Poemas, frases e mensagens de Valdevinoxis

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Valdevinoxis

Para o ano vou ser pai

 
Para o ano vou ser pai! No mês passado começou a nascer e já nasce desde aí. Hoje soube que estava a nascer! Para o ano nasce e eu nasci hoje também. Para o ano vou ser pai! Um pré quarentão, mas pai! Para o ano vou ser pai... eu, pai e ela mãe. Ela também nasceu hoje... comigo.
Para o ano vou ser pai e hoje está uma noite que nascerá em todos os dias que por aí vêm!
Para o ano vou ser pai!
Nem estou em mim!

Manuel Saiote (Valdevinoxis)
 
Para o ano vou ser pai

18ª foto - Sem emenda

 
"Snobs" ou, talvez, “snobes”... inglesismo para narizes empinados que, também se pode dizer, é gíria para que quem trata os outros com desdém.
Conheci, no outro dia, um indivíduo que se imaginava superior. Vá-se lá saber porquê! Um borra-botas sem eira nem beira e, veja-se só, armado em senhor.
Vestia o único fato que tinha, com um corte já muito fora de moda, muito "assetentalhado"... calças à boca de sino, cinto preto com uma fivela americana, camisa branca de colarinhos ponteagudos bem puxados e um casaco com duas rachas atrás e abas arredondadas. O típico bimbo de patilhas suíças a colar, quase, ao farfalhudo bigode. Mas, apesar da figura, o tratante, tinha-se em conta elevada e fazia questão de se fazer notar ao mundo, ornando com ares de nobre, a sua figura plebeu aburguesado.
Em certo dia, travou-se de razões com o empregado do café... um tipo brejeiro e fresco que tinha o cérebro na ponta de uma proverbial língua afiada.
A conversa foi além dos impropérios desregrados e, no desalinho, às duas por três, o serviçal farto de ser enxovalhado por aquele estalar de dedos desdenhoso e cínico do pretenso Dom, abeirou-se da personagem e chamou-o à razão. Sem grandes delongas assentou-lhe um soco directo na boca do estômago.
O indivíduo enrubesceu e, inflando as bochechas, sentou-se pesadamente, escorregando pela cadeira da esplanada num jeito quase derretido. Acocorou-se sobre os joelhos. Enrolou-se, agarrado aos tornozelos enquanto cerrava os dentes e criava relevos na testa, já mais do que roxa. Que soco!
Se o olhar matasse, o dele, naquele momento, seria letal. Um misto de sofrimento com uma raiva descabida, raiava-lhe de vermelho o branco dos olhos e, num jeito enviesado, cuspia desejos de morte em todas as direcções.
Riam-se os mortais, os animais, a ralé. Já não há respeito pelos eleitos. Este mundo está perdido.
Nunca se tinha visto, em toda a história, um soco tão efectivo e com um resultado tão marcado.
O empregado do café, deitou-lhe um olhar triunfante, levantando o queixo e inspirando com tanta força, que mais parecia querer sugar todo ar do mundo. Numa meia volta de costas direitas, à laia de “olé”, virou-se e seguiu para dentro, onde toda a gente o olhava com um misto de incredulidade e admiração... passou triunfante entre a mol que o chegou a vitoriar com umas palmadinhas nas costas e alguns, muitos, sorrisos velados.
Ferido de morte no orgulho, o indivíduo, a custo, lá se foi pondo de joelhos e, apoiado numa das mãos, tentou levantar-se.
Que dor! A da dignidade achincalhada era a maior. Ai que dor!
Alguns dias depois, voltou a acontecer tudo de novo. A pose estava-lhe na massa e, pior que um vício, não a evitava.
Enfim...!

Valdevinoxis
 
18ª foto - Sem emenda

O mini Xis

 
O meu poema dos poemas:

O mini Xis que diz "Ora toma lá, que cá estou todo feliz!"

Por Valdevinoxis e esposa
 
O mini Xis

fossilizado

 
acho que ontem à noite
andaste, em círculos, à minha volta
numa fechada procura sem sorte.
nada do que foi, resulta,
nada do que foi, revive da morte
que de tão morta já me insulta
o sentido, antes vigoroso e forte.

os outrora doces líquidos
fecharam-me os olhos diluídos
em ténues desencantos definidos.

seria de perdão que precisavas?
seria de brandura que me avisavas?
o que queres está empedernido
em tempo fartamente ido

seria de mão que precisavas?
seria de secura que me avisavas?
sei que só já me restam os cotos...
as mãos caíram-me dos bolsos rotos

acho que ontem à noite
andaste, em círculos, à minha volta.
procuraste de novo o norte
e só encontraste uma bússola torta.

Valdevinoxis
 
fossilizado

das minhas lágrimas

 
as minhas lágrimas estão-se a tornar um mar
liquidas, salgadas, cheias
as minhas lágrimas estão-se a tornar vivas
perenes, verdes, mais belas

fluentes na arte de gostar
as minhas lágrimas estão-se a tornar alheias
às formas das musas divas
as minhas lágrimas estão-se a tornar velas

as minhas lágrimas estão-se a tornar imensas
intensas, tensas, anosas
as minhas lágrimas estão-se a tornar densas
molhadas palavras frondosas

incoerentes no recorte
as minhas lágrimas estão se a tornar corpos
mares de corrente forte
as minhas lágrimas estão-se a tornar escopros

Valdevinoxis
 
das minhas lágrimas

O sossego

 
escreveu o Silveira em https://www.luso-poemas.net/modules/ne ... ticle.php?storyid=368262:

"Noutro dia, no 'balance' da cadeira de vime da varanda, logo após o crepúsculo, quando o lampião ainda emitia luz fraca e fria, uma magestosa mariposa insistia voar rodiando a cuba de vidro, poucos minutos após, exausta e desidratada, caiu morta no chão ripado, a seguir, fora devorada por uma lagartixa; parece-me que é contumaz esses répteis ficarem a espreita debaixo dos lampiões - não lamentei - vida que segue."

ZESILVEIRADOBRASIL

daqui vem:

O sossego

Balançava o sossego, sentado na cadeira de vime da varanda. O sol já se punha e o horizonte, vermelho, previa o calor da jornada que estava para vir. As mãos, mães de calos, e os seus dedos, filhos sólidos, enrolavam com suavidade o tabaco na mortalha amarelada. As lâmpadas, de fraca luz, quase sumida, atraía as traças, os mosquitos e outros bichos que faziam as delicias da gorda que se acoitava na teia. Aquela mariposa maior, aquela que não se cansava de abalroar o vidro do pequeno lampião de parede, não cabia na armadilha da patuda. Tanta insistência daria, de certeza, em ocaso.
Deu.
Exausta e de asas secas caiu redonda no chão de tábuas mal afagadas. As lagartixas não perdoam teimosias. Lá estava uma que, paciente, aguardava o desfecho. A espera compensa.
- É assim que o mundo roda, não é? - perguntou o sossego ao neto atento.
O pequeno não respondeu mas olhou para o avô com os olhos bem abertos para depois voltar a olhar para a lagartixa, já muito menos esguia.
O velho acendeu o cigarro, pegou na garrafa da aguardente, e suspirou descansado enquanto a entornava para o copo. O miúdo, aninhado na cadeira com o avô, adormeceu seguro, longe das agruras do mundo.
"Só por isto já vale a pena chegar vivo ao fim do dia", pensava sossegado na gasta cadeira de vime.

O dia seguinte apareceu perto das seis. As cegonhas faziam-se ouvir nos muitos ninhos à volta. Era altura dos ratos do campo e das rãs começarem a ter medo.
Lá longe o campo esperava. O miúdo dormia com cara de anjo e o avô ganhava energias cada vez que olhava para ele. Não havia bruteza antes sair de casa. Até as tábuas mal afagadas do chão da varanda evitavam responder ao peso das botas para que não houvesse desassossego. Não fosse a criança acordar.

No outro lado do mundo havia gente a matar gente, gente a morrer porque fugia de gente que queria matar gente e gente que matava gente por se balançar sossegadamente numa cadeira de vime com os bichos e os netos.

O velho regressou da jorna. Os cães em festa com o miúdo a tentar acompanhá-los saltaram-lhe para os braços firmes, naturais de quem tem mãos, mães de calos, e os seus dedos são filhos sólidos.
A janta foi farta e depois veio a cadeira de vime, a velha cadeira de vime. O sossego aquietou-se com todos os seus companheiros, o cigarro e a aguardente.

Ali ainda ninguém se matava. Só havia bichos voadores e gordas nas teias e lagartixas espertas.

Valdevinoxis
 
O sossego

Morreu uma palavra. Os meus sentidos pêsames.

 
Ontem fui ao funeral de uma palavra. Morreu por decreto. Nunca foi doente, apenas morreu porque no dicionário puseram outras... daquelas novas da televisão e dos telemóveis e da internet e dos outros lados... é a globalização das palavras, sabes?
Ontem fui ao funeral de uma palavra que quando nasceu, era portuguesa.

Valdevinoxis
 
Morreu uma palavra. Os meus sentidos pêsames.

cansaço

 
doem-me os pés quando fabrico passos,

como se deles só houvesse ossos

raspados pela pedra na procura de descanso.

dir-me-ia nu e descalço

se não me conhecesse o tutano...

esse é teimoso e não permite o engano.



assim, cá vou por caminhos falsos

pejados de cruzes e percalços

vislumbrando o horizonte baço

resumido um engano crasso

mas, tão evidente, tão pouco urbano

como nebulado, sujo e, no fundo, ufano



mas doem-me os pés e rio a espaços.

coisas de equilíbrios e juízos escassos

quando se quer uvas onde só há engaço...

triste o fito inquinado de fracasso

em tal demanda natural do humano,

toda torta e carregada de ventoso abano



despeço-me dos pés doídos e madraços

desfazendo-os, com as pedras, em pedaços

enquanto me sento à espera do abraço

que me desenhe com o torto traço

de arquiteto moribundo e decano...

não vem, aguardo e não vem… tirano!

Valdevinoxis (27/07/2022)
 
cansaço

25/04/1974, o eufemismo

 
Abriladas,
coisas daquele vinte e cinco
que prometia decência...
Ai... há muito estão de abalada
deste sítio de desfolhada paciência.

Da liberdade, sobra o nome
e, até esse se mata e come
entre risos e touradas
dentro de paredes profanadas.
 
25/04/1974, o eufemismo

texto sem segredos

 
sobra tempo
no relento
de dezembro

sem intento
nem momento,
o zimbro
floresce lento
de cima para baixo
e de vida,
nada,
apenas sexo
por obrigação,
por desleixo

na dobra da rua,
nas costas das varizes,
uma mulher nua
filha de meretrizes,
herdeira,
rameira,
pesca sem rede,
não pede
vende.

Valdevinoxis
 
texto sem segredos

se quiseres

 
acode-me
acorda-me
mergulha-me em ti
e segura-me depois
ata-me a nós dois
com cordas ditas
só ditas e escritas

anda
vem
e depois

molha-me
colhe-me
recolhe-me em ti
e guarda-me por dentro
enrolado ao teu centro
com abraços chegados
só chegados e apertados

Valdevinoxis

Publicado em: 24/06/2007 22:29:00
 
se quiseres

Toma Vera! Um bolo de chocolate e os parabéns!

 
Deixo-me abraçar pelas palavras que a tua voz liberta ,
Abro a tua alma poética que traduz silêncios ímpares,
Sinto o aroma do perfume do teu sorriso...
Olho... e deixo-me seduzir nesse instante.

Moldado pelas tuas mãos
E pelo amor que o suporta,
Sorrio ao teu olhar que trago na algibeira,
sento-me na solidão fria e, com uma fatia na mão
deixo derreter o doce dos teus olhos.

De vera delicadeza agarrada ao sabor
É bolo húmido, raro e de negra cor
Que cresce e cresce com o doce calor
Da voz agarrada à palavra amor...
Deixa-me lamber o chocolate de teus lábios.

Na demanda pelo teu bolo de chocolate
Subo a montanha mais alta do mundo
E o recheio pouco importa
e assim…
Tomo-o como meu e teu... nosso.

Os teus amigos
 
Toma Vera! Um bolo de chocolate e os parabéns!

Pequeno poema diferente de mim

 
Tenho saudades de amar,
de gostar com fome de estar,
de fazer um filho e dançar,
de ouvir um sim só por beijar.

Tenho saudades das coisas,
dos botões abertos das rosas,
das juras verdes e viçosas,
dos poemas frescos das prosas.

Tenho saudades de ti,
daquele sexo que senti,
antes de cair por aqui
como morto vestido de caqui.

Tenho saudades de escrever,
de pegar num livro e ler,
de sossegar o inevitável querer
que os versos se possam dizer.
 
Pequeno poema diferente de mim

A escrita também morre quando a matam

 
Noutras vontades,
Teimosas, teimosas,
Noutras verdades
Tão puras e rosas,
Caíram de fealdade
As rimas e as prosas...
Em formas mortas,
Todas tortas...
Polutas.

Tristes presenças
De letras cruas
Que presas a fundas crenças,
Se mostram vestidas de nuas
Em linhas disformes e tensas.

Valdevinoxis
 
A escrita também morre quando a matam

Tentativa de descrever o que se tenta descrever

 
Inclemente, é o som da carícia que nas cercanias do corpo, é fina bruta... até abrupta... doída delícia em forma de sopro, cinzelada dose de lascívia a enformar os sentidos que acabam por se mostrar completamente desabridos. Enrola-se o ventre ao outro ventre, prensando a humidade natural dos gemidos e fremidos alindados por olhos e bocas vivas.
Um lençol incomoda e intervem entre. Rasga-se. Rasgou-se e flutuou até ao chão de tacos.
Continua o desespero de não se conseguir sentir tudo de uma vez, de cada vez. Implode tudo e, até explode.
Agarrados a braços e abraços veementes, a beijos e suspiros despidos, a impulsos destemidos, tremem os bamboleantes dedos com ar de flores tesas teimosas que não querem tombar. Pelo meio, guardam-se com todas as raízes, em pele aromada de raro desejo, os devaneios desviados, inflamados e sem norma que poisaram nas vontades.
Afluentes cheios influem no rubor quente da fricção.
Inclemente, é o poder da carícia que adentra o corpo e é ... qualquer coisa que se tenta descrever.

Valdevinoxis
 
Tentativa de descrever o que se tenta descrever

Digam lá o que disserem, eu sou poeta!

 
Serve o presente para informar que sou poeta. Digo-o porque me sinto cúmplice do que escrevo. Digo-o porque tenho que o dizer quando a poesia é de quem está, de quem lê e de quem é. Digo-o porque me sinto poeta e quero que todos os demais se sintam assim.
Serve o presente para sublinhar que tenho poesia, que escrevo com tanta verdade como as vezes já li sobre amor. Não o digo porque sim, nem o diria porque não. Digo-o porque sei e porque me toca as paredes do corpo.
"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior do que os homens..."... lindo! É lindo, tão lindo que não me revejo na sua beleza... e sou poeta.
Ser poeta é ser do tamanho de todos os homens, mulheres, crianças, anões e gigantes. Resume-se a ser, a ter coisas importantes por dentro e por fora. Ser poeta é decompor uma lágrima de preta sem ser cientista. Ser poeta é andar por mares que nunca foram navegados sem saber do que o mar é feito. Ser poeta é ser.
Serve o presente para gritar que sou tão poeta como todos e grito-o com todas as letras da poesia.

Valdevinoxis
 
Digam lá o que disserem, eu sou poeta!

Só para desabafar

 
Será que vale a pena, pergunto eu? Será que entre tudo, devo deixar o que me é precioso ser esfarrapado por quem só o sabe fazer? Será que me devo preocupar com os outros quando são os meus que me pedem atenção?
Dou comigo a reflectir sobre o mandar tudo ao ar ou não. Não tenho vontade, neste momento, de ser alvo e tenho-o sido por culpa própria. Não deveria, talvez, ter posto o coração no lugar da cabeça. Fiz aquilo que digo para não ser feito. Dei-me à faca e lá vão tirando bocados a belo prazer. Arrependido? Estaria se não o tivesse feito. Disposto a continuar a fazê-lo? Não estou.
Não parece, mas é-me difícil, esconder a raiva pelos que têm apenas vontade de destruir e não dizem isto está mal e devia ser assim, pelos que dizem “amigo” e em segredo dizem “besta”, pelos que querem ter e não querem dar... eu dou, sempre dei e não tenho. Pois é, mas sou eu a besta e se calhar, para não o ser, só preciso de me calar e ignorar as imbecilidades.
Tenho força para isso? Acho que não. Detesto imbecis. Tenho remédio? Até tenho, deixo-me de tretas e largo isto. Deixo outros serem as bestas? É melhor.
Tenho saudades de escrever. Tenho saudades de ter vontade de escrever. As bestas não escrevem nem têm vontade de escrever, não é?

Valdevinoxis
 
Só para desabafar

Para não acordar o tipo

 
chiu,
nem fum, nem funeta,
nem chus, nem bus,
não tuge, nem muge
cala-te e nem um pio
que acorde o asceta
cravado lá na cruz
por pua que ruge.
 
Para não acordar o tipo

Quando se lê um poeta

 
Quando se lê um poeta
Ouvem-se as palavras
Rogadas nos poemas
A orar por sentimentos,
A esconjurar os tormentos...
Lê-se a sua alma descoberta
Sem nenhuma forma concreta.

Quando se folheiam as letras,
Tantas, todas... quase todas
Com os dedos molhados
Nas palavras construídas
Ou só naquelas que choram
Em catadupa desmedida,
Nasce uma alma que cresce,
Cresce tanto que nem se reconhece
Ao ver-se assim crescida.

Quando se lê um poeta
Como aqueles que leio,
Lê-se de voz viva e aberta
Em linhas largadas sem freio
À folha mais alva e liberta
Que nua, se deita e oferta.

Valdevinoxis
 
Quando se lê um poeta

tenho dito

 
o sectarismo morde os calcanhares
com a complacência inata
de uns muitos milhares,
coisos secos e gente ingrata
que se ajoelha em altares
banhados a ouro e prata.

no fundo, é coisa de néscios
entalados entre o não saber e a cegueira,
que suportam largos suplícios
com argumentos chegados à asneira
feitos de normas e vícios
de agiotagem lampeira.

depois, é o que se vê,
os bolsos ficam rotos até à incontinência
os miúdos, comem não sei o quê
e os velhos enterram-se sem decência...
até jornal fala riscado a azul bébé
neste canto decorado de inconsciência.
 
tenho dito

A boa convivência não é uma questão de tolerância.