Parte de mim
Parte para sempre
E deixa-me aqui assim,
Neste banco de jardim,
A comentar teus efeitos em mim,
Que o pôr-do-sol venha,
E o Tejo brilhe na margem,
Enquanto nesta longa viagem
O barco navega sem fim,
Parte para sempre
Neste final de tarde,
Que o sol já não arde,
E a brisa sopra devagar,
Viajando sobre o mar,
Entre as nuvens o teu nome
Entre o céu a tua arte
E o meu poder infinito de perdoar,
Parte para sempre
E deixa-me de lado,
Neste parque abandonado,
Onde oiço ao longe o fado,
Ao sabor das folhas de Outono,
Que caiem como eu de sono,
Doce e gentil,
Sendo por ti embalado,
Parte para sempre
Que para sempre ficarás,
Peço-te que fiques,
E ao mesmo tempo peço-te que vás,
A maré enche e vaza,
Sozinho na rua e em casa,
Enquanto te vejo da margem,
Gostava que voltasses para trás…
"Eu quero mais!"
Nas palavras infinitas,
Do ditado que tu ditas,
Eu anoto na minha memória,
Para me lembrar para sempre,
É aqui que ficará,
Daqui não irão roubar,
A lembrança que é só minha,
Que guardo na minha caixinha,
Para mais tarde recordar,
Foram três palavras apenas,
Que mais parecia um livro inteiro,
Pois as três juntas exclamadas,
Por ti rematadas,
Ainda são perfume que eu cheiro,
Três setas de cupido,
Que me deixaram envaidecido,
Com molas nos pés,
Que me deixaram aos saltos,
Pelas ruas da alegria,
Contando a todos quem tu és.
Contos de Meia Noite II
A vergonha espantava-te as palavras,
E engolias as frases sem mastigar,
- Diz-te! – disse-te,
E fiz-te silêncio,
Nada disseste.
A vontade espantava-me a vergonha,
E atirava-te perguntas que ias agarrando,
E guardando nos bolsos já cheios,
- Diz-te! – disse-te,
E sem esperar fiz-me beijo.
Nada dissemos.
Diz-me que o mundo é belo
Diz-me que sim,
diz-me que não,
diz-me a verdade,
sem os olhos no chão,
Fala-me de amor,
fala-me de paixão,
diz-me que me amas,
que o nome que me chamas
arde como lenha
na fogueira da cegueira do amor
e rebenta no teu coração,
Diz-me palavras,
diz-me mentiras,
porque aquilo que me tiras
ao mesmo tempo que me atiras
areia para os olhos,
aos molhos,
para a cegueira da confusão,
da indecisão e incerteza,
que de certeza que sabias
que aquilo que te pedia
era mera fantasia na poesia da minha razão,
Diz-me agora,
diz-me depois,
se somos um,
se somos dois,
o que somos
o que fazemos,
por onde andamos,
se não nos conhecemos?
Fala-me de ouro,
Fala-me de prata,
ama-me para sempre,
ou para sempre ingrata,
um pouco de alfabeto,
um pouco de abecedário,
Diz-me que no prazer da escrita em que te coloco,
Diz-me que não ficarás para sempre esquecida,
no meu bloco, no meu imaginário.
Espero
espero e desespero
o tempo é inimigo
a paciência é limitada
e a espera prolongada
o relógio não acelera
disfarçar não serve de nada
o nervosismo já começa
e a espera demasiada
aguardo a madrugada
a noite desenfreada
para escrever poemas e rimas
ao coração da minha amada
por mais que queira negar
por mais que queira fugir
os pés escorregam nos ponteiros
do tempo que quero pedir
indeciso e baralhado
tempo fica!, Não, tempo voa!
o poema é desembrulhado
o tempo cura e magoa
a espera é uivada
à lua quero mentir
que sou lobo de fome aguçada
e que espero pela madrugada
para te consumir...
Vamos beber um copo?
Deu-me o tempo tempo para pensar,
No que iria fazer a seguir ao jantar,
Jantei e pensei no tempo que me sobrava,
Enquanto pensava nisto no sofá me deitava,
E olhava a televisão,
De barriga cheia e comando na mão,
O jantar tinha sido macarrão,
Rebolei então, para fora do sofá,
Ligaram-me - Quando estás despachado?- perguntaram,
E eu respondi – Já.
Calcei as botas e peguei as chaves de casa,
Fechei as janelas, apaguei as luzes, desci as escadas,
Malvadas,
Voltei para cima,
Tinha-me vindo á cabeça mais uma rima,
Que tinha que escrever,
Ligaram-me de novo – Então? – perguntaram,
E eu respondi – Estou a descer!
Mas depois daquela quadra,
Nao consegui mais parar,
Rimas pelo quarto todo,
Os papeis a voar,
E não é que me voltaram a ligar?
- Vens ou não? – perguntaram,
E eu respondi – Calma, estou a chegar!
Nem me apercebi do tempo que tinha tido
Mais do que tempo para passar,
Corri, desci as escadas,
Malvadas,
Voltei para cima,
Já não estava ninguém à minha espera,
Tinham ido,
Pensei em todo o tempo que tinha perdido,
E nos outros que tinha deixado,
Deitei-me no sofá aconchegado,
A ver um programa que passava,
A última coisa que me lembro
Antes de adormecer,
Era o som do telefone que tocava...
Vazio
Vazio...Quero ficar vazio...
Quero-me desprender destas lástimas, arrependimentos,
ódios e amarguras,
destas loucuras, que me levam à ínsónia...
Quero fica em paz,
sozinho sem fantasmas,
sem assombrações de um rapaz
que não sabia o que fazia,
que cresceu depressa, depressa demais...
O tempo não recua,
pouco me lembro da infância,
e tu, lembraste da tua?
Quero ficar sozinho,
desarrumado no meu cantinho
de chão frio e assumir a derrota,
quero rasgar retratos em estantes longínquas,
varrer a lembrança de uma esperança,
quero distância...
Quero um momento,
longo e lento,
para mim, apenas em mim existirei,
quero reflectir se algum dia voltarei
a ser esponja e esfregão...será que tenho opção?
"Quero ficar..."
Cresci para te ver
E agora morro para te esquecer,
Fecho-me em silêncio para nunca mais te ouvir,
Sinto-me a escurecer,
E agora rezo para viver,
Peço-te um último adeus para poder partir,
Esqueço em mim beber,
É a última gota de vida a escorrer,
Vingo-me de todas as rosas e cravos a florir,
Parto sem entender,
E agora fico sem saber,
O que em mim era cócega que te fazia sorrir,
Parto sem saber o que fiz,
Sem saber o que te fazia feliz.,
Sem noção da razão porque tenho de partir.
O que perdi
Com a ponta dos dedos, estiquei-me e não te cheguei,
Escapaste e fugiste em intervalos de choro,
Em lágrimas caidas de tão alto, que tão alto estávamos,
A queda sofrida pela ferida aberta,
Da dor que aperta,
É essa dor que me desperta,
Deitado em sobressaltos de memórias,
De antigas histórias,
Que como o tempo ficam lá atrás,
Saltei o mais alto possível,
Cá em baixo não te apanho,
E voas a sorrir enquanto eu te olho para me distrair,
Com a ponta dos dedos, estiquei-me todo e não te senti,
Não te toquei como queria, como podia,
E agora olho-te e vejo o que perdi.
O medo da negação
Os meus ohos saltam de telhado em telhado,
Por esta janela,
Penso nela,
A toda a hora,
Há bocado, há bocadinho e agora,
Vejo-a em todo o lado,
E digo-a em cada sopro...
Ocupo o meu pensar,
Com a que quero amar,
E distraio-me durante o dia,
Passam as horas, queimo minutos,
Em troca de alegria,
O que eu queria...
Martelo mais um pouco,
Este homem louco,
Que só pensa em amor,
E doi a martelada,
De tanto pensar na coitada,
Que nem sabe que é pensada,
Porque ainda nâo lhe disse nada...
Os meus medos falam comigo,
Será que consigo, será?
E palavras que não digo,
Transformam-se em sofá,
Onde me sento e adormeço,
Onde esqueço,
Que te quero...