que deixo á imaginação de terceiros.
Tal como uma curta metragem.
Um momento retratado tal qual
De forma pessoal, porém,
O participante terá uma parte fundamental.
Escrevo para transmitir o momento
Tanto da forma como o recordo
Como aquilo a que estive atento.
E deixar que o leitor o imagine de acordo.
E muito mais do que ter prazer
Naquilo que ficou escrito
É ter o reconforto de poder
Recordar mais do que o que foi descrito.
Deixar o doce sabor da memória prevalecer
E acrescentar qualquer detalhe seu favorito.
5 sentidos / saudades
Posso não mais ver
Aquele sorriso teu
Que me encantava ter
E queria que fosse meu
Posso nunca mais sentir
Aquele toque delicado
Que me fazia dormir
Mais e mais descansado
Vai por certo ficar
A saudade do paladar
Do beijo mais ternurento
dado em algum momento
Posso não mais ouvir
a tua voz, o teu riso
o som do teu dormir
e o teu sermão de aviso
E o teu fresco perfume
Sempre cobiçado
que me dava ciume
quando não a teu lado
Eu posso até nunca mais te ver
Ouvir ou sentir,
Mas há algo a admitir.
É certo que nunca te irei esquecer.
A partida, o desperdício
É quando alguém parte
Que alguém chora
E a tristeza fomenta a arte
Pela alegria de outrora
Para quê viver intensamente
Se o que importa é o presente
Pois o futuro é tão incerto
O que temos de nosso, por perto
Não serve de consolo
Nem mesmo junto de um bolo
Quando somo jogados fora
Nos dizem não e nos mandam embora
Amizade é coisa linda
Amor é como vida que é só uma
A segurança é bem vinda
Mas a certeza é nenhuma
Saudade chega a ser repudiante
Quando nos metem distante
E nos forçam a senti-la
E essa nos mutila
Lenta e impiedosamente
Consome-nos o ser
E nos rouba a vontade de viver.
Pois quem quiser, que a aguente.
A entrega quando sincera
É algo que não se pode desperdiçar
E se é o amor que a lidera
É algo que se tem de estimar
Ou sou só eu que vejo
Que aquilo que desejo
União verdadeira e consistente
Já não é coisa do presente.
A dor é o que não compensa,
Sofre-se enquanto outros se riem
Desta que é uma dor imensa.
Contudo também não há em quem confiem
Nada é certo, é a única garantia
De nada serve o infinito ansiar
Pois quem chegasse desistiria
Porque até o infinito está a mudar