Poemas, frases e mensagens de jlpf

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de jlpf

São Rosas Senhor

 
- "Das boas novas que me traz o Amor
colhidas pela fresca brisa da aurora
trazem-me o mais fresco alto louvor
de um belo cravo colhido na hora.
Quem me traz tais notícias é o Criador!"

"Há pupilas e cravos no jardim do Amor
e quem ama dá a razão à penhora
girassóis, malmequeres no país do clamor"
- “E vós, que trazeis no ventre Senhora?”
- “Perdoai-me, são rosas Senhor!”

"E trago no rosto a mais rubra cor
o embaraço dizer ao mundo, não quero
carrego no ventre a chama do Amor"
- “Mas que trazes tu no ventre mulher?”
- “É obra de Deus, são rosas Senhor!”

- “E me deixam perdida aqui por Estremoz
com a obra floral do bom Criador
no meu pranto, na escrita e com a minha voz
brado aos céus por meu Amor,
é um belo homem, nobre e feroz”

“É um belo jardim que vos trago em soror
orquídeas, túlipas e um mal-me-quer,
begónias, acácias e de lis uma flor”
- “Diz-me! Que trazes no ventre mulher?”
- “Colhidas no Éden, são rosas Senhor!”

Poema declamado aqui
 
São Rosas Senhor

Piema libidinoso

 
Sou o amor,
o homem impetuoso da libido
Homem que ataca mulheres atraentes,
meninas pecadoras que no céu imiscuem amor, paixão, fé, desejo, tudo!
Até que idolatro com as sereias pecadoras tanta fé!
Esbeltas mulheres para o musculado,
Sereias e fêmeas pecadoras
Até idolatram serpentes com ardente macho,
o viril desejará as pecadoras iníquas doravante para amar.

Um piema é um poema em que o número de letras das palavras obedece à constante matemática π (lê-se "Pi"). A primeira palavra tem 3 letras, a segunda tem 1, a terceira tem 4, a quarta tem 1, e assim sucessivamente obedecendo às infinitas casas decimais do número pi.
Pi = 3,14159 26535 89793 23846 26433 83279 50288 41971 69399 37510 58209 74944 59230 78164 06286 20899 86280 34825 34211 70679 82148 08651 32823 06647 09384 46095 50582 23172 53594 08128 48111 74502 84102 70193 85211 05559 64462 29489 54930 38196 44288 10975 66593 34461 28475 64823 37867 83165 27120 19091 45648 56692 34603 48610 45432 66482 13393 60726 02491 41273
 
Piema libidinoso

O Auto da Barca do Inferno, séc. XXI

 
 
"O Auto da Barca do Inferno, séc. XXI"

Preâmbulo:

O Auto da Barca do Inferno é uma complexa alegoria dramática de Gil Vicente, representada pela primeira vez em 1517. É a primeira parte da chamada trilogia das Barcas (sendo que a segunda e a terceira são respectivamente o Auto da Barca do Purgatório e o Auto da Barca da Glória).

Os especialistas classificam-na como moralidade, mesmo que muitas vezes se aproxime da farsa. Ela proporciona uma amostra do que era a sociedade lisboeta das décadas iniciais do século XVI, embora alguns dos assuntos que cobre sejam pertinentes na atualidade.

As personagens que Gil Vicente criticava, e que eu encontro paralelismo com a atualidade, eram:

-Fidalgo, D. Anrique: ora o que não falta hoje em dia é jet sets de merda e patronato que mais que não fazem que sugar o tutano aos plebeus;

-Onzeneiro - homem que vivia de emprestar dinheiro a juros muito elevados, neste caso onze porcento, ou seja, um agiota: a troika, os bancos, as financeiras que extorquem o país e as famílias com juros agiotas;

-Sapateiro de nome Joanantão, que parece ser abastado, talvez dono de oficina: o pequeno patronato opressor que explora os trabalhadores, um novo rico;

-Frade cortesão, Frei Babriel, com a sua "dama" Florença: o clero, os padres que ainda hoje são muitas vezes acusados de pedofilia;

-Brísida Vaz, uma alcoviteira: o pasquim correio da manhã, o jornal de notícias, os chulos que vivem à custa da prostituição das mulheres;

-Judeu usurário chamado Semifará: a grande finança mundial ainda é controlada por judeus;

-Corregedor e um Procurador, altos funcionários da Justiça: o alto funcionalismo público, hermético, ineficaz, que só suga impostos, deputados, ministros, magistrados, parlamentares;

-Enforcado: ralé que suga o estado com rendimentos sociais sem trabalhar, e gente da mesma estirpe, que nada faz e só sugam o dinheiro do estado, arrumadores de carros, ladrões, carteiristas, pequenos delinquentes;

-quatro Cavaleiros que morreram a combater pela fé: bem-visto por Gil Vicente, os militares que defendem uma nação

-Joane, um parvo, tolo, vivia simples e inconscientemente; (este sou eu, o doido que não sabe o que diz, presumo que esteja então perdoado)

letra:

O Auto da Barca do Inferno, séc. XXI

Parte I - Inspiração

Meu nobre Gil Vicente
és o meu génio inspirador
pois quem diz a Verdade e não mente
merece honras e louvor

Escrevo-te neste Inverno
este verso teatral
Escreveste: "o Auto da Barca do Inferno"
Escrevemos Portugal

Muito pouco mudou desde então
prezado Gil Vicente
pois há muito fidalgo e ladrão
que continua entre a gente!

Fidalgos são os jet set de merda
que vivem à custa do desgraçado
e há muito fidalgo de esquerda,
há muito fidalgo advogado!

Para onzeneiros, temos o Dr. Ulrich
assim como o Dr. Jardim Gonçalves
Pois na TV, pedir crédito é fixe
Agiota, que do diabo não te salves

Os frades meu caro Gil, já não dão esperanças
no teu tempo andavam com raparigas
pois agora andam com crianças
que ficam com infâncias perdidas

A alcoviteira continua aqui
a cada Correio da Manhã
aquelas páginas que eu lá no meio vi
são Evas que morderam a maçã

Os judeus usurários estão no capital
vestem fato e gravata p'la manhã
estão na troika e em Portugal
vêm lá todos do Grande Satã

Parte II - do Estado da Nação

Temos Portugal na desgraça
fome, miséria, pobreza.
Sofremos a ameaça
do capital e da avareza

Banqueiros, proxenetas, corruptos
são todos da mesma raça
carregam sobre o povo com os brutos
quais caçadores que vão à caça!

Deputados, chulos e putas
todos do mesmo coio
se tu meu povo não lutas
passas por vil e saloio

Burgueses, sindicalistas idiotas
ao capital no bolso não dizem não
pactuam com os agiotas
que fodem esta nação

Juros e mais juros e juros
pois juro-vos que não me calo
gritando os versos mais puros
é sobre o meu país que vos falo

Agiotas e engravatados
todos da mesma ralé
deviam ser sodomizados
por africanos da Guiné

Deputados, ministros, violadores
todos já para o Terreiro do Paço
juntem-se-lhes os corruptores
pois humilhá-los é o que faço!

Generais, coronéis e tenentes
que fazeis vós por esta nação?
A não ser, ferrar com os dentes
a este povo, a mais ínfima migalha de pão.

Advogados, fiscalistas, consultores
sois vós os parasitas da sociedade
a par com meia dúzia de doutores
que na TV, se acham os suprassumos da verdade.

Meu povo, não deixeis, que vos ferrem a carne
pois não falta luxo ao cão que vos governa
Rogo-vos: não sejais cobarde
e lembrai-vos: o povo é quem mais ordena!

Parte III - do Capital

Sindicalistas e burgueses
temperança não é convosco
das grandes marisqueiras são fregueses
fostes vós que pusestes o país no poço!

Maquinistas, juízes, professores
os inúteis mais bem pagos do país
que só por se acharem doutores
podem extorquir o Estado até à raiz

“Eu sou técnico superior
o meu estatuto é fundamental
Você é ralé… Oh Sr. doutor
sempre vamos à greve geral?”

“Eu sou funcionário público
Trabalho muito e ganho mal!
A pedir aumentos não sou púdico
Trabalhar?! E a minha hérnia discal?”

“A meio da tarde bebo o meu tinto
o meu salário é fundamental,
entro às dez, saio às cinco.
Quanto é o salário mínimo nacional?”

“Eu sou grande gestor, quero, posso e mando
dezanove vezes ganho mais
sobre aqueles quem eu comando
esses parasitas, sanguessugas e chacais”

“Cortar salários não me custa
A minha técnica? Precariedade laboral!
A PJ lá em casa fez uma rusga
mas eu sou perito em evasão fiscal”

“Advogados, procuradores e magistrados
compro todos e saio ileso.
De todos esses afamados
já viu algum corrupto preso?”

Sindicalista pede dinheiro
Capitalista quer capital
Será que a diferença está no cheiro?
Pois eu não vejo, é tal e qual!

Sindicalista pede aumento
Capitalista joga com o risco,
ao primeiro, trabalho é tormento
o segundo foge ao fisco!

Parte IV - da Austeridade

Em casa onde não há pão!
todos ralham com quem é sóbrio
Quem nos comanda é ladrão
os comandados só sentem ódio!

Em casa onde não há pão
há um político engravatado
pois com fé e a televisão
fazem o povo bem mandado!

Em casa onde não há pão
não falta a ZON no coração
O Benfica é a paixão,
Fátima é religião!

Em casa onde não há pão
para quê educação?
Haverá sempre uma Nelinha
para nos pôr todos na linha!

Haverá sempre um Gaspar
um sóbrio homem da razão
que acabou com o “deixa andar”
e vos pôs a comer pão!

Mas em casa onde não há pão
há carro para a mobilidade
um para o pai, um para a mãe, filho, filha e até para o cão
Autocarro?! Para quê tanta austeridade!

Parte V - do Crédito

“Mamã, compras-me um Mercedez
para as minhas voltinhas na cidade?”
“Claro filho, então o Barclays tem tantas redes
Eles só fazem caridade!”

“Oh, querido, já viu o novo Nissan Qashqai?
um jipe destes é tão janota!”
“Vai pedir crédito ao teu pai
que já somos enrabados pelo Totta”

“Mamã, os meus amigos têm todos carro
passo vergonha, a mamã não vê?”
“Oh queridinho, tudo menos autocarro
vamos já ao BCP!”

"Papá, quero um popó?
O papá só pensa em si!"
"Filha, ou aprendes a fazer bobó
ou então vais ao BPI"

"Cajó, olhe a casa da nossa vida!
Isto até é quase campo"
"Só se deres o pito dia-a-dia
é que pagamos a renda ao banco!"

"Oh Cajó, oferece-nos esta prenda
Já viu, e é tão boa a zona!"
"Com 1000 euros de renda
só se ficares a dar a cona"

"Cajó, e só hora e meia de Lisboa
Não veja a coisa como um tabu
Estou farta da Madragoa"
"Não dás tua a cona, dou eu o cu!"

Parte VI - das elites profissionais

Em casa onde não há pão
resta-nos apenas a prisão
e por muito que aí andes,
não terás o Sá Fernandes

Porque os crápulas estão na TV
Mas será que ninguém vê
a que chegou este cenário?
É que o Nabais está milionário!

Romeu Francês, ajudai-me
dou-te o ânus se for preciso
mas só depois da casa e das poupanças
e de ficar todo liso

E o pobre Duarte Lima,
Roubar!? Ninguém o faz
A polícia sempre em cima
e é tão bom rapaz!

Pobre Dias Loureiro
um homem tão solene
Não eras tesoureiro
lá para os lados do BPN?

“Eu sou médico, do clube dos mercenários
Dinheiro é o meu único termo,
É que os meus honorários
fazem do são, um enfermo”

“Falto de forma regular
pois a greve está na moda.
E ganho algum por fora
no consultório particular!”

“Faço esquemas com receitas
ganho o que me apetece
É que há muitas seitas
lá no SNS”

“Fiz juramento de Hipócrates
e faço abortos sem stress
só não fiz ao Sócrates
porque ele é do PS”

“Ah é para abortar isso?
Abre lá as pernas que ninguém vê
o que aí tens dentro é lixo
e isto é só uma IVG”

“Pai, mete-me lá no partido
que trabalhar está complicado
temos o país fodido
e um défice acumulado”

“No partido por enquanto não dá
Mas descansa que dou-te a mão,
Se não é lá é cá
há sempre lugar na fundação!”

E esse crápula do Barbosa
essa ralé que não vale um escarro!
É que há tanta puta airosa
que só dá a cona a quem tem carro!

Parte VII - da Pornocracia

E os alcoviteiros do Correio da Manhã
que todos os dias mancham alguém,
as páginas centrais são do satã.
Putas, há esse termo também!

Não lamentes, Angélica, o teu estado;
puta tem sido muita gente boa;
muita puta tem governado,
e há muita puta por Lisboa

Puta de papas, foi Marósia
e ainda foi mãe de dois
Mamou em muita hóstia
Primeiro o sexo, o amor depois!

É assim a juventude!
Primeiro o sexo, o amor depois!
“É tão difícil manter a retitude
com a mamalhuda dos caracóis!”

“Fiz os castings em três dias
Puta, modelo, atriz
Olha que tu não querias
ter feito aquilo que eu fiz!”

“Faço novelas de juventude
por paixão e por dinheiro
E faço o amor amiúde
com político e com banqueiro”

"Só não faço com paneleiro
que eles me olham sem tesão
e não têm tempo, estão o dia inteiro
a trabalhar para a televisão"

Parte VIII - Apelo Divino

Vem Senhor meu Deus
que este servo se Te ajoelha
sou governando por ateus
para os quais olho de esguelha!

Vem ao meu reino Gaspar
que já prometeste à Nossa Senhora
"Se Portugal se aguentar
a troika não nos penhora!"

Tens razão ó Passos Coelho,
Já não há respeito, ou louvor
até o mais pequeno fedelho
já bate no professor!

Pedradas à polícia,
olhem que já vi esta cena!
Foi da pedrada ilícita
que salvou Jesus, Madalena!

É que Ele morreu na cruz para nos salvar
Um Mestre, que de Seu corpo fazia pão
Agora resta-nos o Gaspar
Amén, a troika é a salvação!

E que ninguém me leve a mal
este meu sóbrio sermão
Ah meu Portugal
Já só espero Sebastião!

Tiveste o teu nobre Infante
e o padre António Vieira
o primeiro foi navegante
e o segundo.... leia

Vem D. Sebastião
que ainda hás de voltar
Só miséria e corrupção!
“Vejam, vem aí Vítor Gaspar!”
 
O Auto da Barca do Inferno, séc. XXI

Romena que lavas as mágoas...

 
Romena que lavas as mágoas...
 
Romena que trazes os pensos,
da amargura e embriaguez
Seca-me as lágrimas com os lenços
dos desamores que tu não vês

Cigana que vendes os pensos
que saram as mágoas do poeta
Os teus negros olhos imensos
encantam quem te inquieta

Romena bela e morena
com as tuas tranças de cetim
expia-me a pele amena
e façamos hoje um festim

Os pensos que tu me vendes
Saram as mágoas da alma
E somente o que pretendes:
um pouco de pão, que a fome acalma

Romena humilde e bela
Provéns do oriente
Guardas a chancela
de quem só rouba e só mente

Acolho-te no meu país
Pois sou contigo solidário
Guardas a nobre raiz
de quem já suportou o calvário

Vende-me os pensos que saram
todas as funestas mágoas
que se desprendam as amarras
e que navegue pelas lusas águas

Dos mares do Báltico, sara-me a dor
Claipêda, cidade trágica
onde mendiguei o amor
e venerei um dama mágica

Lava-me as mágoas do pensamento
com os teus pensos da lucidez
Limpa-me da alma o tormento
das dores que tu não vês

Romena, encosta-te a mim
E aplica-me os pensos dos teus versos
Odora-me com alecrim
E rejeita-me os amores adversos!
 
Romena que lavas as mágoas...

Escrevo...

 
 
Escrevo em movimento
Escrevo o que vai na mente
Escrevo com a mão dormente
O que me vai no pensamento

Escrevo com puro contentamento
Escrevo aquilo que é premente
Aquilo que arde, que é ardente
Que traz dor, isolamento

Escrevo com audaz primazia
Os escritos do sofrimento
Escrevo o que traz alegria

O que estimula e traz tormento
E não escrevo aquilo que queria
Amar-te assim no firmamento

Confesso que farei os esforços máximos para nunca deixar de escrever, por muito que os pedreiros-livres o tentem, por muito que me reordenem o cérebro com os seus intuitos maléficos, por muito que a minha percepção de teclado universal se adultere, por muito que a minha celeridade táctil digital e em formato papel se altere e se deteriore, farei sempre um esforço dantesco para nunca cessar a obra literária no domínio cibernético e tradicional... Nunca deixarei de escrever... pelo menos tentarei...
 
Escrevo...

À princesa amante

 
E no meio do escuro
E no meio do nada
Enquanto todos dormem
Quando a luz se apaga
Espero eu por ti
Nesta madrugada
Quero ter-te aqui
Mas tu estás parada

E não há mais nada, nada
Só tu, tudo, tu
Nada, nada, nada
Só tu, És tudo, tu

E a espécie humana é capaz de
Odiar, matar, chacinar
Mas contigo eu só consigo
Dar, abraçar, amar

Eu dava tudo para te ter,
Mas eu sei que um dia
a esperança há-de morrer

E no fundo do teu ventre
eu queria
Colocar a minha semente
um dia

___

João Filipe Pimentel
 
À princesa amante

Mar Holandês

 
Mar Holandês
 
Onda que trazes do mar
os sonhos imensos sem fundo
cessa a espuma e o luar
leva-me a dor ao mar profundo

Traz-me o orgulho e a vontade
Traz-me a força para cantar
Leva a angústia e a saudade
quando onda, voltares ao mar

Onda que cantas comigo
Traz-me do mar os teus sonhos
Sussurra-me ao ouvido
os versos mais medonhos

Escuta-me onda os pensamentos
Traz-me as memórias de menino
Leva-me os meus tormentos
Traz-me do Oceano o seu Hino

Onda que levas as naus
dos homens do Infante
Lava-me agora as mãos
que escrevem este verso errante

Onda que te vens em mim
numa lírica tão mágica
O teu tacto é de cetim
A tua história é tão trágica

Retorna ao mar e devolve
as sacras águas do baptismo
no corpo da dama envolve
os meus beijos em secretismo

Magna onda boreal
que me encontras na Holanda
Vieste de Portugal
pelos mares de quem te ama.

A Haia, 11/02/11
 
Mar Holandês

Letra do Verso

 
Letra do Verso
 
A caneta é a arma da paz
O caracter é a religião
A palavra escrita é audaz
A falada é tentação

O diacrítico é fugaz
A consoante, escrevo-a à mão
O analfabeto é quem não faz
eterno, o seu Amor de perdição

E como a água, escrever é premente
que a bebo dos poços do ego
sacio a sede ao descrente

da palavra escrita crio um credo
crede em quem não mente
O amor escrito, eu não vos nego!

Amo a consoante e a vogal
como te amo, e amo Deus
A escrita é o canal
dos doutores e dos plebeus

Amo o sacro e o carnal
O duplo ‘V’ dos fariseus
E ninguém me leva a mal
Se eu até amar os teus!

O duplo ‘o’, uma volúpia
O ‘A’ é um falo ereto!
Abre-as em ‘M’ minha lúpia

inebria-me o intelecto
o teu ‘V’ quero nesta núpcia
De Pessoa, sou o neto

Cada letra é uma bala
cada gota de tinta, mil de sangue
de um Poeta que só vos fala
do esotérico, e de Amor langue

Um Poeta que a mulher gala
Não há ninguém que vos engane
enquanto lerdes quem vos regala
o intelecto e não o sangue

Cada pretérito, uma mulher
Futuro do indicativo: não o sei!
O condicional, para quem souber

A escrita e a letra são a Lei
Vede quem quiser
Os versos, que vos oferendei!
 
Letra do Verso

Embriaguez

 
Embriagado, assim estou eu
Vagabundo em terra natal
Pratico o bem e faço o mal
Sou cão vadio que padeceu

De patologia de quem sofreu
Por um Amor mais infernal
Por uma carícia divinal
De um abraço de quem foi réu

Este pretérito singular
Se na pessoa for o terceiro
Se não evoca o verbo Amar

Pronome pessoal, é o primeiro
Aprendo assim eu a rimar
De último, sou pioneiro

____

João Filipe Pimentel
 
Embriaguez

Oásis

 
Oásis
 
Doce Flor, não imaginas porventura a doce recordação que guardo dos teus beijos. Podia porventura traçar as linhas destes escritos através de versos errantes e desesperantes, através de métricas ancestrais e arcaicas, através de escritos que pausados e desordenados não obedecessem às regras linguisticas que estabelecem o conceito de prosa. Escrevo, não escrevo, aliás teclo, pois teclar é isso mesmo, é impulsionar a ponta digital dos membros superiores que te acariciaram, que tocaram no teu formoso corpo, que deslizaram pela tua sublime e formosa pele, pela candura e alvura do teu rosto, estes dedos, que absorveram as sensações tácteis mais dóceis, e são estes dedos que teclam nestas teclas inscritas de caracteres latinos. Os mesmos dedos que por ti anseiam. A mão, deixou de me auto flagelar, deixou de ser o ímpeto para a concha encrostada num interior angustiante, a palma da minha destra e impetuosa mão passou a oferecer, passou a ceder o desejo, passou a ser a génese dos rituais afectivos e amorosos. Da dualidade de corpos que se unem num leito de afecto, alegria e harmonia. Como que um complemento salutar, como que encontrar a paz depois da guerra. É destroçar os beligerantes, é vencer batalhas, sair arrasado, sair destroçado, ganhar o mundo, ganhar o espaço, o Universo, conquistar os corpos, mas não ganhar as almas, e das batalhas infinitas, das ancestrais e universais, sair vencido e derrotado no interior, e reencontrar o verdadeiro Amor.

E então num leito de desejo e alvura, encontro o deleite, encontro o afecto nuns doces braços de uma doce mulher, nas cândidas pétalas de uma Bela Flor, que por sentido inverso de línguas equatoriais, obtenho o Nome da adorada homónima poetisa que nasceu além do Tejo. E nuns áureos e sedosos cabelos a lembrar as auroras boreais, auroras nocturnas, auroras madrigais, aqueles arco-íris da noite, que os homens contemplam em latitudes polares, olhos da cor do céu, olhos da cor do mar azul, olhos da cor da melancolia, e nuns cabelos da cor do sol, encontro eu a alegria.

A doce Flor do Éden, a minha Eva, sendo eu Adão, somos então os primogénitos, somos os pecadores, pois a maçã grave newtoniana, que cai nos sentido axial, caímos nós então num solo de afecto e folia, ao envolvermos os braços e os corpos, ao afagarmos as mãos numa mutualidade conspícua, numa circunspecção afectiva, nuns abraços ternos, e os corpos, límpidos e cristalinos, envolveram-se em uma entidade una, única, rejeitando eu o nome de rei dos Hunos, de Átila, o guerreiro impiedoso, que pereceu às mãos de uma amante, que o amava e desejava. Mas eu, não caminhei com tropas, não percorri nem vandalizei com exércitos, eu limito-me apenas a observar áureos filamentos que me identificam na terceira letra do primeiro nome próprio.

Doce e bela Flor, recordo com carinho o dia mágico e dominical em que me desvirginei em ti. Em que nos tocámos e nos envolvemos, em que nos abraçámos e beijámos e recordo-o com afecto, com um misto de desejo e carícia, com um pouco de luxuria e candura.

Encontrei-te bela e formosa na entrada do prédio, cheguei ao patamar de uma rua imensa, antes tinha vagueado no meu cavalo negro por ruas e ruelas cheias de peripécias, caminhava então qual mero vagabundo, perdido numa vila longínqua nos subúrbios de uma metrópole decadente. Afastava-me das correrias, afastava-me dos estresses quotidianos, e caminhava então pelo vale, pelo vale das árvores, pelo vale arbóreo, tinha acabado de contornar, de envolver as três oliveiras, e caminhava eu então sequioso dos sucos das frutas de uma figueira, bela, alta, formosa. Caminhava então perdido no meu cavalo, rodopiava, envolvia os prédios e traçava os trilhos que uniam estes dois pomares, estas duas géneses arbóreas, estes dois frutos que se uniam numa união de paladares afectivos.

Cavalgo no meu cavalo negro, qual cavaleiro errante perdido na madrugada de uma lua cheia, numa data mágica deste sétimo dia semanal, dia dos rituais cristãos, dia das homilias afectivas de poder observar os traços que formam o teu rosto, de poder alcançar o azul dos teus olhos. E questiono-me bela Flor, ao tocar nas tuas pétalas, ao assimilar o teu odor, serei eu o insecto nocturno sequioso do teu suculento néctar, minha dócil Flor do Éden? Recordo com afecto, quando contornava os caminhos que estreitos e esguios, me dirigiam ao topo da colina deste Oásis. Virei à esquerda, antes da estalagem onde os peregrinos se abastecem de mantimentos e bens para as suas caminhadas, segui em frente, desci pausadamente no meu cavalo, atingi a depressão geográfica desta pequena cidadela, e ao longe a zina, o cume, o alto, o altar onde repousa a minha deusa da noite.

Subi, e obedeci ao paradoxo linguístico, mas não, pois eu, cavaleiro amante e errante vim dos subterfúgios da alma, dos poços que afogam os espíritos criadores, e emergi-me das cinzas, dos fogos, e então subi eu para cima, ignorando neste pequeno excerto da minha missiva amorosa o pleonasmo que poderão eventualmente os mais acérrimos críticos evidenciar. Subi, fui ganhando altitude, fui-me afastando do cerne terrestre, mas ganhando a liberdade que preconizas nos teus versos bela Flor.

Calmamente atingi a zina, a areia ofegava-me os pulmões, tal a sua porosidade, observei a tua tenda, o teu local de abrigo na noite escura, observei o local que te protegia do frio nocturno. Tu doce Flor, doce Oásis esperavas-me, quais amantes da madrugada, éramos nós dois adorados, éramos nós duas entidades, duas peças de uma única formatura, éramos o mais e o menos, forças magnéticas ocultas que forçam a união natural de amantes loucos. Naquela noite fomos o alto e o baixo, tu a Flor, eu a espiga, tu a pétala, eu o insecto que depois de metamorfoseado se liberta e ganha asas, fomos o dois e o três em todos os seu simbolismos numerológicos, fomos a Lua e o Sol, formámos um sistema astral, fomos o Norte e o Sul, o Leste e o Oeste, foste tu nessa noite um Oásis num deserto, foste uma fonte ao ser sequioso em que me revia, e no entanto dócil Flor, és também o mel que me adoça os lábios, e que me nutre, eu corpo e alma carentes de amor.

Entrei na tenda que te abrigava na noite gélida, mas o seu interior fervia em beijos que me prendiam os lábios, sentei-me no tapete, e ofereceste-me um chá, que me enterneceu e me aqueceu o corpo. Sentaste-te a meu lado, e proferiste ternas palavras, aproximei-me de ti e abracei-te, coloquei a minha destra mão sobre o teu dorso, e com a sua palma aberta tocava-te no ombro, simbolizando assim a ternura mútua e reciproca sentida por ambos. Observei-te e beijei-te novamente, toquei-te novamente, tinhas na tenda que te abrigava uma caixa de música que nos entretia nos abraços que dávamos. Sentados e envolvidos no tapete do receptáculo dos amantes noctívagos, abraçamo-nos, acariciámo-nos e nos entretantos bebemos um café que nos manteve despertos pelo resto da noite longa, a noite que nos esperava, pois a noite é sempre especial, a noite, altura em que o Sol se esconde, e a Lua no seu esplendor ilumina as colinas que contemplei nas caminhadas efectuadas.

Calmamente fui, deslindando o mistério do amor, fui destrinçando e fui renegando a muralha que nos separava, fui perfurando o muro, e fui removendo o betão armado que me envolvia numa clausura impiedosa, e quando, naquele momento infinitamente sublime, e cheio de desejo e impetuosa provocação, pude deslocar os meus dedos sobre aquela pequena tira de tecido que suportava o traje que te cobria os seios, quando pude deslocar sobre o teu antebraço esta tira de tecido, quando esta frustrante peça que me impedia de contemplar as colinas do teu tronco, o vale que se encontra no regaço que as une e que as separa, quando baixei subtilmente, estas duas tiras, a do braço esquerdo e direito, e fui calmamente com os dígitos forçando esta pequena indumentária acastanhada a descer pelo teu alvo corpo, pude observar os dois altares mágicos, a magia do número dois, pude observar a dualidade infinita e luxuriante com que ansiava, como que duas fontes que jorram em momentos pós-fecundação os nutrientes que alimentam os novos homens que habitarão o cosmos.

Observei as lindas fontes, alvas, cheias de candura e beleza infinita, e no seu topo, no topo destes altares, cujas silhuetas e formas estão explícitas e patentes em tantas e diversas formas de arte, profanas e sagradas, estas formas tão divinais que incutem nos homens e mulheres aqueles desejos, aquela ansiedade, estes dois altares, que quando a doce Flor está estendida a captar os raios solares, veneram os céus e o infinito do Universo, e quando te observo, bela Flor, erecta, na minha fronte, as tuas massas de carne divinal observam-me de frente e com elas contemplas o mundo. As fontes que os teus seios constituem, são como que a meta da mais longa e fatigante caminhada, aquilo que o peregrino mais crente e carente anseia. E ao observar as tuas colinas corporais que te embelezam o tronco, pude maravilhar-me com tamanha beleza e beber do suco, que jorravam da sua extremidade.

Pois bela Flor do Éden, acredita que é maravilhoso, poder ler-te isto que escrevo, acredita que o sentimento de te poder endereçar, e simultaneamente poder beijar-te é algo que me inunda o ego de alegria. É evocar a egolatria da infância.

O desejo tornava-se incomensurável, não aquele desejo frenético angustiante, ou melhor talvez o fosse, mas sentir tal desejo por alguém que nos compreende, que nos complemente, e que nutra por nós sensações similares, por certo que não pode ser um desejo funesto. Na divisão maior do teu abrigo nocturno; o tapete não era por conseguinte o local mais apropriado para o ritual do amor aos céus, e do amor enternecido que nos unia, o tapete era apenas o começo, era apenas o leito dos preliminares afectivos; mudámos para outro compartimento, ergui-me erecto, levantei-me e caminhei um pouco curvado no sentido do outro espaço divisório, segui no teu encalce, e afastaste suavemente a cortina que separava as duas divisões, e qual acto provocatório deixaste que esta te encobrisse a silhueta, e desapareceste momentaneamente pelo segmento onde se veneram os deuses profanos e sagrados do Amor. Senti-me perdido, desencontrei-me por segundos, mesmo que o abrigo que nos acolhia nesta escura noite desértica no exterior, fosse pequeno; pequeno mas por certo bem mais acolhedor que muitos palácios reais. Reencontrei-me e descortinei a fina membrana que nos separava, a cortina que nos afastava apenas visualmente. Atravessei-a e observei-te novamente bela, formosa, altiva, doce, desejosa dos meus beijos, carente dos meus afectos, e deitaste-te no pequeno estrato que, apesar de não ser muito alto, era reconfortante.

Eu carente dos teus lábios, carente de observar novamente o azul dos teus olhos cristalinos, ansioso por sentir o odor dos teus cabelos, impaciente por preencher o meu espectro visual com as tuas feições, aproximei-me e observei-te de perto.

E é este momento astrológico que nos uniu, o momento sagrado que os povos antigos veneravam, a este momento erigiam-se catedrais, pilares, antas, menires, como que com o intento de poder descobrir este mesmo instante. Não existe então similaridade silábica entre momento e monumento? És tu dócil Flor o monumento dos momentos de afecto e ternura, o monumento que naquela noite se encrostou nesta alma e me adornou o cerne do ego.

Aproximei-me de ti, despi os trajes que me incomodavam e deixei-me embriagar pelos teus actos, pelas tuas palavras, pelas tuas feições, pelos teus gestos, pelo toque das tuas mãos, pela textura dos teus lábios que untados de saliva nutrem o meu parco corpo, deixei-me embriagar pelo teu radioso cabelo das auroras boreais, trinquei os teus mamilos, chupei-os qual bebé morto de fome e sede, agarrei-te nas coxas e senti o ímpeto do desejo atravessar-me a libido. Fui percorrido por fogo nas veias e artérias, que se revelaram na extremidade da pela, e se canalizaram para as zonas mais erógenas da minha essência: os lábios, a ponta dos dedos, a ponta dos pés, as bochechas, e todo este vigor foi concluído num clímax vigorante que jorrou a hemoglobina esbranquiçada e fecunda no leito que nos acolheu; foi o leite do deleite, foi leite jorrado no nosso leito.

Foi este momento simultaneamente herege, pecaminoso e da mais pura e doçura beleza que recordei nessa mesma noite no meu acampamento, depois de regressar da caminhada em que me uni a ti.

Deitei-me na divisória escura, cerrei os olhos, e quão belo foi aquele momento em que observava a tua face, a preencher-me. De olhos abertos via apenas o breu nocturno, e quando cerrava as pálpebras, contemplava a silhueta facial que tinha adorado minutos antes. Adormeci assim, e contigo bela Flor sonhei apenas aguardando aquele momento, em que erigirei de novo em ti o monumento do amor e da ternura.

E enquanto redijo estes escritos bíblicos e proféticos do afecto, aguardo pelo dia quíntuplo, em que nos reencontraremos, desta vez na tua propriedade nos bosques longínquos, onde me esperarás no teu palácio e me beijarás novamente pelos corredores e largas divisões que formam a sua planta.

Dócil Flor, és a mais bela princesa do cosmos

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João Filipe Pimentel
 
Oásis

Hoje, já te disse que te amo?

 
Há loiras, negras e eslavas
por santuários deificadas
Não temas, ó Nádia o teu olhar
É a alvorada, o crepúsculo e o luar

Tão delicada e envergonhada
tão sensível e recatada
não temas ó Nádia, uma palavra
cordata, sensual ou brava

Tão doce e atenciosa
amante tão carinhosa
Não temas ó Nádia um sorriso
É o nosso amor que eu analiso

Há-as ricas, poderosas e fatais
concubinas, rainhas e sacrais
Não temas ó Nádia o teu estatuto
Apaixonei-me com amor de puto

Há-as santas e canonizadas
presidentas e mal-amadas,
pornocratas regentes da tesão
Não temas ó Nádia o coração

Madalena era morena
Maria, morena em ente
A Mulher está na trezena
tu Nádia, na minha mente

Deusas da Acrópole, fugi
que uma Atena, encontrei na vida
que me fugiu, mas que a prendi
e beijei, quando vagava perdida

Há loiras, negras e eslavas
asiáticas e escandinavas
És a mais bela judia que traço
não temas amor o meu abraço

Há mulheres, de todas as religiões
de todos os credos, com várias feições
Não temas ó Nádia um gesto forte
amar-te-ei, até à morte

Há mulheres feias e bonitas
das mais belas, eu já vi
há pérfidas e benditas
Lembras-te, quem eu escolhi?

Há mulheres que nem eu clamo
ímpias, ardilosas e tenazes
diz-me Nádia o que me fazes
para que te ame como eu amo?

Rejubilas na madrugada
És a judia tenebrosa
juvenil, sorridente e airosa
doce, sensual e recatada

Cada gesto teu é um código
que decifro com o coração
casaste com um homem pródigo
nas letras e na paixão

Certo dia, apareceste na alvorada
mostraste-te desprotegida
ganhei coragem, observei-te imaculada
e sussurrei-te a frase proibida

Quatro mil milhões de mulheres
que Deus criou, o meu Magno Amo
Ama-me Nádia, se me quiseres
e hoje… já te disse que te amo?
 
Hoje, já te disse que te amo?

Homenagem aos Poetas Portugueses

 
Que maior homenagem posso eu dar
A um ilustre poeta português
Como Pessoa, se não exaltar
A grandiosidade que perfez
Ou Camões que ao glorificar
O povo qu’inda tem os três
Inteligência e Fado no altar
Sou poeta, sou português.

Mas que há de eloquente
Em tal praia lusitana
Que provoca em sua gente
Tal pureza freudiana,
inteligência algo quente,
e perfeição indicana?
Veja-se a retórica influente
É claro! A camoniana

Que em mim arde sem se ver
E que me faz amar as divas
Do mundo, e depois lamber
Volumosos seios, e que intrigas
Me esperam ao padecer
Que me ferem como espigas
Sinto a alma a sofrer
Sou lusitano, não choramigas

Mas também sinto Pessoa
Que me oferece a melancolia
Que me faz seguir nesta canoa
Sem vivacidade ou alegria
Mas aprecio uma mulher boa
Disso não tenho eu fobia
Porque se há algo que me atordoa
É o corpo nesta acalmia.

____

João Filipe Pimentel
 
Homenagem aos Poetas Portugueses

Pentateuco de Maria Madalena

 
 
Cumpramos as ordens e o estilo
Deleitemo-nos com arte amena
Esculpamos a Vénus de Milo
Copulemos, Madalena!

No Reino do Leste, navego no Nilo
A artéria viril da mulher serena
deste canal donde te sugo o mamilo
fecunda moça, que te vejo em Viena

Mozart, Beethoven, escutai-me
que Freud já me analisou
Vénus, Afrodite, abraçai-me

que o amor por aqui passou
Removei-me ó ninfas o açaime
que o Danúbio me inspirou

_____

Se o Danúbio é insípido, o Tejo é salgado
Mas o sal retira a clarividência
Quão difícil é o amor regrado:
a carne da consciência

O Danúbio é cinzento, o Tejo é claro!
Mas é nesta aurora da inteligência
quando se nega a penitência e o fado
que se forma a magnificência

É no escuro que se vê o Iluminado
Imune ao estímulo que deturpa
É quando nasce o homem consagrado

que à humanidade arranca a burca
Surgiu então a Luz no crucificado
concebeu uma prostituta

_____

Chamam-te Judas, Madalena!
Por que me traíste, se te sonhei?
Evitei-te a mais crua pena!
Foste tu Mulher, quem mais amei!

Trocaram-te os nomes, quando sangrei
e choraste com a minha trágica cena
Aquele momento grafou a Lei
que vou desvendando em Viena

Inicio-me nos mistérios do Saber
que me sabe a sangue este poema
Por que me traíste, sem querer?

Recompensa tão pequena!
Amei-te tanto minha Mulher
Chamam-te Judas, Madalena!

_____

O luxo e a mulher são da mesma massa
traíste-me por trinta moedas
pois Eva e a serpente, são desta raça
que se deixa tentar contra as regras

Puseram-te a burca e a mordaça
Maltratam-te, lançam-te pedras
E não há nada que não faça
para te remir destas guerras

Madalena, fala-te Jesus
Tu Mulher, foste a minha amada
Fecundei-te na sacra Luz

genética e consagrada
e ao me veres em suplício na cruz
deste por ti, embaraçada

_____

Maria Madalena, és sacral
porque deste mundo, o meu reino já não era
germinaste-me o Santo Graal
o cálice onde fecundei a quimera

Seguiste a aurora boreal
A minha linhagem ver, quem me dera
Ficaste pela Europa central
Com a semente, onde te fecundei a terra

Guerras, misérias e peste
Perturbaram-te o sangue real
Exércitos vindos do Leste

pilharam-te o leito sacral
voltaste-te para Ocidente e viste
um trono seguro: viste Portugal!

---Post scriptum ---

São treze os períodos por ano
que tens, esplendoroso ser divino
Sentada ao lado de teu amo
naquela ceia, bebíamos vinho

E quando o teu nome chamo
e te vejo o belo rosto feminino
ergo-me, e de peito ufano
aos discípulos, revelo meu destino

Porque tu Madalena, já mo havias dito
Confessaste-me o arrependimento
Entregaste-me o dinheiro maldito

E a meus pés, choraste o lamento
Fecundo é o número trinta, predito
Gritaste depois, ao me veres na cruz em tormento!

_____

O ‘M’ é a letra décima terceira
e tu tem-la Maria, a dobrar
depois dos nos amarmos em erma eira
a meu lado vieste cear

E te puseste em choradeira
pois não me querias atraiçoar.
Na ceia, houve quem te chamou de rameira
Ergui-me e orei: a todos devemos perdoar

Pelos milénios vindouros
Mulher, já sofreste tanta pena
Maltrataram-te os mouros

Demonizaram a trezena
Pois hoje, coroo-te com os louros
Perdoo-te Madalena
 
Pentateuco de Maria Madalena

A Internacional Ciclista

 
A Internacional Ciclista
 
 
De pé ó vítimas dos carros
Pedalai ó jovens da cidade
Avante e de punhos bem cerrados
Recordai sempre a mocidade
Não queremos ser mais ostracizados
De pé, pedalai e não mais carros
Senão queremos dar aos chupistas
Sejamos todos ó ciclistas

--Refrão--
Bem unidos, e exaltados
Construamos, é sacral
duma urbe sem carros
A Internacional

Bem unidos, e exaltados
Construamos, é sacral
duma terra sem carros
A Internacional
--------

Da galp, repsol e bp
Nada precisamos de nenhum
Criemos o ideal em quem não crê
e a rua mãe livre e comum
Melhoremos a nossa cidade
Findemos a poluição do ar
E na austera claridade
vamos todos pedalar!

--Refrão--

Agiotas do crédito dos carros
Chulos que fornecem combustível
Findemos os negócios implantados
Lutemos todos: é possível!
Desocupemos a nossa cidade
das latas que ocupam o passeio
Demos a todos, a mobilidade
Ciclistas sem receio!

--Refrão--

E os pobres peões abalroados
Reflitamos, fazei todos uma pausa
E senão quereis ser atropelados
juntai-vos hoje à nossa causa!
E os pobres animais trucidados
Morrem mil cães nas estradas pelo mundo
Lutemos, não sejamos bem-mandados
à tirania do capital imundo

--Refrão--

Os biltres que, com publicidade
Fazem do carro rei e senhor
Mas o carro só provoca mortandade
Gera doenças, morte e dor
Desocupemos as ruas e as praças
E deixai as crianças brincar
Eliminemos as fumaças
Vamos todos pedalar

--Refrão--
 
A Internacional Ciclista

O império mação

 
O império mação
 
Explodem bombas no Iraque
Há mortes no Afeganistão
O general executou o ataque
em nome do império mação

A estátua ergue a destra mão
e com a outra, perpetra o saque
Não há ninguém que a mate?
Liberdade? Ou castração?

Não se crê que o império seja cristão
pois incute nos livres-homens a masmorra
É o império árduo, e cru da razão

É o império de Sodoma e Gomorra
É o império do bárbaro e do vilão
e o Novo Cristo fará, com que o seu líder morra.
 
O império mação

Iniciação

 
 
Caminhas preso pelo Universo
Ansiando por amar
E surgirá no mar disperso
O Infante livre e imerso
na Luz que te irá Salvar

Teus egos deambulam pelo mundo
Desnuda-te e reúne-os num só
Remete-os ao teu Eu profundo
E verás quão nobre e imundo
tu és! Já teu corpo apenas pó.

Neófito, não há morte
Observa-te frio e nu
Deus detém-te a sorte
Com Ele serás mais forte
Quem teu tua vontade és Tu

O Assombro estarreceu-te
Para veres quão nobre és
O Infante ofereceu-te!
A nova ordem esqueceu-te.
Um Mundo Novo a teus pés!

Passaste pelo processo da dor
Mostraram-te o caminho sagrado
Do sangue ergueste uma flor
Cantaste o hino do Amor
Neófito, estás batizado!

Falta cumprir-se o que Deus escreveu
nas linhas curvas e misteriosas,
cujo Verso o Mago leu
e descortinou o breu
das crenças mais ditosas

Neófito, tens a Missão
Consagraram-te no Ministério
Derrotarás o vil mação
Abraçarás o teu irmão
Neófito, cria um Império!
 
Iniciação

Vida de POeTA

 
 
É o Poeta o arauto da verdade
Aquele que busca o império do saber
Quando escreve não há segredos que guarde
E descodifica-os ao mundo quem quiser

Vive num estado de mendicidade
Um pedinte do Amor sem o ser
Quando escreve não há Demo que o entrave
Tem o léxico de Deus para se entreter

Vaga pelos sonhos da Veracidade
É um mago, um filósofo dos sentidos
Domina os ministérios da saudade

O Neófito dos segredos mais antigos
Das letras, criará uma irmandade
E guarda o Graal, legado por tempos idos

__

Escreve o código doutrinal das emoções
Que rege o coração do ser humano
Escreve sobre paixão e tentações
Interpreta-as o mago, lê o profano

Escreve a magia sacral das ilusões
que irradia a frágil alma do mundano
E não há quem escreva sobre as suas sensações
pois o que escreve atenta o déspota e o tirano

É o árabe, o sufista e o Profeta
O Neófito, a República e o Mação
A Verdade é a sua magna meta

Nela crê, com em Deus faz um cristão
É esta a doce seiva do Poeta
A trindade, o Buda, a Meca do Islão.

__

O Poeta é um doce sonho adormecido
Um sonâmbulo, que acorda, para a magia
E um desamor torna-o num animal ferido
Sendo esta a chama, que lhe dá fogo à vida.

É um literato, um mundano, homem vivido
Oscila entre o tédio e a alegria
Fera feroz, um mero gatinho querido
É o divo, que professa a nostalgia

Escreve sobre o sangue primordial
É um filósofo da dita razão pura
Empirista ou noctívago racional

Que na noite atenta a ditadura
E se vê a volúpia feminina divinal
Dita-a nos quadris, essa carne tenra que fura.

__

O Poeta é um vadio que não quer
ser mais uma besta vã que procria
O Poeta é Atena, é uma Mulher
que dá à luz o tédio e a alegria

Criem-lhe antas quem depois vier
É um cadáver adiado que irradia
a eterna chama do caracter
que prolonga a noite, e encurta o dia.

O Poeta é uma anta por provir
que das letras concebe um mundo novo
Faz-vos chorar, aclama a noite, e faz-vos rir

É quem concede o livre arbítrio ao povo
Creio em Deus, e no Cristo que há-de vir
E é por estes nobres ideários que me movo!
 
Vida de POeTA

Pedido matrimonial

 
Escrevo versos sem pudor
Escrevo termos floreados
Nádia, meu amor
Somos dois enamorados
e estando os dois abraçados
peço-te com uma flor
para que eternamente enlaçados
na doença e na dor
na saúde e na alegria
cases comigo, amor.
Somos os dois Poesia
Eu a estrofe, tu o verso
És o soneto e a canção,
tu és o canto imerso
do Poeta no coração
Casa comigo, eu te peço
Dá-me Amor, a tua mão.
Casa comigo Paixão
 
Pedido matrimonial

A chama da vida

 
A chama da vida
 
Procuro nas chamas da vida
Momentos de eterno prazer
A frase que é dita e desdita
ao ouvido de bela mulher

Cabe-me a concepção
do amor a um belo ser
Quente e fogosa paixão
Por quem hei-de um dia ter

Os fados entristecem as almas
sombrias e empobrecidas
Ó Ninfas, uma salva de palmas
por dádivas tão enriquecidas

O amor que outrora venerei
assola-me o inconsciente
Os legionários com quem lutei
arrasaram-me a louca mente

E a paixão que então esperei
Novo amor, amor diferente
Amor novo, que não amei
Olhar a vida, olhar de frente

E o sabor desta amargura
destrói a essência do ser
bela mulher, que formosura
É a razão, para alguém viver

E as deusas do além
Ternura e sobriedade
Melancolia, fado também
Não há tradução pr'a saudade

Pois denoto no futuro
promissoras sensações
Ódio, amor tão puro
Reter fogosas paixões

Para quê reter a ansiedade?
Para quê esperar o infinito?
Apenas vagueio pela verdade,
Apenas calado finjo que grito

E se as esferas do prazer
Levam o homem ao delírio
Salientar e dominar o saber
Trouxe o messias ao martírio

O sangue que me escorre nas mãos
escorre um plasma humano
de mulheres e homens sãos
Do doutor ao fabril profano

Das mulheres que venerei
Das damas que já esqueci
A todas sempre amei
Por cada uma me perdi

Perco-me nos seus seios
Imensidão de luxuriante carne
Procuro por todos os meios
o antídoto para a ferida que arde

Não resisto a divinal sorriso
A contemplar ondulados cabelos
Pois aqui, meus caros friso
que adoro fartos pêlos

Na geometria das sensações
Na aritmética dos sentidos
Nos gestos, nas contracções
dos músculos, por vãs paixões, perdidos

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João Filipe Pimentel
 
A chama da vida

A adorada embaixatriz

 
E se as paixões assim da carne
são aquelas que agora recuso
E quando te vejo, soa o alarme
do corpo que se observa, difuso

Espelho as almas que renego
São aquelas que desejo
Estou parado e assim espero
aquilo que não prevejo

Mas a chama vai-se apagando
Percorre os rumos da mente
da razão que proclamando
da paixão idílica, descrente

Oiço as mundanas conversas
de futebol a afins
Escrevo calmo sem pressas
receitas de pudins

Estranho o que escrevo
e por vezes estranho o que sinto
Estranho o que elevo
Estranho-me a mim quando minto

O espelho que reflecte a alma inclinada
É a luz que renega a rectidão
Vejo-me com uma paixão desregrada
Seguida de dor e solidão

Anseio a calma que perscruto
Desejo aquilo que renego
Vejo-te em muitos anos, de luto
Um grande esforço, por ti emprego

És a calma no desejo
És o espírito que apazigua
A diplomata do ensejo
o equinócio da minha lua

És o astro que procuro
És a orbita que quero percorrer
É com gravidade que aqui juro
A atracção indolor, sem doer

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João Filipe Pimentel
 
A adorada embaixatriz

João Pimentel Ferreira

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Domine, scribens me libero