COMO SE FOSSE EU
amo a dor que não me dói
divido a letra do que não escrevi
o deslumbramento não revelado
contempla-me olhar-te e ver-te
e se foges, finjo que, eu de ti fugi
jogo dados com o universo.
ando distraído, talvez na suavidade da ida
encontro-te minha, inocente e toda minha
desenhada pelo vento.
solidão sem solidão
quero-te flor minha em espigas de flores
com os olhos, teço uma cerca de perfume
na primeira diligência da primavera...
para ter-te, rasgo o infinito, num fogo frio
ressuscito-te o nome na garganta
junto um pedaço do mar ao pedaço teu
e dou-te inteirinha para minha metade fria
pra ter inicio que seja agora,
como se fosse eu, uma roupa amada, que vestes.
chega a ser azul, derramada sobre o tempo.
de onde tirais tanto azul?
Veríssimo & Vânia Lopez
PARCERIAS E POESIAS,
SÃO APAIXONANTES OS CAMINHOS POR ONDE ANDA A VÂNIA LOPEZ, ESTRELA DE PRIMEIRA GRANDEZA; ESTE TEXTO NÃO CONSIGO SABER O QUE É DE MINHA AUTORIA E O QUE É DELA, NUMA PERFEITA, A MAIS PERFEITA SOLDA QUE O ENGENHEIRO PROJETA E O SOLDADOR EXECUTOU, NÃO HÁ FENDA...NÃO HÁ TRINCA...OBRIGADO PPPPPAAAAAAAARRRRCCCCCCCCCCEEEEEEEEEEEEEIIIIIIIIIIIIIRRRRRRRRRRRRAAAAAAAA
BATE VIDA, BEM DEVAGAR
A carne cala
Calada chora
Como parede sem casa
Como ponto sem estrada
Onde a luz tece a escada
Por onde faço meu voar
Nos verbos sem almas
Peço a dura leveza da vida
Tenha calma comigo
Da saudade de anteontem
Faça seu meridiano
Me divida ao meio
Faça uma parte feliz
Vida, bate, mas bem devagar
Pra não arranhar
Pra não marcar
Pra não machucar
ORAÇÃO POR UMA TARDE SEM FIM
Crava-me tuas garras afiadas ao saciar teus desejos
Atravessa-me com tuas sombras como salas frias
Marca-me com teu sangue, como ferro quente os bois
Goteja-me com teu suor, como corpos sedentos o amor
Não faça-te manhãs solitárias de cores claras e cruas
Sinta-te águas serpenteando o verde que são tuas
Transforma-te em almas prateadas que voam nuas
Beba-te cântaro garimpando serras perdidas e luas
Na calma dos ventres, broto em teu peito às claras
Que calam nos doces sinos roucos de dores raras
Capinando teus medos como teu corpo que encaras
Canto amores rebocados secando as virgens manhãs
Quando teus passos ruam na dor e na louca barganha
Cortando tuas unhas, soltando meus pedaços nas tuas entranhas
PARA TODAS AS CRIANÇAS QUE NÃO CONHECEM “SEUS” PAIS.
Pai,
Dessa vez não me deixastes marcas na areia
Sempre quis seguir teus passos e não os encontrei
Quis beijar teu rosto, mas não o encontrei
Precisei e quis teu abraço, mas não o encontrei
Pai,
Senti falta do teu colo, e não dormi, ainda sonhei contigo
Falei com Deus e Ele não te trouxe pra mim
Não entendi e nem aprendi sentir saudade sozinha
Não desisto de ti pai, não desista de mim, não tenho culpa
Pai,
Precisei da tua presença, da tua simples companhia e não tive
Ainda precisamos muito de ti, não desista de mim, não desista de nós
Precisei da tua mão me levando pra escola, pra igreja, pro jardim, pro circo, pro médico, pra sonhar como crianças sonham e tu não me destes a mão, oh Pai!
Pai,
Não tive culpa, não me ensinastes a hora de ir, nem a de voltar, que faço pai?
Tu és o pai da minha vida, sabes disso? Não me faça sentir inveja das amigas
Tu tens tudo que preciso, não deixes pra depois, nem pra amanhã. Agora pai.
Sabes de tudo que preciso, antes de saber de Deus, preciso saber de ti, pai.
Pai,
Teu sangue me aquece todos os dias, saudade que machuca, como dói,
Vou sim sem direção, acreditando que tu me amas e me queres,
Está difícil pai? Por onde andas? Contrate o vento e me mande um recado
Quem sabe pai, que é na direção do vento, que encontro teu cheiro. Pai!
DA FELICIDADE - PENSNADO
“Felicidade poderia ser, lá pelas três da manhã, ver aquela mosca que perturbava seu sono, arriada no chão. Pode ser! – Veríssimo – Pensando felicidade”
DA AMADA QUE NUNCA CAIU
DA AMADA QUE NUNCA CAIU
Cai a noite
Dentro de mim
Cai uma estrela
De um dia que caiu à noite
Cai o vaso
Dentro de um amor ardente
Cai raso
Lento como cai o presidente
Cai a idade
Da claridade que já saiu
Cai o pescador
Do barco que da cachoeira caiu
Cai a vida
Cai a paciência divina
Homem de pouca reza
Que da mão o terço caiu
No final da estrada
Cai o sinal
E sem sinal de nada
Encontra no final do tempo a amada, que nunca caiu
PREDESTINACAO
Numa manhã normal
Minha mãe me chamou
Acorda filho já é hora
O dia te espera na esquina
Já sabia que viria uma verdade
Parece até uma menina
De olhos azuis
São várias meninas o meu dia
Já sabia naquela hora
Que o amor iria descansar
Nos meus braços
Minha mãe estava certa
Ela pós na minha velha mala
Algumas palavras e olhares
Também pós o seu cheiro
Sua fé e esperança
Eu ainda não sabia dessas coisas
Escrevo chorando e dá uma saudade
Tem horas que a saudade machuca
Cheguei a acreditar que bastava o cheiro
Parece que minha mãe me ensinou
Que a gente precisa de um Deus diário
Pra capinar o quintal
Das nossas imagens
Essas que nos encostam na parede
Que rasgam a nossa rede
E descascam o nosso futuro
E descansam a nossa alma poética
PEDRA CANÇÃO E VIDA
A pedra sabe
Da hora de ser dura
Senhora gente
Decifra livre
O sentido da alma
Senhora minha
No tempo há luz
A via pra gente passar
Dentro de te via
A terra gera
Feliz e grávida luz
Da vida seduz
Do outro lado
Êxtase pura nódoa
Fera amada
No mar amanhã
Amanhece louca dor
Velha barca nua
Da humana voz
Humanidade louca
Canção da vida
QUNDO SE PERDE UM PEDAÇO DA ALMA
A mãe que perde um filho
Mostra nos olhos o tamanho da dor
De tanto chorar não tem mais lágrimas
Permanece pasma, sofrendo, sem acreditar
Parece que Deus lhe arrancou um membro
Parece que a vida lhe furou os olhos
Parece que um punhal lhe atravessou o coração
Parece que a morte lhe enterrou viva, na mesma cova
A mãe que perde um filho
Mostra no peito o tamanho da dor
Mesmo acreditando, chora pro resto da vida
Calada e sofrendo, seu filho ausente vai amar para sempre
A mãe que perde um filho aos doze anos
Talvez, nem sabia, o tamanho dessa missão
Só Deus sabe, quantos anos ele viveu
E essa mãe saberá,
Quando, lá frente, chegar seu dia!
É preciso ter fé para acreditar em Deus
É preciso trer fé para enxeragar
Mesmo com os olhos furados
É preciso ter fé para amar,
Mesmo com o coração sangrando
É Preciso ter fé para mesmo enterrada viva, continuar a viver
Nossos filhos não deveriam morrer.
A MULHER DE VESTIDO BRANCO
Cala-te um altar florido, cala-te tua própria voz
Diante de um tempo, teu passado te cospe a dor
E teu vestido esconde tua dor, teus novos medos
Atento o presente branco vai esculpindo teu corpo
Enquanto dura, o vento balança teu vestido no meu rosto
E teu vestido branco escreve a poesia do teu corpo
E veste teus desejos, nossos imortais desejos e encantos
O vento pára e cai o teu vestido branco em minha pele
Teu corpo e teu vestido se misturam em minha alma e acalmam
E no silêncio das bocas calam e num só calor se fundem em arte
E a sorte de quem ama veste branco, quem sabe as vozes revelam
Teus segredos infinitos que se escondiam em ti, enfim te deixam
E uma gaveta qualquer guarda teu vestido branco, na minha cidade
Rua onde volto sempre e desnudo a saudade, procurando por ti