Poemas, frases e mensagens de Paulo Themudo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Paulo Themudo

“À minha volta… Nada!”

 
A estagnação…
Um momento solitário compromete este refúgio que parede de água bebe com desespero de causa.
Desatentos, as lembranças, sustentam as garras enigmáticas da vontade eufórica, que tempo debita nas passagens silenciosas de um relógio.
A solidão, desequilíbrio, ter rumo incerto, aventuras desoladas, o coração sofre, entrega-se, as paredes choram desencantos do desejo amaldiçoado.
A barreira, comprometem-se nas mãos de um verso, as palavras, são fortes, humanidade surge de uma luz vibrante e remanescente, alteram-se as palavras sujeitas do meu testamento.
Sou morte vã, sou incoerência, por acaso, sou destemida sombra guerreira, lutando com os ventos, desencanto do sol, sou, prepotência sinistra do meu tempo.
Sinto…
E como sinto as mãos que me agarram, que sufoco me oferecem os olhos, sou um monstro feito e consumido por palavras, ser terreno, abraçam-me as paredes loucas da minha demência.
Psíquico, pensamento insiste em perder-se, como eu, o corpo desce à terra lentamente, consumo do fogo carente, que são as lágrimas, incestos de um pequeno momento.
Deixo de mim… Tudo!
Solidão, falsidade, o mundo revigorado, entrego medos e desabafos, o homem corre procurando, cavernas do seu tempo são refúgio de sentimentos.
Que seja enigma, ou nada, sou ser que vive, sou espada, lâmina que trespassa sem misericórdia, saboreando sem dó o sabor das palavras.
É o medo que me dá forças, é o caminho que me devora, o tempo ausente é vitória, o estandarte, meu corpo flutuando no ar que demora.
Todos os caminhos se deitam, agora que os meus sonhos não acordam, que apenas os pesadelos tomam conta…
E este mundo!...
Este pedaço de terra engana-me com belezas lúdicas, descalço corro as estradas perdidas, que foi mundo enclausurado nas desilusões do tudo.
Não tenho caminho, não, insaciado pelo beijo que me tomou, revolto-me, consumo com vontade do pecado, meu único vício, namoro corpos de verdade, sou carne, namoro os olhos cobardes das paisagens que devoram, o pouco que resta, do meu passado.
Somente guerreiro, o pesadelo entrega-me dos dias um silêncio, minha solidão premente, escrevo nas paredes a cor dos meus olhos, são lágrimas que vestem este quarto, onde resto eu, os fantasmas, as aventuras e o silêncio.
Meu lugar perante os homens, ser batalha, ser vontade, ter versos nos cantos da boca que saliva mastiga com interrogações de decência.
Sim, não vou remar a maré atordoada onde se afogaram as vozes do meu silêncio.
Não, não vou correr as mãos que adoram o tudo e o nada.
Ficam lágrimas insípidas, seguimentos de vida, ficam matérias de dor, ficam nas paredes abençoadas, regadas com palavras, um pouco…
Um pouco humano.
Um pouco de louco.

Paulo Themudo
 
“À minha volta… Nada!”

Mergulhei o Horizonte

 
Atormentado, evitando o desígnio
A dor solta-se, gritando,
Transpira a alma segura, domínio
A morte deixa um sabor inevitável.

Sinto-me engrandecer
Os olhos vertem, os...
Os olhos sentem, mergulhados em mim,
A maré revolta-se, os corrpos nus.

Eu e os meus dragões
Ou eu e, os meus fantasmas,
Deixo aqui pegadas
Palavras ensinadas, sacrificadas.

Atormentado, evitando o destino
Fico esperando, quando penetras em mim
Química desigual, parece o fim,
Sinto-me engrandecer, enfim.

Eu e os meus sonhos
Desatradamente aos encontrões
As paredes sujas de palavras
Foram os sonhos assassinados, emoções.

Cresci e mergulhei no que vi
Vontade de navegar os teus seios
Loucura, filosofia, tenho medos,
Mergulhar o corpo e não ter meios.

Atormentado, por não ser nada,
Seja: Por não ser nem saber nada.
A dor rasga-me, as veias sangram,
As palavras são agora, alma, estrada.

Eu e os meus pensamentos
Deitado no horizonte despido
Vingo a aurora com momentos
Divago silencioso, olhos, o sorriso...

Atormentado, mergulho a vida,
Um prazer imaculado, teu corpo,
Envolvência sinistra, será meu um dia...
A morte deixa um sabor inevitável...

Sim.

Estou morto.

Paulo Themudo in "Fui... O que já não sou!..."
 
Mergulhei o Horizonte

"Pincéis"

 
Para onde se dirigem os braços? Agora…
Cor festiva enfeita as paredes, morrem palavras à nascença, sou ser supremo de magia, cortina de fogo espreita, minha ilha solitária, meu espaço destinado, minha sina.
Pincelada no vazio do ar, a boca do silêncio saboreia, comovem-me as cores cinzeladas da escultura do meu dia.
Construímos com forças sobrenaturais, com alma, me disseram! Alma de artista me venderam, não escolhi, mergulhei no pólo silencioso dos meus mundos, abstraído, simplifiquei o vazio que não preenchi.
A palma das mãos guarda segredos, verdades de mim, os olhos entretêm o sorriso da personagem, vestida de paisagem, que nas mãos vazias guardei.
Sou quase um anjo sem asas, iluminado de todo, criança com olhos de Deus, a viver o relógio passageiro, emoldurado em tempo fantasiado.
Para onde se dirigem os braços? Agora…
O vazio cru da quadrícula por vestir, atiro-lhe palavras inventadas, grito! Imagem surreal implantada nas mãos estagnadas do ser artista.
Uma alma mais forte apodera-se de mim enquanto rasgo os cortinados iluminados desta minha certa morada.
Fartei-me de sentir dor, falésia, corri o mundo no silêncio dos meus sonhos na ilusão mais prematura dos meus sonos.
Semeei prados de palavras, fui infame, fui ser terreno pecando, fui…
Condenei as estrelas, violei os cometas, saio desistindo, de ser verdade, as mãos salpicam o ar desnutrido com melodias de palavras.
Mais uma pequena pincelada…
Sou ser, incumbido de tantas tarefas, lugar melhor este mundo para alma que sofre e chora devorando as palavras de um poema.
Aqui estou…
Obrigado… Obrigado por te vestires em mim, aparafusares as peças soltas dos meus silêncios, construíres moldura onde me encerro, pela voz tão suprema que me dás, me poder exaltar e pronunciar.
Obrigado… Obrigado por arrecadares a dor, tingires o prazer com o luto da dor que assaltou um tempo, onde estive, tão… Magoado.
Sou quase uma esfera quadrada, desenho, traço sem arestas, construindo, desbravando terrenos de sol que as chuvas bebem.
Sinto… Uma espécie de dor, as mãos entravadas, os olhos mergulhados em lágrimas, eu, aos tiros, assassinando as palavras.
As palavras que pincelei na tela vazia onde me cerquei, emoldurei sentimentos, resgatei sonhos de outro tempo, observei, tinha tanto! Tanto de mim…
Para onde se dirigem os braços? Agora…

Que quadro? Que pintura?...

Paulo Themudo
 
"Pincéis"

"Pensamento"

 
Atravesso o horizonte, com um olhar desnorteado, elimino as páginas do meu diário, sou apenas uma alma transparente uma página no mundo presente, a calçar um mundo terreno, só e ausente.
Uma paz triste... Uma vingança... Uma voz que não se cansa de vestir a noite imprópria com o bailar de uma dança.
É o mundo... é o mundo.

Paulo Themudo
 
"Pensamento"

“ Espírito, Luz, Vida “

 
À procura de luz, é no fluir das palavras que a caminhada da vida me recolhe à estrada.
Tapete real, manto da natureza extinto, dos sonhos, a solidão escraviza-me o pensamento triste.
Não serei mais que um ser usufruindo deste ar viciado onde o espírito vive e repousa.
Como uma bebida qualquer, feita de casco velho, caminha o silenciado céu, este corpo, com voz rouca de gritar o tempo, na plenitude existencial da sua alma.
Lugar eterno dos céus, dizem-me que dos anjos, mais que a infinita estrada onde caminho, será também outro mundo.
Saudade da minha nudez, vontade de me sentar, recolher desta mesa as velas que foram o meu silêncio confundido, adormeci e não quis mais, acordar.

Afinal, para onde foram os meus sonhos?

Observo atentamente as rimas que escrevinhei no chão... No chão.
Espírito de luz segue viagem, uma viagem que termina quando eu for descoberto.
Quando de forma complexa me beberem o rio das palavras, esgotarem do sangue nobre a hierarquia desta alma, entregue às luzes do mundo para imortalizar o que resta dos meus medos.
À mesa com Deus, povoado de mundo, martirizado por ter dado de mim quase tudo...
Da praga antiga um sabor a medo, a estrada que se estreita e esconde um segredo.

Eu cresci... Eu venci! Eu venci!

A minha alma repousa agora, desabafando no silêncio, de mãos abertas observando a magnificência dessa luz que não é nada mais que a minha prória vida.

Paulo Themudo
 
“ Espírito, Luz, Vida “

"As Asas Soltas"

 
Penosa, aflitiva a espera…
Águas revolvem um sabor a medo, ondas desatinadas do tempo deste poema.
Não são as mãos, ecos e loucura deixam entornar no meu leito, fundamentos de criança, perdida, embriagada, neste mundo que espreito.
Não mais perfeito, como nunca o fui, tenho nevoeiro, estrelas, o sonho aperta-me sufocando, o sabor de uma palavra quase extinguida.
Tão velho quanto as mãos que se desiludem, fracassado, a lua é feiticeira, palavras doentias golpeiam sem dó, o renascer de mais uma ideia.
Pó nas mãos castigadas, pesadelo, fome de ternura embalando o que resta de vento, cansado, de espelhos sem imagem, deito-me no delírio das viagens, sou terreno!
O tempo tão pouco, um minúsculo momento, guarda a sabedoria das palavras, meu único alimento…
Tomo sabores, estupefaciente navega o corpo que delira, gritando uma palavra de medo!
Não sou mais do que já fui, criado nas beiras dos rios, alucinados, arremessando pedras ao vento acobardado, maior guerra a granada que são as minhas mãos, despejam, sementes de dor no solo desdenhado.
Criança, volvendo a terra e o céu, demagogia, loucura despida, corpo de homem persegue, restam plágios, dor, sofrimento maior olhar os anjos, suplicar a acalmia, não ter nada, ser quase tudo, um dia…
Afoga-me o silêncio, palavra entornada na garganta rouca, grito alucinado, fantasma, minha nova morada, farto, pesadelo cerca-me de caminhos, não me levam a nenhum lado…
Antes de mais, ou, antes de tudo…
Tentei! Lutei para ser um homem, não sei, criança perdida em mim silencia todas as palavras de derrota, aurora de paz chega com brisa oxigenada, o choro, as janelas assombradas das minhas madrugadas, nas suas cortinas amparam, fragmentos das palavras estudadas, onde me deitei, fiquei, insistentemente.

Sabor a medo, sabor a palavras, sabor a mundo, a céus, a nada!

O espírito eleva-se agora, nu, carregando consigo falsas esperanças, homem afoga nas lágrimas suas, paisagens enamoradas, momentos sagrados, dói a criação a soltar-se, das mãos suas.

Não sou quem era sem ser quem sou… Meio… Enlouquecido, talvez!
Agora… Agora sou luz! Água gelada acariciando um corpo de sol!...

Sou tudo! Tudo e nada…

Vontade liberta-se de passagem, do ser terreno, espiritual é a alma que se movimenta no cinzento das nuvens, que vestem pesadelos e embriagam os céus.

Ilusões! Vivo ilusões devaneias, perdido nas vozes alheias, aflito, perdido, respiro!

Se eu fosse um pincel, o próprio sabor das mãos…
Se eu fosse a cor, a mistura das sombras, construindo uma palavra feita de criança, a que eu fui… A que eu sou.
Se asas me levassem daqui, saboreando o medo, sei, que me perdi…
Se fosse palavra, eterna, silêncio desabava o corpo solene, as mãos carícias enfeitadas, não mais… Não mais seria frio… Inferno! Inverno…
Se eu fosse mais…
Ou, se eu não fosse mais… Nada.

Teria asas e voava.

Paulo Themudo
 
"As Asas Soltas"

" Enquanto Bebia de um Sonho "

 
Eu surgi do nada...
Terra molhada, os pés descalços
Dão de beber desta eterna morada
Os princípios da alma e das gentes.

Sou um ser mendigo
Esperançado que a vida se maravilhe
Do meu cansaço da luta
Fica o sorriso imaculado do meu ser.

Ser gente deste tempo.

Senti que o ar que respiro
Da sua pureza me traz
Nas mãos este momento intensificado
Da vida pobre, minha veste , o vento,
Fico implacávelmente escravizado.

Avizinham-se de mim as vozes
Emudeço nas multidões alheias
Cresço, sem horizonte,
Mar das trevas, a praga antiga
Esbofeteia-me com a palavra mendiga.

Sou pobre...

Imagino então,
Enquanto voo o salão nobre
Que é o lugar onde me sento
Da vida o espectáculo, o circo,
lugares onde me alvoracei, reconheci.

Da vida...

Não desisti.

Paulo Themudo in "Fui... O que já não sou!..."
 
" Enquanto Bebia de um Sonho "

"Os Olhos Que Dormiam"

 
A fogueira das minhas mãos cumpre a sina...
Deitam-se os corpos, envolvem-se, nudez da minha fantasia, fluidez de movimentos, transpiram, mãos devaneias completam o cenário, palavra erótica desvenda iluminando a sala de teatro, poeta observando, descansa...
Um pequeno coro faz vibrar as cortinas acetinadas, o circo da vida, trompetas anunciam a chegada de um senhor, cavaleiro, o poeta...
O poeta observa contido, dá asas à caneta, as mãos incendeiam as páginas, o cenário transformado, agora...
Levanta-se, braços agitados no ar, gritando clemência! Para onde foram todos? Que palavras anunciam esta cortina de vento que namoro, condenando ao sufrágio e à perdição todas as palavras?...
A cadeira sombria, num profundo menos iluminado, agora... Há uma alma que dança despindo os cortinados, os corpos insaciados rebolam a passerelle do mundo, ilusão fictícia, entorna palavras em pedaços de papel.
Às voltas, os passos, silêncio, das mãos queimadas, procura a mente, palavras! que palavras?
O poeta revolve o cenário, paisagem de anjos, o céu verga-se, contemplativo e sereno, murmúrio do vento revira as páginas deste livro.
Resta moldura, pecado e incesto, meu teatro, minha vida... Que desejo de fluir no corpo, penetrar nos olhos e partir...
O poeta... Observa as cortinas que sangram agora, palavras fortes gritam-se nos corredores, os anjos percorrem os salões desencorajados, as ninfas, corpos nus de feitiço, navegam o mar silencioso que páginas de papel reprimiram.
E o poeta... O poeta sonha! O poeta cria!..
E queria tanto acordar um dia, no cenário que chora por falta de magia.
Medo de voar, medo de sentir, medo de me calar...
São as mãos que devoram cumprimentando as majestosas páginas de papel onde se encerram tantas personagens.
O poeta... O poeta desvenda a solidão que como veu os corpos, bebe do liquido das chuvas, diz aos anjos que não... Que nada se destina ao céu mas sim à incerteza, ao real e ao sobrenatural que representa o cenário desta mesa.
O poeta... despe-se, entrega-se, comunga conflituoso com as divas mistificadas, que páginas ardendo de papel glorificam.
Fica o palco da sua imaginação, eternamente vontades da alma, cenário e frustração.
Eternamente, fica...
O poeta.

Paulo Themudo
 
"Os Olhos Que Dormiam"

“Por Ti...”

 
Tão cego...

O que me comove são os segundos
Passam sem travões, o relógio oculto,
Como a minha vida...

Pareço uma miragem, luz, passagem,
Alma passeia os versos, sinto,
Como desejei outra paragem
Que relógio oculto me engana.

Tão só...

Absorvo a confusão, respiro, solidão...

Sou fruto de quê?

Pareço... Uma coisa, nada, escura,
A sala, as cortinas beijam o vento,
O meu amor, ausente,
A lua quebra os ponteiros
Presente... Anseios, medos e receios.

Purificação do meu ser
As águas, Anjo, guardas,
Baptizado, bebido de estrelas
Creio em mim... Sim.

Imito-me de luz,
Sim, com os olhos cerrados
Só vejo luz, minha cruz,
Fazer correr os ponteiros, acorrentados.

A cela escura
O meu vazio preenche
De...
De tudo ou nada
Esta alma...

Sente! Sente!

Sou fruto do quê?

Os pés... Os meus, onde estão?
As mãos... Minhas mãos, para onde vão?
Corpo... Este, meu...

Meu... Silêncio, resguardo,
Vestido de luz no luar abençoado.

Tanto mais...
Tanto!Tanto para dar.

Acordo,
Não... Esgoto-me,
Mergulhado em lágrimas
Não quero aos ponteiros do tempo,
Voltar.
Sou fruto do quê?

Amar... Sim, amar.

Paulo Themudo

www.themudo.blogspot.com
 
“Por Ti...”

"A Palavra e os Corpos!"

 
Brutal!...

Tecido humano, novelo de sangue, coração triunfante, namoriscando a natureza entediante.

Animal!...

Instinto, sôfrego, sentimento de pedra, lugar de sonos profundos, grão tecendo com novelos de vento, nova armadura.

Soldado! …

Implacável, ser vivido desfruta, sabor de um fruto, pútrido só por si furtando as lágrimas desta natureza.
Ser da chuva, as correntes espirituais abraçam, luvas negras são mãos que estilhaçam, a minha guerra!

A minha guerra!
São as palavras...

Sinto-me ir, devastando tudo à minha volta, cumpri o silêncio, fecundei o pensamento entornando nas mãos de pedra a erosão do vento.

Sentimentos...
Tenho tantos!
Sou construído de tantos!

Tenho para mim, egoísta, passos irmãos, consumados, extasiados no tempo.
Irmãos de alma... Feitos de palavras.

Palavras! …

Brutalmente maltratadas, inconscientes, assinadas! As minhas palavras feitas de tantas moradas.
O edifício sou eu, ao cimo, nuvens de pó e desatino, minha tortura, olhar os dedos, não ter pintura, observar orvalhos da natureza, caindo, sepultando as terras removidas, meu silêncio, minhas palavras! Meu incenso!

Os olhos!
Emolduram certo momento, choro ecoa as paredes do universo, espaço encantado e sereno, são essas mãos onde acordo...

Mãe.

Lá longe, sangue corre nas veias, é o íntimo da poesia conquistado, alma segura cai sangrando, o último beijo foi meu pecado.

Guerra! Meu pai... Nasci!

Será que sabendo, será que implacavelmente me contendo, te entrego... Me dou e não recebo, não me nego.

Amo! Amo! Amo tanto! ultrapassando todos os limites do sentimento.
São as palavras... São as palavras!

Bestas!

Medonhas, enfarte, miocárdio sufocando, é velha gente!
Por falta de palavras! Por falta de palavras, vai-se só e indiferente...

Os velhos!
São como crianças, pedintes de sorrisos e lembranças.
As crianças! …
As crianças são palavra, na boca dos velhos!
São vida no início da vida, neste tempo que lâmina golpeia sem desdenho, onde não há nada... Nem mesmo palavras.

Estou cansado! Estou farto!
Lastimo minha última morada, que foi céu aberto, sorri com esplendor, a foice da solidão estanca-me o sangue, a alma percorre todos os cantos, sou serpente maligna saboreando de um corpo...
Pecado! Humano! Pecado!...

Bela donzela, fica-me o nome, o fruto amargo como fel dá-me desespero.
Ouçam-me os céus, ou algo mais poderoso e infinito...

Cortaram-me a língua!
As mãos trémulas, elevam-se gracejando, olhos cegos em pose segura, suplicam...
Despedem-se...
Estão as portas do universo cerradas, almas viajantes sem moradas, as estrelas são as soberanas do novo mundo!

Palavras!...
Só mesmo um Deus as poderia derrotar!

Estou cansado!
Farto de ser uma besta! Animal! Brutal! Soldado! De ser Palavra!... Um sonho…

Um sonho bom, ou um sonho mau.

Paulo Themudo
www.themudo.blogspot.com
www.kapacidade.no.sapo.pt
 
"A Palavra e os Corpos!"

"Não Fui Além de Mim Nem do Tempo"

 
Fatal momento
Será distante, casualmente eu,
Não passarei de um pensamento.

Fechado na noite
Olhos de vidro respiram chuva,
Brilho de Inverno,
Nuvem suja de pó,
Qual alma serena de perder sem dó.

Fatal momento
Das portas abertas
Das cercas da minha guerra
Despedida terna, amada flor
As tuas mãos são névoa.

Desiquilibrado o dia
Da terra para onde parto
Ausenta-se nua e fria
A alma insistida
Com que me vestia.

Queria não parar de correr...

Fatal momento
Entorna-me o beijo, desalento,
Vâ esperança, ser espírito livre
A vaguear o teu pensamento
Sem asas feridas, voar o tempo.

Um tempo que não passa.

Designado a não ser nada
Sem olhos, chama viva e clara,
Coração embala distâncias
Da arte não sou mais nada
Deixo ao teu critério, esperanças.

Fatal momento
Experimenta-me do silêncio
Contendo
Luz da vela onde te respiro
Suor do corpo onde me abrigo.

Queria não parar de te ver...

E nunca desistindo
Afogando o pensamento triste
Acordada a alma cansada
Estou convencido, respiro,
Deitado a teus pés
Sinto-me a alma mais amada.

Fatal momento
Deixa-me a pensar...
Quero estar aí.
Quero acordar.

Queria não parar de te ver.

Paulo Themudo in "Silêncio Transparente do Meu Corpo" - 2007
 
"Não Fui Além de Mim Nem do Tempo"

“ Depois das lágrimas… Que Bebi “

 
O chamamento, a queda solitária, bebo à saúde dos deuses, penetra-me as veias como sangue perdido, muralhas escaldantes enfeitiçadas de sol, são o meu corpo...

Transpira, respira fúnebre, visão das ruas, o copo da alma dá-me de beber sem caminho.

Rosto, decência, farto de ser mendigo, acordo não dormindo, tomar dos olhos senis um trago de vício, sou velho! Tenho poemas e lemas de criança infantis! Sou grito que respira a tua sede de sonhos, sou ser... Humano descobrindo, abrem-se cortinas, cego no passeio descalço, correm agarrando estrelas, os meus olhos...

Vivo a sombra das miragens, oásis planetário da noite embriaga-me, estas gentes que passam despem-me os jornais que em noite irrequieta enfeitam corpo de papel, palavra sem sabor, nas mãos dos Deuses, Clamo, Grito alto! O grito aflitivo e sufocante da sede desta poesia furtando.

Ficam sombras, oferenda, coração humano, de gente humana... Gigante! Do tamanho do grito! Desespero, não ser mais gente.

Agora o sabor é insípido, da cor das lágrimas transparentes, decorando vagas de mar incandescentes que são os olhos cegos balançando nos braços efervescentes, do sol...

Estou velho! Ouçam! Estou velho! Tenho medos! Tenho sed... Sim, como de um deserto se tratasse, tenho tanta sede!

Minúsculo raio de chuva namora a singela nuvem que passa desamparada despindo os meus olhos.
O vidro opaco, projecta imagens, vivências em mesa cheia, do líquido, vertem as mãos transpiradas a última réstia de grito.

Perdoem-me... Perdoem-me os Deuses se não me contive. Mas quis... Quis encharcar a alma com sonhos embriagados de pesadelos, quis ser louco, desenfreado mastigar as correntes do vento, namorar o ar refrescante, nadar a vaga de mar, ilusão...

Solidão a idade dos tempos me permite, dizer assim, que sim... Que nasço no dia em que morri. Cheio de sede! Cheio de medo! Cheio de frio!
O pedaço de Jornal noticia-me, a necrologia, acredito agora, sim, seriamente que bebi em demasia da poesia dos sonhos, para deixar de estar, aqui...

Paulo Themudo
 
“ Depois das lágrimas… Que Bebi “

“Não Quero Sair Daí...”

 
Os ramos dos teus braços
Perfumados de jasmim
Oxigénio, incenso,
Fragmento, impulsivo, de mim.

Lábios mornos, calor, humidade
Dos teus olhos
Preso nos teus galhos
Desespero, evaporo-me, ansiedade.
Abrem as portas pesadas
Maré enraivecida viola a mão inchada
Barco sem velas, evito,
Morada, de mim, vai-se, trovoada.

Os ramos dos teus braços
Raízes das pernas,
Devoro-te, mastigo-te, esfomeado
De ti, deixo-me, dei... Dei-me,
Carícias, sentimentos, frases eternas.

Olho: Ou antes, observo
Atento ao medo e ao inferno
Anjo de pó evita o sol
As mãos castigadas, vazias, do Inverno.

Acabou: digo antes, durou!
Verso cego bebe da humidade
Dos lábios escarlates
Embriagada, esta alma, saudades...

Os ramos dos teus braços
O fruto do teu sexo
As mãos embalas, encontras
Debaixo de mim a razão do tempo
Nada mais faz sentido ou tem nexo.

Apalpo: Digo, ausculto
Delineando as palavras
Teu coração, pele angélica,
Pó à terra, foste, não vi
Onde estavas.

Abrem os portões cinzentos
Casa humilde, ao longe, luz
Paraíso dos homens,
Não para mim, o teu corpo reluz,
Não: Claro que não! Não sou Santo.

Acabou: digo, acabou
Onde começou, olhos vidrados,
Os ramos dos teus braços
Vivem, deixam-me, esperançados.

Paulo Themudo

www.themudo.blogspot.com
www.kapacidade.no.sapo.pt
 
“Não Quero Sair Daí...”

"Sou Sombra..."

 
O rosto é agora silêncio
Infinito no meu grito,
Revolvem-se lugares de palavras
Destino, terra molhada, fico…

Desejo viola as mãos
Devaneio, ficção, olhos
Que beijei, interditos
Viajei, rebusquei infinito.

Dás-me os ossos,
Carne pútrida no silêncio deserto
Que é a tua alma
Observo-te, pedinte, mais perto…

Poeta, sigla humana compromete,
Palavra suja mistura
Paisagem, cores desnudas
Lábios húmidos, formosura.

Mais perto, alimentam-se,
A morte incerta rodeia
Namoram o vento, é tempo
Que me traz mesmo que não creia.

Religião… Mortal levanta as mãos,
Sensação consome silêncios,
Afectos, palavras dominadas,
Corpo, esbelto, sensações.

Os dentes mastigam
Almas, sombras distintas,
Reflecte a minha imagem
A palidez do espelho inerte.

Inocente, nascituro, dividido
O meu coração, fruto, de mim
Sol, definitivo, expulsa
Rosas, espinhos, cravados, é o fim…

Abraço, falésia é o corpo
Entrega-se, voluptuoso, preces,
A comunhão da dor, silêncio,
As garras do dia, são agrestes.

Alma, fantasma, ser… Humano.

O pequeno suspiro,
Alívio, olhos abertos,
Cercado de mundo,
Bebo o vento, rumo, lugares incertos.

Bebo o corpo,
Amo incontestavelmente
Os braços do mar
Que me dão alimento.

Sou a pequena embarcação
Que não leva a lado algum
Sou sentimento viajante
A dar… Tudo!... Tudo de mim.

As mãos da viagem,
Levam-te daqui…

Nunca mais… Nunca mais te vi.

Paulo Themudo
 
"Sou Sombra..."

“ H “

 
Sou um homem…
Um homem! Que escreve sem medos
Inspirado, raízes de uma alma,
Penetrando em mim
Violando cada pequeno espaço
Do meu ser.

Martírio…
Não! Sou Homem!
Exposto, tabus, não…
Sou homem inerte
O cérebro contempla
Enquanto a mão se diverte
Abafando a massa cinzenta.

Sou homem!
Um homem! Que escreve sem rodeios
Atirado, lá do alto,
Na velocidade da bala
As palavras prosperam
Sou homem! Do meu corpo se apoderam.

Não vou ser complicado…

Vou ser homem!
Vou ser este homem.

Paulo Themudo
 
“ H “

"Medos Inocentes"

 
De tal forma me senti invadido, por tudo e por nada, ser, meu testemunho são palavras desfasadas, contexto de vida desamparado nos versos esgotados que o mítico silêncio derrota.
As estradas são feiticeiras, invertem-se, paisagens são crianças nuas de esperança, vi-me, de negro semeando a calçada.
A foice da morte, degola-me o rosto da palavra, era medo, tudo, era medo, nada.
De tal forma me surpreendo agora, o mundo, o fim do mundo, como me custa, como me dói.
Pensava que era um herói, fictícia seria apenas a palavra a testemunhar, quem sou, fui, não vou daqui implorar ao céu, reino das minhas veias, são fantasias iludidas crescendo, fazem de mim, vestígio, sombra, louco padecendo, humidade nas janelas do meu mundo, é chuva que chora chamando por mim, sem demora a torre ao alto projecta sinais, embarcações dos meus sentimentos, amores, ódios e raivas, fulminam no meu corpo, as palavras ausentes.
Uma maré cheia de corpo, a alma pedinte silencia agora o resto de caminho, paisagem personifica a idade do mundo, sou ser que caminha, inundando as vozes cruéis com destino.

Tenho medo! Tenho dor!
Tenho uma vontade de sair, desistir, acabar, fechar os olhos, dormir…
Não acordar.

De tal forma me invadiram as pessoas, com tantos gestos, mímica descalça-me, mãos desesperadas de verso, tenho sentimentos loucos!
Sou no entanto, a alma mais pedinte, um ser desatinado surripiando palavras à boca da lua, beijando seu lábios, ninfa nua, sou feitiço nessas mãos que cobardia indesejada me deixa à deriva, à procura…

Não fosse feito de gelo, calor que queima, sou morte e vida, o reino das tuas mãos é silêncio que me obriga.
A ternura assombrou, meiguice, veludo teu corpo transpirado, eu choro ao canto da palavra que me hão roubado.
Não será em vão que esculpo os meus medos, não será desmedida esta ausência do nada, serei fortuna nos olhos, voz que agita o silêncio perturbador da madrugada.

Deixem-me! Larguem-me!

Deixem-me ser fantasma do meu coração, deixem-me ser lágrima tecida de ilusão, deixem-me ser o caminho, a vida, o momento, a pintura desfalecendo sem emoção.
Não fosse feito de tudo e nada, não fosse sucumbido pela trovoada, não fosse eu, humano!
Não fosse entrega desesperada, deste tempo que naufraga, nas veias de sangue, que são nada menos, que vontade amarga de verso numa loucura plagiada.

Perdoem-me! Perdoem a criança!

Levem-lhe o que não viu, entreguem-lhe o que não fui…

Sorriam! Sorriam!

Criança corre o prado dos seus sonhos, acorda sem ver nada, seus pesadelos são meus medonhos.

Não ter pai não ter mãe, não ter nada!...

Venham!

Socorram o olhar que castiga a alma, ouçam a palavra de esperança, da criança que navega este meu corpo, numa crença monumental, num reinado virtual, minha vida…
Vontades rítmicas de ser, pousadas de velhice, caminhos gastos, naufrágios, demência, pecado, ter nascido criança….

Não! Deixem-me ser quem sou! Deixem-me ser criança!

Deixem-me! Que um dia, também eu, me vou…

Daqui para onde? Que lugar acolhe quem foge tão repentinamente de um silêncio povoado de vento, que se move, levando o corpo, acariciando as mãos que pedem, mérito, não fui mais que alguém, desistindo prontamente, sucumbindo nas mãos sonhadoras de alguém.

Vibro!

Passagens de um tempo, são filmes, criei, emoldurei nas vozes minhas, nas palavras que acarinhas, encarcerei para sempre, a inocência, o medo, aventura, eu…
Sou um conquistador, rei de mim, senhor do meu corpo, lavo palavras nos rios, invento sensações, crio desafios, vou-me, foi destino.

Atacam-me com violência, rasgam-se páginas de vida, incendeiam-se misturas de tempo, sou, apaixonado ainda pela vida, evito, sou eternamente criança, sou deleite de um olhar, arrojado, principiando o caminho da vida.

Deixem-me ser criança!
Deixem-me libertar a criança que está em mim!
Deixem-me não ser mais que lembrança!

Deixem-me!

Deixem-me ser assim!

Paulo Themudo

www.paulothemudo.com
www.kapacidade.no.sapo.pt
 
"Medos Inocentes"

"Pecado dos Céus"

 
Pela primeira vez, nesta vida que levo, decansando nos ramos do céu, lugar paradísiaco, provo o fruto intenso do corpo... Comunguei com o anjo.
A estrela que cai, rumando a um horizonte impávido de luz, sereno e cobrindo o rosto que à minha sina impus.
Ideias de ser gente, ou igual ao lugar onde descando, eternamente, palavras o oxigénio transforma, gota de água descansa o mar insaciado, o sabor das lágrimas leva-me a qualquer lado.
Dividi o corpo com a alma, espírito fica sangrando, não mais... O anjo caminha este prado, paisagem do céu manipula o espaço, de todas as esferas que vi, escuridão e luminosidade, fica-me este cenário inacabado, ser humano, pecado.
A porta abre-se pesada, rangendo, são os dentes cerrados abandonando o presente para reflectir novo mundo, o ser humano encarnado.
Pela primeira vez ouvi, ou senti, mãos dadas em contigência do tempo presente, o ser amou e odiou, a esfera de vidro o sol trespassa, bainha de espada guerreira, os corpos deitados, alegoria desta farsa.
Componho a peça, torneando as páginas que a paisagem deste livro encenam.
Surdo, não ouvi os sons, desesperado corro apressadamente, agarro o título deste livro, brasão da minha existência a descrever o mundo.
Sem distinção, realidade ou fantasia, surge na magnitude da luz que se deita, um ser imaculado, eterno, movimentando as asas conquistadas do céu, batalha da vida, deixamos de ser humanos abrigados na luz que um Deus nos deu.
Resta-me ficar, alimentando as vozes deste teatro no assombro das mãos que gritam, clamando por socorro.
Era o anjo... Partiu.

Fiquei.

Paulo Themudo
 
"Pecado dos Céus"

“O Preço da Alma”

 
Palavras…
Da varanda perdida do meu mundo, horizonte adormecido nestas mãos calmas que olhos de verão acordam.
Não tenho palavras caras! Não as conheço… A alma inflige um movimento fatal que mão de Deus desenha a traço fino, o rumo, horizonte padecido de sonho amarga a voz deste silêncio reinventa o meu esconderijo adormecido.
Dentro de mim vivem e morrem todos os dias, são desenhos de flores sem cor, sombras gigantes de medo estendem os tapetes vermelhos da minha realeza inadmissível.
Sangue nobre guarda as veias, palavras são nada ou mãos cheias, do pouco que a calçada oferece, meu alimento é o tempo.
Não tenho palavras caras! Tenho fantasias, castelos dominados por princesas, dragões lutando com os meus fantasmas, espelho absorve desta face pálida o que resta de ser tudo ou nada.
Acordo, sonâmbulo todos os dias, tropeçando, deambulando num copo de água que é a minha sede absorvida.
Sou criança, nasci agora, não vi nada, as garras desse vento debatem-se nas costas sofridas, o coração consome, alma gasta, palavras velhas, são estas, resultados de ilusão e mentira.
Tenho este sentimento, tenho esta fé em mim, nasci a acreditar que vivendo o sonho nada mais teria fim, mesmo nos dias em que acordo apático de mundo e de todos, tomo ainda o gosto de algumas palavras, esperançado que o livro que as mãos lavram com recados, tenha finalidade.
Não tenho palavras caras! Tenho as minhas, que são a face, que são o choro, que são silencio, que são verdades ou mentiras neste sonho assombrado onde me escondo.
Estico os braços, a varanda perfeita, voam no ar versos, são a minha vestimenta, de alma que se deita.
A varanda do meu mundo espelhos redundam, a paisagem, fantasia e sonho numa só imagem. Os meus gritos confundidos na brisa que passa, palavras…
Queimadas, carenciadas, são as minhas, não são devotas sensatas, muito menos caras!
Entretenho os dedos, jogando ao ar pensamentos, são crianças que correm desesperadas para a boca de um Deus, só meu!
São estradas que principiam sombreadas, estendidas nas mãos iluminadas de um qualquer anjo no percurso de umas escadas.
O céu suplica-me essas palavras, as que eu não dei…
As minhas palavras, não são palavras caras! Mas…
Talvez na pronúncia deste meu silêncio, a alma nobre dê sujeito ao sangue, estes olhos cansados de chorar, tão tristes de ver o mundo, sonham! Sim… Sonham!
Haverão sempre crianças nas minhas palavras, haverá sempre caminhos nas estradas, mãos cansadas serão sempre alimentadas, nada faltará, jamais! Enquanto eu…
Enquanto eu tiver palavras, mesmo que não sejam as mais caras!

Paulo Themudo
 
“O Preço da Alma”

"Desses Lugares Nascem os Versos"

 
Bem longe de casa…
O sol trespassa-me o corpo e a sensação de um sono profundo, completo, na paz salgada do mar.
Olhar esse horizonte repleto de cristal, ondas abraçam as rochas, a praia habitada por gentes do mundo, agitadas e brincando, eu…
Na areia quente desenho mais um verso…
Esta paz devolve-me consciência, as palavras soltam-se dos dedos. Constroem-se habitações de gentes, inventam-se murmúrios de latentes, a calçada transeunte alvoraça-me com desejo.
Dispo o verso, como quem acaricia a formosura de um corpo, dispo a mulher, o sol confunde a luz, incita esta brisa a dar lugar à palavra.
As minhas palavras.
Chuva, quente e tropical, onda de mar madura, o meu corpo enfeitado, da alma viajante, carícias e ternura.
As noites são de festa, movimento, as gentes dançando nas calçadas, um copo de sol as estrelas oferendam, uma paz eleita no meu coração, de lá se vai…
Destes dedos, qual varinha de condão, expulsam-se versos, constroem-se moradas, recordações finitas do que é viajar novo mundo.
Palavras, acompanham-me, o corpo vibra, o corpo estremece consumindo da beleza desta planície.
O mar abraça o povo que sorri, as peles bronzeadas guardam sombreados de doçura, nas mãos da paz ventos eufóricos são poesias, palavras entoadas, descubro neste corpo viajante o livro da aventura, inventam-se e cantam-se versos, nus, corpos, amor e aventura.
Bem longe de casa…
A imensidão do sol cobre o corpo nu, quase dói não ter mais tempo para ocupar esta casa, que verdade feliz me atravessa a alma.
Escrevi… Escrevi aqui, um pouco das doçuras.
Troquei carícias com a chuva, quente e tropical onda de mar madura, o meu corpo enfeitado desta alma viajante, carícias e ternura.
Agora, aqui sozinho, observo a chuva no caminho, vá para onde vá, onde quer que esteja…
As emoções recordarei, eternamente, nos versos feitos de sol que criei.

Paulo Themudo
www.themudo.blogspot.com
www.kapacidade.no.sapo.pt
 
"Desses Lugares Nascem os Versos"

“Os Olhos São Siameses das Mãos”

 
Minha nova fronteira, este sonho que não me dá paz.
As aventuras que criei logo se deixam evadir por recados, a minha maior loucura nunca olhar para o lado, a porta entreaberta deixa-me o rosto enamorado.
Sou desatento às tuas danças, o sangue quente penetras, seduzida nas mãos escravas, do teu corpo, mãos ternas.

Real seria olhar sem ver, da nudez do teu corpo mergulhar em ti e desaparecer.
Falo distraído, consumido na luz que vibra no sangue do vento, estrada lamacenta, deito-me sereno, o corpo evade-se, a eterna morada, meu sustento…

Os olhos são siameses das mãos, o sexo devora sem olhar a meios os pecados que navegam os teus seios, a paisagem que madruga os teus sonhos.
Contornos corporais, lapidados com estes olhos, diamantes puros e bravos, são furacão que te inunda com luz, jóia perpétua, a palavra amante.
Sensualidade, fugaz dos lábios, respiro fantasias, ilusão acordar ainda dia, olhar através das cortinas e só restarem sombras, para culminar insatisfação do tanto que padecia.
Sou sentimento escorrendo os teus cabelos, embalo os meus lábios nas linhas curvas do corpo, salivando por um sentimento.
Sou homem enlouquecido, no calor desses braços, vibra, árvore feita mulher, o dia será eterno, quase perfeito, enquanto os olhos se fecham me vejo deitado saboreando a beleza do teu peito.
Os olhos são diamantes brutos, acção, o corpo movimenta-se brusco, gemidos no ar ofuscam o brilho das estrelas, noite escura devolve à luz, imperfeições e impotências da minha fraqueza.

Os olhos são siameses das mãos, que comem, devoram insaciados, clímax o teu corpo deitado, aguardando, desejo fortuito, eu, teu amado.

Talvez agora, tudo tenha novo sentido, ou não, seja sonho onde venho deambulando adormecido, seja prosa, escrevi nas tuas costas o diário dos dias sós de Inverno.

Gostaste?

Pelo menos… Amaste?

Evito palavras estranhas, porque na sua qualidade são tamanhas, monstruosas quando se evadem das fontes mais ricas destas entranhas.
Evito dizer o que senti, esgotado, o pó circunda o quarto, respiro ofegante, abro as mãos designadas, exausto o corpo permanece inerte, aos pés da cama observo o chão, o espelho pálido concentra em si imagem, de fecundação, pornografia da minha humana condição.
De fundo uma melodia atravessa as paredes, vibram as portas, nas mãos segredos, a janela aberta deixa absorver o que resta dos cheiros.

Evito comentários, desaguam palavras sem significado, estranho o dia e a noite, são lugares desabitados, que mãos laboram o texto errado, da condição presente, inércia, o corpo saboreando o olhar deitado.

Quero ficar, sem medo, quero acreditar sem rodeios, quero nascer no teu ventre, sentir dos teus olhos o abraço eloquente.
Evito estar presente… Eu… Eu e as minhas paredes, choram inundando todo o espaço.
Palavras do meu tempo desaparecerão eternamente, deste precioso momento não restar mais nada… Senão…
Tudo!
Estando eu pouco demente, evitado e rejeitado para sempre…
Lembra-te…
Os olhos são siameses das mãos. Também amam, Também namoram, também te possuem, agarram e devoram.

Mesmo que…
Mesmo que sejas apenas um sonho a viajar o mar agitado que é sangue que ferve nas minhas veias.

Não te preocupes…
Eu volto.
Eu sempre volto.

Paulo Themudo
www.themudo.blogspot.com
www.kapacidade.no.sapo.pt
 
“Os Olhos São Siameses das Mãos”