Poemas, frases e mensagens de joão_sete_dentes

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de joão_sete_dentes

[como querer-te a espaços]

 
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como querer-te a espaços
entre a lua minguante e o verso quebrado
se não sei de ti que este sinal na carne
dardejante o verbo repetido em flor
de dizer-te noite baixa que o alpendre
ou noite alta que
como querer-te a espaços
são as palavras todas mantos diáfanos
pueril aço dobrado na ponta da língua
do bosque onde o canivete no tronco
da árvore carpindo chôros equívocos de
sem o saber, sem o saberes
no vitríolo do amor o alto zénite
nessa trajectória pantagruélica do Hélio-rei
o teu nome, curva, traço, espero-os
meu bem, sempre aqui tão de perto,
como querer-te a espaços
 
[como querer-te a espaços]

[Alt]

 
que o mundo gira
golpeiam céus calados vórtices e ímans eléctricos
nesse limite que se abre ao depois só da imaginação
aquele instante, névoa e bruma da memória, passos perdidos
todos os nossos mortos reificados em luz, ecos jurássicos, cores
de infâncias, o desfecho por fim explicado, o mistério
da nossa profunda natureza, uma simples equação desenhada
sem forma, sem premissa, esse lugar e tempo,
muito além da fantasia comum de querer, a nossa eterna fantasia,
esse limbo onde a pulsação não bate,
eu não o verei.

mas a ele pertenço inteiramente,
pelo modo como o verbo me parece infantil e tribal
pelo jeito com que me obrigo imenso a esquecê-lo como origem]
e essa intransigência aguda – quase doentia –
que nasce do dom da premunição.
 
[Alt]

Bom Natal ao Luso-Poemas

 
um bom natal

a todos os meus alunos da classe distorcida de

de hermenêutica

a todos os participantes do Luso-Poemas

seus amigos, familiares.

João-Sete-Dentes
(Doutorado na Sorbonne, Collège de France,
e Luso-Poetice)
 
Bom Natal ao Luso-Poemas

Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (5)

 
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Sejam Bem Vindos ao Anfiteatro.

Devemos todos esta gentileza e espaço ao nosso eminente Director, o Professor Doutor Jorge Luís Casares Menard, a quem todos conhecem pelo seu lado erudito (quem não desfolhou, pelo menos, as suas mais de mil páginas – bem pesadas e reflectidas - sobre a Literatura do pós-Guerra?) e, os seus mais chegados, pelo seu lado humano, prestável e abnegado. Honra seja-lhe feita, portanto.

Hoje, abrindo esta nova vida para todos nós, resolvi fazer um convite à poeta Maria Verde, insistente, para que fosse ela a falar e não eu. Não lhe dei tema, contorno ou forma, apenas que seguisse a sua própria sugestão e que dirigisse algumas palavras a esta classe de jovens, que procuram conhecer com humildade alguma coisa sobre a experiência dos mais velhos.

Só posso agradecer-lhe ter aceite o desafio, honrando-me muito a mim, mas também a vocês, ao nosso novo Anfiteatro, com a sua presença.

E com isto, não sendo jovem como vós, serei hoje aluno e estarei sentado ao vosso lado.

Maria Verde, a palavra é tua.

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Olá,

O dom da argumentação pode ser comparado ao momento em que o santo baixa no orador e todo o dito consagra a coesão. Imaginemos então o momento que estamos diante de uma folha de papel procurando por palavras que mais facilmente surgiriam em um diálogo oral qualquer no nosso dia a dia. Não é tarefa fácil. Claro que me refiro a textos literários. E para o jovem que almeja a experimentação da escrita, não apenas como leitor ativo, mas como escritor, se faz necessário, ou pelo menos interessante, conhecer algumas das diversas necessidades que um texto literário pede para que se configure como tal.

Nesta aula falaremos então da hipotipose. Não confundamos com hipnose, já que de certa forma as duas coisas promovem um encantamento e porque não dizer, um aliciamento nocional. Rs

Segundo Durmassais, a hipotipose “ocorre, quando nas descrições, se pintam os fatos de que se fala como se o que se diz estivesse realmente diante dos olhos.” Ou seja, a hipotipose “pinta” as pessoas e os eventos no nosso imaginário. Sim! A narração ganha qualidades artísticas da pintura. Luz, sombra, cor, forma, volume, textura. Se a arte é uma gama de confluências, a hipotipose literária é a pintura que realça a narrativa. Vejamos um exemplo, Um fragmento do Conto “O vitral” de Osman Lins:

“Flutuavam raras nuvens brancas, as folhas das aglaias tinham um brilho fosco. [...] seguiram, soprou um vento brusco, uma janela se abriu, o sol flamejou nos vidros. Uma voz forte de mulher principiou a cantar, extinguiu-se, a música de um acordeão despontou indecisa, cresceu.”

Neste quadro pictórico o olhar capta de forma homogênea os traços representativos da ação e da descrição. A rica plasticidade fomenta as notas em cena e avulta a percepção dos leitores. Os movimentos narrativos e os pormenores descritivos coadunam integrando um mesmo contexto verbal. A narração está realçada pela hipotipose, pondo a cena quase aos nossos olhos. Hermelinda Ferreira diz que: “Diante da pintura de um objeto, é preciso determinar o seu significado, é preciso estabelecer a sua correspondência com um modelo, é preciso encontrar-lhe a legenda adequada, na qual a palavra corresponda à imagem, assim como o significante ao significado.”
Pensem nisso quando forem escrever. Ficamos por aqui.

Maria Verde
Gladys F.
 
Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (5)

[Bibba]

 
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bibba tem um soutien em cima do meu la vie
des philosophes (vol.II – Flammarion, Paris), de Diógenes Laércio,
temos bacalhau na geladeira e eu trouxe uma
garrafa de Beaujolais contrabandeado, bibba está excitada com
a passagem do ano (prometemos encarnar uma personagem
cada um, sair e fingir e ver se a consigo levar à cama – eu quis
ser D. João II – ela só sabe que foi um monarca)
pergunta-me pela minha poesia – para ela, as letras não são
importantes, mas admira-me quando leio (faz silêncio de
respeito, brilham-lhe os olhos) e diz às amigas que namora
um poeta – e, quando acabo de falar do cais de carvão,
de alt, de 1944 – ela respira fundo e agita-se, a infernália,
que eu bem sei que me roubou a biografia de Safo, a grega,
apanhei-a a ler (ela nunca lê) e depois escondeu com rubor
debaixo da almofada o livro – ela pensa que eu não sei
a personagem dela –
abro o beaujolais, dois copos cintilam erguidos e mágicos,
bibba sofreu imenso, bibba não tem pais nem família,
e o meu coração – que, livre, é negro e cruel e autofágico –
está disposto, de novo, a ser ogiva e Regra,
até regressar – é a Ordem das Coisas –

ao Cais de Carvão.
 
[Bibba]

Ou Outra Puta do Cais de Carvão

 
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até tu, que não leste Marcial e Bocaccio
mas estranhamente dizes saber tudo do Ventre
DELAS
(Isto é: quando puxas do cigarro e equacionas o teu
recente Mal-Estar)
poderás vislumbrar esta conclusão-fecho-da-abóbada
o topo da pirâmide boreal de conhecimentos-Fêmea
a gablete gótica esculpida em nervuras no vestido de Marta
(Ou Sara, ou Dora ou Berta – nom de la rose -
Ou outra Puta do Cais de Carvão, alinhada por Joyce
- Quando Era Jovem - Oh, yes, Dublin)
De que:
o amor-Auschwitz, a paixão-Buna (as vossas casas aquecidas)
o flirt-Ponte-Aérea, o mero aperto do Coiso
(Repitamos: o mero aperto do Coiso)
é não mais do que a rutilante tatuagem daquele
que deixou de lembrar, de querer (1944), e como machine-à-ecrire
antecipou todo o Século
no braço (como Ele se ergue – Encarnado o Verbo Quente
Na Rata de V.- Ergo Cloaca Mundis Agharta)
Gravando: ne pas chercher à comprendre.
 
Ou Outra Puta do Cais de Carvão

[PESSOA era uma]

 
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o o
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PESSOA era uma
E mais do que uma era cem
Era, em suma, uma
PESSOA e mais ninguém.

Quem? O PESSOA. Está bem.
Nem o Camões em Goa,
Se lá esteve, quem sabe,
Nem o Eça e o realismo grave
O PESSOA é que era
E quanta gente nele cabe
Até deus ele foi e escreveu
Heteronimos da dúzia a passar
E se Portugal é além-Mar
É porque foi PESSOA.

É porque é Orpheu.
 
[PESSOA era uma]

Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (I)

 
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Não há quem, tendo um par de livros em casa, recordando algum professor e aula antiga, que, escrevendo dois versos num papel, não se ache, de imediato, um poeta. Essas palavras de tinta, muitas vezes escritas com toda a autenticidade profunda, inspiram não raras vezes a sensação no debutante, que aquilo é já um monumento literário. Qual o valor, afinal, destas experiências naive? Na verdade, existe uma confusão muito frequente entre a Pessoa Humana e o Autor. E se cada um tem o direito, a liberdade, o prazer, de escrever os seus versos, e que sob o aspecto humano isso deve sempre ser julgado como um acto inspirador, de reflexão, de criatividade, o mesmo não se passa em Literatura, quando falamos de um Autor. A Literatura é um corpo complexo, dotado de uma história de séculos, e se há nela um lado espiritual e contextual, ela obedece também àquilo que os gregos chamavam de techné, isto é, uma técnica, um modo de fazer. Um debutante, um iniciador da escrita, sem recorrer ao passado da Literatura, é como uma plena criança dentro de uma civilização requintada. Vejamos a coisa pelo outro lado – os estudiosos da Literatura. Muitos homens e mulheres, que leram bastante, que dedicaram muitas horas ao estudo desse passado, julgam-se, apenas por isso, serem já dotados o suficiente para se qualificarem de poetas, e bons poetas, e terão o mesmo empenho egocêntrico em defender o seu verso como Obra como os seus companheiros naive, iniciadores da escrita. O deslumbramento pelas referências, pela techné, torna-os com frequência dicionários e enciclopédias ambulantes, onde o poder do conhecimento inebria as suas tontas cabeças e, de um modo igualmente infantil, descarregam eruditamente monstros sem vida, abortos onde o lado humano desaparece quase por completo. Estes dois grupos de frequentadores da escrita, a criança iniciadora na civilização requintada que desconhece, o erudito estudioso parindo a sua vontade de poder em letras mortas e referenciais, são tipos perfeitamente identificáveis, com uma psicologia própria, com complexos de inferioridade e inadaptabilidade reconhecidos. Mas nem tudo é mau, em ambos os grupos. Os iniciadores naive da escrita, têm como possibilidade, ao não terem presente a chancela do Autor e o que isso implica em termos de abnegação individual, uma comunicação mais humana, que pode gerar amizades ou ódios, dependendo da cabeça, do coração e do fígado de cada um. Por sua vez, um estudioso erudito, se encontra um outro seu par, pode com facilidade inventar jogos e códigos de milhares de anos de literatura, numa espécie de recriação intelectual inútil para a vida e simbolicamente fechada, que pode ser tanto hermética ou divertida, como o fizeram Jorge Luis Borges e Adolfo Casares, inventando artistas inexistentes e falando criticamente das suas obras.
Existem, creio, várias gradações entre estes dois grupos. Semi-Eruditos que viveram o bastante para escrever coisas com vida, Iniciadores da escrita que, sem ter passado anos em bibliotecas, conseguem por várias valências próprias (poder de observação, agudeza mental, absorção total do pouco que leram, etc) criar coisas de digno valor.
O papel da juventude literária, assim, deverá ser, a meu ver, evitar os excessos. Estudar com disciplina o passado, sem o tornar fetiche referencial, viver o bastante, o devido em cada ano e idade, para que cada palavra possa insuflar emoção. E, sobretudo, não viver segmentadamente esses dois mundos, mas trazer a literatura para a vida e a vida para a literatura.

Nesse crescimento, acrescento, o melhor é experimentar. E aqui vale tudo. Aos dezanove anos, sair pela rua de chapéu com dois livros e ter o ar de quem vai mudar o mundo é excelente. E também seleccionar. Tudo se aprende com os melhores. Não devemos ter medo de quem escreveu monumentos, foram homens como todos os outros – não há uma linha de literatura possível sem conhecer de perto os clássicos.

Não há paternalismo algum nisto que escrevo. A juventude literária é de quem eu espero tudo. E não de homens já gastos, cínicos e treinados. Dumas falava que antes dos trinta anos é bom, porque a juventude pode não estar já corrompida. Dostoievski que viver depois dos quarenta é uma cobardia. Foram os jovens hominídeos que ensinaram o fogo aos velhos da tribo. A responsabilidade é muita, não falo sequer dos ventos do mundo de hoje. Toma também sobre ti esse peso, sem medo.

Cria a Juventude Literária Portuguesa.

Vive.
Estuda.

Cria.

joão-7-dentes
 
Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (I)

Gablete

 
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os meus poemas tão frios, gelados
a minha relação com Bibba , ucraniana viva e prática

São Francisco e Santa Clara, Assis,
Século XIII e o encanto da pureza de ser Rigoroso
Com a identidade e a Sua Alta Pertença
Despojo, a ogiva, a gablete, o claustro duplicado
As cidades e as almas – um cordão de três nós à cintura,]
A Regra.

os meus poemas tão frios, gelados
a minha relação com Bibba, ucraniana viva e prática

Que a Europa é sonho
Que os sonhos pela metade, o medo, fazem perder gigantes]
Perde a mão quem perdeu antes o batimento e a
Pureza, ser Rigoroso, com a Identidade, a ogiva,
Os meus poemas tão frios, um cordão de três nós,
Bibba e eu na Sua Cintura, Santa Clara e as almas,
A Regra, viva e prática, o claustro duplicado

E como eu te amo
Sós na Ruína em Breve

do Cais de Carvão.
 
Gablete

[Mural de Baston]

 
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Sonhei que te levava ao altar
Joguei tudo no alto
Teclei a tecla alt
Prefixei-te arabesca de al

Ou Ana

(Quis o til) Anã.

Se tirar fora meu elmo
E negar Carlos V ou Henrique VIII
Voltarás a seguir-me

Como trôpega slut do cais de carvão
Por dois xelins de literatura?
 
[Mural de Baston]

Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (7)

 
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Rita tinha vinte e quatro anos, cabelo muito escuro, à garçonette, um olhar rápido acima das sardas e uma cintura de miúda. Desistiu do curso de letras no segundo ano, precisamente quando foi trabalhar como secretária num laboratório de análises clínicas. Há dois anos que não estava com um homem. Há dois anos que, reflexiva mas não triste, começou a assinar a sua poesia como sendo de Beatriz. Beatriz era uma actriz que viera muito cedo para a cidade, sem família, esperta, alta (Rita era baixa), dominava os homens, tinha um apartamento na zona Sul, onde o incenso queimava e uma furiosa multidão de cores brilhava nas paredes (Rita morava com a mãe, ainda).
Rita saiu uma sexta-feira, pela noite, comprou cigarros, foi dar às ruas povoadas de gente. Deu, após minutos de observação concentrada, com um rapaz um pouco mais velho, talvez pelos trinta anos, que estava encostado à porta de um bar, de gin na mão e ar distraído. Não esperou mais: avançou para ele, começaram a falar. Rita contou-lhe que era Beatriz, falou da sua carreira de actriz e da peça que estava a ensaiar, sorria de forma segura. O rapaz disse chamar-se Luís; estava pouco tempo na cidade, fazia apenas um serviço no aeroporto, de concerto de helicópteros. Luís e Beatriz falaram, riram da rima dos nomes de ambos, olhares de cumplicidade estabeleciam essa ponte que une as duas margens.
Partiram de automóvel, Luís conhecia um lugar bastante deserto junto do aeroporto. Os lábios tocaram-se, o vestido marron de Beatriz saiu como se nunca devesse estar ali, colado ao corpo; os primeiros raios de sol, da madrugada, embateram no corpo de Beatriz, nu e transpirado, ocultando Luís por baixo. Quando as gaivotas atravessaram em bando o automóvel, muitos metros acima dele, Beatriz soltou um lânguido suspiro como se também ela tivesse emigrado subitamente para o país do desejo e voltasse logo depois, de bagagem atirada ao seu sofá, cheirando a incenso, exausta.
Beatriz, já de vestido posto, bateu a porta com um sorriso. «Beatriz não existe, sabes. Adeus», disse ao rapaz. Ele ficou a vê-la, pequena e ágil, a subir o monte de passo rápido, como se fosse um desafio contra o mundo. Quando deixou de a ver, ligou a ignição, o motor trabalhou, seguiu.
Luís chegou ao Instituto pelas 9 horas da manhã, deu conta que não tinha preparado ainda a aula para os seus jovens alunos do Anfiteatro B, da Ala Este. O Director Jorge Menard saudou-o, com «Bom Dia, João». Velho amigo, pensou João-Luis, ao entrar para o Anfiteatro B. E todos viram, com surpresa, que o Professor nessa manhã era uma miúda sardenta, de olhar rápido, pronta a instruí-los sobre o significado vivencial dos heterónimos.
 
Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (7)

Gablete [Repetição 2]

 
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os meus poemas tão práticos, com identidade
a minha relação com Santa Clara, ucraniana pura e Rigorosa

o despojo, a ogiva, a Sua Alta Pertença
as cidades e as almas – São Francisco e um cordão de três nós]
com identidade, que a Europa é sonho, o batimento
a Regra de um século XIII que perdeu a mão, a pureza]
tão fria, gelada

os meus poemas tão práticos, com identidade
a minha relação com Santa Clara, ucraniana pura e Rigorosa

Assis, pela metade - como eu te amo -
fez perder gigantes na Sua Cintura, a gablete,
um cordão de três nós, o claustro duplicado,
São Francisco, Rigoroso na relação,
vivo e as cidades, as almas, na Ruína em Breve,
o batimento do despojo

do Cais de Carvão
 
Gablete [Repetição 2]

Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (2)

 
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Todas as pessoas, creio, têm uma noção geral de que existem, nas afirmações, chamemos-lhe por simplicidade assim, universais e particulares. Mas não é verdade: existem universais, particulares e singulares. Explico-me, dando um exemplo. Um universal é: todas as impressões digitais. Abarca tudo, define a categoria, as características que permitem fazer todo o conjunto. Outra coisa é, se disser, «uma impressão digital nada vale». Quando me refiro à impressão digital, particularizo uma, uma unidade do conjunto, que mesmo estando isolada pertence por simpatia ao todo. Isto é um particular. Mas há ainda o singular. Cada impressão digital, pelo seu desenho, forma, pertença, tempo e lugar, é não identificável com mais nada, é sem paralelo. Na verdade, tudo quanto existe no pensamento tem simultaneamente estas três características – universal, particular, singular. Mas isso seria outra discussão, não vamos entrar nela. O certo é que, para todos os efeitos, existem estas três situações.
Um erro comum nos jovens que começam a escrever é o de insistirem fortemente em usar apenas uma das categorias. Por exemplo, há quem se perca continuamente em universais, tentando definir, digamos, o amor. Que o amor é luz, é altivez, é tudo, é a solidão acompanhada, o que seja. Estes jovens, presos à necessidade de definir tudo e mais alguma coisa, usando apenas universais, desgastam com frequência os leitores. Um universal é uma coisa com muito peso, dogmática, boa para uma fala de Deus. Deve ser usada com parcimónia, pelo seu peso imenso e força desmesurada. Que um jovem, falando todo um poema em particulares e singulares, que feche os versos com um universal. Ou, em alternativa, combine um universal com um singular, dizendo, por exemplo, que «o Amor é Rita». A definição é universal, mas define-se por uma coisa absolutamente singular, Rita. Com menor contraste, podia usar-se um particular: «O amor é sempre a vizinha do lado», sendo que a vizinha do lado, contando que seja incógnita, é uma unidade de todo o grupo das vizinhas do lado. Voltando ao universal combinado com o singular, «o amor é a minha vizinha do lado», e aí estamos novamente na presença apenas daquela mulher, única, que de facto vive do outro lado da nossa parede. Não é necessário alongar-me muito mais nesta questão, basta cada um fazer por si as experiências. Mas acrescento apenas que um discurso todo feito de particulares pode ser igualmente cansativo, «o homem pensava na linha do comboio e achava inútil o paraíso», que às vezes não é de todo descartável para um título, se for extenso. O singular insistente é muito próximo do diário, seja real ou ficcionado e, se não for equilibrado com alguns universais, é possível que o leitor ache o conjunto uma descrição fútil.
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Exemplo de combinações de definição com os três tipos:
a) O amor é a paz. (dois universais aborrecidos e pesados)
b) O amor é sempre a vizinha do lado (um universal e um particular, existência de contraste)
c) O Amor é Rita. (um universal e um singular, contraste violento)
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Recomenda-se ao jovem duas semanas de treino intenso e, é claro, várias experiências emocionais-limite, como uma viagem ao Congo ou uma tentativa de conversão de uma prostituta nos subúrbios da cidade.

João-7-dentes
 
Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (2)

Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (4)

 
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Devido à enorme afluência de jovens a esta classe de Hermenêutica e Escatologia Literária (na última aula, vi alunos em pé, encostados ao fundo da sala, tirando as notas sem apoio), falei com o Director e, deste modo, passaremos na próxima lição ao Anfiteatro B, da Ala Este.

Posto este breve, breve, verbete.

Hoje falarei de forma muito curta (tenho o tempo contado, negócios urgentes) sobre Hermenêutica, uma vez que tenho pegado em assuntos de forma, de género e ainda não de interpretação. Como o ponteiro avança, não irei trazer para aqui Virgílio, Dante ou outra Alta Personalidade, mas farei uma hermenêutica contra-relógio de duas expressões. A primeira, que não irei desenvolver, é esta:

Sempre que o jovem vê escrito, numa placa, o aviso: «CUIDADO COM O CÃO», deverá ter em mente este facto – que não passa de uma tradução fiel do original latino, que já os romanos usavam afixado nos muros e portões das suas propriedades. Portanto: os Imperadores Ruiram, os Impérios caem, as esperanças morrem, os amores findam, mandam-se homens à lua, a língua desenvolve-se, as gerações multiplicam-se, os sonhos fazem-se e desfazem-se, mas uma coisa, meus senhores, essa, a humanidade entendeu que deveria ser sinalizada e gravada como eterna: a ferocidade do nosso próprio cão.

A segunda.

Na minha infância, já tarde, o meu grupo de amigos foi assaltado por um dito, que ninguém soube bem qual a origem (alguém ouviu dizer, a alguém que ouvir dizer), que circulou um par de semanas: «AS FEIAS É QUE ESTÃO SEMPRE A FODER». Curioso e divertido, isto, até porque entre nós ninguém tinha fodido ninguém, excepto um rapaz magro, de óculos, o Ezequiel, que nas conversas deixava a entender que tinha uma noite dormido com a própria prima e que, aí, se tinham «passado coisas». Esta expressão veio como foi. Como o peão. Quando o peão se tornou moda, todos nós andávamos com ele, atirando-o para o chão e fazendo-o rodopiar com fúria. Não dormíamos de noite, estabelecíamos uma competição acérrima, houve brigas, partiram-se vidros de janelas. Uma manhã, chegados à escola, ninguém falou do peão, o peão deixou de existir, evaporou-se, sem mais nem menos. O dito, portanto, deixou de existir como deixou de existir o peão.
Nunca mais ouvi a ninguém esta expressão, eu próprio nunca a usei entretanto, até que, um dia, nos bancos das repúblicas boémias da universidade, alguém falou de uma certa aluna de bio-quimica, antítese de Venus, que dormia com rapazes com uma frequência notável, disparando um companheiro meu, isto: «É como se costuma dizer, AS FEIAS É QUE ESTÃO SEMPRE A FODER». Espanto e riso, mas não dei grande importância, apesar de ter recordado e reconhecido a expressão.
Há poucos dias, lendo um autor norte-americano, num romance escrito, falha-me a memória, 1955?, 1962?, por aí, ele refere a certa altura que “como aquele dito masculino que diz «AS FEIAS É QUE ESTÃO SEMPRE A FODER»”.
Perguntei, neste intervalo, a várias pessoas, se já tinham ouvido a expressão a alguém, no cinema, em livros, a outras pessoas. Ninguém sabia sequer do dito, ninguém o ouviu. Apenas com estes dados, estou curioso para saber se a história da expressão é comum ou se, numa grande invenção masculina, autónoma em dois continentes distintos, os homens acharam que as mulheres menos dotadas de beleza têm uma sexualidade extrema, enquanto as outras não. Certo, é que esta expressão tem, pelo menos, mais de cinquenta anos.

Uma constatação empírica, tornada aforismo? Razões psicológicas, que revelam frustração e recalcamento, de uma percentagem significativa de homens, por não terem tido muitas mulheres formosas? Apenas um efeito da própria linguagem, na busca de um efeito imediato? Ou isto dá tranquilidade aos homens, esperando que as mais belas mulheres não andem por aí, fazendo com outros que não eles, o acto da cópula? Uma constatação empírica, tornada aforismo?

Se a expressão tiver uma origem comum, célebre por algum actor do cinema dos anos vinte, a história fica mais fácil. Mas a durabilidade da sua existência irá, sem dúvida, obrigar-nos a pensar isto sempre de um modo existencial, de género, psicanalítico, social, histórico, linguístico e semiótico – todos os instrumentos serão úteis. Até agora, apenas com estas referências, não posso ir além daqui.

Para quem assistiu à última aula, devo dizer que fiz aqui algumas, não muitas, distorções fortes, embora não quanto aos factos úteis à hermenêutica. Onde estão eles?

Próxima semana, já sabem, Anfiteatro B, Ala Este.

E cuidado com o vosso cão.

Não vá o amigo canino encontrar uma mulher muito feia.
 
Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (4)

[um trem parte]

 
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um trem
_____parte]
_outro vem
no meio a arte
 
[um trem parte]

Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (6)

 
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Sejam Bem Vindos, de novo, ao nosso Anfiteatro.

Espero que tenham reflectido sobre a nossa última aula, onde se falou da hipotipose e a poeta Maria Verde nos brindou com todo o seu encanto e maestria.

Hoje, irei falar de um livro que, segundo homens experimentados, deu origem àquilo que se chama o «romance literário». Estou, evidentemente, a referir-me ao livro de Cervantes, o «Dom Quijote».

«Dom Quijote» é, tal como «As viagens de Gulliver», um livro que muitos jovens lêem, sobretudo os rapazes, por estar escrito de uma forma simples, clara, aventureira. E, talvez por isso, a sociedade habituou-se a ver o célebre cavaleiro da Mancha e o Gigante em terra de anões (e o inverso), como uma mera fábula redutora e sem grande profundidade. Entre círculos de snobismo literário, o jovem pode fazer figura citando Proust, Joyce, Mann, mas se vier dos seus lábios a referência ao homem de lança em punho, alguém pode estranhar.

Não me interessa, aqui, dizer o que todos disseram já. Que Dom Quijote é o sonho, que vê gigantes onde estão moinhos, que imagina a sua Dulcineia esperando por si, que a sua triste figura (sempre apedrejado pela sociedade espanhola que vai encontrando) não é mais do que a paródia de uma coisa séria: que os homens são maus e fazem mal a um bom sonhador. Isto foi mil vezes repetido, até à exaustão, nada poderia eu dizer mais, acrescentar.
O que eu quero trazer para aqui é um par de detalhes que nem sempre foi bem trazido à luz. O primeiro é este: como ficou Dom Quijote louco? Este senhor vivia tranquilamente na sua casa, acabou por se fixar demasiado tempo na sua biblioteca e lia muitos romances de cavalaria. Estes romances, já se sabe, repetem o arquétipo do cavaleiro que passa por duras provas, valentia e honra, até conquistar o seu amor. Um dia, Dom Quijote acordou e começou a viver uma história destas, inventada a cada instante por si. O que eu quero realçar, sublinhar, destacar é isto: Dom Quijote ficou louco porque leu demais. Tomem muita atenção ao que isto quer dizer.
O segundo detalhe é este: Dom Quijote é fielmente seguido pelo seu escudeiro Sancho Pança. Gordo, homem do povo, habituado à pequena malícia e pequena mentira, pequeno furto quem sabe, mas de bom coração. Este Sancho Pança segue o seu louco senhor para todos os lados, numa amizade desmedida, que só os humildes, verdadeiramente humildes, conseguem ter. Onde estão os moinhos, Sancho Pança vê apenas moinhos, não gigantes. Mais, se alguém tentasse explicar a Sancho Pança que os moinhos podem ser gigantes «na imaginação», o nosso aio nunca iria compreender, sequer.

A humanidade inteira, portanto, divide-se nisto: aqueles que são Dom Quijote (o sonho contra o real) e os que são Sancho Pança (os que vivem dentro da realidade sem poder sair dela). Mas, filosoficamente, o que dizer sobre isto? Que o sonho vale tudo, encerrado o homem na sua própria loucura? Que a realidade sendo a realidade, basta-nos?

Um moinho é um moinho, pode ser um gigante, é mesmo um gigante?

Eis como António Gedeão respondeu a isto, no seu poema «Impressão Digital», de 1956:

[b]Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.
Quem diz escolhos, diz flores,
De tudo o mesmo se diz,
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente.
Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos.

Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.
Vê moinhos? São moinhos.
Vê gigantes? São gigantes. [b]

É isso, sim, meus Senhores. Vê moinhos? São moinhos. Vê gigantes? São gigantes. Lição que deixaria Parménides, o grego, muito feliz. E pensem que não raramente, um poema é uma resposta a uma questão, sem a nomear e formular visivelmente (façam, por aqui, as vossas experiências).

E vós:

– São moinhos ou gigantes?
 
Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (6)

Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (3)

 
Um problema que todos os jovens sentem, muitas vezes mal entendido, é o de como resolver o problema biográfico. Isto é: se, ao pegar no papel, devem falar sobre a sua própria vida, se a devem ficcionar, se devem inventar heterónimos e falar de pessoas com outras vidas e experiências.
Alguns homens experientes, levaram o problema a um segundo grau, dizendo que tanto faz, porque quem tenta ser justo e autêntico falando sobre si próprio acabava sempre por se ficcionar (basta perguntar ao vizinho o que pensa de nós, que não coincidirá, certamente, sobre a ideia que fazemos da nossa pessoa) e que, por outro lado, por mais que inventemos ficções e outras artimanhas, estamos a todo tempo falando do que somos, quem sabe, de forma ainda mais autêntica. Há ainda homens mais experientes do que estes, que levaram esta discussão a terceiro, quarto e quinto grau – mas deixemos todos eles em paz, e sejamos práticos e simples.
Escrever sobre si próprio, tentando ser justo e autêntico, é um belo exercício, mas devo fazer alguns reparos. Em primeiro lugar, em Literatura é preciso que o resultado disso seja interessante (certamente que para nós próprios é, talvez para os nossos curiosos amigos) mas para o público. E isso exige que a nossa vida tenha em termos de experiência uma riqueza extraordinária. Quando o judeu italiano Primo Levi, intelectual de peso no pós-guerra e da esquerda política, saiu do campo de concentração nazi, escreveu o seu monumento literário «Se isto é um homem»; a sua experiência era tão rica e socialmente necessária, que o seu tom objectivo no relato, sem adornos ou piedades e sentimentalidades, foi uma atitude de respeito à própria experiência e sua riqueza. E daqui nasce o problema consequente: quando a experiência pessoal é em si muito rica, o estilo deve abster-se o mais possível e dar-lhe espaço. Ora, um jovem tem ainda pouca experiência de vida, não se pode comparar a Napoleão que teve os destinos da Europa na sua secretária e, por isso, se quer escrever sobre si próprio, tem como único recurso a sua agudeza mental, que terá de fazer tudo. Mas bons resultados com isso, a meu ver, poucos além de Dostoievski foram capazes, que se escrevesse sobre uma coisa tão trivial como a sua ida ao mercado para comprar pão, era capaz de tornar tudo tão angustiante, fundamental, existencial, profundo, que saímos dali esgotados depois de ler.
Criar um heterónimo é também uma boa coisa, mas o jovem terá, com a sua ainda curta experiência de vida, bastante dificuldade em aguentá-lo de forma credível em termos literários, pois conhecer bem os homens ao ponto de inventar um demora o seu tempo e a sua maturidade.
Não digo, pois, que estes dois exercícios – falar de forma pura de si próprio ou de alguém completamente inventado – seja mau. Pelo contrário, o jovem que faça todas as experiências. Mas é mais aconselhável, se a ideia é ter resultados visíveis e mais eficazes, efectuar aquilo a que eu chamo de «Distorções».
Uma distorção é quando se tomam aspectos da nossa experiência e se Distorcem (eliminando, cortando, substituindo, acrescentando, esticando ou reduzindo, etc) com aspectos ficcionais. Assim, nem há um exercício de suposta autenticidade nem um heterónimo ou uma segunda pessoa autónoma, mas apenas uma espécie de espelho polimorfo que dá outra forma às imagens da nossa realidade.
Uma distorção que considero de baixa intensidade, é quando ela é tão evidente e inseguramente exposta que o próprio leitor, sem aviso prévio, sabe que ela está ali, existe quase como provocação. Se eu disser que amei uma mulher de três seios, em Calcutá, antes de ser presidente dos Estados Unidos da América, qualquer pessoa saberá, por conhecimento da anatomia humana e pelos serviços de informação, que nada disto é real e que estou a distorcer o mundo.
Uma distorção de intensidade média é quando, tomando factos da realidade e experiência próprias, ficcionamos – na própria realidade – situações, acontecimentos, desenlaces, que isso tudo, por vezes, afecta até o nosso próprio mundo. Dando um exemplo. Pedro ama Carla. Combinam um café para o dia seguinte. Pedro passa toda a noite ficcionando diálogos, situações, comprou um anel de noivado e imagina frases para acompanhar a entrega do amoroso objecto. Quando chegam ao café, antes que Pedro diga seja o que for, Carla exclama, alegre: «estou noiva do Rodrigo!» Pedro aguenta-se mal, olha a janela e aperta o anel escondido no bolso, trémulo. Pois bem. Quando Pedro chega a casa, escreve um longo poema em que, em vez de contar o fatal desfecho da história, rima as suas imaginações da noite anterior, onde Carla aceitava o anel, partiam felizes os dois para uma nova vida a dois. Isto é uma distorção de média intensidade, pois a ficção participou da própria realidade (a noite fatídica), teve nela consequências, existiu como duplo contínuo daquele pequeno mundo. Aquilo que não aconteceu, mas podia ter acontecido, cabe nesta secção.
A distorção forte é simples de explicar – pouco sobra da experiência real, a ficção é de índole apenas literária e não segmentada com o espaço e o tempo. Por exemplo. Susana vai todos os dias ao mesmo bar, esperando que Leopoldo, o empregado, repare nela. Susana, que escreve poemas, abre num dia o livro, na esplanada, e faz versos onde Leopoldo se chama Adónis, que o bar se torna Éden ou o Jardim da Babilónia, ambos falam a língua primitiva indo-europeia e o tempo dos relógios não existe, e mais distorções análogas. Aqui a distorção é forte e usa sinais simbólicos, mas pode ser mais credível e colocar Leopoldo como sendo Luis, gestor bancário, indo de férias para o Egipto, tanto faz.
O exercício da distorção, que deve ser acompanhado, penso eu (embora alguns discordem) da assinatura com pseudónimo, é, estou em crer, o mais adaptável a um jovem pretendente aos versos. Compensará com a imaginação fresca a sua experiência ainda não muito rica. Isto, é claro, se quiser fazer como tema o próprio Eu da poesia – pode sentir uma necessidade mais adequada em falar de paisagens, de política, de coisas onde o Eu está mais apagado.

Como esta pequena questão já vai muito longa, fecho apenas dizendo que é natural que os jovens de índole tímida, reservada e fechada sejam mais dados a distorções de forte intensidade e que aqueles que são mais abertos, extrovertidos e com gosto na exibição da sua pessoa sejam mais parcos na sua utilização.

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Textos de Hermenêutica e Escatologia Literária para a Juventude (3)

Gablete [Repetição 1]

 
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os meus poemas tão frios, gelados
a minha relação com Bibba , ucraniana viva e prática

São Francisco e Santa Clara, Assis,
Século XIII e o encanto da pureza de ser Rigoroso
Com a identidade e a Sua Alta Pertença
Despojo, a ogiva, a gablete, o claustro duplicado
As cidades e as almas – um cordão de três nós à cintura,]
A Regra.

os meus poemas tão frios, gelados
a minha relação com Bibba, ucraniana viva e prática

Que a Europa é sonho
Que os sonhos pela metade, o medo, fazem perder gigantes]
Perde a mão quem perdeu antes o batimento e a
Pureza, ser Rigoroso, com a Identidade, a ogiva,
Os meus poemas tão frios, um cordão de três nós,
Bibba e eu na Sua Cintura, Santa Clara e as almas,
A Regra, viva e prática, o claustro duplicado

E como eu te amo
Sós na Ruína em Breve

do Cais de Carvão.
 
Gablete [Repetição 1]

[Canção de Lucilene]

 
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Foi então que me falaram
_Dessa tal de Lucilene
Que por onde ela passa
_Todo o mundo treme
Tamanha é a graça
_O jeito certo, o sex appeal
Mesmo que nada faça
_Se somam ânsias mais de mil

E dizem que conheceu muitos homens
_Mas nunca ninguém os viu
 
[Canção de Lucilene]

Gablete [Repetição 3]

 
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os meus poemas tão ogiva, São Franciscos
a minha relação com a Sua Cintura, Ruína duplicada e fria

Santa Clara, a identidade do sonho e o Despojo
a Sua Alta Pertença de Europa, que perdeu a mão
e o claustro Rigoroso, o cordão de três nós
gelado e prático

os meus poemas tão ogiva, São Franciscos
a minha relação com a Sua Cintura, Ruína duplicada e fria

as cidades e as almas – breves
a Regra da identidade de três nós, pela metade
gigantes perdidos, tão frios e encantados,
o século XIII puro, de gablete ucraniana, tão só,]
pura e duplicado na relação
o claustro gelado

e como eu te amo, Bibba
na Ruína de três nós

do Cais de Carvão.
 
Gablete [Repetição 3]