Poemas, frases e mensagens de Urbano-da-Vila

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Urbano-da-Vila

“ Legada mensagem “

 
Quando a luz que me acendeu,
Se apagar.
Que tenha meu
Deixado ficar:
- Uma mensagem decifrada
Doce. Amarga. Insossa. Salgada.

Como os sentimentos
E pensamentos
De um ser.
Conforme os momentos
Ter ou não ter :
- Tudo, muito, pouco ou nada !

Doce. Amarga. Insossa. Salgada
Picante mensagem
Neste tempo temperada.

Que tenha deixado ficar
- Um pouco que seja –

Daquilo que pode aleijar
Um homem que se aleija,
P’los olhos a dentro
De olhar p’ró mundo,
Das varandas do ocidente,

E noutro mundo,
Cada vez mais, imundo,
Ver cada vez mais gente.

Ver a humanidade a condenar
Á miséria. Á fome. Regiões.
Ditaduras sem nome, a prosperar
- Ai os direitos humanos... dados aos leões !

Quando o mundo a vela me apagar,
Que tenha sabido deixar,
Meio contada, meio mentida
Meio falida, meio inspirada
Meio entornada, meio parida
Essa obra sofrida.

Só assim então,
A vida não terá sido
Toda em vão.

Como pão,
Não comido.
Como leite, como vinho
Não bebido e azedado.

Como o sangue derramado
Dum amigo, soldado
Morto em missão
De paz,
Numa guerra em vão!

(- Como todas as guerras são
menos p’ra quem as faz !)

E enfim, despido de mim,
Comigo vá.
Lá onde anseio – ás vezes já –
Só p’ra não ter de esperar mais
O resto dos meus sois
Postos. Iguais.
- Oh, anseio demais!

Urbano da Vila /86 /95.
 
“ Legada mensagem “

“Menina cabelo de vento”

 
Menina do cabelo, solto ao vento,
Não corras tanto, tens todo o tempo.

Olha qu’essa impaciência
- D’Adolescência ! -
Depois... é tudo mentira.
E se te metes por ela, a mal.
Depois do fel,
Ninguém te tira !

Não corras tanto, faz atenção.
Olha que nem todos os caminhos... vão !

E não entres à toa,
Tanto em lisboa.
Que ela, pode enganar.
Não te metas numa rua, só de ir.
Se não depois... vir ?
Não te irão deixar !

Menina do cabelo solto ao vento,
Não corras tanto, tens todo o tempo.
Não corras tanto, faz atenção.
Olha que nem todos os caminhos : vão !

Não corras tanto, espera um momento,
Dá meia volta, estás ainda a tempo.
Menina do cabelo solto ao vento.


Urbano da Vila.
 
“Menina cabelo de vento”

“ Keita o Goleador ”

 
I

È a história banal,
Duma criança normal,
Que teve o azar de nascer
Num país, de povo a sofrer.

Mas Keita não se queixava,
Keita era um lutador.
Tal criança, sonhava
Keita, o sonhador.

Ía á escola, trabalhava.
Keita não poupava suor.
A lida acabada. Jogava
Á bola. Keita o jogador.

A bola ninguém lhe tirava,
Keita era o melhor !
Fintava, rematava, marcava.
Keita o goleador !

II

Um dia á aldeia, veio a guerra
Vasto cortejo de horror !
Keita viu sua terra,
Pegar fogo. Mudar de cor.

O tempo fez-se cor d’ameaça,
P’ra comer, arriscava a pele.
Fardados andavam á caça !
Keita herói, da família dele.

Os rescapados regressaram
Á aldeia. A guerra acabou.
Do nada, tudo recomeçaram,
Keita na paz, acreditou.

Todos perderam seus demais,
Keita trabalhou ainda mais.
Keita de sonhar não deixou,
Mais ainda se treinou.

Keita sonhava ser jogador,
Keita o goleador !

Ele fintava, ninguém o parava
De toda a maneira marcava.
Keita era o maior !
Futuro grande jogador.


III

Mas Keita já não sonha... ser goleador.
Não pode da vida, nada mais querer.
Em vez do sonho, tem uma profunda dor
E a maior injustiça, que é não compreender.

Keita um dia vinha da escola,
Ouviu-se um estoiro, de repente.
Sem uma perna, já não joga á bola.
Ó maldita mina (Made in ocidente !)

Keita perguntou, porquê eu ?
Mas o ocidente fechou os olhos.
P’ra não ver as misérias que vendeu,
Keitas há no mundo, aos molhos !

E a cada minuto que passa,
Uma história feliz chega ao fim.
Uma criança por cima passa
Duma mina, que fica paga enfim !

Keita um dia, seria comprado
Diamante negro, dum clube europeu.
P’la multidão a vibrar, aclamado.
Mas hoje de Keita, só falo eu !

Passou dum futuro dourado,
Á miséria do seu destino.
Por três dólares, foi-lhe comprado
O direito de sonhar. Ser menino.

Urbano da Vila / 98
 
“ Keita  o Goleador ”

“ Lar doce lar ”

 
... E minha mulher não pára
De me chamar à razão :

- Vai trabalhar ó calão !
A família, de sustentar
Tens a obrigação.
E com teus gatafunhos não ganhas cifrão.

- Os tempos mudaram
Já a mulher ralha !...
Mas a gente pianinho diz : - Não, não.
- Vais ver alguma coisa vai mudar,
Eu sinto no ar !...

- O que eu sinto no ar ?
É o jantar a esturricar.
Nem do comer te sabes ocupar !

... Eu arrumo a casa , trato dos filhos ,
Lavo a loiça , limpo os vidros,
Sacudo os tapetes , passo o aspirador...
Vai ao menos pôr
A roupa a lavar.

- Ai saudades de ser vendedor –

- Está bem, tens razão,...
Meu amor.
Tenho a obrigação,
De te ajudar.
Vou pôr,
A máquina a trabalhar.

E não me chateies mais depois !

Qu’eu tenho trinta canções, por “sempôr”
- Uma por cada ano d’herdade -
Trinta carros á frente dos bois
Onde passeio a minha ansiedade .

Trinta refrões por inventar
Como inventar
As vozes que os queiram cantar.

- Deixa lá de delirar
E vai mas é trabalho procurar
Que a vender canções como esta
O melhor é dedicares-te á pesca !

- Tens razão minha querida,
O melhor, é fazer-me à vida
Que a vender, destas canções
Já não nos chegam... os botões!

- Deixa lá de delirar
E vai mas é trabalhar
Que a venderes canções como esta
O melhor é dedicares-te á pesca .

Urbano da Vila / 94 .
 
“ Lar doce lar ”

“ Sentir o Poeta “

 
Eis hoje em mim, profundamente.
A culpa que ataca intensamente
O poeta, à noite escura!
Pairam estranhas vibrações no ar,
Como se alguém longe, a reclamar...
Será isto um mal? Terá cura?

Sinto uma dor que não me pertence,
Mas aleija-me e o sono vence
Até que a saiba desfalecer!
Fico-me a doer, assim, inconformado,
Como se do mal alheio, fosse advogado.
E eu tão nada, sei defender!

E vagueando por maus pressentimentos,
Perco-me sempre, nos mesmos lamentos.
Penso-me tão anormal.
Que é isto cá dentro, ó senhor de mim,
Tanto queria não sentir-me assim
Nestas noites, tão mortal.

A sonhar com a paz , compreenção , amor,
Nunca serve a mais ninguém, o sonhador
Das horas de dormir.
Quando como hoje, o poeta em mim sinto
Sofro. Delíro. Não durmo e se minto
Mente-me o seu sentir !

Urbano da Vila . /84.
 
“ Sentir o Poeta “

"Longe e aquem"

 
Tanto andei,
Para nunca chegar.
Tanto sofri,
Para não me curar.
Tanto lutei,
Para alguem me ser
E tudo perdi,
Antes de algo ter !

Perdi a ilusão,
Qu'a juventude avança.
Perdi a vontade,
De dar forma à esperança.
Perdi a nação,
Cidade e Mãe.
Resta-me a liberdade,
Viver longe e aquem !


Quinhentas contemplações.
Quinhentas constatações.
Mil sonhos por exaltar !
Como à espera mil canções,
De quem as queira cantar !

Queria ter sido instruido,
Esclarecido, iluminado.
Os sete mares ter percorrido ...
- No cais naufragado !

Queria ter sido conhecido,
Interferido, implicado.
Causas nobres ter defendido ...
- Ao sonho condenado !

Queria ter sido bom amigo,
Bom abrigo, bom rapaz.
Um patrimonio ter construido ...
- Não fui capaz !

Queria ter sido bom marido,
Justo pai, inspirador de paz.
A vida ter-nos bem sucedido ...
- Oh, ter sido capaz !

E à espera mil canções,
De quem as queira cantar.
Quinhentas conspirações !
Quinhentas contravenções !
Mil sonhos por exaltar.

Urbano da Vila /93/95
 
"Longe e aquem"

“Um amigo pode sempre ajudar”

 
Se uma mão, um ombro, um ouvido
Numa esquina da vida te faltar,
Sempre que precises de abrigo,
Ou te queiras apenas confiar.

Vem ter comigo
Sem exitar.
Um amigo,
Pode sempre ajudar !

Já sabes se um dia acontecer
Não importa, um mal para ti
Á minha porta, podes vir bater
Se eu ainda estiver por aí.

Se já não estiver, podes chamar
Que mesmo longe ir-te-ei ouvir.
Tua razão, a minha, de regressar
E duma esquina, me verás surgir.

(Virei com uma nova vontade
Não te digo ainda. É mistério
Eu herdeiro de outra verdade
E tu bem vinda no meu império.

Império onde me deleito
Miragem que teimo em crêr.
Oh, ter-te por divino direito
Num leito, em sublime prazer !)

E partiremos em viagem só nós dois
Rumo onde a paixão nos levará.
Dias de sol, chuva, vento e trovões
Viagens. Amazónia. Sibéria. Saara.

Ai eu sempre a imaginar
Que ás vezes pensas em mim
Sabes, não me consigo conformar
Que entre nós tudo chegou ao fim

Mas se um dia precisares de abrigo,
Ou te quiseres apenas confiar,
Uma mão, um ombro, um ouvido
Numa esquina da vida, te faltar :

- Vem ter comigo
Sem exitar,
Um amigo,
Pode sempre ajudar !

Urbano da Vila / 86 / 92
 
“Um amigo pode sempre ajudar”

“ Portugal “

 
Portugal
Pai d’aventura ocidental !
Ser de novo : Instigador.
Inspirador.

Do novo cabo a passar :
- Novos horizontes abrir
Da nova carta a traçar :
- Novos caminhos descobrir

As modernas “tormentas”
É tempo de enfrentar;
Noutra “boa esperança”
É urgente acreditar.

Acreditar, neste povo marinheiro
O tal, que ao mar,
Foi um dia buscar,
O mundo inteiro !

Acreditar, que este luso povo
A reboque por aquem,
Pode bem de novo
Trazer novas d’alem !

As modernas tormentas
É tempo de enfrentar;
Noutra “boa esperança”
É urgente acreditar !

Uma nova epopeia
Vamos inspirar,
Na aventura Europeia
De novo uma candeia,
A iluminar !

Tu que foste, Portugal
Inspirador.
Instigador.
D’aventura ocidental.


Urbano da Vila
 
“ Portugal “

"Raiz em Paz"

 
Grata bandeira,
Alma lusa.
Pátria feira,
Eterna musa !

Moderna.
Confusa.

Onde perdido,
Em avenidas
Sem sentido,
Mendigas :

- Um objectivo.
- Uma razão.
- Um motivo.
- Uma missão.
A solução ?

Crescer em paz,
Da tua raiz ...
Um ser capaz,
De ser feliz.

Agora, inspira-te,
Sonha alto !
Atira-te,
Dá o salto !

Pira-te,
Sem olhar p’ra trás
E verás,
És também capaz !

Acredita.
Em ti suscita :

- O objectivo.
- A razão.
- O motivo.
- A missão.

Um ser feliz,
Por ser capaz.
Da tua raiz,
Crescer em paz !

Inspira-te.
Sonha alto !
Atira-te.
Dá o salto !

Pira-te.
Sem olhar p’ra trás
E verás ...
És também capaz. …

Urbano da Vila
 
"Raiz em Paz"

“Estação do Ocidente ”

 
Ó senhor Presidente
Olhe com atenção
Este país atentamente
Portugal está doente
Da mundialisação ?

A desilusão crescente
A moral pelo chão
A esperança inconsequente
O futuro dependente
Ó decepção.

Há demasiada gente
Lá p’las vias do não
Tanta gente carente
Sonha ainda eminente
A revolução

De uma vida coerente
Á espera ( na estação
Do comboio do ocidente )
Está a juventude impaciente
Atenção.

Ó senhor Presidente
Oiça com atenção:
Olhe que é urgente
Dar uma vida decente
Aos filhos da nação.

Trabalho a cada dia
Liberdade, alegria
Esperam da democracia.
Dê lá um jeitinho
Do Algarve ao Minho.
Ó senhor Presidente
Olhe que é urgente.

Urbano da Vila.
 
  “Estação do Ocidente ”

“ Futuroscópiência ”

 
(I)

Via-me bem numa futura geração
A do basta juntar água e mexer.
Via-me bem a só esticar a mão,
E ter tudo sem nada ter de fazer.

Haver o mundo inteiro numa televisão,
Um menu e muitos botões para escolher
E um “robot” para tudo me trazer ! ...

- Vai mas é trabalhar, ó calão !
Pois ainda estamos na geração
Do toca a “arranhar” se queres “roer”.


(II)

Se cem anos depois, nasceria rico
Porque me nasceram um século atrasado ?
Agora metam-me num “arco frigorifico”
Até ficar duro. Imaginem-me um gelado.

Confiem-me a um génio ciêntifico,
Expecialista do ainda não inventado :
Transporte ao futuro – via congelado !

E eu todo em arco metido cem anos fico
Como um espermatezoide em azoto liquido
“Cool” em “stand by” bem conservado.

(III)

E num foguete passaram-se cem anos
E há dias um actual expoente da ciência,
Sem cometer enganos, nem em mim danos
Consolidou a “espectapolar” experiência.

Eu o primeiro dos bravos lusitanos
Com cem anos de absoluta inexistência.
Cem anos de atraso de inteligência !

Os nossos ulteriores são uns bacanos
E a grande moda é serem marcianos
Moram na lua . A terra foi á falência !

(IV)

Faço hoje cem dias de futuro.
–Tirem-me daqui não sei andar nisto !
Eu pensava que o meu tempo era duro
Mas o futuro ficou depressa, mal visto.

(Aprendi que a terra teve um furo,
E o homem um estrondoso despiste.
O mundo como era, há muito não existe.

Dizem que de repente o tempo veio escuro
Ouviu-se um estoiro . Vieram as nuvens d’esturro
E o sol foi-se embora furioso e triste .)

(V)

E então ó netinhos, não havera maneira
De me mandar aos “charrinhos”, do passado ?
É que por mais que eu tente e queira
Aprender a ser um gajo todo sofisticado,

Não faço sequer a minima ideia
De como amestrar este imenso teclado.
- Acerto sempre no botão errado !

Aos passados do meu tempo, desculpem a caganeira
É qu’eu carreguei sem querer na diarreia
A prisão de ventre, era o botão do lado !

Urbano da Vila / 87 / 93
 
“ Futuroscópiência ”

“Fosse eu (fado) capaz”

 
Eu quero aprender a criar
E criando, poder participar...
Fosse eu, para tal eleito !
Mas nada, sei bem saber,
Pouco, bem sei, escrever
E tudo, faço sem jeito.

( Fado meu, vadio a preceito.)

Sou de origem, mal feito
Tenho todos e mais um defeito,
Desponto p’ró lado da escuridão !
Mas não me importo, não faz mal
Quero-me assim, tal e qual
Dono deste inteiro coração.

( Virgem da primeira aspiração )

E agora ,
Em simples linhas...
Tão pouco
O que queria .

Queria colorir ,
Com palavras minhas
Todas as minhas
Vontades de paz .

Oh, fosse eu capaz
De as esculpir
Numa bela poesia !
E gentes minhas
As “encantar”
Numa linda melodia !

Oh, fosse eu capaz
De ser capaz,
Um dia !

Urbano da vila
 
“Fosse eu (fado) capaz”

“Baldei-me a hoje”

 
Hoje, outro dia, baldei-me à escola.
À escola que ando. Ando á vida !
Mas que raio, se a vida, não é uma esmola,
Porque me cola, a cidade, a mão estendida ?

Como estendida, ficou-me esquecida, a sorte.
A sorte de me tornar... Quem ? Nem sei.
Só sei, que vou a caminho da morte.
Mas sem norte, à sorte, quem me serei ?

Já sei, serei, a cada dia mais louco
Que louco de todo, ao menos, tenho desculpa.
Para a culpa, que tenho, de ser tão pouco
Na consciência, roto, um recibo de multa.

Multa, onde me envelheço, a não pagar.
E a não pagar, nunca mais esqueço, nem liquido.
A vida, é como um líquido, de embebedar.
Faz-nos tropeçar, se demais bebido !

E “b” em’bebido, em mim, de “in” culta poesia,
Poesia da minha : – sem norma sem lei ! –
Fora-da-lei, me entorno, no dia-a-dia
Mas à noite no meu trono, “entornado“. Rei.

Rei, das palavras, das noites de atino
E se nada exprimo, começo a doer !
Mas o pior, é que quando termino,
Que desatino, era para mais, parecer.

Urbano da Vila
 
“Baldei-me a hoje”

“ Minha Poesia ”

 
Cada vez que te vejo
Maior é o meu desespero.
És o meu maior desejo
Da vida , o que mais quero.

És o meu grande amor
Meu fogo , sempre a arder.
És a minha antiga dor
Eternamente a doer.

És a minha ruína
Sonho meu sem cura .
Minha erva daninha ,
Minha droga dura .

Minha justa medida ,
Minha razão suprema ,
Meu bilhete de ida ,
Meu projecto, meu esquema .

És o cruel enunciado
Minha impossível equação.
Sem ti estou condenado
A não ter , solução.

És minha conta de somar,
Eu a tua , de diminuir
Por nós tento em vão, multiplicar
O Amor que teimas não, dividir.

Meu inverno, meu verão.
És o meu frio, meu calor.
Minha preferida estação,
Minha primavera em flor.

Minha tristeza , alegria
Meu sonho colorido.
És a minha fantasia
Meu jardim florido.

Meu refugio intimo.
Minha preferida dança .
Meu caminho marítimo
Cabo da Boa Esperança .

És o meu Brasil
Minha terra tropical .
Mel de flores mil
Mil e uma noites de cal .

És minha conta de somar,
Eu a tua , de diminuir
Por nós tento em vão, multiplicar
O Amor que teimas não, dividir.

És o cruel enunciado
Minha impossível equação.
Sem ti estou condenado
A não ter , solução.

Urbano da Vila . / 86 / 96 .
 
 “ Minha Poesia ”

“ Recto ferido em di “

 
Quero ser observador
Pago p’ra ir ver por aí
Ou então comentador
Relatar tudo o que vi
Enviado especial
Em directo do acontecimento
P’ró telejornal
“António Esteve Bom Tempo“

Ai ser testador de colchões
Critico de gastronomia
Convidado de emissões
Um emprego assim é que eu queria

Mas também
Não m’importava de exercer
Um cargo, desses que "cargam" bem
E não dão muito que fazer

(Mas ter muito para ler
No respectivo extracto do banco)
Ser eu pré encher
Os cheques em branco

Quero ser observador.... REFRÃO

E que tal ser herdeiro
Dum desses podres de dinheiro
Ser um ás dos investimentos
Ter usufruto de rendimentos

Advogado de negócios
Político de sangue puro
Ou então inventor d’óssios
Parece que tem futuro

Condutor de acções
Nas autoestradas virtuais
Trocar "zeros" dos milhões
Por "uns" nas contas reais

Quero ser observador..... REFRÂO.


Urbano da Vila / 96 / 00
 
 “ Recto ferido em di “

\" Discurso épocalitico \"

 
(I)
Que mais querem vós senhores
- Todos doutores - na televisão ?

Uns pegando no \"presente\" ao colo
Com todo o amor.
Outros, ao pontapé e ao soco,
Fingindo não ter onde se lhe pôr.
Outros cuspindo fogo,
Semeando os ventos do terror !...

Mas ao nosso \"presente\"
\"O tal\" do dia a dia,
Só lhe descontam ilusão !
Sempre a mesma fantasia
Fundamentada, estrategicamente
Na demagogia, que são.
- Profissão estupefaciente !

Querem-nos o voto
Guerreiam-se, esfolam-se ...
Por um voto.
- Eu também voto : - Não !

Deve haver um direito : - Ser independente !
Porque não,
Se tudo se repete ?
Repete-se a guerra fria
Que só já pena, nos mete !

Porque às tantas, o programa ...
- Repete-se o drama :
« Pedimos desculpa por esta interrupção,
- São Bento entrou em erupção -
O programa segue dentro de \"parlamentos\" »

- Qu’este já deu, a quem tinha a dar.
Diz o \"Zé cansado dos engordar\".

(II)

Bom, agora
O melhor é ir-me embora,
‘Tá na hora do telejornal ...
(A mesma miséria de sempre
mundo fora.
A sofrer, cada vez mais gente !)

E a seguir,
O melhor é ir curtir.
Vem um tal \"tempo (mal dito) de antena\"
Tempo de ter pena :
- Falam todos tão igual !

(III)

Vem branquinha de pó de talco
E com cheirinho a desinfecção,
A nova oposição,
- A antiga coligação governamental.-
Dizer lá do palco :
- Alto. Alto.
Está tudo mal !

- Melhor quem não faria ? -
É preciso mudar.
Nesta rebaldaria,
O país não pode continuar;
E só em nós podem confiar
Quando em tal dia, forem votar.

... O povo tem que compreender
que só ele é o culpado.
votou no poder errado !
agora, só há uma saída a escolher,
quando outros tiverem que eleger,
botem uma cruz, no nosso quadrado.

- E eu voto bem : - boto quadriculado !


(IV)

Chega depois o novo senhor vulcão
E diz, com a sua voz de trovão :
- Rebelião !
Fora com esta cambada
De incompetentes.
A minha rapaziada,
Está pronta a governar
Com unhas e dentes !

É preciso renovar,
Que entrem os suplentes ...
( Que já não andam nada a gostar
da equipa titular )

- Quem gosta de estar
No banco a ver jogar
Concorrentes incompetentes ?


(V)

Eis por fim o rei pequeno
Tão moreno, o tirano.
Olhem como ele fala,
Parece que está a tocar piano !

- Vou cumprir-vos as promessas
Que vos faço na campanha;
Haveremos de ser como a Alemanha !
Mas não tenheis pressa
E sobretudo não me façam sair
Se não,
Não passamos de Portugal.

Portugueses, eu não os quero ver mal
Por isso por favor, deixem-me prosseguir.
Porque o povo é que foi o culpado
Votou tarde demais em nós. A solução.
Os outros deixaram isto tudo acabado,
Tinham escondido o país, no alçapão !

Sejamos reais,
É promissor o futuro.
O caminho será longo e duro,
Mas comigo iremos conseguir,
Seremos capazes de triunfar.
Mas como ainda vai demorar
Não me façam já cair !

E já agora aproveito,
Já que estou a falar verdade,
Para dizer que o voto no \"mais que perfeito\"
É com o vosso \"particípio\" no nosso quadrado.

E eu voto bem : - voto \"ar condicionado\"

(VI)

E enfim tudo se consuma,
O governo empossado,
Glorificado, tudo promete.
Tudo semeia e estruma.
Na ordem diz que mete !...

Mas não mete. Não arruma.
Melhoras ? - A deles, já é uma -

E o tempo vai passando,
O poder vai-se baralhando,
( Partindo e dando )
E como sempre perdendo.
Os buracos (todos ?) sabendo,
A oposição fervendo, agitando,
Os \"medias\" em máximos, encandeando.
E a opinião pública ?
- De quadrada passa a cúbica !

(VII)

Então,
Após nova interrupção,
Lá vêm eles de novo
Tão bonitinhos, à televisão.
Dizer a verdade ao povo.
- Chorar de novo ! -

Pelos votos cruzados
Deste povo feito de activos,
Passivos, cansados e deserdados.
Herdeiros, tripeiros e atrevidos
E outros tantos, bem sucedidos ...
- Votos repartidos.

Por uns, de fresco pintados.
Outros, reconstruídos.
Outros, de novo criados.
Outros, arrependidos.
Outros, arruinados.
E outros de inveja roídos ...
Mas todos, partidos !
Se chega a nova conclusão :

-Então,
Lá vem à televisão,
O novo senhor decisão !
Em directo da \"Cova da Piedade\"
Dizer, cheio de boa vontade :

- Tudo mudou,
Nada vai ficar como estava,
Este governo vai trabalhar,
Como há muito nenhum trabalhava.
... Blá , blá , blá ... Blá , blá , blá ...

- Estou ? - Estava !

P’r’aqui a pensar,
Que deve ser duro ao povo,
De vos acreditar
De novo !

Façam-se lá uma imagem
Digna de quem se quer respeitar !
Que o povo, até quer votar
Em quem os saiba representar,
Não em \"nossos senhores da boa viagem\"
Que se engordam à passagem.

E agora,
Com o devido respeito
Deixem-me votar, - Exercer o direito -
Vou votar bem. Para Belém :
- Voto na bochecha esquerda do meu peito !

Este é meu discurso \"Épocalítico\"
\"Ficou escrítico\"

Urbano da Vila /83/85
 
\" Discurso épocalitico \"

“ Paródia Nacional “

 
Viv’ó Pinto da Costa
É o maior presidente
E quem dele não gosta
Tem inveja certamente

Queria ter um parecido
Quem está sempre a criticar
Como diz o provérbio antigo
“ Quem desdanha quer comprar “

É o grande domador
Dos tripeiros dragões
E o maior caçador
De águias e leões

Com ele ou vai ou racha
Ninguém joga a feijões
Andam a toque de caixa
Os da “treta” campeões

Se há “ casos “ é convidado
Comenta-los na televisão
« O Porto é sempre roubado
vitima da corrupção »

E mesmo se as imagens
Desmentem o que ele disse:
« A culpa é das montagens
E tudo uma aldrabice »

Á federação e á liga
Não lhes passa cartão
Á Pinto duma figa
Tens os todos na mão.

O pé na poça nunca põe
Sem nó nunca dá ponto
No futebol põe e dispõe
É ele o “ Boss “ e pronto.

Urbano da Vila
 
“ Paródia  Nacional “

“ Já não sei quem ”

 
Já não sei da minha idade,
Existo. Falta-me tempo !
Já não sei se é verdade,
O que acredito, neste momento.

Já não sei se esta vã vida,
Está de ida, ou mal começou.
Já não sei se há uma saída,
Neste rumo incógnito, que sou !

- Já estou meio a ficar,
Meio farto, de assim ser...
Cheio, de pouco saber,
Cansado, de não conseguir
Na cidade, um lugar ocupar !
- Já não sei quem seguir,
Quem me quer. Quem me tem.
Se posso ir, mais além
Ou se já tudo acabou,
Onde espero ainda ir.
- Já não sei para quem estou
E o tédio, faz-me em pouco.
O tempo, não me dá troco
E eu apático, me resto
Por quem, de ontem me sobrou.
- Já não sei para que presto,
Se para inapto ou aprendiz ?
Sou. A soma de quem me fiz !
E serei, quem me construir.
Venha tempo. A vida, eu empresto !

Já não sei se sou capaz,
E tenho pressa, de chegar.
Já não sei voltar atrás,
E onde estou, não quero ficar.

Já não sei se sei partir,
Como quem, se fez alguém.
Já não sei p’ra onde fugir
E fujo, já não sei de quem !

Já não sei quem seguir,
Quem me quer. Quem me tem...

... Já não sei p’ra onde fugir
E fujo, já não sei de quem !

Urbano da Vila/84/93.
 
“ Já não sei quem ”

“Gira bola, que gira”

 
Sou tudo !
O céu. A terra. O mar.
No tempo aconteci, hei-de acabar
E comigo, inteiro, o mundo.

Este saco de entulho
Sem fundo,
Onde vasculho
Até a morte... Lá estar.

(Que fique bem escondida
Até mais noite ser,
Enquanto a vida
Me apetecer.)

Pois eu, até gosto tanto disto,
Disto que é, andar nisto,
Neste mundo dos humanos.
Que amamos e odiamos,
Escutamos e ignoramos. ...

Ser aqui,
Juiz. Júri.
Advogado.
Inocente. Cúmplice.
Culpado.
Réu absolvido,
A testemunha condenado !

Nesta bola, tão gira,
Que gira.
Dia e noite, sem parar.
E a cada momento que gira,
Nos faz girar !

É o tempo a passar,
A história a desfilar. ...
Por altos e baixos,
Estradas com buracos,
Mas também, vias rápidas.
E mesmo, vias lácteas !

Por tentações e excessos.
Privações e carências.
Ilusões e abcessos.
Acções. Paciências.

(... E pensar que tudo isto,
Tudo a que assisto
E por ora, resisto.
Ao fim disto, me irá levar. ...
É cedo ainda,
Tenho tudo ainda,
Tão ainda,
Por começar)

Nesta bola, tão gira,
Que gira.
Dia e noite, sem parar
E a cada momento, que gira
Nos faz girar !


Urbano da Vila
 
“Gira bola, que gira”

“Trunfos de palha”

 
Embaralhei mal o passado,
Parti por baixo, o presente.
O futuro prevejo, mal dado
Se passar, há-de ser rente !

Meu dominó tem oito senas,
Que faço dos dois carrões ?
Aos dados faço dois apenas,
Ao trinta e um... trinta e dois !

Ao baralho não sei ir biscar
Um jogo que a pena valha.
Sem trunfos e todos a cortar...
Raras as vasas de palha !

O futuro prevejo, mal dado
Se passar, há-de ser rente.
Embaralhei mal o passado,
Parti por baixo, o presente !

Meus paus, escassos escudos
Masculinos e cheios : as copas.
Desde de que jogo aos graúdos
Só me resta a sola das botas !

Protesto ! Vai o jogo a baixo.
Cambada de grandes batoteiros !
Estou farto de passar, a tacho
E não poder ir... a herdeiros !

Embaralhei mal o passado ,
Parti por baixo o presente .
O futuro prevejo , mal dado
Se passar , há-de ser rente !

Urbano da Vila
 
 “Trunfos de palha”