Poemas, frases e mensagens de Antonio Logrado Caeiro

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Antonio Logrado Caeiro

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que dever

Meu coração

 
Ah coração, infeliz...
Mais um vez vamos
A sofrer do amor os danos
Por que teimo em ouvir o que diz?!

Ah coração, doente...
Por que gostas tanto de doer
Sabes que o fim do amar é sofrer
Te esqueces de outrora, não sente?

Ah coração, meu...
Vá, vá com cuidado,
Diziam que tu serias amado,
E te esqueces donde morreu?
 
Meu coração

Encetar

 
Dar-se ao gesto intensidade
Dar-se a dor do amor atendado
Dar-se o riso sem maldade
Quando se vê o ser apaixonado

Dar-se a vida o sentido
Faz-se a dor esquecimento
Se refaz o então partido
Dar-se á alma contentamento

Imprime, ser ao dar-se n'outro ser
E por pouco se ri, se o encontrar
Assim se vai, razão, e para tal mistério
Chamaram os Deuses de: Amar
 
Encetar

Voou-me

 
Voou-me um pássaro da lembrança por entre a fresta
Da gaiola vida, que entortas no ventar, penitência
Desde então, a gaiola, para nada mais presta
E vive cheia de falta cantarolando tua ausência.

Voou-me um pássaro da lembrança amada
E agora foge, nem sequer me lembro o nome,
A canção amena, diariamente por ele cantada
Lembro apenas como búlicio, da memória some.

Por ser ausente, se esvai a Felicidade, me voa alada.

Voou-me um pássaro, que me faz agora sofredor
Deixará a gaiola, rapidamente sem marcas,
E ainda que as penas me sejam farpas,
Sinto falta, chamo o pássaro: Vem amor.
 
Voou-me

Lembranças

 
És lembrança, amena
Todos os dias, poisas
Por sobre um pensamento
No banco, no jardim das lembranças
Vários pássaros pairam,
Crianças, momentos brincam
Ao redor do lago, reluzente,
Do esquecimento...
Aos poucos, alguns,
O vão adentrando,
Se esvaindo, um a um.
As flores de riso,
Os pássaros, as crianças,
Os raios, do sol, despontados.
Cai a noite, chegam as estrelas,
E lá se vão, sobre o lago,
A lua se debruça e descansa,
Já não canta, não voa, os pássaros.
E no lago, mais uma gota se derrama,
De desgosto, dado a tristeza,
As águas não inundam,
Mas também não cessam.
Lá se vai, mais uma lembrança,
Cá ficas, Tu, mais um poema,
Que pinta, desesperança.
 
Lembranças

Inquietação

 
Dentro de um ser,
Um tanto arfo,
Por ser, caminheiro,
Habita uma alma,
Cheia de pena,
E graça.
A mesma,
que teima em ter,
Aquele,
Que não se faz farto,
Que não se dá costumeiro,
Habita n'alma a falta,
Que engrena,
Adentro, sob,
Aquele que não se enlaça.
 
Inquietação

Diz-me

 
-Por que não me amas?
Pergunta-me um a voz ausente.
Teu egoísmo é que te engana.
Diz-me isso, o que chamam de presente.

Antônio Logrado (heterônimo de Junior A.)
 
Diz-me

Passiflora

 
Falta-me tudo, o mundo
Nesta tediosa noite
Que se enreda, sobre as almas
Num martírio, sobre as águas
Mal respiro, m'é açoite
O pensar, naquela tarde
Onde fora, o caminho
Dos meus passos, o destino,
Longa são as cartas,
E em noites se perpassam os dias
Apenas para me recordar
Do quão sofredor
Me é a falta,
Em que falta,
Falta amor.

Antônio Logrado (heterônimo de Junior A.)
 
Passiflora

Os versos

 
Por vezes,
Espreito alguns versos
Que não são meus,
Cobiço-os,
e percebo, neles
Me são confessos
Mas deles não posso
E nem vou me avultar,
Por isso desejo eu
Não ter nome, nem letra
Queria ser apenas poema,
Para que em mim
Fosse ao perpassar do tempo
O preço, sem gorjeta.
 
Os versos

É assim, sempre

 
É sempre assim,
As razões que fazem uma alma chorar,
Não se faz em sons,
Apenas num dia, num calar,
Que se perdura, e insiste
Em maltratar, o coração,
Que intentou, num acerto,
Que se deu, em medo,
Por causa do apego,
Então desconserto,
E que insiste,
Em machucar.
É sempre, e mais um instante de dor,
Se eterniza por entre a fala,
Que narra a estória de um sofredor,
Que no intento de amar no quarto do viver
Ficou apenas na sala, do fenecer,
E quão doce é o meu amar,
Entre o sofrer e fenecer,
Ambos que em minh'alma ténue se dão,
E sempre fica a mínguas, se fica só,
O coração...
É sempre, num sempre, que sente.
A alma, que sofre, e só o coração, sempre...
 
É assim, sempre

Cavidade

 
Quando por sobre o teu peito
Dou repouso ao meu inquieto
No teu flanco, os dedos meto
Perco o rumo, ao erro certo...

Quando em tua boca, entreaberta
Dou-te um beijo sem paciência
No teu gosto que me enceta
Faz-me homem sem dolência.

Quando, sussurras no meu foz
Faz-me homem, ao desejo vil
Da razão bendita, um ser algoz

Quando o fazes, lhe quero o sumo
E logo o faço-te, ao ser regaço
Dar-se o gozo, perco o prumo.
 
Cavidade

Só mais um dia

 
É mais um dia que se poderia amar,
Mas o corpo, pede descanso,
E o ser, do desaforo tanso,
Mais nada quer intentar.
Então, trago mais uma ponta da solidão
Sobre a poltrona do sofrer,
E se ainda oiço o coração,
Dou mais um trago,
E dele tento esquecer.
O vento entra por sobre a cortina,
Da sala, janela aberta para sonhar
Mas nem assim o corpo se atina,
Entornado ao desgosto, ao nada se dá.
Mais um trago e pouco me falta,
Para a desdita dor então esquecer,
E se a alma me é incauta, não mata,
Respinga, aos poucos me faz morrer.
 
Só mais um dia

Cabe ao ser

 
O poema que mais gosto,
Não leram.
A canção que mais escuto,
Não ouviram.
O acto que mais desejo,
Não fizeram.
O presente que mais espero,
Não me entregaram.
O abraço que mais quero,
Não me deram.
O beijo que mais almejo,
Não recebo.
A angustia que mais me aflige
Não percebem.
E assim fora o amor:
O amor que mais amei,
Não amaram...
 
Cabe ao ser

Não cabe indagação

 
Se me amas amor,
Diz-me baixinho, sussurrado,
Não há amor no falar gritado,
Pois gritando ostentas ao mundo,
E para o mundo não calha razão.
Quero amor afinco, no fundo.
Quer seja de uma alma machucada,
Ou num sorriso tétrico rebentado.
Ainda que me seja peso, moribundo.

Se me amas, sorria um pouco menos
Pois tal estado patético me preocupa,
E para que não te escreva desamor, culpa
Contenha-se com sentimentos mais amenos.
Ainda que ser amena, se cautelar naquilo que vais dizer,
Lhe seja um tanto fado.

Se me amas, não ei de perguntar:
Ama mesmo? Isso para nada presta,
Já que não se resume amar em falas, conversa
Me ame, e nada há-de me preocupar.
Se me amas, fique, e se ficar me ame
Ainda que em mim não veja sorrir,
Espero que ame mesmo, antes, sempre,
Amar sempre, sem partir...
 
Não cabe indagação

Lia

 
Ah Lia,
De ti, a cada letra lia,
Relia, e ficava, á ler...
Jaz o tempos, as falas
Não liam, pois calas,
O meu amor.
Mas o coração, relia
Os versos, e repetiam,
A cada instante, ao ler,
Os risos, que se faziam,
A alma, vai lendo,
E sofre o sofrer, sofrendo,
Por não ler, as palavras,
Sumiram....
 
Lia

Abjura-se

 
Rabisco linhas, por entre o teu corpo,
Sem se quer me dar á ver o rosto,
Pois para mim a lembrança inquieta,
Nefasta lembrança que a mágoa enceta.

Rabisco lentamente a tua pele,
Pois é o coração que a vida timbre
Dado ao facto, ao gosto, imprime
E ao teu seio a volúpia impele;

Dar-se o corpo a sorver, posto
Que tua gruta convida, se arregala:
-Moço! Se entorna por entre o foço.

Chama-me... para adentrar-te,
Mas teme a alma tal façanha e fala:
-Não quero o corpo, quero amar-te.
 
Abjura-se

O rebento que se deu.

 
Nascera então, de nossa outrora história
Que hoje só nos (digo eu) é memória,
Nascera ela, e pertinaz me é o tempo.

Desde então só, cá num estrovo desregrado
Ainda preciso tê-la, ora fruto do meu acto
Nem a um ovo hoje dão tanto cuidado
Vai se os dias, as mazelas me são facto

Fico noites, madrugadas perambulando
Escrevendo uns rabiscos e cantando
Para então, tentar algo apaziguar

Sem nos olhos, poder ver o meu descanso
Tudo para não deixar morrer num canto
Está falta, jaz saudade. Vais matar!

Antônio Logrado (heterônimo de Junior A.)
 
O rebento que se deu.

Inconstante Amar

 
Ao amar, se ama só,
E se não for, te enganas
Pois jamais há-de ser amada(o)como amas.
 
Inconstante Amar

E sofrer....

 
Bem conheço os degraus desta escada amar
Que por vezes, arduamente subi, sem mágoa
Muito á conheço, mas custa-me me dizer,
Pois na sacada da vida eu sei,
Só estarei, e virei á sofrer.

Tudo nesta vida me é amar,
Amar, esquecer, me dar, á sonhar e sofrer.
Se por entre tua gruta me meto,
Seria-me apenas culpa á alma alancar
Me seria nódoa, mais uma, jaz nas que não esqueço

Lá sem os dias, que chamaram de vida
Então me vou, amar, dizer, falar, escrever
Dar-me inicio do apetecer, no final: sofrer
Á chamar a amada de outrora de: Bandida!

Mais um tolo, com os pedaços do ser feliz
A achochar a desdita amiga dor no peito
E pensar no que poderia ter feito
E sofrer, ao pensar em tudo que não fiz.
 
E sofrer....

Quotidiano

 
Numa conversa vã de dois adúlteros
Um por ser, outro por gostar,
Surge, do ser boçal á indagação:
- Por que ao casar-se não fora eu o marido?
- Por que fizeste isso a vida então?
A mulher, em sua sutileza célebre,
Fica á pensar resposta, imaginacão:
-Parvo homem, hoje serias Tu o traído,
-E me daria gosto á traição.
 
Quotidiano

Antônio Logrado