Poemas, frases e mensagens de tiagonene

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de tiagonene

Sentimentos Grandes

 
Que espaço tenho a mais
Que falta de concentração das coisas
Que falta de densidade em mim

Que abraço excessivamente longo
Que beijo estranhamente vazio
Que certezas tão docemente inocentes

Que doce tão inocentemente doce
Que voz tão inaudível
Que ideias tão imprevisíveis..

Que coisas eu sei a mais?
Qual o problema de ter tudo?
Qual o problema de saber demais?
 
Sentimentos Grandes

Atrasado para a tristeza

 
Nem ainda a mala fiz!
A minha mala feliz..
Estou atrasado para a tristeza..

Não tenho roupa na minha mala!
A minha mala feliz não fechada..
Estou atrasado para a tristeza..

Não tenho tempo de me completar
Nem há tempo para adoecer..
Estou atrasado para a tristeza.

Vivo o meu trajecto de uma ponta à outra
A minha mala perdi pelo caminho..
Estou atrasado para a tristeza.

(Que tristeza ser feliz para sempre..)
 
Atrasado para a tristeza

Descontrolo Emocional

 
Os rios estão partidos.
Os sorrisos partiram
Para outro planeta.

As árvores fazem a espargata
Indiferentes ao tempo.
Os bichos..esses violam o silêncio;

O mar dá cambalhotas ..
Suas ondas molham ideias
De pessoas esquecidas.

As leis deixaram de vigorar,
Porque as pessoas perderam a maldade..
Tudo havia sido devolvido:

À natureza vagabunda,
Descontrolada
Emocionalmente.
 
Descontrolo Emocional

O Hotel

 
Um hotel de pessoas mortas
virado ao contrário
as ideias que ainda giram
estão de cabeça para baixo.

Uma pessoa morta tem ideias
que falam por si
falar por si é isso mesmo: estar morto
e desafiar a gravidade.

As flores ainda nascem
na independência da liberdade
é na fealdade que está a beleza
é na inocência que está a verdade.

A inocência dos corpos que se exprimem
espreguiça uma sede que absorvo..
Bebo um copo, serve-me o barman morto
e depois subo até à minha suite.
 
O Hotel

Desfiguração

 
Quero meia hora…
Só meia hora, meia hora de ti
E já agora, meia hora de mim também.

Quero meia hora de nós
(Há muito que nos passámos a desconhecer,
Quero meia hora do passado)

Meia hora! O que é meia hora?
Meia hora de olhos fechados, meia hora de coisas boas…
As pessoas não são o que já foram?

O tempo, o tempo, o tempo
Sempre a mesma coisa...

O tempo que se encarrega
De nos desfigurar...
 
Desfiguração

Saudades de nós

 
Oh! Jamais sentirei saudades
Que falta de respeito por nós!
Teu corpo é indesconsiderável! Verdade!
Mas tu és mais do que isso!

Ter saudades tuas, o que é isso?
Sentir tuas palavras desertas em mim? Jamais!
A boca a querer marinar um sabor antigo? Jamais!
Tuas palavras escutam em mim! Bem vivas!

Não há melhor sensação do que a companhia do brilho dos nossos olhos!
Do que se encherem de sonhos os recipientes de sonhos!
Do que deixarmos entornar sentidos nos nossos sentidos!

Saudades? aberração!

A senti-las..
Apenas quando delas precisarmos de verdade!
 
Saudades de nós

Para onde ides, Poeta?

 
Poeta, o que pensais de mim
Que de tão pouco ser me apronto a ser
Mapa de cobra, um sorriso que sobra
Sem um outro para o ver?

Poeta, onde procuro os vales e o cheiro da terra,
A verdade que ela encerra
E os sons dos mistérios que me pronunciam a alma?

Dai-me os silêncios e as vidas que eles poupam,
Tirai-me as velas, sinais em que eles se arroupam
E mostrai-me Deus nos arrepios das palavras!

Poeta…

Onde estais senão dentro de um corpo
E fora dele em cima da pele onde o mel das abelhas
É troco do suplício em que meus artifícios voam
Enquanto o vento é a vontade do meu instinto?

Onde estais quando os rios são só rios
Quando o quente é só o sol ausente
E o que sorrio a tempestade gelada
Amparada pelo âmago friorento?

Poeta, onde estais quando a esperança é fogo sem lume,
Quando a dor não se vê nas feridas
Ou quando a nuvem é só uma mancha no céu?

Onde estais senão em mim
Que não o encontro nem nas vísceras nem nos escombros
Onde um dia encontrei um peixe azul?

Poeta…

Porque sois quem sois quando um corpo não o suporta,
Quando a porta cai pelo próprio peso dos sons
Que do silêncio descem, ficando eu nu?

Onde ficais quando o toque é morte
E a sombra a sorte dos demais que habitam
Ruas que me cruzam, psicologias que me fitam?

Poeta…

O vosso beijo é um cortejo que ferve flores que em mim embalam,
Tambores de fogo que em mim estalam,
Neblina que me eterniza o sonho…

Do amanhã que é um misto de emoções cobardes,
Um grito que em mim arde,
Um rito cujo esconderijo é mito do absurdo,
Onde vos procuro na luz e invejo na cruz
E pergunto:

“Para onde ides poeta?”.
 
Para onde ides, Poeta?

A Acomodação das Coisas

 
Tudo na minha cidade
Se acomodou.
As coisas acomodaram-se às coisas
As coisas às pessoas
As pessoas às coisas
E a elas mesmas..

Decidi deixar a cidade
Mas sem antes pôr tudo de pernas para o ar
Queria vingar-me da monotonia das coisas
Incendiar a nula sede das relações
Pretensiosamente inventar o ódio..
E, porque não, o amor..

Sou turista da destruição da minha cidade
Nunca tudo fora tão pacificamente belo
Nunca fora tão impossível de partir..
Contudo tão inevitável..

(Tirei uma última fotografia
E parti)
 
A Acomodação das Coisas

O Postal

 
O Postal

Estou a escrever um postal
A enviar pelo correio nacional
Para uma morada ao calhas
Para uma mulher que o leia
Para uma pessoa que com sorte
Nunca conheceu o amor.

Vai para uma morada daquelas
De que há muitas, de nome vulgar
Vai assim subtil mas eficaz
Para essa mulher que como eu
É assaz deprimida mas confiante
De que o amor existe.

O amor, o verdadeiro amor
Nunca é coisa convencional..
O verdadeiro amor está num postal
Num postal com destino incerto
Porque incertos os alvos e flechas
E tudo o de verdadeiro radiante.

Estou a escrever um postal..
Um lindo postal, com flores, com tudo o belo
É para uma Ana, para uma Joana, para uma Susana
É para alguém que se reconheça nele..
(A minha missiva será breve, mas a missão não é leve
O postal pesa quilos, o meu coração vai atracado..
O meu verdadeiro amor vai nele.

Eu *rasurado* penso que *rasurado*
Enfim, tu entendes *rasurado*
tu *rasurado* encontras-te numa espécie de galáxia e eu..
*rasurado*
*rasurado*
É muito importante que..
*rasurado*
(informação confidencial)

E assim o meu postal fez uma viagem
Ambiciosíssima e feliz
Qualquer tentativa é feliz..
E era uma parte de mim que saía
Enquanto aqui chegavam ar fresco e pensamentos,
Sentimentos de que o meu amor
Havia deixado a sua base militarmente..
Com ordens expressas para voltar.

(Fase de sentimentos
Dias, noites, dias, noites.. passam..
*rasurado* - confidencial)

Vinte e três de janeiro de dois mil e sete
Um postal chegou, três meses depois..
O meu amor, o meu amor atracado num postal, volta agora..
Instantaneamente..
Num postal que é claramente de mulher
Perfumado nas pontas, delicada e acrobatamente escrito..

Eu, tal como tu, tenho vivido *rasurado* .
As tuas palavras *rasurado* dispostas naquele papel curioso de coragem..
*rasurado*
A honestidade que *rasurado*
*rasurado* .. é uma disponibilidade sentimental que..*rasurado*
E sim, percebi que os nossos perigos
Coincidiram e..
*rasurado*
(informação muito confidencial)
 
O Postal

O candeeiro da imaginação

 
As luzes apagam-se
o candeeiro da minha imaginação
não tem mais energia

Dos poemas só restam os escritos
que perdem progressivamente
a sua validade.

As ideias são todas vãs
só se mantém uma coisa vivendo-a de novo
quem consegue viver tudo de novo?
ninguém.. ninguém..

Por isso, o que somos hoje se calhar só hoje somos
amanhã somos sobras
somos a energia que sobrar
no candeeiro da nossa imaginação.
 
O candeeiro da imaginação

Felicidade

 
A felicidade estraga-me.
Principalmente quando é momentânea
Como é, aliás, quase toda a forma de felicidade.

É triste viver sabendo que nada é garantido.
É triste e cansativo não poder fechar os olhos nunca.

Ir vivendo é ir morrendo.
 
Felicidade