Poemas, frases e mensagens de quidam

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de quidam

Escrevo não para mudar o sentido do mundo, mas para que o sentido do mundo não me mude a mim.

brincar no teu corpo

 
uma casa para quê
se é no lar do teu peito
que quero morar
e por lá guardar
os meus brinquedos
do meu tempo de criança

se me ousas abrir a porta
permite-me sair
de vez em quando
para brincar no teu corpo
 
brincar no teu corpo

adormeço nos tentáculos de m’alma

 
adormeço nos tentáculos de m’alma
 
à beira da praia
sinto o pensamento dos rochedos
e em meus lábios arde a flor de sal
recém-chegada da noite

escorre pela garganta seca de silêncio
a inundar o meu corpo de areia
tentando cobrir esta solidão
da sua incapacidade de expressão

e nas ondas surge um vazio
de uma concha fóssil secular
a rasar a vastidão do mar
onde ferve um tempo reprimido

entrego-me ao fundo do oceano
para encontrar outra luz outra vida
suspensa na densidade das águas

aconchego-me nos limos e nas algas
e preso na rede dos meus sonhos
adormeço nos tentáculos de m’alma
 
adormeço nos tentáculos de m’alma

eu estou lá fora

 
eu estou lá fora
 
sinto-te perdida nesta vida
viras as costas à tua alegria
e ao amor não sentido ainda

sinto o teu corpo em lamento
uma solidão presa num gemido
no grito que me traz o vento

qual dor qual sofrimento
de um olhar já tão dolorido
de tão sagrado sentimento

recorda - amor - este momento
deste sentir a te sentir agora
num suave e breve fragmento

é hora - tenho que ir embora
eu nunca quisera ser violento
com a tristeza que em ti mora

a alegria de mim é o teu alento
abre a porta - eu estou lá fora
 
eu estou lá fora

PIANO EM TARDE DE CHUVA

 
PIANO EM TARDE DE CHUVA
 
Acabo por negar
teu rosto
e neste encontro
recolho teu corpo
nesta tarde de chuva

Serpentes loucas
filhas das gotas de água
comungam a minha sede
e a tua nudez me espera
na janela do provir

O meu pensamento
agitado de silêncio
ouve ao longe
as notas do piano
de Pour Elise

Mas, os meus olhos!...
Os meus olhos bebem
o mistério da ilusão
Um cálice sussurrante
e quente de solidão
a penetrar pela garganta
na voz da razão

A chuva que cai
vai escorrendo pela janela
e vejo teu rosto nela
tentando limpar
meus pecados.

E o piano toca
e nunca mais acaba…

Imagem © Lora Palmer
 
PIANO EM TARDE DE CHUVA

era preciso este vazio

 
era preciso este vazio
 
era preciso este vazio
eu tive que morrer
para voltar a viver
voltei por outra porta
ainda não me reconheço
ainda não sei quem sou
apenas sei que aqui estou
mesmo que não exista
já na outra vida
e aqui estou
à espera de morrer de novo…
vá, chamem por mim….
- mas com cuidado para vir devagar
eu não sei se vim pelo mal
 
era preciso este vazio

quarta-feira (de cinzas) - (parte iv)

 
passaram por mim
as três estações
contemplo agora
nas paredes do meu sonho
as telas onde tu
um dia surgiste

és um branco invisível
acariciado pela neve
onde o sol
por entre ramos de árvores
tenta iluminar o teu reflexo

e eu queria tanto deitar
a tua insustentável nudez
no colo da sombra deste amar
de quão frágil solidez

a neve aquece certamente
e a sua água correrá fluente
da nascente da tua imagem

o teu corpo
é levado pelos rios
de outra
primavera verão ou outono
assim como sucede
aos fins dos dias do entrudo
(tantos como as três estações)

ó quisera eu ter sido brincadeira
deste carnaval
as telas pintadas à minha maneira
mas tudo me correu mal...

começa hoje a quaresma
vou procurar redenções
para a minha pecadora alma
deste meu desejo carnal

enterro agora a tua gravura
e não alimento mais recordações

só esta estação de inverno
com o seu intenso frio
ainda não terminou

tudo o resto acabou
o carnaval em fim de dias
e as minhas quatro poesias

em quarta-feira (de cinzas)

Devido as imagens poderem ter conteúdos suscetíveis de ferir sensibilidades as mesmas não foram publicadas. poderá ver o poema com a respetiva imagem em http://afacedossentidos.blogspot.pt/
 
quarta-feira (de cinzas) - (parte iv)

HOUVE...

 
HOUVE...
 
E a chuva recomeçou
com ela veio o vento
os relâmpagos e trovões
como quem resmunga comigo
em oitavas superiores
de agudas sinfonias
numa ansiedade
infrene e desastrada

Agora, tudo são escombros
que carrego aos meus ombros:
de um outrora coração
que te penetrou
e um corpo que te amou
E entre um silêncio
e outro te sonhou
num tempo que já passou

E a tua imagem embaciada
esboça a palavra branca
de uma quase saudade
e de irrisória dor

E vi uma luz vinda do céu
Seguida de um bramido
Que se espalha na cidade inteira
Será revolta ou será sentir?

A chuva desaba mais intensa agora
Talvez seja das lágrimas
que vêm com o cair das águas…

Imagem retirada do Google
 
HOUVE...

POETA PEQUENO

 
POETA PEQUENO
 
Cansei de procurar as palavras
no silêncio musical da minha solidão
tenho comigo a cuidado outras almas
não posso de mim falar - mais não!
quem me quer assim, assim me poderá ter.
A todos os outros eu digo, embora em vão,
que não sabem sentir o que sei escrever.

Eu sou apenas aquele poeta pequeno
esgotei as sílabas, os vocábulos, a saliva…
mas nunca, nunca padeci a pedir esmola,
no pronuncio de sinónimos elaborados,
rabisco ao tirar as palavras de uma sacola.

Sou o caminho pisado pelo teu olhar
um anjo por ti expulso em tempos distantes,
o pão que tu nunca me quiseste dar
(a barriga cheia são para os grandes)
Sou apenas um poeta sem poesia
que um dia se atreveu a sentir a vida…

A palavra tem a força que a queiras dar
os sentimentos são para os poetas pequenos.
Não levo comigo as palavras - podes respirar!
espalho-as por ai ao vento – podes imaginar!

Eu vou demorar, irei ficar nos meus momentos
que enchem, sem estorvar, todos os meus silêncios…

Dedicado a todos os poetas que se sentem pequenos como eu.

A todos os meus amigos que, com grande carinho, me têm acompanhado e a todos os demais que me lêem, eu peço as minhas desculpas, mas preciso de me refugiar, por uns tempos, no meu silêncio….

Imagem Misha Gordin
 
POETA PEQUENO

A TI

 
A TI
 
Eu não te consigo amar
(nem tão pouco entender)
abriga-me dentro do teu silêncio
para eu te poder decifrar

Imagem © Leanne Limwalker
 
A TI

a cor dos teus olhos na minha íris

 
a cor dos teus olhos na minha íris
 
o silêncio sonhou as sombras de ti
nas formas da tua imagem colorida
na memória que se manteve viva
de um certo dia em que eu te vi

agora o silêncio apenas grita a tua vida
nas linhas pretas e brancas do teu perfil
esqueceu-se de ti - partiste nesse dia
apenas recorda a primavera - era abril

as cores do por do sol da lua e o mar
o silêncio nunca as consegue esquecer
(sempre serão lembradas por um olhar)

mas cala-se quando vê uma cor morrer
não foi uma cor do expetro do arco-íris
foi a cor dos teus olhos na minha íris
 
a cor dos teus olhos na minha íris

falei com o vento

 
falei com o vento
 
falei com o vento
para me levar num sopro,
mas meus versos estão pisados
e no chão da terra ficam atolados
…eu não fui com o vento

aqui fiquei!

troquei as manhãs
nascidas rente à raiz
por um sonho escuro e infeliz
adestrado pela distância do momento
… eu não voei com o vento

aqui fiquei!

não vi o sol no horizonte
a despenhar-se nos campos
fiquei com asparas espigas de trigo vazias
a arder na tempestade de loucas utopias
… o vento ateou mais o fogo

aqui fiquei!

e queimaram-se as palavras
que falavam com o vento
entre os detritos do centeio e um grito
encarniçado na baba da destruição.
fiquei devoto a uma ilusão…
… o vento não me respondeu

e eu daqui sai…

Imagem Google
 
falei com o vento

tu começas aqui

 
tu começas aqui

nestas águas revoltas
que inquietam os sentidos
oceano imenso e profundo
e eu tão pequeno sou perante ti
tenho-te frente aos meus olhos
mas jamais te posso alcançar

o mar em ti

diante esta falésia onde te assisto
fim e o principio do teu ser
rosa que cresce nas águas
em azul de algas perfumadas
que eu sinto salgadas
por terem vindo de tuas lágrimas

e a tua alma por fim

no silêncio sussurrando baixinho:
- este é o lugar onde o amor começa
mas eu não sou naufrago perdido
(de ilha rara ainda por descobrir)
para encontrar teus mistérios perdidos
tesouros que guardas intocados

e tu és assim

por entre tormentas e marés calmas
com a tua serenidade profunda
da fé que te guia neste pélago
onde lá longe um horizonte
com cheiro de ternura de mãe
protege botões de rosas vermelhas
a perfumar toda a aragem

- livres deitam suas pétalas à deriva
neste mar onde não posso navegar
apenas consigo reter nos meus olhos
a imagem de pura pérola a brilhar
 
tu começas aqui

início e o fim de uma vaga eternidade

 
início e o fim de uma vaga eternidade
 
há sempre um princípio e um fim
um olá a uma vida pela primeira vez
e um adeus a despedir-se de mim
uma morte que chega com lividez

adeus… addio… adieu… adiéos…
é por do sol a morrer no horizonte
no princípio da noite a nascer a jusante
e a génese a trazer consigo um adeus

e tu que vieste do meu coração – adeus
parte sempre alguém em alguma parte
para gerar um novo mistério de deus

volátil vida a deixar qualquer saudade
sonhos passados que foram meus e teus
o início e o fim de uma vaga eternidade
 
início e o fim de uma vaga eternidade

escondo-me

 
escondo-me
 
Escondo-me
Não para fugir do mundo
mas para que o mundo não fuja de mim

Escondo-me
Não por ter medo de nada
mas para que o nada seja tudo

Escondo-me
Não da multidão por onde ando só
mas para poder ser alguém

Escondo-me
porque espero que me encontres
mesmo sendo ninguém

Se me perguntares a onde estou
posso não saber responder-te

procura-me…

e se me encontrares
guarda esse segredo contigo
eu posso não reconhecer-me

imagem sapo
 
escondo-me

LUZ DO HORROR

 
LUZ DO HORROR
 
Estranha ambição

esta de querer juízos
em subtis estados
defraudadores de equilíbrios
de ungidos passados.

Estranho vício

este de fantasias dos sentidos
que me arrepia e cala
as lunações dos silêncios
que jorram na minha fala.

Estranha doença

esta que me tira a presença
deste corpo paralisado no mundo
no templo profanado da minha crença
onde se prega o verbo surdo e mudo.

sim, sinto estranha dor

que me faz chorar sem qualquer lágrima
será este o choro da dor de amor
pelos vivos que não têm alma?
(sim, esses que matam com a luz do horror!)
 
LUZ DO HORROR

reduzir a pó os poemas e quem os faz

 
reduzir a pó os poemas e quem os faz
 
nos meus olhos o amor se deitou
adormeceu com as memórias de ti
e na cama húmida de lágrimas sonhou
na noite das noites que não têm fim

noite escura onde brilham primaveras
de um ébrio amor de um luar ardente
vindo de céus de estrelas de outras eras
onde dois corpos se amaram loucamente

e no calor da lareira onde me aqueço
queimo paixões de um desejo bem fugaz
nas labaredas de chamas no firmamento

aguardo o tão esperado silêncio de paz
nas cinzas que arrefecem diante o tempo
a reduzir a pó os poemas e quem os faz
 
reduzir a pó os poemas e quem os faz

A VERDADEIRA PEDRA FILOSOFAL

 
 A VERDADEIRA PEDRA FILOSOFAL
 
Hoje apenas quisera falar sem palavras
apenas com o som da música do meu silêncio
(derrubei as sílabas, as letras, os bulícios…).
apenas meus sentimentos se expressaram
nas pedras do pensamento da calçada
no grito do vento que envolve o sem abrigo
nas árvores do jardim agora desprezado
no rio onde ecoa o pensar da amargura fria
trazida na corrente de um monte abandonado
de um ser imerso num oceano de solidão
(um corpo perdido no meio do nada)
de quem bem longe de mim eu não vejo chorar
o qual nunca ninguém escreveu ou ouviu falar.
onde o céu é apenas um pedaço pequeno
de um punhado de estrelas cintilantes ao destino
onírica visão de uma vida esquiva ao sorriso
que depressa, flutuando, chega de novo ao rio
onde se sente um pequeno vagido ou ímpeto
que não deixa adivinhar se é choro ou sorriso
E eu não pranto nem rio mesmo que seja ilusão
Quero estar em silêncio, ouvir o gemido,
entender a razão de onde vem essa emoção
Estar atento para não perder este único momento
de ouvir neste silêncio o verdadeiro sinal do coração,
Esta valiosa pedra filosofal há tanto procurada
pelos alquimistas que ainda não a encontram.

Imagem de Ludo Dijckmans
 
 A VERDADEIRA PEDRA FILOSOFAL

hoje não queria

 
hoje não queria
escrever palavras
queria apenas
dar-te as minhas mãos
num poema com o toque
dos meus dedos:
nos teus seios, nádegas
e na tua pele fina e lisa
do teu corpo em fio de voo
para adormecer com a lua

és bela
(insustentavelmente bela)
faltam-me as mãos
e faltando tudo isso
faltam-me as palavras
(até as palavras emprestadas)
e fico neste espaço
de horizonte
entre a lua e este poema
sem te conseguir tocar

só com a flor do silêncio
consigo beijar tua boca
e juntar teu corpo
às palavras que não escrevo
 
hoje não queria

ALMA AUSENTE

 
ALMA AUSENTE
 
Submerso na procura interminável das coisas
falhei nas palavras desarrumadas na despensa
assustei-me com o acaso da coincidência:
«troca a tua alma velha por uma garrafa»
O verde escuro do vidro cheio de pó e teias
lá estava ao canto do armário com portas descaídas
estava prestes a fazê-lo, mas sempre recusei o fim
- a morte é o fim da vida - mas a lei é assim.
Quem me poderia libertar da banal existência?

Tirei-lhe a rolha e coloquei dentro de si os meus passados
(embora não me lembre reconhecer algum no presente).
Lacrei a chumbo cortiça, como se fecha um tesouro inexistente
e embarquei no próximo barco com mais algumas bestas.
Ventos e brisas envolventes levaram-no por brumas nevoentas.
A alma se despediu do coração e do seu frágil corpo,
ao largo uma garrafa boiava rumo ao princípio,
na condição da grande insensatez do mar profano.

Na deriva das águas espero alguém que leia o que é meu.
Mas como, se a garrafa consigo leva dentro um engano?
Se alguém lhe encontrar um poema pode-lhe chamar seu
dentro do papel branco - maior que o azul das águas -
não há nada escrito nem por escrever ou fale de mim.
Com alguma imaginação e fantasia, poderei até acreditar sim.
(as serias estão presas em raios de sol, não podem faze-lo).

Mas só na minha despensa alguém poderá abrir a garrafa
e no seu bafo descodificar as palavras a provar o vinho quente
(embriagadas denunciando e entregam a minha alma ausente).
 
ALMA AUSENTE

COMPREENDER

 
COMPREENDER
 
Se cada um de nós
Para dentro de si olhasse
O verbo seria mais verdadeiro
Nas folhas que se escrevem

Se cada um de nós
Um coração no ar deixasse
A vida respiraria mais sentimento
Em cada sentido momento

Se cada um de nós
Com justa amizade falasse
Os ouvidos poderiam ser surdos
pois seria mais fácil de entender

E se cada um de nós
Fosse apenas e só o outro
A compreensão seria total
E não haveria juízos de mal.

Cada um de nós seria
Vencido por si
Para voltar a nascer
Sem pensar em vencer.

E isto é apenas compreender.

Imagem © Misha Gordin (Direitos reservados ao autor)
 
COMPREENDER

Jorge Oliveira

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