Poemas, frases e mensagens de Adão Jorge dos santo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Adão Jorge dos santo

CALIGRAFIA MENTAL-

 
Risco o espaço com meus pensamentos,
cambaleio entre dúvidas e incertezas,
confronto medos que não são meus,
e o espaço caduca com o que penso,
os traços saem rotos e disformes,
são meus pensamentos, todos meus,
ate aquele que escapou furtivamente, é meu.
Mas há invasores em minha mente,
mas sei que não chegam a ser pensamentos,
mas idéias travestidas,
que uma vês infiltrados,
interagem e corrompem pensamentos desavisados.
Estes pensamentos costumam
se camuflar feito camaleões,
convivem soprando intenções malévolas
e falsas incertezas,
querem se sobressair
e ascender ao topo da hierarquia dos pensamentos para poderem governar minha vida e meus atos.
Por isto, para deter esta invasão,
risco o espaço com meus pensamentos,
expostos a céu aberto consigo identificá-los e eliminá-los.
Conheço minha caligrafia mental,
assim como conheço todos os meus pensamentos.
 
CALIGRAFIA MENTAL-

SOGRA VAMPIRO

 
Essa nem eu acredito que aconteceu. Estava tentando escrever sobre vampiros, sem no entanto alcançar resultado aproveitável.

De repente toca o telefone. Era a querida da minha sogrinha ligando desesperada dizendo que havia entrado um bicho no seu apartamento. Na hora não dei o devido credito ao seu pedido de socorro, mas mesmo assim fui ate lá.

Acontece que a minha sogra não enxerga bem e acreditei que fosse alguma barata ou mariposa e que ela tivesse dado asas a sua fértil imaginação. Quando cheguei ela já estava na porta completamente apavorada dizendo que o bicho estava saltando por toda a casa. Ela confirmou que o bicho era enorme e emitia um som alto e estridente. Eu e minha esposa nos olhamos e rimos do exagero da situação. Entrei decidido e com o chinelo na mão. Olhei pela sala, sacudi as cortinas e nada do bicho monstruoso aparecer. Depois fui ate a cozinha e comecei a olhar por baixo dos móveis, ate que de repente saiu alguma coisa de trás do armário e veio em minha direção. No susto dei uma chinelada na coisa que assustada saiu voando na direção da minha sogra que estava parada perto da porta. Com o impacto do bicho no seu corpo, a velha gritou e caiu no chão, eu também havia caído, mas de susto, não pensem que foi por medo. Mminha esposa saiu correndo porta a fora, e o pequeno morcego assustado saiu batendo asas pela janela aberta.

Depois do susto, fui ver como estava a megera da sogra caída no chão. Ela estava com olhos fechados e parecia desfalecida. Tentei em vão reanima-la e nada. A velha não despertava. Minha esposa entrou e assim que viu sua mãe estatelada no chão, pensou que ela estava morta e começou a chorar. Eu fiz um esforço para não gritar, mas de felicidade.

Enquanto consolava a minha esposa, não acreditava que havia me livrado da jararaca assim de uma hora para outra, e sem sujar as mãos. Era muita sorte a broaca da velha ter morrido assim daquele jeito por mordida de morcego,e não via a hora de comemorar. Deixei ela no chão e fui consolar minha esposa que chorava tanto que dava pena. Não via a hora de encontrar o morcego para lhe agradecer por ter me livrado da sogra.

De repente sinto alguma coisa se movendo atrás de mim, começo a sentir um arrepio pelo corpo todo e uma sensação de pânico me tirou as forças, me viro e dou de cara com a visão do inferno. A velha ja era feia e seu aspecto depois do susto ficou daquele jeito. Foi a ultima coisa que vi antes de cair duro no chão.
 
SOGRA VAMPIRO

BILHETE AZUL

 
Assim que o telefone tocou senti um arrepio percorrer todo o meu corpo. Era a primeira vez que isto me acontecia. Olhei para o telefone, que insistia em tocar, pressentindo de que quem estava do outro lado tinha urgência em falar. Como eu estava perto atendi. Assim que desliguei olhei em torno e vi pavor e ansiedade nos rostos de meus colegas. E antes que me perguntassem o nome da próxima vítima, eu disse: foi o Geraldo.
Geraldo levantou-se calmamente. Abriu a gaveta e começou a separar suas coisas, colocando-as sobre a mesa num gesto de despedida. Em seguida passou a mão por sobre toda a mesa, cantos e contornos, até na cadeira deu uma passada, como se dissesse adeus a quem por tantos anos lhe fora companheiro. Passou por nós de cabeça erguida, sabíamos que não mostraria fraqueza para ninguém, era um homem valente, que certamente na solidão do desemprego, longe de todos choraria. Fui ate ele e lhe dei um forte abraço. Depois que Geraldo saiu, não se falou mais nada. Era só uma questão de tempo.
Edgar quebrou o silencio da sala falando talvez com ele mesmo ou para que nós o escutássemos, disse que não era justo, quase chorando, com a voz embargada, que era um bom funcionário, responsável e que nunca tinha faltado, e que não iria ser demitido assim no mais, não mesmo! E o que faria agora da vida se fosse demitido, havia passado mais tempo na empresa de que na sua própria casa, não saberia o que fazer, disse que estava perdido! Clarice e Marcela, secretarias começaram a chorar abraçadas, esperavam o pior.
O fato era de que uma grande parte do quadro funcional já havia sido dispensado, e era só o começo. Parecia o fim do mundo. E de certo modo estava sendo para alguns.
O engraçado desta situação, se é que há graça nisto, era de que me considerava imune a este tipo de assunto. Também era um empregado exemplar, não tinham o que reclamar de meu serviço, portanto não havia com o que me preocupar. Já havia acontecido esta mesma situação tempos atrás, muitos foram demitidos, eu permaneci. Só que agora não tinha a mesma certeza.
O telefone tocou novamente e Edgar atendeu. Desligou e baixou a cabeça. Não foi preciso dizer nada. O inevitável acontecera. Ele era a bola da vez. Edgar parou na minha frente e sem dizer nada me abraçou. Pela primeira vez eu vi um homem chorar. Disse apenas Deus te acompanhe! Depois quando Clarice e Marcela saíram eu as abracei e desejei boa sorte. Em César dei um último aperto de mão. Em Roberto, o cabeça, que era um jovem, disse que isto fazia parte da vida e como era ainda novo, encontraria o seu caminho. O seco, que era um sujeito dedicado, que havia casado há pouco tempo e que tinha um lindo bebê, chegou e me abraçou fortemente. Vi nos seus olhos medo e perplexidade, próprias de um jovem pai de família.
Em toda esta situação senti a presença de Deus. Deus estava em todos o corações e orações, era a ele que todos chamavam neste momento crucial. Deus estava no crucifixo de Eduardo, na guia colorida de Raquel, pendurado na parede na figura de Cristo, no meu pensamento, em todos os pensamentos. Deus certamente sabia o que fazia. Naquele lugar muitas orações e promessas foram feitas e não atendidas.
Não demorou muito o telefone tocou novamente. Sem nenhuma pressa atendi, já sabendo instintivamente, o nome do próximo demitido. Desliguei e procurei um rosto amigo, um sorriso de compreensão, uma mão amiga, só então me dei conta de que não havia mais ninguém para ser demitido.
 
BILHETE AZUL

PROLEGÔMENOS

 
Poeta non fit, sed nascitur
Poeta não se faz , nasce

Escrever para mim é um vício
Que se fez desde o inicio,
Uma espécie de cisma
Que insiste e ensina.
Porque,
Se nasci para escrever,
Então escrevo,
Se não nasci para escrever,
Assim mesmo escrevo,
Agora,
Se é de qualidade o que escrevo,
Isto eu não sei, sei escrever,
Se é meu destino escrever,
Então escrevo.
Mas,
Estupefato, chego à conclusão
De quer escrever é ilusão,
É carma é desilusão,
É viver em reclusão.
É ir de encontro a ignorância,
É combater a intolerância,
Minha, de poeta diletante,
De alma incipiente.
Ab inition havia o verbo,
Caos absoluto e soberbo,
E Deus querendo escrever, ordenou:
Fiat-luz, e a luz se fez.
Graças a isto,
A noite posso escrever,
Agora se bem escrevo,
Isto é outra história a escrever,
No momento escrevo..
Portanto;
Se escrever para mim é um vicio ,
Que me acompanha desde o inicio,
Não há o que fazer,
A não ser escrever por prazer,
Ad infinitum.
 
PROLEGÔMENOS

PORTO SEGURO

 
A conformidade da vida
Muda conforme a idade,
É tanta inconformidade,
Que compromete a despedida.

Não há como se conformar,
Escapa a compreensão,
Resultando em emoção,
Que não se pode contornar.

Mas quem se importa,
Ninguém abre a porta,
Já não se preocupam,
Não mais se ocupam.

Conforme a dor,
Esmaece uma cor,
Mas, em fim,
Ninguém esta a fim.

A quem interessa
Se tenho pressa,
Se passo fome,
Ou qual o meu nome?

Nada mais surpreende,
Tudo se dilui,
Nada flui,
Nada mais se aprende.

Resta fazer o que então,
Rezar uma prece,
Beber quentão,
Ou morrer precoce?

O norte é o caminho,
O paraíso, o ninho,
E conforme o conforto,
Alcança-se o porto.
 
PORTO SEGURO

UM ANJO BATEU NA MINHA PORTA

 
Foi isto mesmo que aconteceu. Bateram na porta e quando abri vi na minha frente um anjo. Na hora pensei que fosse uma brincadeira inocente de alguém. Lembrei que o mês era Outubro, e logo associei com o dia das bruxas. Mas imediatamente percebi que estava no meio do mês ainda e, portanto não era o dia Delas. Olhei a figura alada parada na minha porta. Vestia uma dessas roupas compridas, tipo um camisolão de dormir e o que me chamou a atenção foi o fato de que ele parecia flutuar bem ali na minha frente. Óbvio que ele ou ela, poderia estar em cima de algum artefato que produzia aquele movimento de sobe e desce como se estivesse solto no espaço. Quando disse ele ou ela, referindo ao anjo, é porque a feição do seu rosto era andrógena. Ele reunia em si as características dos dois sexos. Ele era uma figura esplêndida de ser ver. Emanava dele uma luz que transcendia sua essência corpórea. Eu mesmo não tinha certeza se ele possuía um corpo de verdade. Digo isto porque eu conseguia ver através dele, ele era translúcido, quase etéreo. Desde o instante em que abri a porta, ate mesmo antes, senti uma calma indescritível, e sem saber o porque, de repente comecei a chorar sem motivo aparente. Eu não sabia o que estava acontecendo ate deparar com o anjo na minha frente. Agora sentia vertigen e meu coração pulsava descompassadamente. Num instante toda a minha vida começou a passar diante de meus olhos, eu sabia que aquilo que estava acontecendo comigo era um tipo de estágio que antecedia a chegada da morte. Eu tinha a sensação de que estava morrendo, e mesmo assim, não sentia medo algum. Então comecei a desconfiar de que realmente um anjo havia batido na minha porta, e independe da minha crença, sabia que estava diante de um mensageiro celestial de Deus. Não havia mais dúvidas; era um anjo de verdade. Não sei de onde surgiu aquela luz fulgurante ao lado do anjo, sei apenas que senti vontade de me aproximar dela, ultrapassar seus limites, ir ate o outro lado e encontrar Deus face a face. A sensação era inebriante, fascinante, estava a um passo de fazer a transição entre mundos, quando de repente a porta se fechou sozinha. Como se tivesse saído de um transe hipnótico, cai no chão totalmente sem forças. Não sei quanto tempo permaneci olhando para aporta fechada. Queria levantar, mas não conseguia, queria movimentar o corpo, abrir novamente a porta e encontrar o anjo do outro lado. Com muito esforço fui erguendo o corpo dolorido e alcancei a maçaneta. Abri a porta e para minha surpresa, o anjo não estava mais lá. Esperei alguns segundos e fechei a porta antes que ele resolvesse voltar. Não que eu tivesse medo ou algo parecido, é que este negócio de anjos e lá no céu com Deus, quando chegar a minha hora, sei que este mesmo anjo ira voltar, e desta vez a porta estará bem aberta. Amem.
 
UM ANJO BATEU NA MINHA PORTA

ESQUECER NUNCA, PERDOAR JAMAIS 1

 
Não. Não era um sonho. Eu sentia as dores em minhas costas causadas pelo açoite do chicote inclemente. Mas eu estava sonhando. Tinha plena certeza disto. E estas correntes que prendiam meus braços e pés, eram de verdade ou fruto de um
sonho irreal.
Tento mover meu corpo e não consigo. Estou preso a um tronco no meio de um pátio. Mas não estou sozinho. Há um outro homem também preso a um tronco que acredito que já esteja morto, ele não se movimenta mais, seu corpo esta em carne viva. As moscas fazem festa na suas costas. Mesmo assim o maldito capataz não interrompe suas chibatadas. É um castigo. Ele necessita mostrar quem manda.
Agora sei que é um sonho. Estas coisas só acontecem nos sonhos. Não vejo a hora de despertar. Ouço alguém chorando perto de mim. Olho com atenção para a mulher que chora. Seu sofrimento é verdadeiro. Vejo isto em seus olhos. Ela me parece conhecida. Para confortá-la esboço um sorriso e tento falar alguma coisa. Mas o que sai da minha boca ensangüentada não são palavras. Não conseguia entender o que estava acontecendo.
Então comecei a sentir um medo indescritível. O que parecia ser um sonho, estava se transformando em um pesadelo vivo e
real, de conseqüências assustadoras. E se morresse de tanto apanhar. E se tudo fosse verdadeiro. E se não estivesse sonhando. E se...
O chicote sibilava no ar e sua trajetória tinha um destino. Minhas costas. As primeiras chicotadas minaram com as esperanças que eu tinha de acordar em um outro lugar que não fosse este.
Aos poucos as dores começaram a desaparecer e um torpor tomou conta de todo o meu corpo. Então tudo a minha volta começou a desaparecer lentamente.... só o estalar do chicote e sua cadência incansável é que permanecia em meus ouvidos.... Fechei meus olhos e comecei a rezar.
Minha reza era interrompida a cada chibatada que recebia. Eu tentava respirar mas não conseguia, sabia que desta vez não haveria retorno a senzala, meu fim estava próximo. Então quando eu ouvi o sibilar do chicote no ar, gritei num último esforço. SENHOR, TENDE PIEDADE DE NÓS.
 
ESQUECER NUNCA, PERDOAR JAMAIS 1

ALMAGAMADA 3

 
61. Agora, se é de qualidade o que escrevo,
62. Isto é eu não sei, sei escrever.
63. Se meu destino é escrever,
64. Então escrevo.

65. Eu acreditava que qualquer um podía ser poeta,
66. Que era só começar a escrever e pronto,
67. Já nascía um grande poeta,
68. Mas este não era o ponto.

69. Um poeta deveria ter uma motivação,
70. Algo que lhe despertase a inspiração,
71. Que fosse marcante
72. Único e palpitante.

73. Então quando te conheci,
74. Tudo dentro de mim se alertou,
75. Todo se despertou,
76. E eu nunca mais te esqueci.

77. Quis ser mais do que deveria ser,
78. Não era para querer tanto, mas quis,
79. Quis descobrir teus segredos mais sutis,
80. Desvendar o âmago do teu sublime ser.

81. Confesso que no começo não pensei em sexo,
82. E não pensar em sexo é tão sem nexo
83. Que percebi que havia algo errado.
84. Tive medo de estar realmente apaixonado.

85. Tentei então manter-me discreto
86. Quanto ao que sentia,
87. Tentei mantê-lo secreto,
88. Mesmo sabendo que mentia.

89. Por isto, quando escrevo ganho asas,
90. Vou a todas as casas,
91. Não importa se a porta e de cobre,
92. Ou um casebre de um pobre.
 
ALMAGAMADA 3

EU SOU EU MESMO

 
Eu sou eu mesmo.
Eu não sou o outro.
Eu sou eu.
O outro é o outro.

Eu, do latim ego,
pronome pessoal
primeira pessoa do singular,
indica a pessoa que fala.

No caso eu que vos falo,
Quero dizer, que escrevo,
É também o sujeito pensante,
“Penso logo existo”.

E sendo eu, eu mesmo,
O outro não pode ser eu,
Apenas eu posso ser eu mesmo,
Ninguém mais, só eu.

Aonde quero chegar com isto,
Com esta obviedade toda,
Com esta conversa de que eu não posso ser outro,
E de que o outro não pode ser eu?

Eu sei quem sou,
Sei interagir comigo mesmo,
E outro, saberia ser eu?
Duvido!

E se fosse possível,
Se eu pudesse,
só por um instante, ser outro,
como seria?

Seria uma situação deveras interessante,
Desconcertante eu diria,
De uma hora para outra,
Como num passe de mágica, ser outro.

O outro por outro lado,
Será que gostaria de ser eu?
Eu já estou cansado
de ser eu mesmo.

Porque o outro não é o mesmo,
É diferente, diverso,
Imediato, seguinte...
É, para efeito prático, o outro.

Pensando bem,
Este outro poderia ser você,
Você não é eu,
Eu não sou você.

Você é você,
Segunda pessoa do singular,
Mas com as flexões verbais
E formas predominais de terceira.

Porque até agora você leu e achou graça,
Fez pouco caso do texto,
Mas mudou quando leu
que poderia ser o outro..

Se eu sou eu,
Você é você,
E nós não somos o outro,
Quem afinal é o outro?

O outro só pode ser Ele,
Pronome pessoal,
Terceira pessoa do singular
Do caso reto.

Mas se ele não quiser ser o outro,
Nem você,
E nem eu,
Quem será?

Eu queria ser o outro,
Achei que você ou ele poderiam sê-lo,
O outro já e o outro,
Não há de querer ser outro que não ele mesmo.

Cabe então a Mim,
Forma obliqua do Eu,
Resolver esta questão
cabeluda do outro.

A Idéia no começo pareceu absurda,
Complexa e irrealizável
Não toda é claro,
Mas que era absurda, isto era.

Você ainda é você,
Ele, que não quis ser o outro,
Permanece sendo ele mesmo,
Eu ainda sou eu mesmo.
 
EU SOU EU MESMO

UM DIA EU QUIS DIZER ADEUS

 
UM DIA EU QUIS DIZER ADEUS

Um dia eu quis dizer adeus, queria ver tua reação.
Descobrir se chorarias, se sentiria a minha falta, queria ter a certeza de que eu era o homem da sua vida.
Não tive tempo.
Você chegou e antes que eu pudesse esboçar qualquer
reação, acabou com a nossa relação. E Deus sabe o que
sofri Naquela hora.
Mas eu não gritei, não pedi que ficasse, não havia o
que fazer, você saiu e a saudade entrou ocupou todos
os espaços, fora e dentro de mim.
Então, quando a porta nos separou, eu fechei os olhos
e finalmente chorei.....
Aquele foi o nosso último encontro.
 
UM DIA EU QUIS DIZER ADEUS

ALMAGAMADA 2

 
33. Será que quando virem meus cabelos encaracolados,
34. E Esta minha cutiz parda,
35. Será que não ficarão amolados,
36. Ao verem que não tenho nenhuma sarda?

37. Alguns empinarão seus narizes,
38. Outros sentirão dores em suas verdes varizes,
39. Na certa irão reclamar aos brados,
40. Os recalcados e os desequilibrados.

41. É que não há em lugar algum,
42. Digo, em lugares de destaque,
43. Danças e sons de atabaque
44. De Afro descendente nenhum,

45. Será que os negros são poucos?
46. Ou Será que há muitos brancos?
47. Mas isto agora não vem ao caso.
48. O que importa é o que eu faço.

49. Eu faço poesias.
50. Escrevo poesias.
51. Vivo de poesia.
52. Sou todo poesia.

53. Conheci as letras,
54. A língua portuguesa e as suas regras,
55. Assim que comecei a ler,
56. Desde então não parei mais de escrever.

57. Escrever para mim tornou se um vicio,
58. Que se fez desde o inicio,
59. Uma espécie de sina,
60. Que insiste e me ensina,
 
ALMAGAMADA 2

ALMAGAMADA 1

 
POEMAS DE UM POETA EM ASCENSÃO,
PESSOAL, ESPIRITUAL
E PRINCIPALMENTE FINANCEIRA.

1. Um dia quis ser poeta,
2. Pequei papel e caneta,
3. E me pus a compor versos,
4. Versos e mais versos.

5. Os versos no começo não tinham rima,
6. Eram prematuros e inocentes,
7. Não tinham nada de obra-prima,
8. Mas assim mesmo eram descentes.

9. Não havia luz naqueles versos,
10. Eu queria a gloria instantânea,
11. Queria ver meus versos
12. Ate mesmo em uma coletânea.

13. Mas eu tinha medo dos humanos, reles mortais,
14. Aqueles que se julgavam o máximo, os tais,
15. Que diziam que os poetas distorciam as palavras
16. Sobrepujando-as com sementes de infrutíferas lavras.

17. Talvez eles tivessem razão,
18. Eu não sabia se os meus poemas
19. Seriam bons ou não,
20. Poderiam ser só poemas.

21. Meu pai era assalariado,
22. Minha mãe dona de casa,
23. Eu nasci anjo, mas não tinha asa,
24. Por isto cresci com este jeito contrariado.

25. Será que eu devo revelar que vim à força da África
26. Para padecer nesta América?
27. Será que fará alguma diferença
28. Saber qual a minha crença?

29. Talvez sim.
30. Talvez não.
31. A escravidão chegou ao fim,
32. Hoje ate nos estendem a mão.
 
ALMAGAMADA 1

DE NORTE A SUL

 
O meu trabalho fica do outro lado da cidade. Moro na zona sul e trabalho na zona norte. De segunda a Sábado embargo no ônibus T4, transversal 4, que atravessa a cidade de lado a lado. O percurso leva aproximadamente uma hora e 10 minutos. Os passageiros são quase sempre os mesmos. A conversa é generalizada e o burburinho é ensurdecedor. Mesmo assim alguns conseguem dormir parte da viagem.
Eu me acomodo bem no fundo do veiculo. Ali não ninguém me aperta. É a parte alta do transporte, ali eu permaneço ate o fim da viagem. mesmo que eu quisesse dormir não conseguiria, é muito solavanco e as pessoas sobem em todos os pontos. Estou lendo Iracema, de José de Alencar, A virgem dos lábios de mel. E logo ali, bem na minha frente, vejo minha Iracema, não a do livro, mas a bela estudante que tem os cabelos negros coma a asa da graúna , não sei se ela ainda é virgem ou se seus lábios são realmente de mel. Gostaria de descobrir, mas sei que ela é noiva, usa uma aliança na mão direita. Embora isto possa ser um artifício para afastar os paqueradores de plantão.
A leitura é algo surpreendente. É comum identificar personagens andando ao meu lado, vivendo a mesma triste vida que tenho, alguns sei que foram inventados, mas creio que alguns foram capturados pelo olhar aguçado dos escritores. Eu não sei se seria modelo para algum personagem. Talvez me identificasse junto aos Miseráveis de Vitor Hugo, ou então entre os prisioneiros do Navio Negreiro de Castro Alves. Outro dia quando lia Dom Casmurro, de Machado de Assis, descobri os olhos de ressaca de Capitu em uma bela mulher acompanhada de seu pretenso amor. Cedo ou tarde, a gente percebe, ele vai suspeitar de que ela o traia com alguém. Enquanto segue a viagem com suas características próprias , começo a exercitar minha imaginação, se de repente assaltassem a gente, ou caíssemos num barranco, ou capotássemos numa curva acentuada, o mais provável que pode acontecer é a gente cair num dos tantos buracos da estrada, ai sim haveria alguma aventura para quebrar a rotina desta monótona viagem.
O que acontece mesmo de interessante nesta viagem é os causos que escuto, são tantos que Simões Lopes Neto cansaria de tanto escrever. E personagem para o negro Bonifácio aqui dentro não falta. Um começa a contar que viu a mulher de um amigo saindo de um Motel, e que não sabe se conta ou não, começa então um bate boca entre os que são a favor e os que são contra. Fala-se de política, de esporte, da vida alheia, de tudo um pouco.
No caminho passo por tudo quanto é lugar. Passo por postes, por praças, por muros, por cercas,por Super, por Mercado, passo pela rua da minha infância, pelo o estádio do meu clube, por uma Ambulância gritando, por carros apressados, por curvas acentuadas, por prédios abandonados, por ruas sem saída, passo por gente, passo por bicho, passo pela casa dos meus sonhos, passa passa tanta coisa, e é tanta coisa que passa, que se eu não me cuidar, eu é que passo do ponto.
 
DE NORTE A SUL

INDIFERENÇA

 
Hoje sinto a falta do verbo,
Talvez seja causa da dor que envergo,
Ou por sentir nas minhas entranhas,
As dores do mundo todas as manhas.

Há vezes em que percebo no espelho
As rugas de um homem velho,
Um homem triste e cansado
De tanto sofrer e ser usado.

Não vejo mais tanta esperança
No descortinar do futuro,
Vejo no céu um grande furo,
E eu não sou mais nenhuma criança.

Mas eu queria ser para não sofrer,
Para tentar em vão não ver,
No que se transformou meu mundo,
E tudo fica cada vez mais profundo.

Eu não sei mais o que fazer,
Nem o que dizer,
Sou apenas um homem triste,
Que aos trancos e barrancos existe.
 
INDIFERENÇA

PARA TODO O SEMPRE TE AMAREI

 
Meu amor, quando você me beijou pela última vez, tudo em mim se alertou, fiquei totalmente desperto, meu coração se acelerou de um jeito estranho, senti que alguma coisa estava errada. Mas como sempre acontecia quando você chegava, meu mundo se incendiava, era possuído por desejos tão ardentes, e tão meus, que queria tê-los mais, muito mais, tanto, que nada mais na vida importava naquela hora. Por isso quando fechava a porta do quarto, e via que você seria toda minha, e que eu seria todo seu, sabia que não haveria enganos, e que mesmo depois de tantos anos, eu tinha a certeza de que iria lembrar de tudo, tim tim por tim tim, dos beijos, do amor satisfeito, em fim, de tudo.

Tudo o que é bom, dizem, dura pouco. E não foi diferente o nosso caso. O sol que antes nos iluminava, agora não tem mais luz, é só escuridão e solidão.

Hoje Sou alguém de quem lembrarás para sempre, que guardarás num dos tantos cantos do seu coração, serei a aquela ponta de incerteza que te acompanhará por toda a vida, ate mesmo quando estiveres amando outra pessoa, principalmente nesta hora eu estarei presente, tão perto e tão dentro, que será impossível me esquecer.

Se por acaso me perguntar como estou hoje em dia, devo revelar que ainda estou sofrendo por sua causa. Mas não se preocupe, a dor que você viu estampada no meu rosto, naquele dia, o tempo já tratou de apagar.

Restou, sinto dizer, do amor que nos vivemos, um resquício de uma tristeza vaga e permanente, que em certas horas do dia ou da noite, mais da noite que do dia, me deixa abatido e desconsolado. Mas eu já me acostumei a viver assim com esta doce melancolia, que por incrível que possa parecer, tornou-se, não por vontade dela, mas por uma condição primeira, a da desolação de uma paixão, uma fiel companheira de todas as manhas em que acordo sozinho em minha cama. A única certeza que tenho e sei que você também tem, é a de que Eu ainda não te esqueci. Apesar dos pesares.
 
PARA TODO O SEMPRE TE AMAREI

NOSSA INTIMIDADE

 
Caro Alaor, estou saindo da tua vida por varias razões. Uma delas, a que mais me deixou magoada, foi o fato de você ter contado para todo mundo como eu faço amor, o que digo, o que grito na hora que sinto prazer, que sou insaciável e descontrolada.
No começo não acreditei que você tivesse feito o que fez. Mas depois de escutar em detalhes tudo o que fizemos na cama, tive a certeza de que você não era confiável. Tanto que ontem, exagerei um pouco na minha performance sexual, queria saber se você daria com a língua nos dentes. Não deu outra. Você contou tudo, desde a roupa que eu vestia, que era minúscula, até quantas vezes fizemos amor. Ora, tenha paciência meu caro, isto é o tipo de coisa que a gente não faz, não mesmo.
No começo isto não me incomodou. Porque acreditava que todas as mulheres agiam assim, ou parecido. Eu, entre quatro paredes sou eu mesma. Não finjo ter prazer, você sabe bem que não sei fingir, sou autentica. Mas porque diabos você foi contar para os outros a nossa intimidade. A nossa não, a minha intimidade. Porque a sua ninguém conhece. Lá fora, conhecem o garanhão que você diz que é, o homem que satisfaz todas as mulheres, o gostosão. Eles não sabem a verdade, o jeito que você me toca, os beijos que me dá, o modo como me possui, isto são particularidades suas, ninguém precisa saber. E eu procuro respeitar isto.
Não guardo mágoa de você, é o seu jeito de ser. Isto eu não posso mudar. Mas posso fazer você passar maus bocados junto aos seus colegas e amigos. Vou contar para todo mundo seu desempenho na cama, e você sabe que não é lá grande coisa mesmo. Quero ver a sua cara quando souberem que não dá no couro, que pede arrego a noite toda, e que ate usa viagra para melhorar o desempenho sexual.
Porque estou fazendo isto? A explicação é bem simples. Não fostes capaz de preservar o nosso momento de intimidade, preferiu compartilhar com pessoas que não tem nada a ver conosco. Meu único consolo é que agora você vai viver de lembranças que jamais vai voltar a ter, pelo menos comigo, acredito. Mas vou lhe dar um último conselho. Procure os seus amigos e pergunte a eles sobre a intimidade deles. Duvido e pago pra ver se alguém vai contar alguma coisa. A intimidade é umas das coisas mais sagradas que existem nesta vida. Portanto, respeite a intimidade alheia e pode ser que um dia eu volte. No momento não. Você vai ficar na solidão do seu quarto, intimamente sozinho.
 
NOSSA INTIMIDADE

ESTATISTICAS

 
Hoje é o dia que tenho de sair. Não quero, mas tenho de fazê-lo. Abro a porta e a grade que vai dar no corredor. Fecho as três fechaduras da porta e as duas da grade. Ando alguns metros e abro a grade que separa o corredor. Aciono o elevador e chego na garagem. Meu carro esta próximo. Entro e fecho a porta imediatamente. Na rua todos são suspeitos. Todos querem me assaltar, me roubar, tirar minha vida. Mas eu estou sempre alerta. Eu eles não pegam não. Ultrapasso com freqüência o sinal vermelho. As estatísticas dizem que os assaltos acontecem com mais freqüência no momento em que paramos e aguardamos a troca dos sinais. Eu prefiro pagar multas a ser assaltado. Sou às vezes imprudente, mas o que fazer, é eu ou eles.
Eles não têm medo de nada. São uma praga da sociedade consumista. Convivem no nosso meio, moram perto da nossa casa e sabemos onde se escondem, só a policia não sabe, ou finge não saber. Eles sobrevivem do que produzimos, não trabalham e apenas esperam um momento de descuido nosso para exercerem sua atividade criminosa. Ás vezes, o crime parece compensar, porque a cada dia os assaltos proliferam. Os casos se multiplicam de uma forma assustadora. Existem pessoas que não saem mais de casa. Trancam-se de tal maneira que em caso de acidente domestico, muitos perdem a vida porque não conseguem abrir as grades a tempo de serem socorridas.
O pergunta do momento e aonde vamos parar com toda esta insegurança. A policia não tem efetivo suficiente para nos proteger. O governo diz que esta fazendo todo o possível para conter os criminosos, que vai aumentar o numero de presídios, dando mostra de que os assaltos irão continuar, mas que eles serão presos depois de cometerem seus crimes.
Eu quando ando pelas ruas, estou sempre observando a pessoa que esta ao meu lado, se esta mal vestida fico atento, se esta bem trajada o medo é maior, porque parto do pressuposto de que a roupa não faz o monge, muito pelo contrário, eles hoje em dia tem o aspecto civilizado, misturam-se a sociedade para não levantar suspeita, quando percebemos eles estão nos apontando uma arma e nos roubando sem piedade. Eu ainda não faço parte das estatísticas diárias dos noticiários, sei que cedo ou tarde, espero que seja tarde, eu vou ser assaltado. Se nunca for melhor. Mas do jeito que as coisas vão, não sei não! Deus é que esta certo. Fica lá nos altos, longe dos assaltos.
 
ESTATISTICAS

NOIVO SEM VICIO

 
Depois da cerimônia e da festança finalmente consegui chegar em casa. Parado na porta lembrei da recomendação da minha mãe, ela disse, Filho, não esqueça de entrar carregando a noiva no colo. Faz parte da tradição. Olhei para a formosura da noiva ainda imaculada e confesso que quase desisti da idéia. Não posso disser que ela era gorda. Era só um pouco acima do peso, só um pouquinho.... respirei fundo e com grande esforço, carreguei a noiva nos braços e entrei na casa nova.
A noite prometia ser das melhores. Eu já estava cheio de idéias, só pensava nela e no que escondia embaixo daquele longo vestido. Assim que chegamos fui logo preparar uma bebida. Depois coloquei uma música para criar um clima aconchegante. Então resolvi partir logo para o ataque. Já fui tirando o casaco e a camisa e quando ia tirar a calça, ela pediu para ir ao banheiro, dizendo que retornaria logo com uma agradável surpresa. Eu achei aquela atitude dela bem natural. Já tinha visto esta cena nos filmes e novelas, a mulher vai ao banheiro e logo retorna com uma roupa provocante para o deleite do homem que a espera. Não deu outra, imediatamente comecei a imaginar coisas. Deixei apenas a luz tênue do abajur iluminando o quarto. Pode parecer arrogância minha, mas eu não estava nervoso. Tudo estava transcorrendo conforme havia planejado, nada poderia dar errado, afinal eu era o dono da situação. Então ela pediu para que eu aumentasse o som e que me preparasse para ter uma surpresa.
De repente, antes que eu pudesse esboçar qualquer reação para impedi-la, ela surgiu nua na minha frente. O copo quase caiu da minha mão. Ela estava ali na minha frente totalmente nua, pronta para o uso, como diria um amigo meu. Então me lembrei das sabias palavras de meu pai: filho não deixe a mulher tomar a iniciativa em nada, se não elas vão querer te dominar desde cedo. Aquilo não era uma dominação, era um espetáculo a parte, eu era o publico alvo. Mas acontece que eu era um homem de princípios e cheio de manias. Portanto, eu quem deveria tomar a iniciativa, ou seja, era eu quem deveria tirar as suas roupas, não era função dela se precipitar e sabotar o meu desejo. Comecei a ficar preocupado com aquela primeira atitude de liberdade dela.
Realmente não era para ser assim. Não era mesmo. Talvez ela fosse do tipo liberal, e quisesse facilitar as coisas ficando nua daquele jeito, e que talvez não desse a mínima para o pudor. E sem perceber a conseqüência que seu ato havia produzido, sorria maliciosamente. Eu confesso que não sabia o que fazer. Tinha na verdade duas alternativas: prosseguir com ela nua e ignorar a etapa perdida, ou então, em último caso, pedir para que tornasse a se vestir, para que eu pudesse dar seguimento ao ritual sagrado de um casamento.
Enquanto pensava numa solução, ela se aproximou e antes que eu pudesse esboçar reação, fui completamente dominado e seduzido. Foi impossível resistir a sua investida. Beijei seus lábios carnudos e vermelhos, beijei mão, beijei pé, beijei pescoço e outras partes que não posso revelar por tratar-se de área privada a nubentes, mas posso salientar que tudo o que me foi ensinado, foi devidamente utilizado e muito bem introduzido.
Depois do ato consumado, com um cigarro entre meus dedos, e olhando o corpo nu ao meu lado, percebi que pular algumas etapas não era uma coisa assim tão terrível.
Então, antes que ela saísse da cama, sussurrei no seu ouvido que tinha um desejo. Ela sorriu e foi ao banheiro vestir-se. A noite ainda era uma criança.
 
NOIVO SEM VICIO

REALIZE MEU SONHO

 
Caro amigo,
Sei que em breve vou deixar este mundo. E antes de ascender ao céu, vou revelar meu segredo. Eu queria Ter tido talento para escrever um livro. Não um livro qualquer. Mas um que fosse considerado espetacular. Que me destacasse no mundo literário. Busquei nos livros de outros autores o conhecimento que me faltava, estudei sempre que me foi permitido fazê-lo. Às vezes durante a noite, nas madrugadas sob a luz da lua. Ainda bem que era época de lua cheia. Este é um relato do que me aconteceu naquela tarde de outono, o dia em que eu iria morrer.
Descobri que tinha um talento nato para as letras. Não foi bem eu quem descobriu, fui descoberto pelos outros colegas, dai então nunca mais parei de escrever. Escrever para mim é um vício que se fez desde o inicio, uma espécie de sina, que insiste e ensina. Eu quase não vivia. Apenas escrevia. Escrevia e sobrevivia.
Naquele tempo quem tinha algum conhecimento ou talento para alguma atividade invulgar, era isolado dos demais e utilizado em prol da comunidade. Se é que se pode chamar este tipo de vida, uma comunidade.
Eu escrevia cartas, lia livros para a grande maioria de analfabetos que habitavam aquele lugar. Com o passar dos anos, comecei a escrever o que acontecia ao meu redor. Ma isto era perigoso. Se me pegassem relatando as atrocidades que cometiam contra a aquela gente toda, a morte seria certa. Escrever não era o problema principal. O problema residia em como esconder as folhas escritas.

Devo encerrar agora este relato. O céu esta nublado e em pouco tempo ira chover. Meu corpo esta em retalhos, sinto a vida se esvaindo de mim. Vou entregar minha alma ao Criador. Talvez ao seu lado eu consiga Ter outro tipo de vida. Esta não mais me pertence.
Se eu tiver a sorte, por ventura, um dia, alguém vier a tomar conhecimento deste relato, e descobrir o quão talentoso fui, por favor, realize o meu sonho e publique este livro.
O manuscrito esta junto a esta carta.
Adeus e que Deus tenha piedade de mim. AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA O SENHOR É CONVOSCO, BENDITO É O FRUTO DE VOSSO VENTRE JESUS, SANTA MARIA MÃE DE DEUS ROGAI POR NÓS PECADORES , AGORA E NA HORA DA NOSSA MORTE. AMEM
 
REALIZE MEU SONHO

ALMAGAMADA 4

 
93. Arrebento as tramelas se for preciso,
94. Jamais fico indeciso,
95. Eu chego das alturas,
96. E espanto todas as loucuras.

97. Depois o louco sou eu,
98. Eu que apenas poetizo,
99. E dizem que até faço feitiço,
100. Porque tenho um mundo só meu.

101. Mas quem sou eu para pensar assim,
102. Este poema parece que não quer ter fim,
103. É totalmente independente,
104. Debochado e indecente.

105. Eu sou um poeta cognitivo,
106. Busco o auto conhecimento,
107. O que escrevo não é definitivo,
108. É tudo questão de momento.

109. E o momento é de parir este poema,
110. Cuidar da sua gestação,
111. E dar-lhe boa educação,
112. Para que no futuro não se torne um dilema.

113. É gratificante ver um poema nascer,
114. Tomar forma e crescer,
115. Vê-lo ensaiar os primeiros trôpegos traços,
116. E poder ajudá-lo a desviar-se dos inúmeros percalços.

117. O poema depois de pronto,
118. Seguira seu próprio rumo,
119. E mesmo que estiver fora de prumo,
120. Será bem melhor que um conto.

121. Não pensem que sou contra os contos,
122. Eu também os escrevo,
123. Mas só na poesia me enlevo,
124. Mesmo com todos os descontos.
 
ALMAGAMADA 4