Poemas, frases e mensagens de Filipa Ferreira

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Filipa Ferreira

Num qualquer entardecer o poeta sussurrou que o olhar é o espelho da alma... É isso... E basta. A normalidade é apenas uma questão de perspectiva... Prefiro ver tudo de pernas para o AR.

Se é para parir, que seja a Gritar!

 
Deixa-me que te fale do meu parto.
Sim!
Do meu parto!
Foi de manhã.
A ferros.
Do fundo do útero.
Puxada a frio.
À força.

Agora, deixa-me que te fale do teu parto.

Sim!
Do teu parto.
Foi à noite.
Cesariana.
Sem qualquer tipo de imprevisto.
Premeditado, portanto!

Agora, deixa-me que te diga isto:
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-
Vai para a puta que te pariu.
 
Se é para parir, que seja a Gritar!

Desengonçada

 
Não me asfixies
E eu sei que não
E é esse saber que me asfixia
Não o teu saber
Mas, o meu surpreender
De não saber
O porquê
Desta não asfixia
Não penses que é recíproco
Ou até sensatez
Pensa antes que é loucura
Este meu conhecer
Isto não é um embarco
Apesar deste descalço
É qualquer coisa de perigo
Para além do movimento
E este modo desengonçado
É algo inerente
Assim como o orvalho
Numa noite de desalento
Como que um desabitar
Da confusão
Para quê tantas tradições
Se o que eu quero são ilusões
E não importa o labirinto
Repara no momento
Que importa se demora
Prevalece o pensamento
Vê lá se percebes
Que nada há para entender
O que existe tem sentido
Mesmo que esteja por decidir
Talvez seja subúrbio
Esta minha insensatez
Talvez nada seja
Nada mais que uma qualquer invalidez
Que importa o que seja
Nem que seja confusão
Quero lá saber o que seja
Desde que seja
Um qualquer desatar
Não penses que é loucura
Este meu conhecer
Pensa antes que é um apagar
De uma qualquer sensatez
 
Desengonçada

Overdose

 
Ando enferma.
As minhas veias estremecem a cada inspiração.
Nas expirações são os ossos do pescoço que se contraem.
Suo.
Canso as artérias até ao limite.
A agulha diz-se sensata. Recuso-a.
Insiste na prudência.
Recuso.
E expiro outra vez.
Oiço o estilhaçar do pescoço.
Inspiro novamente.
As veias das mãos saltam a cada respiração.
Aperto os joelhos.
Deslizo os dedos do pé contra o banco.
Gotas de suor no soalho.
E recuso outra vez.
A porta está fechada.
Leve ruído. Passos apressados.
Novamente a sensatez.
Breve suspiro. Fundo desejo.
Insensatez.
Não recusei.
Espetei!
 
Overdose

Isto não é um Testamento

 
Não vou estar com rodeios
Com artimanhas linguísticas
Com processos que se dizem oficiosos
Vou directa ao assunto

Hoje aniquilava-me
Sem qualquer tipo de piedade
Aniquilava-me
Assim, num só gesto
Sem dó
Nem sequer me permitiria a clemências
Isto não é um testamento
Mas, bem que o poderia ser
Sinceramente?
Hoje
Hoje aniquilei-me
-
-
-
-
-
E só agora dei por isso.
Pena tu não teres dado!
FUCK YOU TOO

http://estranhodesassossego.blogspot.com/
 
Isto não é um Testamento

Veias desgovernadas

 
São suores.
Suores de frio.
Arrepio.
Daqueles que se desencontram entre a pele e a retina.
O resto é temperatura.
É uma espécie de esquisito.
De ossos mal amanhados.
De veias desgovernadas.
Ando intoxicada.

Sem risco!
 
Veias desgovernadas

Assumo: Sou uma Narcótica.

 
Assumo isto Hoje, porque simplesmente não sei se o poderei assumir amanhã!
Tanto que se deixa por assumir…
O amanhã não é certo.
Assumo irreversivelmente o tanto que nunca disse,
e o tudo que sempre pensei!
Mais que isso, assumo a epiderme!
Assumo aquele arrepio da espinha,
Aqueles poros envergonhados.
Isto não é nenhuma conjectura,
É apenas um qualquer acto irracional.
Vicio-me neste bicho de sentir
Arrumo de vez com o preconceito
Forro o juízo
Esse tino que me arma
Desarmo por completo o definido
Estou enleada em transparência
Completamente envolvida
Tudo porque quero
Porque definitivamente pretendo
A eloquência
Daquelas bem expressivas
E a cair de Loucura
Porque irreversivelmente assumi
Assumo
ASSUMO

Drogo-me de Insanidade, com muitas gramas de Emoção…
Ahhh que Prazer dos Diabos é esta ressaca da Diferença!
Este orgasmo de Demência!
 
Assumo: Sou uma Narcótica.

Discurso Directo

 
Não queria ser mal educada com ela.
Nem sequer lhe faltar ao respeito.
E muito menos ser traiçoeira.
Por isso, e num gesto sem nenhuma subtileza,
Lhe disse:
Olha Vida, se queres Gestos, não me oprimas.
Se queres Palavras, não me ajustes.
Se queres Sentires, não me ameaces.
Se queres Olhares, não me cegues.
Se não queres nada disto, não me chames.
E se um dia mudares de ideias e quiseres isto tudo.
Não lamentes.
Porque eu estava oprimida, ajustada, ameaçada e cega!
Restou-me o olfacto para prever a tua chegada.
E passos para fugir da tua partida.
Olha Vida, se um dia lembrares de mim.
Lembra-te que um lembrar é Mente.
E se é de Mente que se trata.
Então, não queiras lembrar de mim.
Não estou em nenhuma Mente!
Estou ali.
Ali mais para aqueles lados de lá.
A fugir.
 
Discurso Directo

Densos. Orgasmos.

 
A hora de saída sempre foi o teu forte.
Nem adeus.
Nem até já.
Perdão, Corrijo!
Na hora da saída sempre te pensaste forte.
Lamento informar-te mas, na hora de saída é a retina quem vinga.
Nela corre tudo.
Suores. Frios.
Quentes. Espasmos.
Poros. Cheios.
Veias. Vazias.
Densos. Orgasmos.
Emoções. Atestadas.
Choros. Recalcados.
Fome. Insaciada.
Desejo. Oculto.
Não sou forte, nem fraca.
Mas, faço questão em mostrar a retina.
Seja na entrada.
Seja na saída.
E na porta um aviso.
Proibida a entrada de pessoas estranhas ao serviço.
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Perigoso. Êxtase.
Na hora da saída sempre te pensaste forte.
E nem sequer te atreveste.
À Ousadia.
 
Densos. Orgasmos.

Adeus

 
Que não saibas que estive na estação
À espera de todos os comboios
Por aquela linha
Que não saibas que te disse que estava lá
Permanentemente
Sem medir o Tempo
Que não saibas que esperei sozinha
Que não saibas isso
Nem tão pouco da intensidade dessa espera
Nem do espanto de esperar, ainda
Mesmo que esse ainda já não seja
Insanamente já não seja
Espanto
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Adeus
 
Adeus