Chovem pingos de silêncio na palma da minha mão
Os ventos apagam o aroma
do meu respirar.
Silenciam os passos na estrada
que atravessa o mar de suspiros
das lindas sereias encantadas.
Os olhos, cor de avelã , chegam ao horizonte
onde tudo se espraia sem o som afinado
das vozes das fadas cor de rosa.
O verso deixa de dedilhar as palavras,
deixando a musica do poema em pausa profunda.
Chovem pingos de silêncio
na palma da minha mão, e eu calo as letras…
Perfume
Intenso é o perfume
da água ardente que embriaga.
Que escorre descaradamente
por um peito
descoberto e fogoso.
Deleita-se
em ventre inquieto,
desnudando o sabor da ilusão
como um néctar bebido,
sôfrego,
na palma da minha mão.
Salada de desejos
Sabe-me a boca
a ameixas maduras,
a bananas doces,
a mangas carnudas…
Amadurecem-me
as maçãs do rosto,
enquanto os seios
me crescem,
como melões ao sol.
Mesclam-se os aromas.
Extasiam-se os sabores.
Enlouquecem-se as cores.
Ah! Se tu soubesses
o sumo que brota do meu corpo…
… enquanto te espero…
Rumo
Queria deixar palavras bonitas com cores garridas e cheiro a alecrim
Queria estender a poesia na pele nua e branca e colher as rosas
Esquecidas pelo tempo nos lábios entreabertos em suspiro vago
Queria recriar o amor quente nas minhas mãos vazias e sentir
Enaltecendo o belo do olhar atordoado na madrugada adiantada
Queria agradecer ao mar a vida enrolada nas ondas
E as ondas enroladas na vida que é noite de lua cheia e fria no meu peito
Lembro-me de todas as pedras do meu caminho
E de todas as vezes que tinha medo e voei de olhos fechados para a palavra
E das noites que adormeci nos teus braços dentro do poema
Queria que as manhãs voltassem a cheirar ao azul do céu
E que todo os pássaros levassem nas asas a liberdade que lhes pertence
E que as crianças sorrissem os dias encantadas com o branco que somos
Queria que hoje se abrissem as portas e se embriagassem os homens
Num abraço de respeito onde a amizade fosse o néctar perfeito
Para que o rio continuasse a correr para o mar naturalmente
Lembro-me de todos os gritos que calei
E de todas as vezes que te tinha por perto de olhar apertado contra o verso
E dos dias em que nasci e voltei a nascer dentro de ti
Dança
Apagam-se as luzes,
sigo o brilho do teu olhar.
No centro da sala,
as mãos tocam-se.
A música encosta-se às paredes
enquanto me rasgas a alma
quando juntas o meu corpo
ao teu.
Somos um.
Avançamos lentamente.
Guias-me com gestos intensos.
Soltamos as asas
em pleno compasso.
Os pés ganham vida
seguindo um ritmo marcado
pelo tempo da experiencia.
Já nada nos faz parar,
flutuamos no espaço
até ao calar dos corpos.
Enquanto agarro o momento
Talvez me engane nas horas que o tempo tem enquanto me encontro pendurada no teu olhar. Vou mergulhando sempre até ao fundo de um sorriso. Ao longo da vida aprendi a respirar debaixo de água como quem cala o que sente. Vou emergindo, de oportunidade em oportunidade até alcançar um futuro. Por vezes encosto-me à tua voz e respiro o silêncio que me fortalece. Percorro a estrada do mar como se fosse a linha da palma da minha mão. Escrevo assim o horizonte com o brilho das palavras meigas em tons de sonhos, enquanto agarro o momento.
Tomara eu
Tomara eu, poder beijar o sol,
Incendiar os ventos, morder o anzol.
Ter a coragem de olhar a lua
Esquecer as palavras… e ser tua.
Tomara eu, beber a aurora
Misturar-me na terra, trazer o outrora.
Mergulhar sem medo em mar agitado
Esquecer-me de mim… sentir o pecado.
Tomara eu… deixar de ser…
À conversa
Baralhei o poema,
parti os versos e dei as palavras.
Rasguei a conversa
entregando a solidão
à passagem do tempo.
Como dizes:
- A morte morde o pescoço,
enquanto o amor morre no chão.
O amor não se arranja,
destrói-se e morre…
…eterno fica o poema…
vandapaz e TrabisDeMentia
Grãos de areia
Majestoso o marulhar das ondas...
Mergulho o olhar na imensidão deste mar
e toco no fundo, refrescando a alma.
Celebro assim a serenidade do Verão.
Desce a brisa e rasga-se o peito.
Soltam-se as cores da tarde quente
estendendo um sorriso lânguido
pelo capricho de beijar o silêncio.
(soberbo o som do marulhar das ondas)
Deita-se o sol a meu lado
espreguiçando o calor na minha pele
e namoriscando os meus lábios secos,
enquanto cai , demorada, a noite.
(fantásticas as cores deste pôr-do-sol)
E a lua…ah! a lua…
que sopra em peito marulhado
deixando um rasto de brilho abraçado no mar
para que sinta o aroma, para que possa sonhar.
Neste quarto
Neste quarto onde me reservo, como garrafa esquecida em cave escura, tenho por companhia um pedaço de sol alojado no meu peito. Entre nós tudo é claro e sincero, deixo as mágoas ausentarem-se, ficando assim só, com a minha solidão quente. Basta-me a cor azul estampada nas palavras, basta-me a esperança do verso que escolhi. Tudo é tão fácil quando toco as folhas, vermelhas de cansaço, das videiras que em fileira me acompanham o pensamento. Tudo é tão fácil quando abro a janela à vida que me procura, entrando sem pedir licença e me arrastando de encontro à parede degustando-me a alma sem qualquer pudor. Por vezes, retiro a rolha da garrafa onde me encerro e entorno-me tentando chegar ao horizonte que trazes nesses teus olhos felinos. Deito-me em terra molhada junto ao teu corpo de pêlo quente e sedoso. Aninho-me e deixo-me adormecer. As asas do sonho levam-me a terras onde nunca fui, levam-me à lua do teu céu onde te rodeias de gaivotas que te gritam e te encantam, enquanto eu me perco no areal imenso do teu corpo. Com a aurora despeço-me, deixando os teus lábios húmidos, recolho o horizonte e acordo deitada só, na cama deste quarto onde me reservo.