Poemas, frases e mensagens de MariaJoséLimeira

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de MariaJoséLimeira

Folhetins do Adeus

 
O PIOR JÁ PASSOU
Maria José Limeira

O pior do adeus
é quando a gente fecha
portas, janelas
e perscruta o escuro
do quarto,
batendo a cabeça
nas paredes,
com medo de morrer...
...........

PARTILHA
Maria José Limeira

Agora que chegou a hora
da separação,
leve suas cuecas,
seu bicho de estimação,
seus livros,
seus poemas de quinta categoria.
Leve também seu umbigo.

Deixe minhas calcinhas sujas
em cima da cama.

Antes de sair,
acenda a luz.
Eu detesto
chorar no escuro.
...........

RESSACA
Maria José Limeira

Depois que você se despediu,
contei as moedas que restavam
em minha bolsa.
Não eram suficientes
para a comemoração
no bar da esquina
.............

TRAMBOLHO
Maria José Limeira

Tem gente
que ainda que fique de pé
plantado num canto da casa,
sem dizer nada,
mesmo assim incomoda.
..........

TRAIÇÃO
Maria José Limeira

O pior adeus
é aquele que vem
como faca enterrada
no meio das costas...
...........

PESARES
Maria José Limeira

Se não fosse a separação.
Se não fosse o adeus,
não sabemos o que seria
da saudade...
...........

ARQUITETURA DE SONHOS
Maria José Limeira

Construímos castelos
de areia
onde a maré cheia
vai morar...
...........

PESADELO DIÁRIO
Maria José Limeira

Quem projeta futuro
pisando em cima de cadáveres
anda cercado por seguranças armados,
em carro blindado.
Usa colete à prova de balas.
 
Folhetins do Adeus

Carregando pedras & flores

 
CARREGANDO PEDRAS & FLORES
Maria José Limeira

Acordo pedras lodosas
e flores desidratadas.
Arroto águas gasosas
e casas mal-assombradas.
As pedras batem em vidraças.
Flores morrem enforcadas.
No curso do rio, graças.
Cinzas no céu, madrugadas.

Transformo seres em loucos.
Chuto seixos do caminho.
Falo pra ouvidos moucos.
Visto asas de arminho.
Seres são absolutos.
Pedras são dificuldades.
Cabeças são cocurutos
e lembranças são saudades.

Carrego fardos às costas.
Tomo banho em rio-mar.
Só digo aquilo que gostas.
Mais não vou acrescentar.
Os rios, águas passadas.
Mar se espreguiça na areia.
Conversa fora, nonadas.
Perna, pé, sapato e meia.

Os meus carinhos são flores.
Meus rios são descaminhos.
Só morro se for de amores
ao canto dos passarinhos
Os versos, mais que Poesia,
condizem com amor e dor.
Densa noite ou claro dia:
que seja o mais que for.
 
Carregando pedras & flores

Sessão coruja

 
SESSÃO CORUJA
Maria José Limeira

Noctívaga!
Vagueias no espaço livre
dos trens,
entre sussurros,
melancolias
e gemidos
que chacinam
náufragos e noites.

Pássara nocturna.
Irmã do bacurau.
Viajas dispersa na escuridão,
entre loucos,
devassos
e esquecidos
que cauterizam sinas,
e cinzas em carvão.
 
Sessão coruja

Livros, livros & mais livros

 
LIVROS, LIVROS & MAIS LIVROS
Maria José Limeira

Um dos maiores benefícios da Internet é a possibilidade de fazer amizades, usufruindo de todas as alegrias que um bom amigo nos dá.
Sou particularmente feliz neste ponto. Consegui amigos incríveis na Internet. Amizades que se solidificam à medida que o tempo passa. Uns, zangados e vociferantes. Alguns, deprimidos e problemáticos. Muitos, alegres e extrovertidos.
Amigos, amigos & amigos, que vão e retornam, na mesma velocidade. Mas, sempre presentes.
O que nos une e nos torna tão próximos, apesar da distância física que nos separa, é aquela coisa linda, razão primeira de nossas vidas, que dá sentido ao nosso caos: a Poesia.
Entre Poesia e Livro, não existe distância.
Essas pessoas, que trago bem guardadinhas no meu coração, querem ouvir minha opinião sobre suas produções literárias. Pedem-me prefácios dos primeiros livros que pretendem publicar. Querem que eu analise seus textos. Alegram-se quando eu me encosto num poema fazendo parceria. Agradecem-me elogios. Escrevem textos dedicando-os a mim, transformando minha inquietante pessoa em feliz Musa Inspiradora. Quando cito livros, digo livros aos montes, que me chegam via Internet e por Correio convencional, com humildes pedidos de análise crítica, que eu atendo na mesma hora. É sofrida a espera, para quem queimou as pestanas durante longas madrugadas para dar seu recado ao mundo, e aguarda respostas.
Independente disto, gosto de escrever sobre os textos que me emocionam. Sou uma leitora exigente e zangada.
Mas, acho que todo texto literário tem algo de bom, que nos sensibiliza e emociona. O que é bom para mim pode não ser para outros. E vice-versa. Dentro desse espírito de amizade e companheirismo exercitado nas listas de Discussão Literária, já analisei textos dos poetas Edison Veiga Júnior, Carlos Eduardo B. Costa (Carlão), José P. di Cavalcanti, José Félix, Gabriel Ribeiro, Osvaldo Luiz Pastorelli, Antônio Adriano de Medeiros, Dalva Lynch, Antoniel Campos, entre outros.
Também fiz apresentação dos livros de Arnaldo Sisson, Osvaldo Martins, Fausto Rodrigues Valle, Eric Ponty, Haroldo P. Barboza, Ana Merij, Joaquim Evonio, José Antônio Gonçalves e Everardo Torres (este, residente no México, publicou seu livro em Editora na Espanha).
Em minha caixa de correio convencional, não param de chegar livros, novinhos, com cheiro de tinta, que é o que mais gosto neste mundo, com dedicatórias em manuscrito, e os autores me pedindo opinião.
Em minha caixa de mails, chovem textos de teses de Doutorado, antologias, primeiros poemas e crônicas, cujos autores me pedem serviços de revisão e coordenação editorial, nos quais me profissionalizei na vida real.
Depois de me libertar de empregadores e empregados detestáveis e insuportáveis (abomino uns e outros), posso, finalmente, dedicar-me à arte literária em toda a sua plenitude, sem obedecer a exigências de censuras e comissões de inquisições.
Nisto, considero-me privilegiada. A arte verdadeira não tem limites, nem se curva a regras.
Sou uma pessoa orgulhosa, seletiva nas amizades. Dou mais valor à qualidade do que à quantidade.
Enganei-me, poucas vezes, com lobos vestidos de cordeiros. Noutras oportunidades, descobri, tarde demais, que pessoas de fala mansa e palavras bonitas eram, na realidade, os chamados tarados do parque, famosos motoboys, cobras a quem ajudei e, na primeira oportunidade, tentaram me morder, na tentativa de me destruir. Tenho como norma ser ferida apenas uma vez, não dando oportunidade para me ferirem de novo. Enterrei essas pessoas bem enterradas, e Deus tome conta delas, e de mim também.
Por isso que dou o maior valor aos amigos verdadeiros, poetas do meu coração, que me mandam livros pelo correio e besos de luna e chocomilk pela internet. Sem falar nas inúmeras amizades que fiz em minha cidade e nos lugares por onde andei.
Que venham, pois, mais livros e amigos.
E beijos, muitos mais!

(Do livro “Crônicas do amanhecer”)
 
Livros, livros & mais livros

Sessão nostalgia

 
SESSÃO NOSTALGIA
Maria José Limeira

Em manifestos coloridos,
bandeiras desfraldadas diziam
“Amor eu te amo, te amo tanto”.
No copo, Cuba era libre,
CocaCola era invenção.
Nos filmes, ai dos bandidos.

É que, naquele tempo,
ainda existia coração.
 
Sessão nostalgia

Folhetins de Sol & Lua

 
FOLHETINS DE SOL & LUA
Maria José Limeira

O santo do meu altar
tinha um sexo-petisco.
Ouvia pássaro cantar.
O seu nome era Francisco.
Filho do latifúndio,
despojou-se dos seus bens.
Fez discursos no gerúndio.
Mudou de roupa e de gens.

Ao invés de ódio infindo,
tomou amor para si.
Do feio fez tudo lindo.
Cantou música em mi.
Chamou o sol de irmão,
e a lua, de doce dama.
O bater do coração
dá as horas de quem ama.

E a comunhão foi tanta,
com a terra e o ser vivente,
que hoje quando se canta
sua oração comovente,
a Natureza em respeito
levanta as mãos para o céu,
e o que não tem mais jeito
muda o amargo em mel.

Soldado, diz a soldado:
baixa as armas, vem cantar.
Todo ser espoliado
um dia vai se juntar.
A bala que atinge cega.
Dor que esmaga vai passar.
Todo sofrimento é brega.
Toda música tem luar.

Enquanto se abrirem flores,
houver pássaro no infinito,
e alguém morrer de amores,
o meu santo vai ser mito.
Pois quem tem sol por amigo
e lua, por ser amado,
não ficará sem abrigo,
se esquentará do meu lado.

Soldado, diz ao comparsa:
transforma em rosa agora
a bala que mata e caça.
Joga indumentária fora.
O que Francisco falou
sobre esquecer e perdoar
já foi Outro quem ensinou.
E é tão fácil voar!...
 
Folhetins de Sol & Lua

Abaixo os sutiãs & Outras coisinhas mais

 
MOMENTO EXATO
Maria José Limeira

Quando o leão faz grrrr!,
a onça se solta
na hora de beber água,
e a cobra arma o bote,
é tempo de
levantar acampamento.

NO RESTAURANTE
Maria José Limeira

Quando entrei
no restaurante,
vi no mesmo instante
a placa:
É proibido fumar,
dançar,
namorar,
levantar a saia,
baixar as calças,
e tocar violão.

Quanto preconceito!
Será que esse povo
não sabe ainda
o que é democracia?

ABAIXO OS SUTIÃS!
Maria José Limeira

Quando saí em passeata
agitando sutiãs
nas mãos,
e gritando palavras
de ordem,
me prenderam,
me vestiram numa camisa
de força
e cobriram as coisas
que eu mais prezava:
meus seios.

É triste ser pioneira.

MEDO DO INFERNO
Maria José Limeira

Quando você me deixou,
no meio da tarde ensolarada,
com os carros buzinando,
na rua movimentada,
coberta de fuligem
e desgraça, pensei:
-Morri e estou no inferno!
 
Abaixo os sutiãs & Outras coisinhas mais

Cinema: Philadelphia

 
PHILADELPHIA
Um filme que aborda os preconceitos contra aidéticos

(Maria José Limeira)

Brihante e promissor advogado, funcionário de um tradicional escritório da Filadélfia (EUA), é demitido quando os patrões descobrem que ele é gay e vitima da Aids. Começa, então uma longa batalha judicial para obrigar a empresa a pagar milionária indenização ao funcionário prejudicado, por danos morais, preconceito e discriminação. O advogado de defesa da vítima é um negro que, durante o desenrolar do processo, também é obrigado a encarar seus próprios medos e preconceitos. Destaque para o desempenho de Tom Hanks no papel do advogado gay, para o ator Denzel Washington no papel do advogado de defesa, e ainda para Antonio Banderas no papel de parceiro sexual de Hanks.
Por sua atuação nesse filme, o ator Tom Hanks ganhou o Oscar.
O filme é um verdadeiro hino de louvor à defesa dos Direitos Humanos em todos os níveis.
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Informações Técnicas
Título no Brasil: Filadélfia
Título Original: Philadelphia
País de Origem: EUA
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 125 minutos
Ano de Lançamento: 1993
Site Oficial:
Estúdio/Distrib.: Columbia TriStar Pictures
Direção: Jonathan Demme

Elenco
Tom Hanks .... Andrew Beckett
Denzel Washington .... Joe Miller
Roberta Maxwell .... Juíza Tate
Karen Finley .... Dra. Gillman
Mark Sorensen Jr. .... Paciente da clínica
Jeffrey Williamson .... Tyrone
Charles Glenn .... Kenneth Killcoyne
Ron Vawter .... Bob Seidman
Anna Deavere Smith .... Anthea Burton
Stephanie Roth .... Rachel Smilow
Lisa Talerico .... Shelby
Joanne Woodward .... Sarah Beckett
Jason Robards .... Charles Wheeler
Robert Ridgely .... Walter Kenton
Antonio Banderas .... Miguel Alvarez
Buzz Kilman
 
Cinema: Philadelphia

Cinema: Sweeney Todd - O barbeiro demoníaco da rua Fleet

 
Sweeney Todd - O barbeiro demoníaco da rua Fleet
(Ou a vingança é um prato que se come frio)

Maria José Limeira

Excelente filme em estilo Ópera, com músicas muito bonitas, que narra a história de um barbeiro famoso acusado de crime que não cometeu por um juiz corrupto, que depois fica com a mulher dele e com a filha de tenra idade. Quando a mulher do barbeiro é dada como morta, sem aceitar a situação, o juiz adota a criança e quando esta completa quinze anos, ele propõe casar-se com ela. Porém, ela está apaixonada por um jovem com quem planeja fugir. E aí o barbeiro acusado injustamente foge da prisão e chega à cidade para executar um plano mórbido de vingança contra o juiz. Será que conseguirá? A atuação de Johnny Depp como o barbeiro endiabrado está divina. No seu coração, um desejo de vingança. Na mão, uma navalha afiada. O cenário é a Londres “noir” do Século XIX. O filme se baseia numa peça mundialmente famosa, de Stephen Sondheim.

Ficha técnica:
Gênero Musical
Atores Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Timothy Spall, Sacha Baron Cohen, Jamie Campbell Bower, Edward Sanders, Laura Michelle Kelly, Jayne Wisener,
Direção Tim Burton,
Ano de produção 2007
País de produção Estados Unidos,
Duração 116 min.
Distribuição Warner Home Video

http://www.2001video.com.br/detalhes_ ... tra_dvd.asp?produto=17085
 
Cinema: Sweeney Todd - O barbeiro demoníaco da rua Fleet

Folhetins tristes

 
FOLHETINS TRISTES
Maria José Limeira / Carlos Assis
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ORDEM E CONTRA-ORDEM
Maria José Limeira

Na ordem do Universo,
a palavra em primeiro lugar.
Em seguida, vem o homem.
A mulher não tem onde se sentar.
A direita do Deus-Pai
está sempre ocupada.

ORDEM E DESORDEM
(Carlos Assis)

No Caos verdadeiro
A luz vem primeiro
Em seguida vem a mulher
Ver a bagunça
Ela tem lugar por herança
No colo do Criador

EXCESSO DE ORDEM & POUCA OBEDIÊNCIA
Maria José Limeira

Na ordem natural
das coisas,
o que está adiante
não fica atrás.
Rei pressupõe vassalos.
Cada escravo tem seu preço.
Valores da vida humana
são banais...

FRUTO DO HOMEM
(Carlos Assis)

A natureza escolhe o forte
Sem amor nem sorte
A pancada fere
Deixa a carne obediente
E voz calada

PREOCUPAÇÃO
Maria José Limeira

Eu só queria saber
por que as pessoas
me usam
como bode expiatório.
Deve ser por causa
dessa minha cara
de virgem...

DESPREOCUPAÇÃO
(Carlos Assis)

Quando a pessoa não sabe, mente
E a chuva parece não saber
Mas a terra espera a semente
Antes do fruto nascer

RE-ENCARNAÇÃO
Maria José Limeira

O que nasce frutifica.
O que morre pode voltar.
Mas caroço de manga
não pode virar semente
de maracujá...

DENTRO DO CAIXÃO
(Carlos Assis)

Preparo a volta
Olhando uma vitrine
Escolho a cor
Enquanto o verme infame
Desce pela boca

LINHA OCUPADA
Maria José Limeira

Para quem
eu tentaria telefonar
se estivesse morrendo
de overdose?

LINHA CORTADA
(Carlos Assis)

O numero de Deus busquei
Na lista não encontrei
Para o CVV tentei ligar
Mas como sinal não havia
Palavrão falei

ARREPENDIMENTO DE ÚLTIMA HORA
Maria José Limeira

O que alguém deve fazer,
entre o chão e o ar,
depois que se joga
do décimo terceiro andar?

ABRINDO AS ASAS
(Carlos Assis)

Se flutua não é carne
Se afunda não é pluma
Faço uma oração leve
O chão se aproxima

DISCAGEM DIRETA À DISTÂNCIA
Maria José Limeira

Acontecem coisas
na madrugada.
Uma das mais irritantes
é que a Telemar resolve
fazer manutenção,
na rede telefônica,
justamente no momento
em que aquela pessoa
decide, finalmente,
dizer que me ama...

DDD
(Carlos Assis)

Mexo na papelada
Tento ficar sem sono
Esperando a madrugada
Para fazer um interurbano
Mas nunca sei o que falar
E para quem ligar

DISCAGEM DIRETA INTERNACIONAL
Maria José Limeira

Tentei me casar
com o noivo japonês.
Mas o fuso horário
não permitiu.
Enquanto lá era dia,
eu aqui dormia.
Desse jeito,
era impossível saber
se daríamos certo na cama...

VIA INTERNET
(Carlos Assis)

Reúno a força
Que nem sei de onde vem
Faço do olhar
Um punhal feroz
Vontade de atravessar seu peito
Rasgar sua carne
Ver o sangue nas mãos
E lhe dar um beijo

NEW YORK
Maria José Limeira

Lá do alto
do décimo-terceiro andar,
olhei para baixo.
Vi minha solidão passando
feliz da vida,
na Quinta Avenida.

FREGUESIA DO Ó
(Carlos Assis)

De manhã, a neblina
Cobre as antenas das casas,
As ruas sinuosas
E os eucaliptos do colégio
Nas sombras
Parecem gigantes
Esvoaçantes
Esperando o sol
 
Folhetins tristes

Folhetins da chuva

 
FOLHETINS DA CHUVA
Maria José Limeira

Olho grade da janela.
Contemplo mundo que passa.
Vejo cavalo sem sela
trotando à chuva que grassa.

Quem está fora ali fica.
Aqui dentro, sai fumaça.
Chuva forte alambica.
O que mais dói é desgraça.

Olhando assim pela grade,
não sou eu alma penada.
Prendi amor e saudade.
É cativa a madrugada.

Pingo de chuva escorre.
Céu cabe dentro da mão.
Passarinho está de porre
por amor que não lhe dão.

Olho tempo e vejo chuva.
Mundo está na prisão.
Talvez cela seja turva.
Não sei se cinza ou carvão.

Chuva respinga do céu.
Do lado de cá, o chão.
No meu dedo, frio anel.
Ao meu lado, solidão.
 
Folhetins da chuva

Cinema - Fala com ela (Habla con ella)

 
FALA COM ELA (HABLA COM ELLA)
Um filme de Pedro Almodóvar

Maria José Limeira

Nesse filme belíssimo, a alma feminina é vista através do amor profundo de dois homens que, inconformados com a morte cerebral de duas pacientes em hospital, conversam com elas, acreditando que assim as trarão de volta ao mundo dos vivos.
Cineasta do primeiro ao quinto, e até debaixo d´água, Almodóvar mantém nesse filme a linguagem cinematográfica da obra de arte por excelência, que faz dele um dos mais criativos diretores da atualidade. Seu foco, em sua obra, é justamente este: a mulher ser-humano, sob o ponto de vista da ternura masculina.
O filme vai num crescendo de dramaticidade, até alcançar os estertores, quando os personagens atingem os limites do desespero ao ponto em que não conseguem mais agüentar.
É quando a narração mais surpreende e arredonda com um final imprevisível.
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Ficha Técnica
Título Original: Hable con Ella
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 116 minutos
Ano de Lançamento (Espanha): 2002
Site Oficial: www.sonyclassics.com/talktoher
Estúdio: El Deseo S.A.
Distribuição: 20th Century Fox / Sony Pictures Classics / Warner Bros.
Direção: Pedro Almodóvar
Roteiro: Pedro Almodóvar
Produção: Agustín Almodóvar
Música: Alberto Iglesias
Fotografia: Javier Aguirresarobe
Desenho de Produção: Antxón Gómez
Direção de Arte: Antxón Gómez
Figurino: Sonia Grande
Edição: José Salcedo
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Conheçam o blog de Pedro Almodóvar:
http://www.pedroalmodovar.es/PAB_ES_Cap01.asp
 
Cinema - Fala com ela (Habla con ella)

Estações da alma

 
ESTAÇÕES DA ALMA
Maria José Limeira

Lobos, coiotes e mulheres rebeldes têm destinos iguais.
A História saqueou, queimou e destruiu os redutos escondidos da mulher, para que ela agradasse aos outros, esquecendo-se de si própria.
Para se encontrar de novo, a alma feminina tem que cavar-se e cantar sobre os escombros.
Mulher tem que ter coragem para enfrentar os predadores.
Meu ser se alimenta de trovões e relâmpagos.
Milharais, girassóis e plantas selvagens estalam e conversam comigo na minha trilha.
Os regatos me lavam.
Sou artista.
Meu lugar no mundo é vagar a esmo.
Depois que o sol se põe, converso com a Natureza e ouço o farfalhar.
Conto estórias que os adultos não podem ouvir.
Toda morte é repentina.
Borboletas voam no alto da minha cabeça.
Vagalumes são jóias da noite e brilham como pulseiras enfeitiçadas.
A pele tem vida própria.
Abro meu espaço em árvores, cavernas, bosques e gavetas de armários.
Sou ampla, e o céu é meu lugar.
Danço na floresta.
Cato meu lixo interior, onde está o melhor de mim.
A palavra escrita é meu verdadeiro lar.
A perda é tão profunda quanto a beleza.
Sou ruptura.
Não caibo dentro das regras.
São sete os oceanos do universo onde navego.
Existe luz no meu abismo.
Nunca esqueço os motivos que me fizeram nascer e por que continuo vivendo.
Jamais me calarei enquanto estiver ardendo.
O que regula o estado do corpo humano é o coração.
Quando inicio uma viagem, vou até o fim. Ainda que sofra.
A função criadora fertiliza a aridez.
Meu território é a matilha.
Minha linguagem é o sonho.
Saí de casa à procura de mim mesma e descobri, espantada, que o Eu mora dentro de mim.
Depois da noite e da treva, nasce a luz.
Sou fundo de poço, início dos tempos, lágrima, oceano e árvore.
Sou o verde no meio da neve, e clarão na paisagem dolorida da seca.
As histórias curam minhas dores.
A arte é feita de estações da alma.
Deixarei na terra um mapa detalhado de mim, para que outros encontrem o tesouro que me faz feliz.
Em cada fragmento de mim, existe a lembrança do todo.
O vento sopra no meu espírito.
Quando encontrei o sonho, meus ferimentos pararam de sangrar...
 
Estações da alma

Fim de noite

 
FIM DE NOITE
Maria José Limeira

Quando a noite
encerra
sua caminhada,
ouço passos
na calçada,
e me pergunto
(ou lhe respondo):
-Quem sofre
não está sozinho.
 
Fim de noite

Cyberespaço

 
CYBERESPAÇO - INTERESSE DE TODOS

MIAMI, EEUU (Librusa) - O escritor peruano Isaac Goldemberg disse que a Internet é uma ferramenta útil "porque oferece muitas possibilidades de comunicação", mas advertiu que não deixa de ser lamentável que também permita "uma produção excessiva de textos" de criação espontânea. Goldemberg, autor de "El nombre Del padre" e um dos escritores
latino-americanos mais destacados nos Estados Unidos, fez a afirmação em entrevista publicada na página web do Fórum Híbrido Literário http://www.geocities.com/hibrido_literario/index.html

"O ciberespaço me parece uma ferramenta útil porque oferece muitas possibilidades de
comunicação e acesso à informação. Sem sombra de dúvida, porém, e isto é lamentável, também permite uma produção excessiva de textos baseada na criação espontânea", disse Goldemberg à sua entrevistadora, Taty Hernández.
"Este é o tipo de literatura que o ciberespaço não deve fomentar porque a criação literária não é só catarse", acrescentou o escritor.
Advertiu, ainda, que "às vezes, a impressão que se tem é de que os espaços cibernéticos estão povoados, em sua maioria, por escritores aficcionados, que carecem de disciplina e dos conhecimentos necessários para superar este nível. E é por isso que a literatura que aparece no ciberespaço corre o risco de perder credibilidade".
Nascido no Peru, em 1945, Isaac Goldemberg é autor de títulos como "Hombre
de paso/Just Passing Through", "La vida al contado", "Cuerpo Del amor y Las cuentas y los inventários", "La vida a plazos de dom Jacob Lerner", "Tiempo al tiempo", y "Hotel América. Sua novela "El nombre del padre" foi lançada em dezembro de 2001, com o
selo Alfaguara.

Reprodução autorizada por Librusa Corp. Copyright
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O texto acima não é de minha autoria. Foi colhido numa lista de discussão literária em Língua Hispânica da qual faço parte. Trata-se de notícia pescada na imprensa internacional sobre o mau-uso do cyberespaço pelos poetas neófitos que espalham seus textos em todos os espaços literários da rede, sem nenhum critério. Esse mau-uso é incentivado por leitores que elogiam os tais textos como se fossem grandes achados, e também sem nenhum critério.
“Quando o elogio é muito grande, até Narciso desconfia”.

Conheçam o blog de nossa Oficina Literária:
http://oficina-blog.zip.net

Saludos.
Maria José Limeira.
 
Cyberespaço

Parceria: António Aleixo & Maria José Limeira

 
QUADRAS
António Aleixo & Maria José Limeira

Talvez paz no mundo houvesse
Embora tal não pareça,
Se o coração não estivesse
Tão distante da cabeça.
(António Aleixo)

Enquanto a Paz não vem,
a gente canta dobrado.
O amor é mais de cem
contra um só guarda armado.
(Maria José Limeira)

Depois de tanta desordem,
Depois de tam dura prova,
Deve vir a nova ordem,
Se vier a ordem nova
(António Aleixo)

A ordem agora é amar,
na mais feliz maratona.
Quem ama encontra o lar.
Quem não ama cai na lona.
(Maria José Limeira)

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.
(António Aleixo)

O que é bom está guardado.
O mal é bom jogar fora.
Quem é feliz dança o fado.
Quem dá adeus vai embora.
(Maria José Limeira)

Não é só na grande terra
Que os poetas cantam bem:
Os rouxinóis são da serra
E cantam como ninguém.
(António Aleixo)

Quem canta é passarinho.
Quem rima é bom poeta.
Roupa torta, desalinho
e finalidade, meta.
(Maria José Limeira).

Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado.
O ribeirinho não morre,
Vai correr por todo lado.
(António Aleixo)

Há os rios temporários
e as águas permanentes.
Há fusos que são horários.
Há animais que são gentes.
(Maria José Limeira)

Que o mundo está mal, dizemos
E vai de mal a pior;
E, afinal, nada fazemos
Para que ele seja melhor.
(António Aleixo)

Quem deseja a mudança
vai ter de alterar rotina.
Esperar somente cansa.
Tem que trocar a bobina.
(Maria José Limeira)
 
Parceria: António Aleixo & Maria José Limeira

Maus pensamentos & Outras sandices

 
NÃO FOSSE O TEMPO...
Maria José Limeira

Se os ponteiros
do relógio silenciassem,
exangues,
a dor que senti
quando te perdi
seria hoje futuro
congelado...

IN-JUSTIÇA
Maria José Limeira

A maior injustiça
que sofri na vida
foi esta:
Você conseguiu
me esquecer.
Eu, não.

POETA LOUCO
Maria José Limeira

A maior loucura
que pode atingir
um poeta
é pensar que é gênio.

ESTERCO
Maria José Limeira

O que mais dói
ao ver a pessoa morta,
dentro do ataúde,
é pensar
que quando a terra
lhe pesar,
o cheiro de esterco
de vaca
vai zoar...

SEGREDOS
Maria José Limeira

Não queiras saber
dos meus segredos.
Sou igual
a tantas outras.
Tenho pêlos no sexo,
as coxas grossas
e um coração
desse tamanho.

DIFICULDADES
Maria José Limeira

Parece fácil
alcançar teus lábios.
Mas, na verdade,
para ganhar teus beijos
terei que atravessar
o oceano Atlântico
a nado,
dar cambalhotas
no circo,
falar inglês,
francês e alemão,
na incerteza de um prêmio
que nem sei se vale a pena.

SINCERIDADE
Maria José Limeira

Toda criança
tem coragem
de dizer a verdade.
Por isto sofre
espancamento.

FALHAS & PALHAS
Maria José Limeira

Quem se esquece
de dar bom-dia
à manhã que nasce,
amanhece
e não anoitece.

PERGUNTAS SEM RESPOSTAS
Maria José Limeira

Poesia.
A que horas te acordaste?
Quanto te resta?
Por que tardas?
E quando te antecipas,
te atrasas?
Por que teu nome é Poesia,
quando deveriam chamar-te
Maria?

MAUS PENSAMENTOS
Maria José Limeira

Quando a vida estava ruim
(ruim mesmo!),
pensei em me suicidar.
Mas, em vez disso,
tomei chá de camomila.
Fui dormir.
 
Maus pensamentos & Outras sandices

Curtos & Circuitos

 
CURTOS & CIRCUITOS
Maria José Limeira

VÃ ESPERA
Maria José Limeira

Esperei você, de pé.
Esperei sentada.
Cansei-me de tudo.
Esperei deitada.
A cada buzina de carro,
na esquina,
um pulo no coração.

Esperei em vão.
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MOVIMENTO
Maria José Limeira

Lanço meu grito primário.
Não me escutas.
Minha voz bate calçadas
tropeça em meras escadas,
vence ruas,
joga-se ao mar,
gira em torno do nada.
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ÚLTIMO APELO
Maria José Limeira

Não te pedirei mais
do que aquilo
que já não podes me dar:
-Ama-me!
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CANÇÃO DE NINAR
Maria José Limeira

Essa tristeza vadia,
não tendo a quem recorrer,
encosta a cabeça
no meu ombro
e dorme.
Em pleno meio-dia.
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COMEÇO & FIM
Maria José Limeira

Em todo começo, flores.
Pelo meio, decepção.
O fim de tantos amores
só faz mal ao coração.
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MENTIRAS
Maria José Limeira

Dinheiro não traz
felicidade.
O amor é eterno.
Quem ama não mata.

São mentiras necessárias
à sobrevivência.
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PRÉ-VISÃO
Maria José Limeira

Não lamentes
a dor
que ainda vai
nascer.
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O QUE EU GOSTO
Maria José Limeira

Gosto de te ver chorando.
Só para ter o prazer
de, te abraçando,
te consolar.
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VIDRO DE PERFUME
Maria José Limeira

Ganhei um vidro de perfume
Toque de Amor.
Fui com o namorado
ao cinema.
Mas, quem aproveitou
o cheiro
foi outro cavalheiro
ao lado,
que não prestava atenção
ao filme.
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NO ESCURO DO CINEMA
Maria José Limeira

No escurinho da platéia,
tem pipoca, bombom, chiclete,
e mãos ansiosas
para pintar o sete.
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SUSPEITAS
Maria José Limeira

Tudo parecia tranqüilo
entre eu e meu parceiro.
Porém, um dia, ele voltou
pra casa
com um sorriso misterioso.
Banhava-se e perfumava-se
com mais freqüência.
Saía lépido e faceiro.
Voltava alegre.
Parecia ter 20 anos
a menos.
Agora, pergunto
a todos vocês:
O que será
que estava acontecendo?
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VOLTAR NÃO É TUDO
Maria José Limeira

Se meu amor me amasse,
ele não voltaria
apenas para casa.
Retornaria à minha cama,
como antes,
para tornar reais
nossas lembranças.
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MINHA OUTRA VIDA
Maria José Limeira

Eu não preciso morrer
para ter outra vida.
De dia, eu sou você.
À noite, abro ferida.
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BOICOTE CONTRA A COCA-COLA
Maria José Limeira

Passou-se o tempo
de tomar rum
com coca-cola.
Agora só tomo cachaça.
Quero evitar
que continuem matando
as criancinhas
no Iraque.
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LONGE & PERTO
Maria José Limeira

Eu não concebo
os gritos do coração
quando os lábios
estão longe,
e a solidão
tão perto.
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LUZ NO FINAL DO TÚNEL
Maria José Limeira

Sempre ouvi dizer
que luz no final do túnel
seria a última esperança.
No meu caso, não deu certo.
No final do túnel,
bandidos vestidos
de policiais
praticavam seus atos
de terror.
Sem o menor constrangimento!
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DE BAIXO A-CIMA
Maria José Limeira

Olhando de baixo
para cima, vejo pés,
canelas azeitadas
para correr da vida.
Depois das coxas,
vejo-me entrepernas.
E aí...
Bem, aí não posso dizer
o que vejo,
para não ser chamada
de imoral.
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OIE AMIGA!
Maria José Limeira

Como vai?
Tudo bem?
Estou telefonando
para te dizer
que não vai ser possível
comparecer ao encontro
marcado.
Morri ontem!
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HELLO BABY
Maria José Limeira

Alô amiga?
Estou lhe telefonando
para tirar uma dúvida.
Aquele gato, quando saímos
juntos, ontem,
me disse "I love you".
O que isto quer dizer,
já que não falo Inglês?
Será algum palavrão?
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EU SOU FELIZ
Maria José Limeira

Porque te amo.
Porque te amo.
Porque te amo
& porque te amo.
 
Curtos & Circuitos

Sessão pipoca

 
SESSÃO PIPOCA
Maria José Limeira

Uma pipoquinha só faz bem.
Duas pipoquinhas são demais.
Três pipoquinhas não:
Zás-trás!

Menina, se acorde.
Já passa da meia-noite.
Saia desse sofá.
Vá dormir em sua cama.
O super-cine se acabou faz tempo.
Acho que a Rede Globo nem existe
mais!
 
Sessão pipoca

Versos fúnebres - Em Portugêsl

 
VERSOS FÚNEBRES
Maria José Limeira

Silêncio, mudez nos ares.
Na esquina, um negro véu.
Calam-se os cantares.
Há um deserto no céu.
Tristeza, vazio nos mares.
Em cada sina, um vão.
Há copos cheios nos bares.
Trem vagueia sem vagão.

Assombro, campeia noite.
Gato mia no quintal.
Na carne, o fundo açoite.
Na tumba fria, o cal.
Quando o amor se dissolve,
todo o mundo sente e cala.
Uma lágrima revolve,
no aço do fio da bala.

O que foi não volta mais.
Verso antigo tomba e jaz...

(Do livro "Todos os seres")
 
Versos fúnebres - Em Portugêsl