Poemas, frases e mensagens de emi

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de emi

A ínfima grandiosidade.

 
No molde de destino
está o mar
calmo valente poderoso
terrível
astuto, da vida estudioso
só o barco por andar
de água em água
de terra em mar
poderá um dia
(queiramos nós que
Deus queira)
um dia sobre o íntimo
viajar.
quanto ao homem
que grita pela sua
ínfima grandeza,
resta-lhe a pureza
de diabo marquês ou condessa
em sua graça
em qualquer praça
(assim Ele quis)
no sentar e divagar
resta-lhe puramente a arte.
o sonhar.

Joaquim Salgueiro
 
A ínfima grandiosidade.

ao jeito de intervenção

 
com marcos de história
e sortes macabras,
destinos traçados
vestidos rasgados,
rios de sangue
vermelho amargo,
branco mais sujo
homens malvados,
meninos perdidos
em camas deixados,
estendidos em braços
nas morgues largados.

lacrimejar ódio
moder o amor,
lá fora a vida
e polícias na rua.
pedidos, sussurros
engôdo profundo,
notas guardadas
no fundo do bolso,
gastas em estudos da
vida drogada,
desmaios no corpo
picadas no braço,
miúdos, graúdos
Homens desgraçados.
sorrisos de Deus
olhando assim,
em jeito de gozo
puxando cordeis,
empilhando carros
enchendo bordéis!

Joaquim Salgueiro.
 
ao jeito de intervenção

O teu cabelo, o meu amor.

 
Só um dia?
De repente
vida adentro e só
mais um dia...
sopro forte cá de fora
e lá no alto atiro
pedras a pestanejos de solidão
luto por não luto
e para só obter
mais sonho
fracassado de país atrasado
com bolhas de vazio
e tudo, mas tudo
por mais um sítio contigo.

(de repente chegou
a noite e com ela
a alma apagou de frio.
Valeu a pena,
toque nulo, beijo crasso
ausento-me
e tua falta,
valeu... remorso
controverso e minha calma,
teu amor
acabou.)

Joaquim Salgueiro
 
O teu cabelo, o meu amor.

Pequenas observações à vida

 
o destino em traço leve
com borracha e pincel em mão
desenha mal
pinta pior.

ao comentario objectivo-depreciativo
que a vida faz de mim
(lá para o fim estou morto)
olhar negro cansado em calçada
capa velha de tanto
pisada
(sabe-se que o tempo
de tempo a tempo
não pára)
calças em baixo, cara rasgada
boca fechada.

vida minha
mulher vadia
não luta
por que não dá
apenas tira
e quer mais homens que mendigos
vive mentira
todo Homem é pedinte
pede a Deus o pão seguinte
ao diabo o preservativo.

Joaquim Salgueiro
 
Pequenas observações à vida

A essência do caminho

 
Direito o caminho
que tolda a vista,
tal amigo, não
vejo nada senão neblina,
não sinto nada senão frio.

Direito eu caminho,
passando por cima da dor
sorrindo torto e mal abrindo
a mente ao teu sentido
dói-me a alma,
choro pelo caminho.

Acabo-me pelo caminho,
não chega a tinta
vermelha que em poemas escorre
não há sentido sem o teu,
só teu,
belo caminho.

Joaquim Salgueiro
 
A essência do caminho

Um sopro e aí vai, a felicidade

 
Haverá algo para além
da tua imagem?
Sonho mais perfeito,
Pensamento mais impossivel
que não te ter?
Quererei demais tua alma
e beberei cada uma das palavras
que me disseres.
Amar-te é vida
Olhar-te é sentido,
É base e sem ti,
Há a ferida que me destrói.
Não quero, posso sonhar
o pesadelo de nao te ter,
mas nao te perco.Não te posso perder.

Joaquim Salgueiro
 
Um sopro e aí vai, a felicidade

Loucura

 
Entre a prudência demente
que me controla
a loucura
(minha eterna loucura)
volta e se revolta
corpo nu de frente ao meu
sexo puro e conexão doce
ejaculação precoce
com a minha excitação
por ti sentida.
Pensando outra vez em ti
minha senhora
dona da minha alma
choro lágrimas tuas
devido a ti
causadas em teu pleno grito.
minha loucura és droga
ar e amante
não fosse o não seres só minha
serias mulher de mundo e meio
não te vendes
dás-te apenas e só aceitas
acenos verticais
contracções verbais que exprimam
a lealdade a ti.
vejo te como demência
minha e das ruas
dos centros paroquiais que te proclamam
de drogados que te amam
jovens doentes que violas
e velhos senis que te pedem,
quase a chorar,
que não te vás embora.
Grito alto mensagem tua
(entre tremores por baixo da mesa
e olhares voltados
para os olhares atrás de mim)
estou falido de amor louco
estou louco da vida punhal.

Chego agora a implorar um fim
por momentos de maior lucidez
que haja justiça
e que a história não se acabe sem fim.

Joaquim Salgueiro
 
Loucura

Poetas de rua

 
Numas linhas
o poeta sobe rua
e calçada acima
mal trabalha
mal se rima
sobe montes e sobe vales
voa céus
e sonha estrelas
diabo nas veias
e tinta na língua
proclama a rua escrita
pedra a pedra
(pedras malditas).

que angústia que prazer
que ternura
e loucura sonha
o poeta
vive escrito
morre maneta,
sua mágica eterna caneta
só a Deus na sua
santíssima divindade pertence
lá vão os grandes poetas descrentes
oh senhores
trotineta dos céus
em sonetos sermões e mais talvez
os capítulos da vida
do grandioso calor
nas costas sentido.

não se pense,
por favor,
que senhor Deus não tenha lugar
para homens tão sábios
eternos escritores
a seu lado, escrevem a ele
mas descrentes de qualquer
salpico de bondade
não perdem tempo,
sabem o destino de suas palavras
à frente, costas viradas
calças baixadas.

Joaquim Salgueiro
 
Poetas de rua

O mundo do segundo.

 
Um mundo,
imaginemos
um segundo num mundo
paralelo
vagas de vidas
bichos da sida
fome no prato
e nem tábua se come com a mão
não há mão
um dia, foi comida em vez de pão.
um segundo e lá vai ele
entristecido
onde Deus o colocou
perdido
olhos esbugalhados na natureza
de mulheres sem saia
com rabiscos de tinta branca
no corpo vencido,
com papel demais gasto
traços de coca
e talvez heroína.
Agora, suponhamos
mente séria e adormecida
que mundo padece num segundo?

(olha a vida
mais pobre e puta
que vencida,
olha-me esta pele
de tanto uso corroída
mete-me aqui os olhos
sua vadia,
não te desvies
hoje morro mas sonho contigo)

Joaquim Salgueiro
 
O mundo do segundo.

canto de reflexão

 
olho de frente
e não vejo palavra
vejo letra,
vejo fumo
penso tudo
e não há nada
desvio e já não minto
outro caminho
outro destino
olho mar
sonho paraíso
sou mais anjo
detenho o poder do juízo.

e pelo momento
que acho nocivo à mente
falo para mim e digo
quem dera nunca me ter lido.

Joaquim Salgueiro
 
canto de reflexão

mais uma noite em coimbra

 
da manhã salta à vista
a praça e a desgraça
de partidos
fundados, já vencidos,
arruinados
com suas lágrimas divididas
têm grito, alma e sida
têm voz álcool
(e alguns) heroína.
de manha são as ruas limpas
e as garrafas partidas
beatas são varridas
os copos (mares de copos)
são vísiveis, mas como senhoras
da vida,
escondem-se com a luz do dia.

chega à noite e recomeça,
enfim
mais uma noite em coimbra.

joaquim salgueiro
 
mais uma noite em coimbra

país sem nome

 
apresenta-me o mundo,
desconhecido,
com esse teu olhar
de vazio na face
a expressão de nada no corpo
e a tua alma
esmagada que sinto no vento forte,
leva-me a vaguear à noite
por este país sem nome
com criatividade absurda
e espasmos de loucura
este país de artistas e engenheiros
e senhoras com banqueiros
de povo morto antes de nascido
e lembrado do
há muito vivido mar,
estas cidades desertas
e bancos de jardim por esvaziar
discotecas cheias
e clubes de strip a abarrotar,
onde igrejas enchem pessoas
e padres cegam a vida
de crianças empobrecidas
país este desconhecido
ao outro mundo além do normal
com escolas
que penetram vidas
e destroem monstros temidos,
analfabetismo
(pena estas escolas
serem fantasia)
onde as urnas têm bombas
(como poderiam não ter ?
o povo não quer votar)
e outro desconhecido sem nome
morre de overdose
numa valeta citadina
ou numa casa rural.
leva-me, desconhecido,
e no fim
(sim, estou a implorar)
diz que afinal
sou apenas eu a sonhar.

Joaquim Salgueiro
 
país sem nome

O que afinal sou

 
sou alegria
sou jovem enternecedor
véu com véu por cima
sou mágico que
encerra magia
sou fogo em corpo de rapariga
a voz no eco do país
moeda perdida
capa estendida e serenata
em varanda de menina.

lobo velho desconfiado
idoso em esquina
polícia armado
sou cantor, escritor, terrorista
de amor
sou mais santo
que santo de minha terra
virgem puro
puritano corredor
ignorante orador
sou mais e mais calor
numa pele sensível
sou ardor

água limpa suja
de nada
sou vazio e sou
granada
colisão de madrugada
sou cego
surdo e mudo
e sou
por final
mudança do meu estado
num estado de
tudo menos esperança.

Joaquim Salgueiro
 
O que afinal sou

Uma parte do aparte

 
Passa horas a debater-se
entre a cerveja
o povo de Portugal
ou uma garrafa de vinho partida
que estilhaçada
há-de cortar alguma jovem descalça
que foge do namorado em plena rua
gritando mais ao céu
do que às pessoas
"Ajuda!" - essa não vem dos céus, nem das pessoas,
ou são cegas ou são surdas
burras não podem,
o fiasco que vai em casa só
se deve ao necessário gasto
nas "desnecessariadades" da vida,
putas e comida
(por exemplo, se só ficássemos por aqui...)
e enquanto dos céus vem ajuda divina
nós rezamos, pedindo
que chova ouro em vez
daquilo a que chamo tinta
(de água já não tem nada)
e, se não acharem pedir demais,
que mate mais uns quantos,
com novas gripes
ou "tiróidites saltitantes agudas - tipo XPTO",
assim, sempre alguma comida sobrará.

Chega-se ao fim do debate e conclui-se
será nesta escuridão
que se ilumina Portugal?

Joaquim Salgueiro
 
Uma parte do aparte