Poemas, frases e mensagens de Ravendra

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Ravendra

CICATRIZ

 
CICATRIZ
 
Vejo a mente cega
Guiando a pele que grita
Em eterno interlúdio
De dor e prazer

Na ferida que verte
O sangue do seu sal
Onde tempera com cores
A tela do mundo real

E canta e grita
Debate-se em si
Cadeias se mostram
Grilhões que nem vi

Giram em torno
Engrenagens diversas
Hoje tenho meu encaixe
Depois não conheço tua peça

O corte estancado mostra
Ali ter estado alguém
Cicatrizes que não se calam
Coisas de eterno refém.
 
CICATRIZ

Esculturas de Algodão

 
Por que as nuvens tem tantas formas?
O céu não muda seu formato
É sempre do mesmo tamanho
O tamanho limitado de nossa visão
O que muda são suas cores, seus tons...
Mudam devagar ou rapidamente...
Mudam seus sons
Ouvem-se brisas ou trovões
Sopra o vento ou o furacão
Assim como bate meu coração
Polarizado de tanto emoção
Mas e as nuvens?
Continuam voláteis em suas formas...
Sim, porque o rosa azinzentado
É sempre o mesmo.....
o vento do sul sempre vem de lá....
As nuvens são diferentes.
São fofas e alvas como algodão....
E daqui a pouco podem ser negras
e densas como a angústia....
Angústia que só passa com o desabafo...
Chorar....chorar é uma libertação....
É um desprendimento....
O início de um possível desapego
E assim a nuvem negra chora suas
torrentes de água para tornar-se
novamente uma escultura de algodão.
 
Esculturas de Algodão

Poema sem nome

 
Poema sem nome

Outono querido
Momento doído
Teus ventos me despem
De folhas diversas
Aquelas secas inúteis
E as de cores fúteis
Me despem teus ventos
Roubam-me a alma
Fazem-me estéril.
Estação preferida
Por que tão doída?
Aos meus pés as vejo caídas
Inúteis e fúteis medidas
Que alimentarão certamente
Minhas raízes crescidas.
 
Poema sem nome

Você precisa aprender a se desapegar

 
Você precisa aprender a se desapegar
 
“Você precisa aprender a se desapegar.” – personagem de George Clooney à personagem de Sandra Bullock no filme “Gravity” (Gravidade). Assisti a este filme hoje à tarde deitada em minha cama e esta frase foi o grande aprendizado do dia.
Desapego. Palavrinha difícil essa, não? Difícil de ser mensurada e vivida. Muitos confundem desapego com falta de interesse, de cuidado, de amor. Nada disso. Desapegar-se é ter interesse, ter cuidado e ter amor; e apesar disso saber de seu próprio limite diante das situações da vida. É não nadar contra o fluxo das coisas. É dar liberdade e libertar-se ao mesmo tempo. O desapego é o amor em essência porque não depende de uma condição para a existência do sentimento.
No filme, a personagem de Sandra Bullock havia perdido a filha de 4 anos num acidente ridículo; a não existência do ser amado, em nossa cabeça, entra em choque com nossos sentimentos pois nos dá a impressão do amor simplesmente não mais existir. Mas o amor não termina com a morte ou separação de quem amamos. O apego a esta confusão mental é que nos faz sofrer.
Desapegar-se com sabedoria deve ser algo essencial à saúde em todos os níveis. Mas para tal, necessário é perceber que nossos sentimentos são sempre NOSSOS. Sejam bons ou maus, o que cultivamos dentro de nós forja-nos para a vida. E isto independe do outro. Sempre.
Mas e o outro? Ah...”os outros” são nossos professores e alunos. Os outros são parte assim como eu e você. Pois foi exatamente através de uma precipitação desapegada de Amor Infinito que o TODO nos permitiu existir.
 
Você precisa aprender a se desapegar

O NATAL É VERMELHO

 
O NATAL É VERMELHO
 
23 de dezembro. Mais uma menstruação que chega; marquei no calendário – como sempre. E como num filme de “Sessão da Tarde” que se repete, um “Lagoa Azul” que já vi quinhentas vezes, sempre aquela mesma história: muito fluxo, incômodos, dores na lombar e cólicas infernais.
Meu marido, sempre paciente, às voltas com um comprimido e uma bolsa de água quente para me acalmar. E haja saco para agüentar uma mulher assim! Do-in, Reiki, orações, pajelança – faz-se de tudo para que passe a dor de uma cólica menstrual. Às vezes penso mesmo em arrancar meu útero de dentro de mim. Quem me dera o pudesse por mim mesma!
Depois que o “filme” deu uma trégua, respirei fundo, virei para ele na cama e disse: “Tava aqui fazendo as contas e, arredondando, sabe quantas vezes você já me viu menstruada? Respondi depois de seu balançar de cabeça – “nada menos que 96 vezes nestes oito anos de relacionamento.” Ele, já acostumado com meus papos de “tamanduá-bandeira”, deu-me uma bitoca e virou-se para dormir.
E eu fiquei a pensar que aquilo também é amor. E me peguei pensando no porquê de precisarmos tanto definir o que é o amor. E mais: qual sua intensidade. Isto eu amo mais, aquilo amo menos. Qual instrumento usamos para definir estes parâmetros de “mais” e “menos”, “pouco” e “muito”?
Deixo meus pensamentos voar no programa sobre o Tibet e, mais especificamente sobre uma cidadezinha chamada Nagarkot, de onde se vê o mais lindo alvorecer do sol do mundo. Nesta cidade não havia água potável há bem pouco tempo atrás e os habitantes traziam água da floresta para seu consumo. Vivem basicamente da agricultura e do turismo, sem os quais praticamente sucumbiriam economicamente. Mas eles têm o mais belo nascer do sol do planeta. Palavras deles afinal. Mas quem vai discutir com alguém que consegue ver o Himalaia de praticamente todos os ângulos da cidade? Eu não teria esta coragem. Eu senti emoção de ver tudo que vi na TV; imagine se pudesse estar lá pessoalmente. Acho que isto também é amor.
Há esta altura já havia perdido o sono; pus-me aqui entre vós e é para vós que escrevo . Vocês que são o receptáculo de minhas palavras cruas, nuas que se transvestem em regras gramaticais. Ou nem tanto, posto que pouco estudei para isto e pouco me preocupo com isto aliás; se escrevo bonito, por vezes, garanto que não é para impressionar – é minha alma que busca os arabescos dentro de mim. Dou-me a vós. Isto é real. E sangro. Sangro ao escrever porque derramo-me sobre o papel. Sim! Sou das antigas. Escrevo no papel quase sempre...um esboço. E depois desenvolvo na mente e passo para o computador.
O Natal é colorido. Mas basicamente o Natal é vermelho. E o que o vermelho diz a você? Paixão? Sangue? Morte? Laços de fita? Não sei...tantas coisas...
Meu ano de 2011 foi tão diferente. Um marco em minha vida. Tantas coisas deixadas para trás. Tantos armários arrumados. Tantas “roupas” recicladas. Tanta vida.
Realmente não gostaria de deixar mensagens de paz, saúde, prosperidade, amor e blá-blá-blá para vocês. Isto todo mundo diz. E como boa excêntrica que sou, não gostaria de ser igual a “todo mundo”. Poderiam pensar: “Quanta prepotência!” E eu concordaria...muita prepotência...E é no balanço do ir e vir, do sobe e desce que falarei e falo aqui de forma tão diferente e tão comum aquilo que todos já sabem – sobre o amor.
Sem definições e medições possíveis, o amor existe para ser vivido. Em cada respiração. Em cada expiração. “Definir” o amor é o mesmo que matá-lo; numa tentativa ridiculamente idiota, é verdade.
Saibam que sinto “o que não sei definir” por todos vocês. Saibam que todos vocês sentem “o que não sabem definir” a todo momento de suas vidas. Simplesmente porque “o que não sabemos definir” já existia mesmo antes de sabermos que estávamos vivos.

BOAS FESTAS!
 
O NATAL É VERMELHO

DISTRAÇÃO

 
DISTRAÇÃO
 
“se puxar demais, a corda arrebenta. Se deixar frouxo, não toca…” - Buda

Distração – palavra que faz parte da essência humana. Segundo a etimologia da palavra, “dis” significa basicamente negação, algo contrário ou mesmo “para fora”. O radical da palavra, também do latim, “distrahere”, significa separar, puxar em diferentes direções. Passou-me uma ideia de força atuando sobre algo, lembrou-me conceitos da Física. Sob esse prisma talvez pudéssemos dizer que distração é retirar a força (atenção) de algum lugar e dispersá-la para outro(s) foco(s). Basicamente é este o movimento proposto.
A mente humana é mestra na arte da distração; seja ela originariamente orquestrada por nossos maiores receptores (os sentidos) ou mesmo por milhares de probabilidades que se movem em décimos de milésimos de segundo entre as sinapses neuronais.
Ouso dizer que, sem distração, não haveria raça humana como conhecemos hoje. Ela é fundamental à sobrevivência da espécie. Imagine um ser humano autoconsciente que não se distraísse por nada de seus objetivos, a menos que fosse de sua livre vontade? Tal mente ainda não fora desperta – não mesmo. Não recordo-me no momento, mas suponho ter visto algum filme onde uma situação similar ocorria. Determinado personagem tinha acesso a muitos acontecimentos e enlouquecia por isso. De fato, por mais que um controle assim seja tão almejado, o mesmo chega a causar um certo estranhamento ou temor. Estar totalmente focado em si, mesmo vivendo numa dimensão como a nossa, é algo praticamente impossível e, sem nenhum medo de ser redundante afirmo: impossível na prática mesmo.
Mesmo sendo algo assim tão aparentemente incomensurável, o autocontrole deverá ser sempre almejado e buscado. Sendo assim, até mesmo a distração poderá ser conduzida de forma cada vez mais consciente.
Mas o que acontece quando não nos damos conta deste mecanismo da distração? Ora, basta olhar pela janela. O que acontece está diante dos nossos olhos, todos os dias, em menor ou maior escala. Da forma mais simples à mais complexa. Engloba uma única vida ou mesmo todo um país. A maioria de nós vive distraído de si a maior parte do tempo. E o pior: nem se dá conta disso.
Dentro desse mecanismo, os sentidos são os menos prejudiciais. Isso em sua forma essencial, como a fome, a dor, o sono e por aí vai. No entanto, a mente também se utiliza dos sentidos para engendrar formas de distrair-se. Na verdade, mesmo sem ter lido nada específico à respeito, acredito mesmo que a distração seja um mecanismo poderoso da mente, utilizado para autodefesa. Exemplificando de forma bem básica: uma criança muito cobrada por pessoa amada muito próxima desenvolve patologia que a leva a um nível tal de distração onde o resultado é exatamente chamar atenção para si como única forma de conseguir contato e/ou carinho. Soube de um caso parecido, narrado por uma psicóloga, onde uma criança tinha sérias dificuldades na escola e fora concluído que a mesma não melhorava porque apanhava constantemente da mãe em função disso, sendo este o único contato físico mais íntimo existente entre mãe e filho. Ou seja, havia uma “tração” da alma ali. Um puxar. Uma ausência de um contato extremamente desejado que, no desespero de uma mente pequenina que não sabe compreender o que sente, porém não menos inteligente que qualquer outra, desenvolve mecanismos para driblar aquilo que considera mais prejudicial a si, por incrível que possa parecer. Assim somos todos nós.
Distração. Deixar de puxar. Tirar o foco de.
Pulando dos fatos para a filosofia budista, poderíamos fazer uma analogia com a ilusão. Distrair-se é também iludir-se. E por favor, não me venham entender que ilusão seja algo prejudicial – procuro ser o máximo imparcial aqui. Ilusão faz parte da vida humana, ao menos até aqui. A ilusão é uma confusão de sentidos que provoca a distorção da percepção. Ora, nossa percepção é por si só limitada. Somos um ponto no meio de um oceano de pontos. A ilusão é algo perfeitamente aceitável num cenário desses.
Mas, voltando ao tema “distração”, é importante o reconhecimento do movimento em si. Porque é somente isso que ele é: movimento. Nada mais. A distração nada define. Nada busca. Nada constrói ou destrói. É apenas movimento. Tem ponto de partida e destino bem definidos. Não há inércia aqui. Ela é instrumento da mente. E é fascinante começar a pensar nas coisas sem polaridade, pensar nas coisas como ela são. Muitos à esta altura já se perguntam se a distração é algo bom ou ruim. Quem poderá dizer? Somente você mesmo poderá definir a intensidade e função da distração, enquanto seu arquiteto. Ouso apenas dar uma pequena pista: olhe-se no espelho. Acredito que aí possas encontrar respostas muito, muito rápidas e esmagadoramente claras – isto se não te distraíres com as manchas no vidro.
 
DISTRAÇÃO

VERSO E REVERSO

 
VERSO E REVERSO
 
Estranho perceber que estive dormindo
A sensação de estar desperta é incômoda
Incomoda porque é nova; não tenho controle
Aliás, controlamos realmente algo na vida?

Perplexa estou ao me deter
Em quanto tempo levei para perceber
Tudo isto que levei anos para aprender
E agora tento-vos dizer

Sim, é assim como a rima acima
Os vícios se repetem sem que percebamos
Pois se ajustam às nossas doenças
E doença de alma é mais difícil de se ver

Mas agora tomo uma taça de vinho
E minha mente aos poucos alinho
Percebo que sempre estive sozinho
E que eu mesma fiz meu caminho

Buscando sempre as ilusões da satisfação
Nos moldamos às necessidades alheias
Tudo é troca, tudo é necessidade
Tudo é interação; assim é a natureza

Mas devemos buscar o nosso centro
Caminhar cada vez mais para dentro
Encarando nosso tormento
Vivendo intensamente cada momento

Ora estaremos mais firmes
Às vezes seremos mais frágeis
E assim iremos percebendo
A inconstância de nossa existência

Mas a luz que nos ilumina
Brilha sem cessar e nos anima
Levando-nos sempre degraus acima
Num movimento que jamais termina

Sim, é como a rima acima
Ora persiste, ora se esvai
A consciência não é algo estático
É pura ação manifesta no amor.
 
VERSO E REVERSO

LINHAS VAZIAS

 
LINHAS VAZIAS
 
Vivia entre a loucura e a realidade
E na primeira mais que devesse ficar
Visto que de muito necessitava
Teus olhos e tua boca tocar

Teus lindos e cerrados olhos desnudos
Arrancaram o frágil vestido de minh’alma
Teus cabelos em grisalhos desalinhos
Largaram-se entregues em minhas mãos

Vi tua boca abrindo-se lentamente
Em busca da minha úmida e ardente
E antes que teu hálito pudesse alcançar-me
O sopro de tua alma tomou-me por inteiro

Invadiu-me neste lapso de segundo
A derme que evoca a paixão
Momento onde supomos ter o mundo
Onde no abismo do ser bate um coração

Queria para sempre neste mundo ficar
Mas tu me lembrastes que é preciso voltar
Acompanha-me ao Portal da Loucura
Lembrarei sempre tua ternura

A rotina traz enfadonhos dias
E nos animais e flores, alegrias
Na arte escondo minhas manias
De minhas linhas pouco vazias

Tento viver no limite, a tênue marca
Tocar-te por pouco e ficar na terra vazia
Mas querendo sem conseguir, quase me perco
E retorno para aquecer as linhas frias.
 
LINHAS VAZIAS

INQUIETAÇÃO

 
INQUIETAÇÃO
 
A inquietação me consome
É inevitável a pergunta:
Serei eu somente sua companheira
Ou em outros poetas ela também abunda?

Uma crise instala-se
Em uma já existente:
Estaria eu escrevendo
Se ela não morasse em minha mente?

E se necessito da inquietação
Logo me paira a terrível conclusão:
É na quietude de meu desequilíbrio
Que consigo dar sentido à vazão.

Porque escrever é minha extensão
A possibilidade da expressão
Sem justa medida ou aparente razão
É a pura essência da criação.

Sou através dos versos
Em uma metamorfose feroz
Que aglutina coração, caneta e papéis
Onde a alma faz ouvir sua voz.
 
INQUIETAÇÃO

NÃO

 
NÃO
 
Não me julgues pelo que escrevo
Nas palavras que aglutino no peito
Nos ternos compassos de amor e dor
E na simplicidade a que tenho direito

Não me olhes com temor
Na vontade de cifrar-me
Nem sei ao certo o que sou
E já queres dedilhar-me

Não me delimite espaços
Pensado ser muito sagaz
Tenho asas nos passos
E posso te guiar, meu rapaz

Não queiras que te tenha
Antes melhor não saber
Pois no mistério da falta
Pulsa o eterno querer

Não afastes tua alma
Da minha que te fala
Ela és tua há muito
E nas palavras se cala.
 
NÃO

O SAGRADO SENTIDO DO CASAMENTO

 
O SAGRADO SENTIDO DO CASAMENTO
 
Por que nos casamos?
Há inúmeras respostas a esta pergunta: para ter uma família, para ter uma casa, estabilidade, “construir algo”, assumir um filho não planejado, satisfazer carências, fugir da solidão, “arrumar uma empregada que também seja uma amante” (eca!), “achar um idiota que me sustente financeiramente” (eca novamente!), para ser feliz, para ter sexo com mais liberdade(o que não necessariamente traz qualidade), para dar satisfações à sociedade...enfim são infinitas as situações.
A verdade é que não pensamos muito sobre estas coisas; nem sei se realmente deveríamos. Para cada um o casamento tem o sentido da circunstância que vive naquele momento; tem muito mais a ver com o próprio estado de consciência de cada um do que qualquer outra coisa. Nesta linha de raciocínio, o matrimônio pode ter um sentido diverso entre os casais, por mais estranho que isto possa parecer.
Casamento quer dizer união, enlace. Pressupõe intimidade, companheirismo, conjugação de objetivos e desejos, reciprocidade, sintonia. Infelizmente nem sempre é o que presenciamos e vivenciamos em nossa vida diária.
Duas pessoas tão diferentes que se unem em uma vida comum têm muitos obstáculos para manter uma união de forma saudável. Filhos para educar, contas para pagar, reformas a serem feitas, doenças que precisam ser vencidas, desemprego, fragilidades sonhos que ficam ao longo do caminho...são duas pessoas unidas com seus próprios universos para administrar. Criaram um ponto de interseção entre si e tentam administra-lo de melhor forma possível. Em suas constantes mudanças, muitas vezes a interseção não mais se faz....outras vezes, um universo se sobrepõe ao outro e em outras, as circunstâncias da vida os unem de tal forma que não imaginam-se longe um do outro.
Valores são incorporados e outros se vão...outros são meramente suportados.
Em tudo isto há um ponto em comum: seja qual for seu interesse, você sempre estará em busca da felicidade e, sinto muito em dizer, você jamais a encontrará...pelo menos não dentro “deste” sentido.
A felicidade são momentos e o verdadeiro equilíbrio que somente a verdadeira paz nos traz é o único meio de podermos perceber estes momentos e aproveitar o máximo que eles têm para nos dar.
Mas, até o momento, não tratamos do sagrado sentido do casamento.
Há pouquíssimo tempo este conceito mudou muito dentro de mim. Na verdade eu nem considerava o casamento como um sacramento; mas meu entendimento mudou.
A despeito de toda esta realidade que vivemos, de todo o processo evolutivo que somos levados a experimentar através do auto-conhecimento, há um sentido todo especial que une fortemente as almas através dos milênios: o verdadeiro amor. O amor fraternal, o amor descrito por Paulo em sua carta ao povo de Corinto ( I Coríntios, Cap.13 V.1-13). Este amor é capaz de tudo. Que dá a vida e renuncia a seus próprios desejos em favor do ser amado. Vejam bem: não é uma questão de obsessão ou falta de amor próprio. É simplesmente a própria essência do desapego.
Depois que este conceito desenvolveu-se dentro de mim, outros fizeram-se ainda mais presentes: a questão da castidade(no sentido da preservação) e a própria questão da fidelidade, mas não esta vista de forma banal com todas estas palavras chulas gestos vexatórios. Senti a fidelidade como uma forma de respeito ao sagrado sentido do amor.
É como seu o meu corpo fosse um templo onde uma única pessoa pudesse penetrar; não há mesmo muito sentido em dar a outrém o que não lhe pertence. Neste caso, o sexo passaria de mero foco de prazer à veículo de iluminação. Não conheço muito sobre o Tantrismo mas acredito que tenha este pensamento como base.
Quando encontramos o sentido do amor em nossas vidas, tudo se abre à nossa frente.
Aqueles que têm o privilégio de encontrar alguém para amar desta forma podem considerar-se efetivamente abençoados.
O amor se faz e se instala independente das circunstâncias. Ele é como a água que desliza sobre qualquer superfície...é como o ar, indispensável aos nossos pulmões, é como o fogo que nos queima de desejo, é como a terra que planta nossos pés nos ensinamentos...enfim, ele é o ÉTER que nos eleva rumo ao infinito.

Sugiro aqui uma breve reflexão sobre uma das vivências mais importantes de nossa vida: a de estar casado. Será esta apenas uma condição social ou terá ela um significado mais profundo?
 
O SAGRADO SENTIDO DO CASAMENTO

A amante

 
A amante
 
Para você guardo a beleza
Os momentos mágicos da vida
As sensações e sonhos escondidos
E pela rotina ainda contidos
Haverá sempre alegorias – não duvides
É porque coloro tuas tardes
Habito tua memória para que
Sorrias ao lembrar tua história
Não temas pela aparência
Pois tudo neste mundo o é
Tudo parece e tudo passa
O que há na essência
O que move as formas
Isto é o que fica
Aproveite os momentos
As tardes, os dias, as leituras
Cuide de teus amores
E como em um orgasmo estendido
Estenda os efeitos à sua volta
Contamine as pessoas com sua luz
Posto que dos poros transpira o amor
Afugente do coração o receio
Ele te trava, castra e te “veste”
Fiques nu – prefiro assim
E não duvides da realidade
De nosso sonho e louvor
Tudo aconteceu, de verdade
Porque em cima daquela cama
Somos a realidade de nosso sonho
E vivemos os dias, as horas
Com o sonho de nossas realidades.
 
A amante

APEGO

 
APEGO
 
Olho fotos e cartas
Revivo cada momento sentido
Porque o vínculo da criação
Nada mais é que a emoção

Emoção é o tempero
Que destemperado traz desespero
Este que nos prende
Nas malhas ilusórias da angústia

Emoção é a vida
De um par de olhos que contempla
Um pedaço de si mesmo
Ensaiar os primeiros passos

Mas cartas e fotos
Nada podem perto de nossas memórias
Cuja matiz, som e calor
Matéria alguma pode expressar

As emoções nos prendem
Nos escravizam em sua beleza ou loucura
Elas nos conduzem com a mesma força
Ao céu ou ao abismo

Não seriam as emoções
Matéria-prima de nossos sentimentos?
Porque tentamos defini-las e entendê-las
Reduzindo-as ao mundo concreto?

Existem muitos fanáticos no mundo
Mas pensando bem, o maior deles é Deus
Que mesmo consciente de todo este caos
É fanático e apaixonado por nós.

Sigamos então Seu exemplo...
Não dizem por aí
Está escrito na Bíblia
Somos feitos à Sua imagem e semelhança.
 
APEGO

Gestação

 
Gestação
 
Algo pulsa dentro de mim
Mas é diferente do corriqueiro
Pulsante sempre fui enfim
Mas nunca me senti inteiro

Algo incomoda minhas entranhas
Me faz sentir dor, me dá prazer
Já não suporto mais as artimanhas
De algo que não consegue se conter

Algo insiste em mostrar que existe
Contrariando todo o hábito das existências
Sinto que meu corpo não mais resiste
E aos poucos vai livrando-se das resistências

Algo cresce dentro de mim
Expandindo-se sem ser permitido
Sinto que a explosão se aproxima
Vejo minha vida perder o sentido

Algo transborda através de meus poros
Percorre todo meu ser
Envolve-me em olhares sonoros
Mostra-me o que eu nem sonhava em querer

Algo me remexe por dentro
Desequilibra todo meu sistema
Tornando-me frágil, sem centro
Sem entender o por quê deste dilema

Algo me leva a pensar, me faz chorar
Me revolto porque perco meu tempo
Sinto que não vejo a vida passar
Não suporto mais viver este momento

Algo me faz visitar meus infernos
E neste cenário encontro uma flor
Ela aquece este tenebroso inverno
E me ensina que há algo a transpor

Algo me faz retomar meu caminho
Me acalenta com sua doce brisa
Recordo-me que nunca estive sozinho
E que este é o trabalho que a alma realiza.

Algo insiste em mostrar a verdade
Se já não fosse parte de mim
Diria que é artifício de pura maldade
Continuar sentindo este cheiro de jasmim

Algo me fala bem baixinho
Me faz por dentro estremecer
E na ânsia de afeto e carinho
Lembro-me da gestação que preciso viver

Algo se renova dentro de mim
Finalmente sou um novo ser
Fora preciso um enorme motim
Para que este “algo” pudesse nascer

Algo acaricia minha face
Me abraça e me toma com ardor
Jamais sonhei com este desenlace
O doce nascimento do amor.
 
Gestação

TENTATIVA

 
TENTATIVA
 
Vou caminhar e caminhar
No intuito de te encontrar
E no fundo dos teus olhos notar
Que nenhuma fagulha jamais passará

Vou procurar e procurar
Uma forma de sua resistência vencer
E te mostrar que não há medo no querer
E todo meu desejo de a ti ter

Vou tentar e tentar
E se não der, vou te atentar
Até que você não resista em me tocar
E queira logo me amar

Vou sentir e sentir
Seu corpo que não pode mais mentir
E no silêncio que insiste em exprimir
Os sentimentos de que tentas fugir

Vou amar e amar
A forma que tens de se dar
Aceitando o que há para aceitar
Pois a ti não posso, não devo mudar.
 
TENTATIVA

INFLAMÁVEL

 
INFLAMÁVEL
 
Você é um cilindro de acetileno
Abra a válvula deste regulador, vai...
Abandona este fluxômetro logo!
Vem me encontrar, sinto fome de você.
Eu sou seu oxigênio
Comigo você entra em combustão
E não há chapa de aço que resista!
Corte ou solda.....
O que você quiser a gente faz...
Se demorar muito,
A pressão interna do cilindro pode aumentar...
Aí não vai adiantar nadinha
Ficar regulando este fluxômetro como um louco,
Vai explodir mesmo!
O risco é todo seu...
Não sou eu o "inflamável" da parada.
Eu sou apenas o gás comburente;
Aquele que "atormenta" sua gélida paz.
Porque sem seu movimento,
Minha vida é tão sem graça...
Seria eu apenas mais um gás....solto por aí....
Sem todo este poder de ação que tenho
Quando estou combinado à você!
 
INFLAMÁVEL

CAFÉ COM PÃO

 
CAFÉ COM PÃO
 
“Me compra um pão?”
Eu não disse que não
Mas também nada disse
Fiz “espere” com a mão

Abaixou a cabeça
Era só mais um pedido
Sentado ficou no chão
Talvez eu não tivesse ouvido

Entrei no mercado
E o coração apertado
Como fazer algo afinal?
E melhorar este problema social...

Sei que só, pouco posso
Mas uma gota de chuva
É sempre melhor que a seca
É melhor que remorso

Pedi uma média e um pão
“Para viagem, meu irmão”
Eu tenho casa, tenho chão
Ele somente este pão

Consciência tenho que isto
Jamais será a solução
Mas como negar comida
Perante tanta desolação?

Desta vez nada falei
Nem lição inútil
Tampouco observação fútil
E o pacote à ele dei

“Obrigado, tia!” – gritou
Era tudo que meu coração ouvia
Enquanto minhas costas se viraram
E minha alma ali ficou.
 
CAFÉ COM PÃO

MOVIMENTOS

 
MOVIMENTOS
 
Crio e recrio
Planto e colho
Sonho e acordo
Amo e odeio

Triste e magnífica
Polaridade que vivo
Liberdade que escraviza
Limitação que liberta

Emoções conturbadas
São a matéria-prima de meu ser
Mas sem elas e seu estímulo
Não haveria cores em meu viver

Se equilibrado fosse sempre
A vida não teria sabor
Não faria sentido viver aqui
Sem tanta coisa para transpor

Perceber-se é fundamental
Aceitar-se, primordial
E ao unir consciência e aceitação
Sentimos o bem que faz esta união

Nascemos nús e morremos vestidos
Talvez devamos despir-nos para morte
E renascer “vestidos” da mais pura essência
Presente porém, ofuscada por nossa demência.
 
MOVIMENTOS

AZULEJOS

 
AZULEJOS
 
- Me consiga material de limpeza – eu disse.
- Para quê? – questionou ela.
- Vou limpar os azulejos do box do banheiro - respondi já pegando a vassoura.
- Deixe isto para lá...eu farei isto depois! – como se pudesse...pensei eu.
- Eu quero fazer isto – disse com o tom de voz decidido que ela já conhecia.
- Então, está bem – faça!
Havia chegado no dia anterior fugida de uma crise nervosa, tentando esquecer aquilo que só conseguia lembrar. Vim para Sete Lagoas num lapso de desespero, no afã da oportunidade que se agarra como tábua de salvação. Já havia ensaiado visitá-la várias vezes antes. Compromissos, falta de tempo e dinheiro, foram muitas vezes as “desculpas” que arrumei para não vê-la. E neste vai e vem de tentativas, passaram-se cinco anos sem ver uma das pessoas que mais amo no mundo.
Amiga, irmã, amor ...mulher de garra, de fibra e sofrida como eu. Se eu tivesse nascido homem, me casaria com ela certamente; mas ela sempre disse que se eu fosse homem não seria o que sou, então não daria muito certo. Ela deve ter razão. Capricorniana“arretada”, sem papas na língua e que não gosta muito de abraços e “agarramentos” – ela é assim. Totalmente diferente de mim, em tudo. Ela baixinha, eu muito alta. Ela magra, eu gorda. Ela morena, eu loura. Ela, cheia de filhos....eu com apenas uma filha. Ela aparentemente fria, eu aparentemente “quente” demais. Dois seres muito diferentes, vivendo em mundos muito diferentes com uma coisa essencial em comum: o amor. Um amor de 28 anos que nunca faltou entre nós.
Então, já que tinha sua “anuência”, peguei o balde com os produtos que pude ver pela frente, esponjas, palha de aço e tudo mais...e comecei preparando uma água poderosa. Uma mistura de tudo que vi pela frente regada a muito cloro. Peguei a palha de aço e comecei esfregando a primeira fileira de azulejos que iam da altura de meu ombro para baixo. O banheiro era todo azulejado até o teto. Olhei para cima e vi que as cerâmicas lá no alto precisavam de limpeza, mas eu não tinha escada à minha disposição no momento. Avaliei. Uma vassoura com pano não ia resolver o problema. Deixei para lá. Resolvi concentrar-me nos que estavam ao meu alcance.
Havia algum lodo e muita gordura nas cerâmicas. Então comecei um trabalho lento e minucioso. Enquanto esfregava, meu pensamento voava para longe dali. Pensava em como minha amiga estava, de certa forma, só. Não havia quem a ajudasse a fazer os trabalhos domésticos mais pesados. Pensei que, se estivesse por perto, poderia ajudá-la nem que fosse de 15 em 15 dias. Eu conhecia seus gostos e seu jeito. Ela deveria estar “passada” por não poder fazer quase nada em sua própria casa.
Havia algum tempo, meses, que ela sofria com uma doença ainda não totalmente diagnosticada, que inchava-lhe o braço, punho e mão direita, paralisando-lhe os movimentos, causando-lhe dores horríveis que prolongavam-se até o pescoço, descendo por toda a coluna. Chegou a ficar sem poder pentear seu próprio cabelo – que é lindo, negro e comprido. Suspeitavam de artrite reumatóide ou lupus. Ela ainda estava em fase de exames, adaptação de medicamentos; mas estava melhor. Porém nada que lhe permitisse fazer exageros.
E eu ali. Lavando azulejos. Lindos por sinal. Mas sujos. Uma mancha aqui e outra ali. Lavei toda a extensão do box – as três paredes da altura de meu ombro para baixo. A última fileira de azulejos, lá embaixo, não ficou do jeito que eu queria. Eu não conseguia abaixar-me o suficiente para limpá-los como deveria. Então usei a vassoura. Mas não ficou legal. Tudo bem. É meu limite.
Pensei como, muitas vezes, eu havia feito aquilo sem dar o mínimo valor. E senti como é bom poder lavar um banheiro mesmo não o fazendo de forma totalmente “correta”. Também.... o que é correto na vida?
Quando terminei todos os azulejos, olhei para eles e sabia que estavam limpos. Mas não conseguia ver a beleza deles porque eu ainda não os havia enxaguado. Engraçado, pensei: havia gordura e lodo; eu esfreguei cada um com sabão e cloro. A sujeira misturou-se ao produto de limpeza e, apesar de saber que agora está limpo, não conseguirei perceber isto de verdade enquanto não enxaguá-los. Pode parecer loucura, e talvez seja, mas vi naquilo algo de mim. Senti-me um azulejo. Às vezes, o lodo gruda na gente, ficamos “engordurados” por dentro e por fora. Usamos alguns paliativos: compramos roupas novas, arrumamos outro emprego, damos um jeito de misturar aquela sujeira toda com alguma coisa mais “limpa” para que nossa vida pareça mais saudável. E pensamos estar mesmo melhores. Aquilo tudo seca e só agrega uma casca que cada vez mais endurece e pesa em cima de nós.
Peguei então o balde com água limpa. E comecei a jogar nos azulejos. Com minha mão esfregava a água com carinho para que toda aquela mistura soltasse dali e corresse ralo abaixo. Vi cada azulejo reluzir à luz do sol que entrava pela janela com vidros coloridos. Lindos ficaram. Livres estavam. Eram aquilo que tinham que ser. Aquilo para que foram criados.
Pensei na vida que estava vivendo. Na verdade, na “morte” que estava vivenciando nos últimos meses. Um eterno nascer e morrer à cada dia. Como todo mundo aliás, mas talvez de forma mais consciente em função da doença.
Pensei em como tomar a decisão definitiva de banhar meus azulejos. De deixar reluzir minha alma. De ser aquilo que sou e viver para o que fui criada. Eu não queria mais o lodo de minha tristeza, apesar de saber que ela foi necessária e faz parte da vida. Não queria mais a gordura acumulada em meus vários corpos. Eu precisava ser livre. De mim e para mim.
- Quero te agradecer, minha querida...
- Por quê? – Ela disse com carinha de espanto.
- Pela honra de lavar seus azulejos – e dei-lhe um beijo carinhoso.
 
AZULEJOS

RUGAS DA BELEZA

 
RUGAS DA BELEZA
 
Gavetas cheias do nada
Livros e revistas que gritam
Prazos de validade expiram
De coisas que não lembrava existir

Acúmulo. Roupas pouco usadas
Maquiagens ultrapassadas
De máscaras que teimam cair
Dos padrões que quero sair

Ombros arcados do peso invisível
Acomodação com máscara de calma
Costume aceito que aos poucos
Dá endereço incerto à alma

Abro novamente a gaveta
Lá no fundo a caixa preta
De meus sonhos guardados, amarrotados
Caderno velho, lápis desbotados

Loucuras bem guardadas
Em puro coração alado
Fogem do corpo cansado
Pelo tempo sempre escravizado

Percebo que o velho,
O usado, a pele seca
E a mão trêmula
Sempre por aqui estiveram

Rugas da beleza
Vincos de alma acesa
Onde a luz de passos incertos
No amor põe sua mesa.
 
RUGAS DA BELEZA

Faze o que tu queres será o todo da Lei.
Amor é a Lei. Amor sob Vontade.