Uma história de (des)encantar...
Ele de nome Abril
Boina verde, cor de esperança
Ela, Vila Morena
Saia bordada em fios de bonança.
Amaram-se em Maio maduro
Um amor forte e único
Qual Lusitano de sangue puro!
Vestido de cravos e alegria.
Até que um dia...
Os cravos murcharam
E a alegria, de alma vazia
Esqueceu de olhar em frente...
Perdeu-se de nós!
Abril não soube resistir
À ganância, à mentira
Às palavras, feitas balas
Aos cravos que perderam a cor
Desistiu e fez as malas!
E assim foi embora...
Deixando Vila Morena
De sorrisos amordaçados
Sonhos tristes e calados.
Agora, o povo envergonhado
Olha-o a descer a rua...
Perdido
Esquecido
Sem rumo, sem futuro
De mala pesada (cheia de nada!)
Lembrando aquele Maio maduro
Quando acreditou que a felicidade
Rimava com liberdade!
A um mar de violeta(s)...
Passeio-me à beira-(a)mar
Vejo silhuetas mascaradas de búzios e conchas
Estrelas sem mar
E até cavalos-marinhos.
Nas suas pegadas, leio palavras nuas
Respiram maresias de outro Verão
E de outras (tantas) luas!
Nos meus passos
Nascem suspiros sem rumo
Perdidos entre os abraços
E esta vontade de ir por aí e parar...
Olhar-te e mergulhar bem no fundo de ti.
O mar, lambe-me o tempo enrolado na areia
Invade o íntimo das sensações
Ora tempestuoso...
Ora carinhoso...
Num enleio de dois amantes esquecidos do tempo.
Persistente...
Marulha-me horas na nudez do coração
E à noite, nos caminhos violetas do meu quarto
Veste-me de desassossego, de emoção...
Até que me deixo adormecer
Para lá da linha do horizonte.
E sabes?!?
Houve um sonho que mesmo assim...
Inventou adjectivos ao beijo dos teus lábios
E te elevou acima
Do superlativo absoluto sintético, de mim.
O erro foi tentar...
Definir os predicados nominais
Do verbo do teu toque
Porque tu és quase mar...
Ora tempestuoso...
Ora carinhoso...
Porque tu és o Homem
Por trigais de noite
Espigada...
Embriago-me em teus lábios
De madrugada
Quando a noite valseia o solfejo
Nas ancas do desejo.
Teus dedos tocam música
Pungente
Sopranos em violino de um querer
Urgente
Que roubam da noite um beijo.
E a noite sorri no seu jeito
Felino
(Dengosa silhueta prenhe
De nu feminino)
Ao sentir-te crescer em desejo.
(Rouba estrelas do céu)
(Para enfeitar a noite de te amar!)
Rouba de algum céu
Uma estrela
Dança-me num tango...salsa
Ou zarzuela
Descobre-me os caminhos de Mulher!
Carta a um Lobo...
Carta a um lobo...
Dúvidas?!
São tantas, mas tantas
Quem nem o reverso
Do verso
Que cai com a chuva miudinha
Me lava as horas cruzadas pela maresia
Nem as palavras cruzadas pela tempestade do dia.
E os lamentos?!
Poucos, tão poucos!
Os lobos que me uivam a pele (de lua)
Neste luar de pensamentos
Sem fio ou navalha
Que me valha!
Ai este frio que não me aquece
Nem se esquece
Da ventania deserta que planta a sede
Entre a saliva e a água
(Ou será entre a boca e a mágoa?!)
Dúvida de certeza (des)encontrada
Desliza nos caminhos da chuva gelada
E fala-me do que esqueci
Do que perdi...
Ao partires antes de chegares.
Guardo-te num pensamento
Entre ti e a pele
Entre a inocência do momento
E o uivo de lobo que entra pela janela.
És metade do meu fogo
Sangue da minha noite...
Ele (verso)...nela (poesia)
A poesia pinga da boca
Como saliva não saboreada...
E acorda o verso, que perdido
Entre a palavra e o nada
Espreguiça no desejo secreto
De ser o tudo da rima perfumada.
Beija o verso a poesia
Deixando-a de emoção arrepiada
Ele nela, cresce, mete e remete
Até sentir a pele de rimas, inundada.
Declama o verso à musa
Gemidos de poesia enamorada
(Toca-me as palavras)
Bebe-me esta sede misturada
Entre a orgia do ventre
E o prazer da língua molhada.
E de verso na boca
Beijo na palavra desnudada
Primavera em carícias de rima
Jorra pela pele a poesia acabada.
Jardim (s)em flor...
São como gaivotas de voo perdido
Entre o mar e o sal da viagem
Sombras de um silêncio manso.
Deitam-se nas águas da noite
E na paixão da sua margem
Procuram o merecido descanso.
Nas veias da madrugada
Vadiam corpos com imagem
(Incompleta)
Sombras de um silêncio manso.
Anunciam simples palavras
E falseiam os que na linguagem
Procuram o merecido descanso.
Habitam a noite obscura
De incerto luar...
Destruindo as flores que se deixam tocar.
Ecoa o silêncio do vento...
Na calada da noite
A razão e a emoção
Fazem do sonho, o açoite
Que me bate à porta, qual ladrão!
Lá fora...
É noite de fúria (in)temporal
O vento na sua euforia
Dança em chuva um vendaval
De longa e silibada melodia.
Cá dentro...
Deixo-me sonhar acordada
E voo pela noite molhada
Entre ti e a pele...
Entre o teu corpo e a cintura
Entre a noite e este papel.
...Corres-me no sonho, assim
No sangue
E no fogo da vontade, com que entras em mim...
Suavemente...
Mordisca-me a madrugada
Num gemido sedento
Demoradamente...
Desenha-me palavras de terra molhada
E sopra-as ao vento
Vagarosamente.
Deixa que naveguem rio fora
E pelo leito (do teu corpo) desçam
Demoradamente...
Até que chegue a aurora
E no nosso pomar os frutos, nasçam
Vagarosamente.
Mordisca-me a boca
Com sussurros do teu sabor
Demoradamente...
Da linha da pele, apaga-me a roupa
E cobre-a com o corpo, que o corpo quer
Vagarosamente
(Faz-me sentir ainda mais Mulher!)
O sonho a chegar...
A noite passada
Vestiu-se de um sonho diferente
Ainda que igualmente urgente.
Um sonho de tempo cheio
Com as minhas mãos a descer
E a tua boca a tentar-me aprender.
Dedos que se desenham
Em gestos de escorregar
E lábios, que se querem encontrar.
Com mãos de fogo
Ateias em mim o rastilho
Ao soltar a tua boca no meu trilho.
A um vadio...
Acorda...
Entre as gaivotas do areal
Ou as giestas de cor maduro
E pelas águas de sabor a sal
Deixa-se adormecer.
Leve, deslizante e ousado
Cresce pelo dia, até ao fundo
Do corpo transpirado.
Em murmúrios pela pele
Vindima-se o silêncio
Feito licor de sabor a mel.
Vadio...
O Sol de Verão, voltou!
(Alguém disse que fugiu...)
Entre o Verão e o Outono
Entre a manhã e a noite
Deixa-se o tempo ao abandono
Perdido pelo Sol de Estio.