Uma lágrima quente
Apanhei vento esta tarde,nem frio
nem quente.
Apanhei um pouco de sol pouco presente.
escondido entre nuvens envergonhadas,
que queriam chorar de contente.
Apanhei um lágrima quente,
talvez de alguém que chorava,
lágrimas bastante molhadas..
Este céu..que se deixa esconder.
Fica triste sem poder.
Apanhei um lágrima quente,
de quem?
De um ser infinito que me chama,
vezes sem conta.
Como a vida me trama!
Sempre escorrego em tentação,
Encho de lágrimas este meu livre
coração.
Por isso quando olho céu, sinto
um lágrima quente.
Parece-me fresca..esta alma.
que nesta tarde de pouco sol
me acalma.
A voz
A voz quase me falta,
o coração quase me salta.
o rosto fica fora de si,
o riso torna-se num alvo,
meu sentimento não fica sem ti.
temo o que os outros pensam de nós,
o reconhecimento sofre com a voz.
Cheia de intensidade te fala,
ao ouvido te seduz,
que louco me responde
quero essa voz que me cala.
uma escolha dificil...
Uma escolha difícil…
Nem há muito tempo um homem corria atrás da sua mulher tinha-lhe fugido o cão e a pobre mulher, assustada tinha partido à procura do seu Mondego, o cão.
O cão era um pastor alemão criado desde muito pequenino, se calhar desde que nasceu, mas ao certo nem sei…Eu sou só a vizinha do lado!
Não costumo entrar na vida das pessoas sem perguntar pelo menos o nome. Eles nem o meu sabem….
Como dizia à pouco o homem, o senhor Amâncio era agricultor, era pacato, barrigudo e gostava da pinga…cabelos castanhos e olhos a condizer tinha um pequeno defeito, falava muito alto, um pouco mais baixo do que a mulher, D. Maria de Afonso Corte Real, nome que lhe fora dado com distinção quando a família de seu pai, D. Afonso Real de Almeida, tinha um pequeno império.
Corria como um desalmado atrás da pobre mulher, esta por sua vez sempre atarefada, nunca se habituou lá muito bem aos costumes da terra. Viviam perto de uma Vila chamava a Cova do Monte, sinceramente não se sabe onde arranjaram este nome…Há lá cada nome em Portugal! E o homem lá desesperado pára um pouco para descansar, faltou o bafo, como um porco senta-te em cima de uma pedra e diz;
-Raio de cão, anda a gente a ensinar o cão a falar, a portar-se como gente, que nem gente o raio de cão foge a sete pés! Até parece que viu um fantasma. – O senhor Amâncio respira fundo para retomar o seu percurso, as pernas pesam. O seu corpo pequeno não parece ter forças, apoia-se sobre um pau e lá se levanta.
Mas de repente lá se lembrou…
- Raio! Porque ando eu atrás do cão e da minha mulher! A minha mulher faz-me falta o cão esse já não sei.
Durante uns minutos hesitou se deveria ou não continuar a sua busca até que se lembrou de algo muito importante.
A D. Amélia ficou de passar lá pela quinta, ia buscar umas batatas, cenouras e algumas pencas e o mais importante era que ela deixasse a garrafinha do costume. Um bom vinho caseiro, mesmo ao gosto do senhor Amâncio, acho que é uma das coisas que ele adora, beber, assim pode sempre falar o que quiser, com quem quiser e onde quiser. A verdade sai-lhe e muitas vezes eu bem ouvia em alto e em bom som, quando algum fornecedor vinha reclamar os pagamentos em atraso;
- Raio! Vocês querem todos que vos paguem, mas eu para vos pagar tenho de vender primeiro!
Enfurecido com ele próprio, entornava mais um copito e até fazia questão de cantar.
- Raio! Com um Raio já nem sei pensar direito…voltem cá noutro dia.
E que remédio o homem lá ia embora sem um tostão no bolso, de mãos e cabeça a abanar, as vezes penso o que pensaram estes homens vão lá para receber e no fundo parecem que tem de ser eles a pagar.
Iolanda Neiva
Onde te pode levar a...
Amor,
Por entre estas palavras espero poderes compreender o meu desabafo. Sinceramente não sei talvez no dia em que te vi pela primeira vez, do alto de uma janela comprida, fixaste o teu olhar na gente que trabalhava, parecias um anjo enviado, atento, estudioso e afável.Os minutos duraram horas, a espera imóvel pela tua oportunidade marcou o dia.
Atrevi-me a ver-te ao longe, admirando quem passava, quem seria.Vestias uma camisa branca, umas calças azuis a condizer com a gravata, o cheiro a perfume notava-se, por entre o cheiro a pó e a pneus.
Lembro-me como se fosse hoje, o teu olhar de quem espera para atacar de improviso quem passa.
Atacou-me a mim.
Poderia ser a única vez que te via, ou o príncipio do resto da minha vida, pelo menos algum resto que ainda me falta.
As doenças teimam em não me largar entregam-se a mim como um conjunto de objetos agarrados.
A melancolia que sentia passou-me, ocupei-a simplesmente a pensar em ti. Achei-te bonito, olhei-te nas mãos, porque elas me falaram.
As tuas mãos finas e suaves ao tacto como uma seda, os dedos redondos e perfeitos sem calos, senti-os passarem suavemente pelas minhas, quando me cumprimentaste.
Belo momento que desvrevo. Um fenomeno calorífico transportou-me a um lugar estranho, ao meu sítio de paus.
Ali te via prendendo de feitiços o meu corpo, tocando com as tuas mãos o meu espirito sensível, elevando-me a ser submissa a ti.
O meu momento estranho havia de voltar ao que era, mas ali fiquei parada a olhar para ti.
Sem ouvir mais ninguém, sem ver mais alguém.
Parecia que o tempo tinha parado.
Agora sei que era um princípio da atração que sinto por ti.
Onde me pode levar esta sinceridade?
Apenas me leva a sonhar contigo
Minha casa
Da janela da minha casa
sobre uma rua sem nome,
vejo do Porto a Olhão,
gente que percorre
só para ver e buscar,
peixe fresco e outros alimentos
do mar.
Há gente qie procura
fugir da cidade movimentada,
e refúgio vêm encontrar.
Esta gente fica maravilhada,
como eu tão pequenina
me debruço da minha janela
só para o mar espreitar.
Há dias que nem gente vejo,
e ruas que nem consigo alcançar
é o que faz quando a nossa
casa é construída num barco
e andemos de mar em mar.
Da minha janela tento-me
pela manha, e o sol doirado
me acorda com um sorriso
nada mais eu preciso,
até me imagino sobre um longo prado.
Só me faz confusão, gente
que passa na minha rua sem nome
passa por vezes a correr
quando o vento lhe dá um empurrão.
Da minha janela as vezes,
ponho a cabeça de lado,
quero ver e sentir a brisa
que passa e fico todo molhada...
Cada onda sobe e desce, parecendo
que o mar está bravo...
Quando a terra firme chego,
sinto logo outro aconchego,
vejo agora gente que trabalha
não na cidade mas que tricota outra malha.
Fecho a minha janela,
digo bem alto:- Cheguei!
Já percorri meio mundo e outro
já imaginei.
A minha filha escreveu
Um sorriso
apareceu,
será que eu piso
o teu céu?
Uma rapariga
iluminou,
uma barriga
que inchou,
um amor
que cai em vão,
uma flor
que cai
no chão.
Poema escrito pela minha filha.
(Iolanda Nora)
Hoje
Hoje sou feita de pedaços,
onde a minha alma se esconde
hoje preciso de palavras
Não apenas de traços,
nem letras perdidas
apenas abraços...
hoje procuro uma coisa mágica,
sentimentos que tocam cá dentro
preciso de amigos,
preciso de amor,
não me deixem sozinha,
é enorme esta minha dor.
Amor
Amor,
Começo com um sorriso pela manhã, adoro ver brilhar os teus olhos direcionados nos meus, pedindo abraços, beijos, carinhos.
Se os pudesse dar, se pudesse levantar este corpo morto. Tanto amor receberias a suavidade que me passa pela mente, pela vontade.
Estou casta amor.
Eu sei que não me amas pela aparência,esta exterioridade minha não conhece teu corpo, não conhece a tua face,nem a tua pele.
Mas conhece a tua voz, terna e doce que me encanta,que me faz sonhar e despertar para a vida.
Nem receio tenho de te perder, nem cíume. A tua bondade entre em mim, faz-se corar, faz-se sentir amor.
Quando estás comigo o mundo é só meu,fingo não existir especie alguma por perto, contento-me com a tua emoção ao veres-me lutar pela vida, é bom poder amar assim.
Não preciso de mais nada dás-me afecto isso me chega. Isso me basta.
Mesmo cega e casta eu sinto os teus olhos na direcção dos meus.
amo-te.
Olhar na mesma direcção
Quem conhece esta minha visão,
os meus gestos de amor humildes?
alguém olhara na mesma direcção,
talvez um poeta.
Com um pouco de amor, loucura e curiosiade,
com frases feitas, algumas cheias de verdade.
que não me ame pelas curvas,
nem pelos seios,
talvez um doutor.
Que finga ter amor por mim,
que me engane com versos,
que me ame cheio de coragem,
não apenas a minha imagem.
talvez um pintor.
Que tema perder o amor que me comquistou,
enquanto despia para a noite,
talvez um senhor.
que me traga um calice,
vertendo perfeição, sem interesse.
talvez um filosofo,
cheio de ideias, perfecionista,
um inventor,
mas que conheça a minha visão.
Uma ferida..
Tenho uma ferida,
aberta ao mundo, fechada numa estrada
Não há remédio
não há saída
fechada no mundo, aberta na estrada...
tenho uma mágoa
perdida, ninguém a encontrou
aberta e fechada ao mundo
ainda ninguém a melhorou
tenho uma dor no peito
só a mim diz respeito
é uma dor triste sem sorriso
mas só se cura com amor
é tudo o que eu preciso..